Há 20 anos, brasileiros patenteavam ‘jaqueta cardíaca’ na esperança de tratar doenças crônicas
Jaqueta ou luva? Escolha sua vestimenta cardíaca favorita!
Se você não viu até agora, essa é a chance: cientistas criaram uma luva robótica para recuperar a função de corações doentes. O mais legal é que a geringonça funciona! Houve até testes em porcos com insuficiência cardíaca e a recuperação foi quase total com o auxílio do dispositivo.
Mesmo que você já soubesse dessa boa notícia, o que é difícil até de imaginar é que pouco mais de 20 anos atrás alguns brasileiros estavam patenteando uma ideia de aparelho muito semelhante. À época, ele foi apelidado de “jaqueta cardíaca”. A ideia da jaqueta, já naquela época, era achar métodos alternativos aos dispositivos que ficam dentro do coração e de grandes vasos –que podem causar tromboses e outras complicações.
“Tendo em vista tais circunstâncias e no propósito de superá-las, foi desenvolvida a jaqueta cardíaca pulsátil para assistência circulatória, objeto da presente patente, cuja construção, funcionamento e vantagens ficam mais evidentes na descrição detalhada que se segue e nos desenhos esquemáticos anexos”, diz o documento original, que data de 1996.
O blog Cadê a Cura? teve a chance de conversar com um de seus inventores, o cirurgião cardiovascular Francisco Teodoro Nobre, à época residente do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e atualmente no corpo clínico da Beneficência Portuguesa de São Caetano do Sul.
A motivação para desenhar esse projeto veio da vida prática. Quando o coração de alguém estava falhando, não era sempre que era possível abrir o peito de uma pessoa e bombear o sangue manualmente, apertando o órgão, diz.
Muitas vezes o paciente saia da massagem bem mas o risco de precisar dela de novo não era baixo. Daí a ideia de criar um dispositivo que pudesse massagear o coração tão bem quanto a mão do médico.
A ideia era usar uma camada de silicone para envolver o coração e ajudar na contração dos ventrículos, que bombeiam sangue para o organismo. Os médicos brasileiros também tinham projetado uma forma de garantir o sincronismo da engenhoca –seria necessário que eletrodos lessem o que estivesse acontecendo a cada instante no coração e tomassem uma decisão rapidamente com a informação.
Dessa forma, seria possível determinar o momento correto no qual a câmara de gás do dispositivo se encheria –provavelmente com hélio– para comprimir a musculatura cardíaca. A luva cardíaca recém-criada contrai em dois sentidos, tentando imitar a contração da musculatura do órgão (veja infográfico abaixo).
A “jaqueta” brasileira não chegou a ser produzida. “A gente via que era complicado de desenvolver. Até veio um pessoal dos EUA para tentar ajudar, mas mesmo assim, não foi pra frente”, lamenta-se Nobre.
O Brasil não foi campeão na criação de implantes contra insuficiência cardíaca, mas ter tido um insight tão semelhante à luva gringa mais de duas décadas antes é para se comemorar. Parabéns à equipe e obrigado por compartilhar a história com a gente!
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