Será que a Olimpíada vai conseguir tirar o brasileiro do sofá?

Assistir a corpos esculturais em movimento executando tarefas improváveis de alguma maneira motiva as pessoas? Será que o leitor é uma daqueles que assistem a uma partida de vôlei ou a uma luta de judô e correm para a praça ou para o clube para praticar ou conhecer de perto a modalidade?

Parece que a maioria não se encaixa nessa categoria. No Rio, 75% da população nunca ou quase nunca faz alguma atividade física de 30 minutos pelo menos uma vez por semana. O panorama nacional não é diferente. A pergunta que surge agora é esta: será que os Jogos podem mudar esse cenário?

O retrospecto não é favorável. Há estudos que afirmam que a Olimpíada de Londres, com relação à inatividade física, teve impacto nulo ou negativo.

É lamentável, principalmente se colocarmos na balança o fato de que havia um planejamento e uma expectativa de melhora nos índices por lá –embora eles sejam mais ativos no Reino Unido do que somos no Brasil.

Também em Olimpíadas anteriores, como a de Pequim ou a de Atenas, ninguém conseguiu detectar de forma inequívoca que as pessoas passaram a ficar menos tempo no sofá e mais nas quadras, academias ou tatames.

Isso não quer dizer que se deve parar de tentar –a história não está fadada a se repetir a cada quatro anos. Aí vem a questão: o que que podemos fazer de diferente para aumentar as chances de sucesso no combate à inatividade física? Se alguém soubesse, seriam anualmente 5 milhões de mortes a menos por problemas relacionados à ausência de movimento (como diabetes ou câncer).

Mais praças, campos, ginásios e outras opções de lazer e de esporte acessíveis e gratuitas certamente ajudam, mas há necessidade de ir além: supondo que essas opções estejam disponíveis, como convencer a multidão de sedentários a utilizá-las?

Será pelo medo, como aquele sujeito que infartou e, para evitar um novo episódio, resolve entrar na linha e correr seis quilômetros diariamente? Será convencendo as pessoas de que fazer exercício é prazeroso e que deve haver alguma modalidade, seja dança ou rúgbi, em que elas se encaixem?

A Olimpíada pode ser uma boa oportunidade para quem aposta na segunda hipótese. Claro que ela não resolve décadas de políticas públicas insuficientes, mas, pelo menos, nos dá uma chance quadrienal para pensar no que estamos fazendo de errado.


Essa foi a segunda de três colunas “olímpicas” sobre saúde de minha autoria que serão publicadas no caderno especial “Rio 2016”, da Folha. Elas saem às quartas. As versões on-line podem ser encontradas aqui no blog “Cadê a Cura?”

Leia a coluna anterior:

Risco de zika na Olimpíada é baixo, mas vale deixar kit com camisinha e repelente a postos