Risco de demência e diabetes é menor para quem consome álcool
Um estudo recente publicado no começo de agosto na revista British Medical Journal (BMJ) chamou a atenção —o consumo moderado de bebidas alcoólicas (até 14 doses por semana), estaria associado a um risco 47% menor de desenvolver demência, como o alzheimer.
É uma redução importante, já que esse grupo de doenças afeta de 5% a 10% das pessoas acima de 60 anos.
Estudos anteriores já haviam detectado a possibilidade de o consumo moderado de álcool ter um efeito protetor contra demências, mas, dessa vez, com mais de 9.000 pessoas observadas desde a década de 1980, os resultados têm maior robustez.
O mecanismo pelo qual se dá essa proteção provavelmente tem a ver com o impedimento da formação de placas da proteína beta-amiloide no cérebro, embora isso não esteja completamente elucidado.
No caso da relação entre uso de álcool e demência, assim como em outros, diz-se que o risco se comporta como uma curva em “J” ou em “U”, com valores mais elevados nas pontas (nenhum uso e uso excessivo), em relação a uma faixa central de menor risco.
Além dos abstêmios, quem bebe mais do que 14 doses semanais também tem risco aumentado para desenvolver demências —17% a mais a cada sete doses excedentes.
Uma dose equivale a cerca de 355 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 44 ml de destilado, segundo o Instituto Nacional para o Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA, e contém cerca de 14 gramas de álcool puro.
Os motivos para os abstêmios terem maior risco, ao menos em parte, se deve à maior presença, nesse grupo, de doenças cardiovasculares e metabólicas.
O resultado da pesquisa, porém, não deve servir de encorajamento para aumentar o consumo de álcool, escrevem os autores do estudo, de instituições da França e do Reino Unido.
“Sabendo que o número de pessoas vivendo com demência deve triplicar até 2050, e que não há cura, a prevenção é crucial. Nós mostramos que tanto a abstinência quanto o uso excessivo de álcool pode aumentar o risco da doença. As diretrizes do Reino Unido sugerem um limite de 14 doses semanais, mas o limite de muitos outros países é superior a esse. Este estudo encoraja a adoção de um limite mais baixo nessas diretrizes, algo aplicável para toda a vida adulta, com a meta de promover saúde cognitiva”, concluem.
DIABETES
Outro estudo, este de 2017 e conduzido na Dinamarca, mostrou mais um possível benefício do álcool na prevenção de diabetes tipo 2. Ele foi publicado na revista Diabetologia.
Dados de mais de 70 mil pessoas acompanhadas por 23 anos foram analisados e foi constatado que homens que bebem 14 doses semanais têm chance até 43% menor de desenvolver a doença. Para as mulheres, o benefício máximo é atingido com 9 doses semanais e a probabilidade de ter a doença é reduzida em 58%.
Para esse efeito benéfico, mais importante do que a quantidade semanal é a regularidade no consumo.
Diferentemente das demências, porém, o consumo de mais doses não está associado a um risco aumentado de desenvolver diabetes em relação a quem é abstêmio. Outros fatores como IMC (índice de massa corporal), dieta e propensão genética são mais importantes.
Quem já tem diabetes, no entanto, deve adotar uma série de precauções, como intercalar bebida alcoólica e água, evitar drinques e produtos que contenham açúcar e jamais deixar de se alimentar antes de beber.
Especialistas dizem ainda que o álcool não pode ser usado como tratamento para baixar a glicemia, dado seu comportamento imprevisível. Ou seja, os riscos superam os benefícios.
Os estudos do BMJ e da Diabetologia, apesar de interessantes, não são uma resposta definitiva para possíveis benefícios do álcool para a prevenção de doenças —não há consenso entre médicos e estudiosos.
O álcool está ligado a 3,3 milhões de mortes anuais e os motivos vão desde acidentes de carro até doenças causadas pela substância, como cirrose e cânceres.
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