Cientistas criam embrião de porco com células de gente e abrem fresta para um futuro distópico

A possibilidade de usar suínos para resolver o problema da falta de órgãos para transplante já vem sendo aventada por médicos e cientistas há décadas. A construção de uma quimera (organismo misto) de porco com homem reaviva a questão e traz nuances bioéticas, abrindo uma fresta que permite vislumbrar um futuro distópico.

A presença ou não de consciência nessa quimera  acaba sendo o ponto principal. Quase ninguém discute bioeticamente a construção de um órgão humano ou semi-humano em uma placa de Petri, a partir de células-tronco adultas. Quando bichos vivos e/ou semi-humanos estão envolvidos, o problema ganha corpo.

Será que esses animais têm chance de ter uma consciência semelhante à de nossa espécie? É possível controlar o quimerismo de maneira eficiente?

Alguns entusiastas da área de inteligência artificial equiparam a consciência a um avançado programa de computador. A partir de um certo grau de sofisticação e complexidade ela se manifestaria –difícil prever ou estabelecer em que instante isso acontece, ou mesmo quando ela se torna “humana”.

Soa perturbador manter em jaulas criaturas capazes de desenvolver uma fração de nossa capacidade mental só para que se tornem biofábricas, por mais bem cuidadas que sejam e por mais conforto que recebam.

NA ARTE

A literatura e o cinema já se debruçaram sobre o tema. Em “Não Me Abandone Jamais”, filme de 2010 baseado em livro homônimo, clones humanos são criados especificamente para se tornarem doadores de órgãos vitais (spoilers nos dois próximos parágrafos).

Após poucas doações, a pessoa morre. Antes disso, os “doadores” (como os clones são chamados) têm de chegar à fase adulta. A missão do internato que abriga os três personagens principais é investigar se clones têm alma, através da avaliação de obras de arte. Nesse mundo distópico, outras escolas não têm tanta consideração.

Em “A Ilha”(2005), o enredo é semelhante, mas uma diferença é marcante. Em “Não Me Abandone Jamais”, em nenhum momento há sinais de revolta contra a ordem social estabelecida, de que o caminho natural dos doadores é morrer pelo sistema. Em “A Ilha”, a pulga atrás da orelha é maior e o controle, mais frágil, é rompido.

Os cientistas têm boas chances de não se tornarem pais desse tipo de problema. Uma é se ater às técnicas de edição genética, como o CRISPR-Cas9, para provocar a aceitação de órgãos para transplante entre espécies. Outra é aprimorar as técnicas de cultura de células em matrizes sintéticas ou semissintéticas, para produzir órgãos em laboratório.

O quimerismo, no caso, funciona como uma espécie de atalho, e as células humanas seriam guias nesse caminho. Mesmo com o possível encurtamento de muitos anos de esforço de pesquisa anda é difícil dizer se essa é a melhor opção.


TRAILERS

Não Me Abandone Jamais

 

A Ilha

 


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