A escalada de casos de autismo e a relação com o uso de inseticidas

Garoto com autismo
Gabriel Alves

A comunidade científica e a parcela de população mais esclarecida a respeito estão preocupados com o intenso crescimento nos diagnósticos de autismo e de transtornos do espectro autista nos últimos anos.

Não é à toa. Desde 2007, quando os dados de 2000 dos EUA começaram a ser tabulados, o índice vem crescendo. Começou na casa de 6,7 para cada mil crianças aos 8 anos de idade e, em 2010, o número aumentou mais de 120%, para perto dos 15 em cada mil –patamar que se manteve em 2012.

Os transtornos do espectro autista abrangem várias condições diferentes –com origens tanto genéticas quanto ambientais– que afetam, em maior ou menor grau, as habilidades sociais, emocionais e de comunicação.

Alguns comportamentos tendem a se repetir e as pessoas afetadas podem ter diferentes mecanismos de aprender, prestar atenção ou de reagir ao mundo. Esses sinais geralmente começam cedo (o que auxilia o diagnóstico já por volta dos 3 anos de idade) e tendem a durar a vida inteira.

Pelo menos por ora, a escalada do autismo deu uma trégua e estacionou. Há, atualmente, 1 diagnóstico para cada 68 crianças, sendo 1 em cada 42 meninos e 1 em cada 168 meninas.

No entanto, apesar da aparente estabilização, os cientistas dizem que é cedo para comemorar. Mas isso não quer dizer que estejamos completamente no escuro com relação a essa questão

A escalada dos diagnósticos positivo ao longo dos anos, segundo pesquisadores da Universidade do Estado da Pensilvânia (EUA), aconteceu por uma mudança –ou atualização– nos critérios médicos de diagnóstico: cada vez menos crianças foram diagnosticadas com outros distúrbios que afetam a intelectualidade, e esses casos teriam caído no guarda-chuva dos transtornos do espectro autista.

VENENO

Não é prudente, claro, descartar outras causas para a escalada. Um estudo apresentado no último final de semana no congresso da Academia Americana de Pediatria afirmou que houve considerável aumento na chance de nascerem crianças autistas em locais onde havia fumigação com inseticidas da classe dos piretroides (à base de plantas), na cidade de Nova York.

A mesma relação entre inseticidas e autismo havia sido indicada antes por um estudo em área rural. Em Nova York o risco aumentou 25%; próximo a plantações, 70%. Uma possível explicação para a ação dos piretroides no autismo é a capacidade de interferirem no funcionamento de células nervosas –mecanismo pelo qual os insetos são agredidos. De repente, essas moléculas não são tão inofensivas para o ser humano quanto se pensava.

Sabe-se que um dos fatores de risco para o autismo é o contato da mãe com substâncias tóxicas e até com alguns medicamentos. No mínimo, esses resultados indicam que deve ser feita a avaliação de alternativas ao uso de fumacês, como inseticidas na forma de tabletes a serem dissolvidos em água parada ou em grãos, que requerem dispersão manual.

Veja, um aumento da ordem de 70% é trágico: a porcentagem de crianças afetadas pode ir de 1,46% para 2,48%.

Além do sexo (meninos têm chance pelo menos quatro vezes maior), outros fatores de risco importantes são as complicações na vida pré-natal da gestante, como hipertensão e diabetes gestacional. Idade materna avançada também traz maior risco já a partir dos 30 anos.

BRASIL

No Brasil, estima-se que mais da metade dos casos de autismo não tenham sido adequadamente diagnosticados. Infelizmente por aqui não há um serviço de estatística como o dos americanos para que conheçamos melhor a realidade do país.

O que resta é basear nossas estimativas em estatísticas de outros países. Dessa forma, o número de pessoas com autismo e transtornos do espectro autista no Brasil deve superar os 2 milhões.