Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Cientistas lançam observatório de Covid-19 no Brasil em tempo real e dizem que casos podem chegar a 1.600 em quatro dias https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/03/18/cientistas-lancam-observatorio-de-covid-19-no-brasil-em-tempo-real-e-dizem-que-casos-podem-chegar-a-1-600-em-quatro-dias/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/03/18/cientistas-lancam-observatorio-de-covid-19-no-brasil-em-tempo-real-e-dizem-que-casos-podem-chegar-a-1-600-em-quatro-dias/#respond Thu, 19 Mar 2020 00:21:28 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/2020-03-18T205347Z_1558208637_RC2KMF93VQQF_RTRMADP_3_HEALTH-CORONAVIRUS-BRAZIL-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1309 Um grupo de pesquisadores brasileiros lançou nesta quarta (18) o Observatório Covid-19 BR, que, além de apresentar os dados da epidemia em tempo real no Brasil, traz informações como o tempo que o número de infectados leva para dobrar e o número reprodutivo, que indica para quantos outros indivíduos uma pessoa infectada em média transmite o vírus.

Segundo as projeções da ferramenta, com dados de até terça (17), o país terá, em 22 de março, daqui a quatro dias, entre 854 e 1618 pessoas com a doença. A previsão não vai além porque a incerteza para a estimativa seria muito grande —assim com o número de infectados, o tamanho da incerteza cresce exponencialmente.

Um dos cientistas envolvidos é Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp. “ Acreditamos que a máximo de transparência é a melhor política a ser adotada”, diz.

Gráfico e projeção na plataforma nesta quarta (18) (Reprodução)

“É uma iniciativa superimportante e que pode trazer um pouco de senso de realidade para os não crentes na enorme crise que se aproxima”, diz Maurício Nogueira, virologista e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, que não participa do projeto.

É interessante que se montem essas iniciativas, mas é preciso sempre muita cautela em ler os dados. A gente tem visto mudanças no perfil de transmissão desde o surto italiano. Vai ser interessante poder avaliar a validade das predições ao longo do tempo –pode vir a ser um material valioso”, diz Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia. Ele afirma que  a ferramenta pode ser importante para mensurar o efeito prático de medidas como o distanciamento social.

O observatório não recebeu apoio financeiro direto, mas é tocado por pesquisadores cujos trabalhos são bancados por Fapesp, Capes e CNPq. Os dados são obtidos do Ministério da Saúde e os métodos são abertos para quem tiver interesse. “O que mais necessitamos neste momento é que os dados sobre os casos sejam disponibilizados o mais rápido possível”, diz Kraenkel.

Em média, segundo os cálculos do grupo, no Brasil uma pessoa propaga o vírus para 3,2 outras (com um intervalo de confiança que varia entre 2,3 e 4,4 indivíduos), algo parecido com que vem sendo observado em outros países.

Outra análise que ajuda a entender como está a situação do Brasil é a do tempo que leva para os casos confirmados duplicarem (2,54 dias no país, segundo o cálculo mais recente), é sumarizada no gráfico abaixo:

 

Evolução na velocidade da epidemia em diferentes países; quanto menor tempo de duplicação, mais rápido a epidemia se desenvolve (Vítor Sudbrack/Observatório Covid-19 BR)

“Uma das lições interessantes do gráfico é que há sempre um atraso: os efeitos das medidas de distanciamento social surgem dias após serem tomadas. Isso porque o reflexo no número de infectados é alimentado pelas pessoas ditas em período de incubação, elas já têm o vírus, porém sem sintomas”, diz o físico Vítor Sudbrack, mestrando e pesquisador do Observatório Covid-19 BR.

Segundo Sudbrack, o fato de países europeus apresentarem taxas de duplicação próximas reflete a similaridade das sociedades —estrutura, medidas e protocolos de testagem. “Lentamente, Itália e Espanha estão reduzindo a velocidade de propagação, mas os reflexos das medidas severas tomadas semana passada ainda estão por vir.”

Também é notável a diminuição dessa taxa na Coreia do Sul, reflexo de seu abrangente programa de testagem. O fato de o Brasil ter a política de testar somente casos graves, avalia Kraenkel, introduz ainda mais incerteza nas projeções do observatório.

Já o Irã, um dos países com maior número de infecções e de mortos, teve seu início de epidemia em velocidade altíssima, mas hoje esse número estacionou. A diminuição se deve, diz Sudbrack, a medidas de isolamento tomadas semanas atrás .

“No Brasil, a velocidade de propagação —especialmente em São Paulo e Rio, as regiões de transmissão comunitária— está semelhante à da Espanha, por exemplo. Adotar as medidas de isolamento social é fundamental para que essa velocidade de espalhamento mude até o fim desta semana”, especula Sudbrack.

Uma das questões ainda sem respostas é o impacto de pessoas assintomáticas nessa dinâmica. “Estudos com dados da China mostram que ao menos 25% dos casos teremos origem em alguém sem sintomas, mas que depois os apresentaram”, diz Kraenkel.

Fazem parte do esforço também os pesquisadores Caroline Franco, do IFT-Unfesp; Paulo Guimarães Jr e Paulo Inácio Prado, do Instituto de Biologia da USP; Rodrigo Corder, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e Renato Coutinho, do Centro de Matemática, Computação e Cognição da UFABC, entre outros.


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Entenda o que é crescimento exponencial e o que ele tem a ver com a pandemia de coronavírus https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/03/16/entenda-o-que-e-crescimento-exponencial-e-o-que-ele-tem-a-ver-com-a-pandemia-de-coronavirus/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/03/16/entenda-o-que-e-crescimento-exponencial-e-o-que-ele-tem-a-ver-com-a-pandemia-de-coronavirus/#respond Mon, 16 Mar 2020 09:02:35 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/2020-03-16T044949Z_78103133_RC2SKF94N63U_RTRMADP_3_HEALTH-CORONAVIRUS-SOUTHKOREA-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1290 “A maior falha da raça humana é a nossa incapacidade de entender a função exponencial”, disse certa vez Al Barlett (1923-2013), professor emérito de física na Universidade do Colorado em Boulder.

Em tempos de pandemia, talvez ele esteja mais certo do que nunca. Se você ainda tem alguma dificuldade no tema, vamos tentar resolver isso.

Comecemos com um tipo de crescimento ao qual estamos mais acostumados, o linear. Por exemplo: a cada dia surgem dois novos casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus. A relação matemática entre tempo e número de pessoas infectadas recebe o nome de função —no caso, uma função linear. O número de casos pode sempre ser calculado multiplicando o número de dias decorridos por 2.

Mas nem sempre a natureza é tão simples assim. Existem algumas formas de crescimento que se dão de forma mais rápida. Vamos supor que uma função quadrática comandasse essa relação entre tempo e número de infectados: no dia 0, teríamos 0 infectados; no dia 1, teríamos 1²=1×1=1 infectado; no dia 2, teríamos 2²= 2×2=4 infectados; no dia 3, 3²=3×3=9 infectados, e assim por diante; no dia 10, teríamos 10²=10×10=100 infectados. O gráfico ficaria da seguinte aparência (com a função linear para comparação):

A vida real, porém, é ainda mais cruel. O número de infectados costuma crescer de acordo com uma função exponencial, isto é, o expoente é que varia (cresce) ao longo do tempo. Mas o que isso quer dizer? Baseado nos mesmo tempos dos exemplos anteriores seria algo como o seguinte: no dia 0, teríamos uma base b (2, digamos), elevada ao expoente 0, ou seja, b⁰ = 2⁰ = 1; no dia 1, teríamos b¹= 2¹=2; no dia 2, teríamos b²=2²= 2×2=4; no dia 3, teríamos b³=2³=2×2×2=8; no dia 10, teríamos b¹⁰=2¹⁰ =2×2×2×2×2×2×2×2×2×2=1.024 infectados. Já deu para ter uma ideia de que a curva exponencial pode ser muito maior do que a curva quadrática, certo? Vejamos no gráfico abaixo:

A seguir vamos apresentar um exemplo gráfico de como o começo da epidemia está se desenrolando na Itália, que já superou a marca dos 24 mil infectados (para quem estiver interessado, a função ajustada é esta: y= 3,28*exp(0,2x), em que x é o número de dias e y é o número de infectados; ainda não há dados brasileiros suficientes que permitam fazer uma comparação adequada, mas até agora não há qualquer razão para achar que estamos melhores que o país da bota.)

A partir desse exemplo também dá para entender como algumas medidas podem ajudar a frear a epidemia —como identificação rápida de doentes e isolamento adequado. No início, observa-se há pouca diferença. mas veja o efeito pronunciado depois de uns 20 dias (a função seria y=3*exp(0,18x)):

É esse tipo de cálculo que justifica o alerta de especialistas para a necessidade de adotar rapidamente medidas que contenham a disseminação do vírus, assim achatando a curva epidêmica da Covid-19.


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A depender do material avaliado, o Sars-CoV-2 permanece íntegro por horas e até dias, aponta novo estudo, publicado na forma de pré-print (sem revisão por outros cientistas) na plataforma medRxiv no último dia 9.

Na forma de aerossol, ou seja, dentro de microgotículas no ar, a meia-vida do vírus, ou seja, tempo necessário para sua quantidade cair pela metade, é de 2,74 horas. Isso equivale a dizer que a quantidade de vírus chegaria a 1% da inicial em 18 horas.

Sobre superfícies como papelão, aço e plástico a quantidade de partículas virais demoraria 2,3, 3,6 e 4,4 dias para chegar a um centésimo da inicial, respectivamente.

Em comparação ao Sars-CoV-1, parente do novo coronavírus causador da síndrome respieratória aguda grave, que assustou o mundo entre 2002 e 2004, houve mais semelhanças do que diferenças. Só a sobrevida no papelão do novo patógeno é maior do que a do predecessor.

“Nossos resultadas indicam que tanto a transmissão tanto por meio de aerossol quanto por objetios são plausíveis, já que o vírus permanece viável em aerossóis por horas e em superfícies por dias”, concluem os pesquisadores.

Participaram do trabalho pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, da Universidade de Princeton, da Califórnia (em Los Angeles) e dos Centros de Controles de Doenças do país.

O biólogo Pablo Ramos me escreveu para lembrar algumas das maneiras de se livrar dos vírus: “Neste artigo cientistas fazem um levantamento da literatura sobre biocidas em diversos materiais. Vários deles apresentam a capacidade de matar o vírus, não apenas o álcool a 70% ou superior. Como está difícil de encontrar (e caro) em muitos lugares, uma alternativa eficaz seria o hipoclorito. Aqui no país o hipoclorito é vendido em concentração de 2-2.5%. Uma diluição de 1:4 em água (ou seja, uma parte de hipoclorito para três de água) já daria uma solução com concentração no mínimo 0.5%, adequado para desinfecção. Isso pode ser colocado em borrifador e utilizado.”

Até esta quinta (12), mais de 127 mil pessoas já foram diagnosticadas com covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus; mais de 4.700 morreram.


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Pesquisadores da China analisaram 1.070 amostras biológicas de 205 pacientes infectados, que, em média, tinham 44 anos de idade. A maioria apresentava febre, tosse seca e fadiga. Eles estavam internados em hospitais nas províncias de Hubei e Shandong e na cidade de Pequim.

As amostras podiam ser as seguintes::

  • lavado broncoalveolar (soro fisiológico é instilado e aspirado do pulmão, 93%)
  • esfregaço nasal  (63%) ou da faringe, (32%)
  • catarro (75%)
  • biópsia do pulmão (46%)
  • fezes (29%)
  • sangue (3%)
  • urina (0)

Os valores entre parênteses mostram a fração de amostras positivas para a presença do vírus em cada categoria.

Como era de se esperar, o patógeno é muito presente em amostras do trato respiratório. A grande surpresa é a existência de partículas nas fezes.

“É importante ressaltar que o vírus vivo foi detectado nas fezes, o que implica que o Sars-CoV-2 pode ser transmitido pela via fecal. Uma pequena porcentagem de amostras de sangue apresentou resultados positivos no teste de PCR [que amplifica o material genético e identifica a presença do vírus], sugerindo que a infecção às vezes pode ser sistêmica”, escrevem os cientistas.

“A transmissão do vírus por vias respiratórias e rotas extrarrespiratóriaspode ajudar a explicar a rápida disseminação. Além disso, o teste de amostras biológicas distintas pode melhorar a sensibilidade [casos corretamente classificados como positivos] e reduzir número de falsos negativos.”


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Já se sabia há tempos que uma das principais formas de transmissão de germes é pelo contato com pessoas infectadas, mas não havia um experimento que fizesse a comparação entre as diferentes modalidades.

A referência é o aperto de mão moderado, marcado como 100%. Em relação a ele, um aperto de mão vigoroso chega a transmitir o dobro de bactérias (o teste foi feito com bactérias E. coli não patogênicas). Um high-five, cumprimento com as mãos espalmadas, transmite um pouco menos. Por fim, um soquinho, ou “fist bump”, transmite apenas uma pequena fração das bactérias, menos de um quarto do cumprimento-referência.

Comparação entre a transmissão de bactérias entre diferentes formas de cumprimento com as mãos (American Journal of Infection Control/Reprodução)

A conclusão é que, além da superfície de contato, a duração do cumprimento e a força empregada também influenciam no espalhamento dos micróbios.

Os cientistas alertam que outras variáveis podem atuar na transmissão: partes diferentes da mão podem abrigar micróbios distintos e em diferentes quantidades; a localidade pode influenciar no tipo de germes a serem transportados, assim como a profissão; e os hábitos de higiene têm um papel crucial, por motivos óbvios.

“Embora tenhamos investigado a transferência de uma bactéria não patogênica, seriam esperados resultados semelhantes para outros microrganismos patogênicos (incluindo vírus como o influenza), alguns dos quais são muito custosos em termos humanos e econômicos. […] É improvável que uma saudação sem contato possa suplantar o aperto de mão; no entanto, para melhorar a saúde pública, incentivamos a adoção adicional do ‘fist bump’ como uma alternativa simples, gratuita e mais higiênica ao aperto de mão”, escrevem no artigo.

Em tempo de coronavírus, é uma dica de ouro.

Curiosamente nesta terça (10) o primeiro ministro holandês, Mark Rutte, advogou pela suspensão dos apertos de mão. Ele contudo, esqueceu da regra que acabara de estipular e deu a mão a Jaap van Dissel, chefe do Instituto Nacional de Saúde Publica e Ambiente do país. Veja o vídeo abaixo:


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O primeiro conceito importante é o de endemia. Trata-se de uma certa quantidade de casos que historicamente já ocorrem em determinada região do país. Exemplos brasileiros: doença de Chagas e esquistossomose (barriga d’água).

Quando esse nível endêmico (que pode ser 0) é rompido pelo aumento de casos, pode-se considerar que há um surto ou uma epidemia

Geralmente fala-se em “surto” para designar que novos casos estão concentrados em determinada região, como um bairro de uma cidade ou uma região metropolitana. 

A palavra “epidemia” costuma ser reservada para quando a delimitação geográfica (uma vila ou um bairro, por exemplo) já não ajuda a definir tão bem onde os casos da doença estão acontecendo e/ou quando muitas pessoas são afetadas.

A distinção é algo cinzenta, mas uma infecção que pode ajudar a ilustrar o problema é o sarampo. Os surtos recentes de sarampo mataram 140 mil pessoas só em 2018, segundo a OMS. Calcula-se que as epidemias de sarampo na década de 60 chegaram a matar 2,5 milhões de pessoas.

Quando a epidemia afeta vários países ou continentes, trata-se de uma pandemia. Um caso ou outro de uma doença fora do local onde houve inicialmente o surto não implica necessariamente uma pandemia. Outros fatores, como a capacidade de disseminação do agente infeccioso (como no vírus da gripe) e presença de vetor (mosquito Aedes aegypti, no caso de arboviroses como dengue e zika) contribuem para a contenção ou espalhamento da moléstia.

Mas em que momento exatamente uma grande epidemia se transforma numa pandemia? Quantos países têm de ser afetados? Em que proporção? A gravidade da doença importa?

Há um consenso de que a gripe espanhola, que há cem anos matou pelo menos 50 milhões de pessoas, pode ser chamada de pandemia. Também se diz que o surto de gripe suína, em 2009, que matou 200 mil pessoas em todo o mundo, foi uma pandemia. 

Em um artigo publicado no periódico The Journal of Infectious Diseases, em 2009, os autores, entre eles Anthony Fauci, diretor do Niaid (Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA) fazem uma reflexão do que seria necessário para atestar esse patamar extremo:

  • Grande distribuição geográfica: um dos consensos é que a doença tem que afetar uma grande porção territorial, como no caso da peste negra, da gripe (influenza) e de HIV/Aids.
  • Rastreabilidade do movimento da doença: é possível identificar para o caminho percorrido pela doença, como no caso da influenza, transmitidas por via respiratória, da cólera, pela água, ou da dengue, que se dá de acordo com a presença de vetores (mosquitos do gênero Aedes).
  • Alta taxa de infecção: quando a taxa de transmissão é fraca ou há baixa proporção de casos sintomáticos, raramente uma doença é tratada como pandemia, mesmo com grande disseminação. A febre do Nilo Ocidental saiu do Oriente Médio e foi parar na Rússia e no Ocidente em 1999, mas nunca carregou a alcunha de epidemia
  • Imunidade populacional baixa: É maior a chance de haver uma pandemia quando a imunidade da população for baixa para o patógeno
  • Novidade: o uso do termo pandemia está associado ao risco de novos patógenos (caso do HIV, nos anos 1980) ou novas variantes (caso do vírus influenza, da gripe, que apresenta sazonalmente novas configurações)
  • Infecciosidade: o termo “pandemia” é menos comumente ligado a doenças não infecciosas, como obesidade, ou comportamento de risco, como tabagismo. Quando isso ocorre, a ideia é destacar aquele problema como uma área que merece atenção, mas, segundo os autores do artigo, trata-se de um uso coloquial, não tão científico.
  • Tipo de contágio: a maioria dos casos de epidemias é de doenças transmitidas entre pessoas, como a gripe (influenza).
  • Gravidade: geralmente a palavra “pandemia” é associada a moléstias graves, capazes de matar, como peste negra, HIV/Aids e SARS (síndrome respiratória aguda severa). Mas doenças menos severas, como sarna (causada por um ácaro) ou conjuntivite hemorrágica aguda (provocada por vírus), também foram consideradas pandemias.

A principal forma de se prevenir contra os efeitos de uma pandemia é com sistemas vigilância para detectar rapidamente os casos, ter laboratórios equipados para identificar a causa da doença, dispor de uma equipe habilitada para conter o surto, evitando novos casos e sistemas de gerenciamento de crise, para coordenar a resposta.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), por sua vez, emprega termos específicos para classificar certas situações. Uma emergência se dá quando uma autoridade decide que é hora de tomar medidas extraordinárias, como restrição de viagens e de comércio e estabelecimento de quarentena. Essa mesma autoridade também pode suspender esse estado de emergência. Geralmente uma emergência é bem-definida no tempo e no espaço e depende de um certo limiar para ser declarada. Esse limiar pode ser definido como uma taxa de mortalidade de 1 para cada 10.000 pessoas por dia ou mortalidade de 2 crianças abaixo de 5 anos a cada 10.000 pessoas por dia.

Crise é uma situação classificada como difícil, difícil de se estudar, classificar e combater. Uma crise pode não ser necessariamente evidente e necessita de um trabalho de análise para ser totalmente conhecida e e combatida.

Outras fontes consultadas: Ministério da Saúde, Fredi Alexander Diaz Quijano (Faculdade de Saúde Pública – USP), CDC


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Falta de proteína na dieta está associada à síndrome da zika em bebês

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Por que a zika afetou mais o Nordeste? Uma toxina pode ser a explicação https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/03/por-que-a-zika-afetou-mais-o-nordeste-uma-toxina-pode-ser-a-explicacao/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/03/por-que-a-zika-afetou-mais-o-nordeste-uma-toxina-pode-ser-a-explicacao/#respond Tue, 03 Sep 2019 11:04:08 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Screenshot-2019-09-03-at-02.41.47-320x215.png https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1134 Uma das maiores questões que o surto de zika deixou foi esta: por que o Nordeste teve tantos bebês com microcefalia e outras complicações neurológicas? Um levantamento mostra que 88,4% dos casos graves estudados são de lá enquanto somente 8,7% são do Sudeste. Como explicar a discrepância, se a circulação do vírus foi intensa em ambas as regiões?

Cientistas do Rio de Janeiro (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, UFRJ, IOC/Fiocruz) e de Pernambuco (Universidade Federal Rural de Pernambuco) encontraram uma possível resposta: uma toxina.

Trata-se da saxitocina (STX), molécula produzida pela Raphidiopsis raciborskii, uma cianobactéria (ou alga-azul) bastante comum na América do Sul. A STX tem capacidade de se ligar às células nervosas e causar um efeito paralisante que pode ser letal mesmo em pequenas quantidades.

O Nordeste é a região onde há maior ocorrência de amostras de água ricas em cianobactérias. A hipótese dos cientistas é que, de alguma maneira, a STX poderia facilitar o surgimento de casos graves de microcefalia. Por azar, no do início do surto de zika, em 2015, o NE passava por uma grande seca, uma das piores da história. É possível que parte da população tenha recorrido a estoques de água especialmente contaminados.

O limite de segurança adotado pelo Ministério da Saúde para a presença da STX na água é de 3 microgramas  (0,000003 grama) por litro de água, informam os pesquisadores, mas concentração da toxina raramente chega a tanto nos reservatórios do semiárido. Mesmo depois de ferver e filtrar, é possível que a molécula permaneça inteira e cause efeitos deletérios no organismo.

Ocorrência de cianobactérias no Brasil entre 2014 e 2018; Nordeste concentra amostras com quantidade elevada de micro-organismos (Crédito: Reprodução/Pedrosa CSG e colaboradores)

O primeiro experimento dos cientistas envolveu o uso de minicérebros, organoides construídos em laboratório que permitem estudar o comportamento do tecido nervoso em resposta a mutações genéticas, infecções e tratamentos.

Após a exposição ou não à STX, minicérebros foram ou não infectados pelo vírus da zika. O resultado: o fato de ter sido exposto à toxina aumentou em 2,5 vezes a morte de células pelo vírus da zika. Sozinha, a STX não foi especialmente danosa aos miniórgãos.

O próximo passo envolveu testes em animais. Os cientistas testaram, em camundongos fêmeas, uma ingestão de toxina em uma concentração de 15 nanogramas por litro –menos de um centésimo do limite estabelecido para humanos–, diretamente diluída na água dos bichos, ao longo de uma semana.

Depois disso, as fêmeas acasalaram e foram infectadas com o vírus da zika, mimetizando o que poderia ter ocorrido com mulheres no Nordeste.  Os filhotes dessas fêmeas apresentaram uma redução significativa do córtex (camada mais externa do cérebro) e, neles, a morte de células-tronco também se acentuou.

A conclusão dos cientistas é que é possível explicar, ao menos em parte, o tamanho da crise de zika no Nordeste brasileiro.

“A sinergia entre a cianobactéria e o vírus da zika faz o alerta de que a exposição à STX deveria também ser considerada uma preocupação de saúde pública durante os surtos de arboviroses. É importante esclarecer que a microcefalia e outras anomalias congênitas ligadas à zika são multifatoriais. Outros elementos, portanto, podem ter contribuído para o padrão incomum de distribuição da síndrome congênita da zika no Brasil”, escrevem os autores.

 

Figura mostra efeito dos tratamentos com STX e vírus da zika no cérebro de camundongos; há especial redução do córtex cerebral em especial nos filhotes de mães tratadas com a toxina e depois infectados com o vírus (Crédito: Reprodução/Pedrosa CSG e colaboradores)

“Desnutrição, genética, coinfecções ou infecções anteriores muito provavelmente também contribuíram. Nenhum trabalho científico é definitivo, justamente porque sempre surgem novas questões a partir dele, e poderá sempre ser refutado com novos dados científicos”, explica um dos autores do trabalho, o neurocientista Stevens Rehen, do Instituto D’Or e da UFRJ.

“O trabalho foi todo realizado no Brasil, apesar dos poucos recursos disponíveis”, diz Rehen. O estudo contou com apoio da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), BNDES, Finep e Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (Ministério da Saúde).

Devido à relevância para a saúde pública, a pesquisa foi publicada primeiro na forma de pré-print, ou seja, foi disponibilizada ao público antes mesmo de ser revisada por cientistas independentes, não ligados ao estudo.


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Ou seja, numa segunda vez que o indivíduo seja picado por um Aedes e pegue dengue (de um outro tipo) ele tem chance de ter a doença de novo. Pior: a infecção pode ser mais grave, na forma de dengue hemorrágica, mais letal.

Na dinâmica epidemiológica da dengue, a cada três ou quatro anos um dos tipos acaba sendo mais presente. Ao que tudo indica, nesse verão será o tipo 2 o que vai trazer mais preocupação aos brasileiros.

O tipo 2, em particular, representa uma espécie de desafio para a confecção de vacinas. Segundo estudos, a estrutura dele é peculiar em relação à dos demais tipos. É particularmente difícil, nesse vírus, encontrar um lugar onde os anticorpos possam se ligar e desencadear a resposta imunológica do organismo.

A vacina atualmente disponível contra a dengue no mercado, a Dengvaxia, da Sanofi, é menos eficaz contra o tipo 2 do que contra os demais, de acordo com pesquisas da própria empresa. Atualmente, ela só é indicada para quem já teve dengue ao menos uma primeira vez e é capaz de prevenir 93% de casos graves.

Uma nova infecção pode ser mais grave devido à ligação ineficaz de anticorpos, gerados em uma infecção anterior ou em resposta a uma vacina, aos vírus. É o que os cientistas chamam de potencialização dependente de anticorpos (ADE, na sigla em inglês).

O ADE também é uma das hipóteses para explicar por que houve tantos casos graves de zika no mundo nos últimos anos: os anticorpos antidengue se ligariam fracamente ao vírus da zika, amplificando seu potencial para causar desastres neurológicos.

 

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Estudo decifra rota da zika até o Brasil –doença veio do Haiti https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/14/zika-e-haiti/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/14/zika-e-haiti/#respond Tue, 14 Aug 2018 22:44:32 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/zika-virus-estrutura-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=987 Um estudo comandado por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Pernambuco desvendou a rota percorrida pelo vírus da zika até que ele desembarcasse em terras brasileiras. Ao que tudo indica, a penúltima parada foi o Haiti: é possível que os próprios haitianos que vieram para o Brasil estivessem infectados, ou ainda que os militares brasileiros que participaram de uma missão de paz no país caribenho tenham trazido o patógeno.

O vírus, que no Brasil foi responsável por um surto de casos de microcefalia, especialmente na região Nordeste, antes passou por Polinésia Francesa, por países da Oceania, Ilha de Páscoa e só daí ela foi para a América Central e Caribe, antes de chegar por aqui. A rota se assemelha àquela percorrida pelos vírus da dengue e da chikungunya.

Além disso, os pesquisadores identificaram ao menos seis linhagens da variante asiática do vírus da zika circulando no Brasil. Um próximo passo nessa linha de pesquisa é tentar saber se os vários tipos têm comportamentos distintos entre si.

Do ponto de vista de saúde pública, com essa informação é possível traçar estratégias para tentar evitar ou reagir mais rapidamente à chegada de outros vírus no país.

“Nossos resultados enfatizam a necessidade de observar com atenção os procedimentos de biossegurança nos principais pontos de entrada e de garantir que haja uma vigilância sistemática para as arboviroses, a fim de monitorar a circulação e a evolução delas, conforme os vírus se espalham pelo mundo”, escrevem os autores do estudo, publicado na revista especializada International Journal of Genomics.

Outros elementos que ajudam a atacar a questão são o monitoramento de mosquitos, para ver quais vírus carregam, e os dados de diagnóstico clínico de pessoas com a doença.

No Brasil, desde o início do surto, em 2015, os casos suspeitos de zika superam 231 mil; os confirmados, 137 mil. O número de casos de síndrome fetal congênita (que inclui microcefalia, problemas de visão, de articulação entre outros) está em 2.931, e 11 mortes já foram ligadas à doença, segundo os dados mais recentes.

O trabalho da Fiocruz foi financiado pela Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco).


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Zika pode prejudicar cérebro muito tempo depois da infecção, mostra estudo em roedores https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/06/07/zika-adulto/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/06/07/zika-adulto/#respond Thu, 07 Jun 2018 03:06:46 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/zika-virus-estrutura-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=948 Dois trabalhos recentemente publicados mostram que o complexo panorama relacionado à zika pode ser ainda mais grave: a infecção pode ser devastadora também se acontecer após o nascimento e não somente no desenvolvimento intrauterino, como já se pensou. Além disso, os danos podem se estender até a vida adulta. Ambas as publicações estão no periódico especializado Science Translational Medicine.

O trabalho de publicação mais recente saiu nesta quarta-feira (6) e é fruto do esforço de uma equipe de cientistas da UFRJ, da Unifesp e do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, no Rio.

Foram usados camundongos para mostrar que a infecção pelo vírus da zika poucos dias após o nascimento reduz permanentemente a força muscular dos animais, provoca o surgimento de crises epiléticas no curto prazo e aumenta a susceptibilidade a elas no longo prazo. 

A memória e a sociabilidade dos bichos também são prejudicadas. “Sabemos que algumas infecções neonatais podem estar associadas a doenças que surgem muitos anos mais tarde, como esquizofrenia e autismo”, diz a neurocientista Julia Clarke, da UFRJ, uma das coordenadoras do estudo.

Ela conta que a principal motivação era entender o que se passa com as 90% de crianças infectadas com zika que nascem sem alterações grosseiras, como a redução do tamanho da cabeça ou más-formações nos membros.

Essas complicações mais graves são mais comuns em infecções que acontecem no início da gestação, mas o que Clarke e colegas mostram é que elas podem ser relevantes mesmo quando acontecem no final do período (quando o desenvolvimento cerebral humano é comparável ao momento da infecção dos camundongos no estudo).

Uma mortalidade de 40% afligiu os grupos de camundongos com zika; os sobreviventes tinham menor peso corporal e tamanho do cérebro reduzido.

Cérebros de camundongos de estudo da UFRJ. "Mock" são os de animais controles, os marcados com "ZIKV" pertenciam a animais infectados (Reprodução/Science Translational Medicine)
Cérebros de camundongos de estudo da UFRJ. “Mock” são os de animais controles, os marcados com “ZIKV” pertenciam a animais infectados (Reprodução/Science Translational Medicine)

Cem dias depois da infecção, quando os animais já eram adultos, a quantidade de material genético do vírus permanecia elevada no cérebro, denunciando a atividade do patógeno.

A explicação para esse prejuízo neurológico seria uma permanente inflamação provocada pela replicação viral, algo que o organismo do roedor, assim como aparentemente acontece com o humano, tem dificuldade em solucionar.

Para testar a hipótese, os cientistas deram aos camundongos uma droga capaz de bloquear o TNF-alfa, molécula que participa de maneira importante do processo inflamatório.

“Agora que se sabe que a raiz dos danos neurológicos é a neuroinflamação causada pela intensa replicação do vírus no início da infecção, é possível buscar quem seriam os agentes responsáveis no organismo e atacá-los farmacologicamente”, diz a virologista da UFRJ Andrea Da Poian,  também coordenadora do estudo.

A droga escolhida para tratar os bichos, infliximabe, já é usada para tratar outras doenças inflamatórias, como a doença de Chron, artrite reumatoide e psoríase. O fato de ela já ser aprovada pela Anvisa facilitaria a eventual nova indicação, pulando etapas de estudos, já que aspectos de segurança e toxicidade são bem conhecidos.

Os animais tratados tiveram menor chance de desenvolver as crises epiléticas, mas mantiveram os sintomas motores e comportamentais. Os cientistas propõem que é possível que um tratamento baseado nesse raciocínio possa ajudar a atenuar os efeitos de longo prazo da infecção, mas ainda há muito que se avançar na questão.

“É difícil prever o que aqueles infectados ainda bebês podem desenvolver na fase adulta, mas é importante ter em mente que o que aconteceu ainda no útero pode, sim, ter consequências tardias”, diz Clarke.

“Está claro que um simples monitoramento da prevalência de microcefalia congênita ao nascer é uma medida insuficiente dos males trazidos pela neuropatologia causada pelo vírus da zika em crianças e adolescentes”, escrevem os autores na conclusão do estudo.

Além de Da Poian e Clarke, coordenaram o trabalho Iranaia Assunção-Miranda e Claudia P. Figueiredo, todas da UFRJ.

MACACOS

Um outro artigo recente, de pesquisadores da Universidade Emory e de outros centros de pesquisas nos EUA, mostrou, com experimentos em macacos resos (Macaca mulatta), que o vírus da zika é capaz, também em primatas, de provocar prejuízo no desenvolvimento cerebral.

Por meio de estudos histológicos (com fatias finas do órgão) e de ressonância magnética (que permite visualizar a estrutura), os cientistas observaram que o vírus da zika ataca especialmente o cérebro e a medula espinal –essa preferência recebe o nome de neurotropismo.

O patógeno reduz a quantidade de massa cinzenta no cérebro e altera a conectividade entre neurônios, prejudicando o funcionamento do órgão.

Os cientistas alertam que não há como fazer um paralelo entre o que se passa com os macacos e o que aconteceria com crianças e adolescentes humanos, mas que a tendência é que o desenvolvimento neurológico seja atrasado ou interrompido com a infecção, algo que deve demandar atenção dos serviços de saúde.


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