A pesquisa que criou embriões de camundongo ‘sem óvulo’ e suas implicações

Gabriel Alves

Pesquisadores da Universidade de Bath, no Reino Unido, conseguiram mudar a história da embriologia –um pouquinho. O experimento que fizeram consiste em uma fertilização que não precisa do óvulo. Saiu na revista “Nature Communications”.

Quase isso. Não precisa do óvulo como tal, mas se vale de um produto gerado a partir do gameta feminino. O nome do amontoado de células é “partenogenoto” (ou alguma tradução melhor que eu ainda não consegui achar), uma espécie de pseudoembrião.

A notícia já se espalhou, principalmente em sites estrangeiros. A perspectiva de “bebê sem mãe” realmente tem apelo, não é?

O estudo foi feito com camundongos e tem uma taxa de sucesso de 24%. O processo, resumidamente, consiste na fertilização desse “embrião” –e o estranho é justamente isso, um pseudoembrião sendo fertilizado com espermatozoides e se tornando viável (ou um a cada quatro deles).

Sem o esperma, o embrião acaba morrendo. Leia a notícia no site da Folha.

De minha parte, só queria deixar registrado um comentário aqui no blog: o importante achado está longe de revolucionar o entendimento atual de como um embrião é produzido.

O que os pesquisadores conseguiram encontrar/criar foi uma nova janela de oportunidade para que o embrião possa dar certo, ou seja, ser adequadamente fertilizado. Seria errado dizer que os embriões não têm mãe. As células do pseudoembrião vieram de um óvulo, ora.

Há 20 anos, a ovelha Dolly nascia, um feito bem mais impressionante. Hoje já é possível editar eficientemente genes de organismos –alterando características físicas e curando doenças genéticas ainda na fase de embrião, por exemplo. Os novos achados podem servir de base para que outros tipos celulares sirvam de base para a criação de embriões. Tudo é ainda muito incerto, porém.

Conhecer o que faz um embrião ser viável pode ajudar em tratamentos de infertilidade no futuro. As possíveis implicações podem até gerar intermináveis discussões bioéticas: já foi considerado que os tais partenogenotos humanos poderiam servir como fonte de células-tronco para tratamentos diversos. Agora que elas teriam a possibilidade de gerar um organismo completo, a coisa não é mais tão preto no branco.

A complexa pesquisa dos cientistas da Universidade de Bath é mais um tijolo nessa complexa construção humana que é a ciência biológica, e não um trator que veio demolir todo o conhecimento até então acumulado.


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