Experimento gigante permite enxergar evolução da resistência a antibióticos em bactérias; veja vídeo

Gabriel Alves

A “Science” desta semana dá destaque para um curioso trabalho realizado pelos cientistas de Harvard. Eles criaram um método para enxergar –isso mesmo, com os olhos– a evolução de bactérias com relação da característica mais relevante quando falamos de saúde pública, a resistência a antibióticos.

Em laboratórios de microbiologia, esses organismos são estudados em compartimentos conhecidos como placas de Petri, recheadas com uma gelatina (ágar) com nutrientes dissolvidos. Geralmente poucos mililitros já alimentam adequadamente uma enorme colônia de bactérias.

O grande lance da pesquisa americana foi fazer o que eles chamaram de megaplaca –foram 14 litros de ágar em uma recipiente de 40 cm x 80 cm, aproximadamente. O “mega” não é por acaso, é o acrônimo pra Microbial Evolution and Growth Arena, algo como Arena de evolução e crescimento microbiano, em tradução livre.

As nove faixas de ágar da “arena”, das bordas para o meio, possuíam quantidade crescente de antibiótico dissolvida na gelatina. Nas faixas das bordas não havia antibiótico, nas faixas seguintes (rumo ao centro), havia uma pequena quantidade (suficiente para matar a maior parte das bactérias) –x, digamos–, depois 10x, depois 100x, e depois, na faixa central, 1000x. Esse protocolo valeu para o antibiótico trimetroprima.

Após o início do experimento (veja vídeo abaixo, em inglês), mutantes de bactérias foram avistados surgindo nas bordas de cada faixa. A conclusão dos cientistas (além de ter feito um experimento bonito de fácil compreensão) foi a de que as bactérias conseguem se adaptar bastante rapidamente à dificuldade imposta.

Também era curioso o fato de uma colônia “correr” para ocupar o espaço não ocupado por outras. Fica mais fácil vendo o vídeo:

O teste também foi feito para o antibiótico ciprofloxacino –as linhagens mais adaptadas das bactérias sobreviram a uma concentração 100 mil vezes àquela que matou suas ancestrais. No fim das contas, foi possível fazer uma árvore genealógica das bactérias mutantes.

Também havia o interesse de entender como geometricamente funciona o movimento de uma cultura de bactérias. Claro que uma gelatina compacta não mimetiza um corpo humano, com vasos, corrente sanguínea e tecidos com densidades e respostas celulares diferentes, mas dá para ter uma ideia melhor do que nas tradicionais plaquinhas.

Para os organismos, saber se mover em um ambiente rico em antibiótico quer dizer, em última análise, a vitória evolutiva ou a morte. Pensando na saúde humana, ao conhecer como (e quão rápido) as bactérias se adaptam a novos e hostis ambientes, torna-se possível repensar estratégias para, com o auxílio dos antibióticos, aniquilá-las antes que nós sejamos as vítimas.


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