Mosquitos geneticamente modificados obtêm sucesso no combate à dengue em Piracicaba

Ser entomologista (ou entomólogo) –especialista no estudo de insetos– nunca esteve tão em alta. Nesta quinta, a Oxitec, empresa britânica responsável pela produção de mosquitos Aedes aegypti transgênicos, e a Prefeitura de Piracicaba divulgaram os resultados da liberação dos insetos em um bairro da cidade. O número de casos de dengue caiu 91%.

mosquitosA. aegypti  também é capaz de transmitir outras arboviroses (viroses que dependem de um artrópode, como os insetos, para se espalharem) como cikungunya e zika.

A versão transgênica dos aedes possui uma proteína letal que faz com que eles morram de 2 a 4 dias depois de serem liberados. No caso, só são liberado os machos (que não se alimentam de sangue e, portanto, não picam humanos nem transmitem doenças).

O efeito esperado é que eles encontrem as fêmeas selvagens e copulem com elas, fazendo que seus filhos sejam inviáveis.

Em experimentos, os número de mosquitos em locais de testes foi reduzido de 80 a 90% e a empresa está comemorando a redução nos casos de dengue no bairro do Cecap, na cidade do interior de São Paulo.

O Cecap tem cerca de 5.000 habitantes e a comparação foi feita entre o ano-dengue 2014-2015 e 2015-2106. Foram 12 casos contra 133 do período anterior, segundo a vigilância epidemiológica do município.

Na cidade, também houve uma queda nos casos de dengue, só que menor: de 52%. O número de notificações foi de 3.487 para 1.676. Isso significa que a incidência (casos por 100 mil habitantes) do Cecap caiu mais de dez vezes, para abaixo do nível de Piracicaba (veja abaixo). A escolha inicial do bairro levou em conta a alta incidência por lá.

CRÍTICA

Só de falar em transgênicos algumas pessoas já têm arrepios, mas não é essa a principal crítica de estudiosos aos mosquitinhos da Oxitec.

O problema é que a liberação dos insetos deve ser continuada para que a população selvagem possa ser mantida em níveis baixos, gerando uma despesa permanente aos cofres públicos.

Também ainda não está claro se essa barreira dos 10%-20% de animais restantes após a intervenção pode ser rompida nem o tamanho do investimento que seria necessário para que isso acontecesse –a relação entre mosquitos soltos e redução de população provavelmente não é linear.

Outros problemas comumente levantados, como a descaracterização ou perda do papel do A. aegypti  no ecossistema, não fazem sentido já que a espécie é invasora no país –uma praga, por assim dizer.

A iniciativa tem mérito e merece ser debatida e considerada como uma das formas eficazes de lidar com o mosquito da dengue –poucas intervenções têm impacto facilmente mensurável. No terrível cenário que vivemos a cada verão, quando a epidemia é mais intensa, parece que só a combinação de métodos antiaedes dão alguma esperança de que nos livraremos dos males trazidos pelo inseto.

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(crédito: Oxitec/Divulgação)

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