E se a zika fosse transmitida como o ebola?

Gabriel Alves

Um novo relato de caso que saiu na última quarta (28) no prestigioso “New England Journal of Medicine” levantou uma lebre importante. E se a zika, de repente, fosse transmitida como o ebola?

Para quem não se lembra, o ebola também é uma doença viral, só que a via de transmissão não se dá por picada de mosquitos infectados, mas pelo contato com secreções do paciente e pela proximidade física.

No caso relatado no “NEJM”, um paciente idoso, de 73 anos, viajou para o México. Ele recordou ter sido picado por mosquitos no local, mas não teve nenhum sintoma antes de retornar aos EUA.

No começo, ele sentia muita dor abdominal, faringite e febre. Depois apareceu a conjuntivite, diarreia e dores musculares. A alternativa foi ir para o hospital. Ele não melhorou e começou a ter pressão baixa e sentir dificuldade para respirar.

Os tratamentos com antibióticos não funcionavam e o teste do torniquete (para dengue) deu negativo.  Ele teve uma piora respiratória, insuficiência renal, acidose metabólica e hepatite e acabou morrendo.

Depois de fazer vários testes, finalmente descobriram que o paciente tinha tido zika –e que provavelmente essa terrível condição clínica teria decorrido da infecção, auxiliada por uma falha do sistema imunológico.

AZAR

Registra-se que apenas 1 a cada 5 casos de zika é sintomático, e raríssimos são aqueles casos que resultam em morte. Claro que uma única morte como essa associada ao vírus não é razão para que se reescreva tudo o que se sabe da doença, mas o terrível vem a seguir.

Um outro paciente, mais jovem, de 38 anos, também teve zika. Como não há mosquitos transmissores no local e ele não passou por transfusão de sangue (nem fez sexo com o senhor de 73 anos), os médicos concluíram que o motivo provável da infecção foi a proximidade entre os dois homens.

Em uma visita hospitalar, o mais jovem ajudou o mais velho a mudar de posição (com luvas) e também enxugou as lágrimas do idoso.

Os sintomas –conjuntivite, febre, dores musculares, e rash (exantemas) no rosto– só apareceram mais de uma semana após o contato (o paciente idoso já havia morrido). Ninguém mais que teve contato com o idoso relatou sintomas.

As conclusões são desanimadoras. A primeira é que a capacidade de espalhamento do vírus da zika pode estar (e muito) subestimada. Outra é que a infecção por zika tem potencial para ser fulminante. Não é a primeira vez que alguém morre de zika e, conforme a doença se globaliza, talvez esses relatos sejam cada vez mais comuns.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura?  pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Estudo caso-controle confirma relação de causa e efeito entre zika e microcefalia

A pesquisa que criou embriões de camundongo ‘sem óvulo’ e suas implicações

Experimento gigante permite enxergar evolução da resistência a antibióticos em bactérias; veja vídeo