Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Que doença ganhará uma cura em 2017? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/01/01/que-doenca-ganhara-uma-cura-em-2017/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/01/01/que-doenca-ganhara-uma-cura-em-2017/#respond Sun, 01 Jan 2017 13:03:31 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/12/7505286308_7e14a047b7_k-180x106.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=519 Aposto que a maioria dos leitores, se tivessem que escolher uma doença para ganhar uma nova cura, optariam pelo câncer.

O problema é que o que o câncer tem de avassalador, também tem de complexo. São dezenas de doenças diferentes rotuladas como câncer –com drogas e abordagens mais (ou menos) efetivas para cada caso.

A grande conquista da oncologia nos últimos anos foi a consolidação da imunoterapia para o combater essas moléstias. E isso mudou um pouco esse panorama de que cada tipo de câncer tem apenas um restrito conjunto de abordagens capaz de tratá-lo.

Os imunoterápicos (que são anticorpos produzidos para atacar/neutralizar alvos específicos –leia mais aqui e aqui) se tornaram a grande aposta da área oncológica das indústrias farmacêuticas não só porque conseguem estender a sobrevida dos pacientes, mas também por serem versáteis em atuar sobre vários tipos de tumor.

Os mesmos imunoterápicos que estimulam a ação do sistema imunológico contra um câncer de pulmão também podem ser particularmente eficazes no tratamento de melanoma, por exemplo.

No entanto, os especialistas da área não pensam que os imunoterápicos vão dar conta de todo e qualquer câncer –e nem que irão substituir completamente os quimioterápicos convencionais ou a radioterapia. Uma pena.

CORAÇÃO

Mesmo com o “favoritismo” do câncer como candidato a receber uma cura, talvez a maior parte de nós morra de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame.

Apesar de constantes e até significativos incrementos na maneira de conduzir esses quadros (como a injeção de microbolhas e as já bastante respaldadas estatinas), a melhor maneira de evitar essas situações é adotar um estilo de vida que inclui hábitos alimentares adequados e atividade física e momentos de relaxamento em uma quantidade otimizada.

Quando acontece algo, muitas vezes não há tempo para agir. Nessa área, prevenção é a chave –nada de nova cura em 2017.

GENES

Guardei o melhor para o final. As doenças mais fáceis de serem curadas são aquelas com uma causa muito bem definida.

Se uma pessoa, por exemplo, vive em um local úmido, embolorado, a chance de ter tuberculose aumenta bastante. Removê-la do local, ou promover uma transformação de forma a arejar e permitir a entrada do sol no imóvel diminui sobremaneira a incidência da doença (veja uma reportagem a respeito).

Outros casos de bons candidatos a terem uma cura são doenças infecciosas para as quais existem vacinas. Para breve (não necessariamente em 2017), podemos esperar uma importante redução dos casos de dengue, por causa da vacina já lançada (da Sanofi) e das que ainda ainda estão sendo estudadas (como a do Instituto Butantan e a da farmacêutica Takeda).

Logo virão vacinas contra zika também –já se estuda uma modalidade pentavalente, com o imunizante atuando contra os quatro tipos de vírus da dengue (DENV1 a DENV4) mais o vírus da zika (ZIKV).

A boa resolução dos surtos de ebola na África é prova de que as vacinas ainda podem trazer muitos benefícios para a humanidade. Quem sabe em 2017 tenhamos uma boa notícia com relação ao combate à Aids, por causa de mais uma delas? A África do Sul está sediando um ensaio clínico.

Por fim, a mais forte esperança é que aquelas doenças causadas por mutações genéticas, como distrofias musculares, hemofilia, daltonismo e algumas síndromes raras possam encontrar  uma cura por meio de  terapia genética (que visa corrigir o erro do DNA nas próprias células humanas). A promessa é que a aplicação da técnica conhecida como Crispr (leia mais a respeito aqui e aqui) resolva esses e muitos outros problemas. A ver em 2017.


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A estranha história do vírus bovino que, até agora, não explicou microcefalia nenhuma https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/07/08/a-estranha-historia-do-virus-bovino-que-ate-agora-nao-explicou-microcefalia-nenhuma/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/07/08/a-estranha-historia-do-virus-bovino-que-ate-agora-nao-explicou-microcefalia-nenhuma/#respond Fri, 08 Jul 2016 20:58:24 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/sorofetal-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=246 Em algumas cidades do Nordeste, o índice de microcefalia é notório, muito maior que em outros lugares onde também há mosquitos aedes e vírus da zika circulantes.

A vontade de muitos pesquisadores é explicar essa situação. Será que em alguns locais a microcefalia é mais grave que em outros? Por que há mais casos no Nordeste do que no Sudeste, por exemplo, sendo que nas bandas de cá também há mosquitos e vírus aos montes?

Hoje ninguém discute que o vírus da zika causa microcefalia: já há evidência acumulada equivalente há décadas de pesquisas anteriores no mesmo tema. No entanto, ainda há uma grande lacuna: explicar essa discrepância geográfica em relação às consequências da infecção. Vale lembrar que os danos da zika podem ser muito mais sutis do que a alteração da circunferência da cabeça e do tamanho do cérebro.

As hipóteses são as mais variadas. Nutrição inadequada, background genético e coinfecção viral são algumas delas. Nesta última se ancora a recente polêmica a respeito de que um vírus bovino (VDVB –vírus da diarreia viral bovina) poderia agravar os efeitos da zika.

Os cientistas, segundo informações que chegaram à imprensa, teriam achado vestígios do VDVB em tecidos de fetos e recém-nascidos com zika que morreram.

O problema, como mostrado em reportagem minha publicada na última quarta na Folha, é que existe uma grande chance de esses achados se deverem a um produto muito usado em laboratório, o soro fetal bovino.

Resumindo a ópera, os cientistas teriam, primeiro, que descartar qualquer chance de contaminação laboratorial das amostras antes de dizer que havia chance de infecção pelo vírus bovino.

Não parece ser o caso, porém. Se fosse real, seria um senhor achado científico –nunca antes foi detectada uma infecção humana, conta o virologista especializado em VDVB da UFRGS Paulo Roehe.

Como hipótese e resultado vazaram (concomitantemente a uma reunião sobre o tema entre pesquisadores e representantes do governo), era esperado que o alarmismo, como sempre acontece, ocupasse o espaço da prudência.

Resta-nos torcer para que os cientistas, jornalistas e população não caiam nas ciladas das explicações fáceis e que o governo mais ajude do que atrapalhe nesse processo de descoberta.


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Nesta semana, recebi a resposta da Sanofi Pasteur, a multinacional francesa que ganhou a corrida e que já está fabricando uma vacina contra a dengue que é aplicada em três doses  (uma a cada 6 meses) e que promete reduzir enormemente os casos graves. Reproduzo a carta a seguir:

A Sanofi Pasteur esclarece pontos importantes sobre a vacina contra a dengue atualmente aprovada no país.

 Os estudos mencionados na reportagem foram realizados “in vitro” – fora de sistemas vivos em recipientes de vidro, não realizado em humanos. Portanto, os dados não podem ser extrapolados para a vida real.

Zika é um flavivírus da mesma família que o vírus da dengue, e na vida real, os dados iniciais apontam que a imunidade à dengue poderia, na verdade, ser associada à diminuição da gravidade da doença em infecção subsequente por febre amarela ou vírus da encefalite japonesa. Além disso, um estudo recente relacionado à epidemia de Zika na Polinésia não demonstrou um impacto negativo da imunidade prévia à dengue na SGB[Síndrome Guillain-Barré] Zika¹.

Importante ressaltar que não foi observado em nenhum dos estudos clínicos de fase 3 realizados durante 6 anos e nos estudos em andamento com a vacina contra a dengue, a potencialização de casos de Zika.

A vacina foi utilizada em aproximadamente 29.000 indivíduos de diferentes faixas etárias e em 15 países diferentes, inclusive no Brasil. Sua segurança e eficácia foram avaliadas criteriosamente pela ANVISA e outras Agências reguladoras, que confirmam seu benefício, eficácia e segurança para países endêmicos.

 Estudo publicado no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde avaliou o potencial do impacto da vacinação contra dengue no Brasil: por meio de um programa amplo de vacinação (entre 9 a 40 anos), em cinco anos, poderia se reduzir a incidência da dengue em até 81% no País.

 1.Guillain-Barré Syndrome outbreak associated with Zika virus infection in French Polynesia: a case-control study. Cao-Lormeau VM et al. Volume 387, Issue 10027, 9–15 April 2016, Pages 1531–1539. doi:10.1016/S0140-6736(16)00562-6

Alguns pontos a esclarecer: não é porque não observaram os efeitos da potencialização dependente de anticorpos (antibody-dependent enhancement) em humanos que esse efeito não existe. Na verdade, eles nem buscaram por isso em particular, o que impede que se crave um número relacionado à chance desse fenômeno acontecer. Pode ser 1%, ou 0,0001%? Ninguém sabe ainda. Não há dolo –não havia zika durante os testes. O que não pode acontecer é ignorarem o problema agora.

De alguma forma, sinto minha crítica contemplada pelo Instituto Butantan. Vi hoje no portal da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que o instituto vai aproveitar os estudos em andamento de fase 3 (em um grande número de pessoas) da vacina da dengue para testar e medir a relação com a zika.

Essa vacina é uma parceria do instituto com a USP e os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) e ainda está em testes. De fato, o Butantan tem uma janela de oportunidade de buscar ativamente essas informações ainda durante o estudo. A Sanofi é, de certo modo, refém daquilo que aparecer durante o monitoramento dos vacinados.

Sou um entusiasta das vacinas (a ideia de se ver livre de uma doença antes que ela tenha chance de se instalar não é fantástica?), mas  tudo tem que ser feito com o máximo de abrangência e responsabilidade, para que, no futuro, pessoas do movimento antivacina não tenham um motivo real para protestar. Hoje eles não tem nenhum –apenas a própria ignorância.


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