Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Novo coronavírus permanece íntegro no ambiente por dias https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/03/12/novo-coronavirus-permanece-integro-no-ambiente-por-dias/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/03/12/novo-coronavirus-permanece-integro-no-ambiente-por-dias/#respond Thu, 12 Mar 2020 19:34:46 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/900cce4a25d8947b7e96dd83cb7dc0aaf940b225463d2fcd6bcf6288172e4e02_5e627043dbad1-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1280 Com a pandemia de coronavírus batendo à porta, uma das questões que carecia de resposta é sobre a estabilidade do novo coronavírus, ou seja, quanto tempo ele consegue manter sua capacidade de infecção no ambiente.

A depender do material avaliado, o Sars-CoV-2 permanece íntegro por horas e até dias, aponta novo estudo, publicado na forma de pré-print (sem revisão por outros cientistas) na plataforma medRxiv no último dia 9.

Na forma de aerossol, ou seja, dentro de microgotículas no ar, a meia-vida do vírus, ou seja, tempo necessário para sua quantidade cair pela metade, é de 2,74 horas. Isso equivale a dizer que a quantidade de vírus chegaria a 1% da inicial em 18 horas.

Sobre superfícies como papelão, aço e plástico a quantidade de partículas virais demoraria 2,3, 3,6 e 4,4 dias para chegar a um centésimo da inicial, respectivamente.

Em comparação ao Sars-CoV-1, parente do novo coronavírus causador da síndrome respieratória aguda grave, que assustou o mundo entre 2002 e 2004, houve mais semelhanças do que diferenças. Só a sobrevida no papelão do novo patógeno é maior do que a do predecessor.

“Nossos resultadas indicam que tanto a transmissão tanto por meio de aerossol quanto por objetios são plausíveis, já que o vírus permanece viável em aerossóis por horas e em superfícies por dias”, concluem os pesquisadores.

Participaram do trabalho pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, da Universidade de Princeton, da Califórnia (em Los Angeles) e dos Centros de Controles de Doenças do país.

O biólogo Pablo Ramos me escreveu para lembrar algumas das maneiras de se livrar dos vírus: “Neste artigo cientistas fazem um levantamento da literatura sobre biocidas em diversos materiais. Vários deles apresentam a capacidade de matar o vírus, não apenas o álcool a 70% ou superior. Como está difícil de encontrar (e caro) em muitos lugares, uma alternativa eficaz seria o hipoclorito. Aqui no país o hipoclorito é vendido em concentração de 2-2.5%. Uma diluição de 1:4 em água (ou seja, uma parte de hipoclorito para três de água) já daria uma solução com concentração no mínimo 0.5%, adequado para desinfecção. Isso pode ser colocado em borrifador e utilizado.”

Até esta quinta (12), mais de 127 mil pessoas já foram diagnosticadas com covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus; mais de 4.700 morreram.


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Entenda a diferença entre surto, epidemia e pandemia

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Entenda a diferença entre surto, epidemia e pandemia https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/23/entenda-a-diferenca-entre-surto-epidemia-e-pandemia/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/23/entenda-a-diferenca-entre-surto-epidemia-e-pandemia/#respond Thu, 23 Jan 2020 17:53:29 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/cce995cefda4df1b4cee9aa2ee0deb0ea7414f1fd9b88484fe45876847009ddf_5e29995731933-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1243 Quando muitos casos de uma doença contagiosa começam a ser reportados, logo surgem manchetes falando sobre determinado surto, epidemia e do risco de uma pandemia. Nem sempre, porém, fica claro o que é cada um desses níveis e exatamente em que momento passa-se de um estágio para o outro.

O primeiro conceito importante é o de endemia. Trata-se de uma certa quantidade de casos que historicamente já ocorrem em determinada região do país. Exemplos brasileiros: doença de Chagas e esquistossomose (barriga d’água).

Quando esse nível endêmico (que pode ser 0) é rompido pelo aumento de casos, pode-se considerar que há um surto ou uma epidemia

Geralmente fala-se em “surto” para designar que novos casos estão concentrados em determinada região, como um bairro de uma cidade ou uma região metropolitana. 

A palavra “epidemia” costuma ser reservada para quando a delimitação geográfica (uma vila ou um bairro, por exemplo) já não ajuda a definir tão bem onde os casos da doença estão acontecendo e/ou quando muitas pessoas são afetadas.

A distinção é algo cinzenta, mas uma infecção que pode ajudar a ilustrar o problema é o sarampo. Os surtos recentes de sarampo mataram 140 mil pessoas só em 2018, segundo a OMS. Calcula-se que as epidemias de sarampo na década de 60 chegaram a matar 2,5 milhões de pessoas.

Quando a epidemia afeta vários países ou continentes, trata-se de uma pandemia. Um caso ou outro de uma doença fora do local onde houve inicialmente o surto não implica necessariamente uma pandemia. Outros fatores, como a capacidade de disseminação do agente infeccioso (como no vírus da gripe) e presença de vetor (mosquito Aedes aegypti, no caso de arboviroses como dengue e zika) contribuem para a contenção ou espalhamento da moléstia.

Mas em que momento exatamente uma grande epidemia se transforma numa pandemia? Quantos países têm de ser afetados? Em que proporção? A gravidade da doença importa?

Há um consenso de que a gripe espanhola, que há cem anos matou pelo menos 50 milhões de pessoas, pode ser chamada de pandemia. Também se diz que o surto de gripe suína, em 2009, que matou 200 mil pessoas em todo o mundo, foi uma pandemia. 

Em um artigo publicado no periódico The Journal of Infectious Diseases, em 2009, os autores, entre eles Anthony Fauci, diretor do Niaid (Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA) fazem uma reflexão do que seria necessário para atestar esse patamar extremo:

  • Grande distribuição geográfica: um dos consensos é que a doença tem que afetar uma grande porção territorial, como no caso da peste negra, da gripe (influenza) e de HIV/Aids.
  • Rastreabilidade do movimento da doença: é possível identificar para o caminho percorrido pela doença, como no caso da influenza, transmitidas por via respiratória, da cólera, pela água, ou da dengue, que se dá de acordo com a presença de vetores (mosquitos do gênero Aedes).
  • Alta taxa de infecção: quando a taxa de transmissão é fraca ou há baixa proporção de casos sintomáticos, raramente uma doença é tratada como pandemia, mesmo com grande disseminação. A febre do Nilo Ocidental saiu do Oriente Médio e foi parar na Rússia e no Ocidente em 1999, mas nunca carregou a alcunha de epidemia
  • Imunidade populacional baixa: É maior a chance de haver uma pandemia quando a imunidade da população for baixa para o patógeno
  • Novidade: o uso do termo pandemia está associado ao risco de novos patógenos (caso do HIV, nos anos 1980) ou novas variantes (caso do vírus influenza, da gripe, que apresenta sazonalmente novas configurações)
  • Infecciosidade: o termo “pandemia” é menos comumente ligado a doenças não infecciosas, como obesidade, ou comportamento de risco, como tabagismo. Quando isso ocorre, a ideia é destacar aquele problema como uma área que merece atenção, mas, segundo os autores do artigo, trata-se de um uso coloquial, não tão científico.
  • Tipo de contágio: a maioria dos casos de epidemias é de doenças transmitidas entre pessoas, como a gripe (influenza).
  • Gravidade: geralmente a palavra “pandemia” é associada a moléstias graves, capazes de matar, como peste negra, HIV/Aids e SARS (síndrome respiratória aguda severa). Mas doenças menos severas, como sarna (causada por um ácaro) ou conjuntivite hemorrágica aguda (provocada por vírus), também foram consideradas pandemias.

A principal forma de se prevenir contra os efeitos de uma pandemia é com sistemas vigilância para detectar rapidamente os casos, ter laboratórios equipados para identificar a causa da doença, dispor de uma equipe habilitada para conter o surto, evitando novos casos e sistemas de gerenciamento de crise, para coordenar a resposta.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), por sua vez, emprega termos específicos para classificar certas situações. Uma emergência se dá quando uma autoridade decide que é hora de tomar medidas extraordinárias, como restrição de viagens e de comércio e estabelecimento de quarentena. Essa mesma autoridade também pode suspender esse estado de emergência. Geralmente uma emergência é bem-definida no tempo e no espaço e depende de um certo limiar para ser declarada. Esse limiar pode ser definido como uma taxa de mortalidade de 1 para cada 10.000 pessoas por dia ou mortalidade de 2 crianças abaixo de 5 anos a cada 10.000 pessoas por dia.

Crise é uma situação classificada como difícil, difícil de se estudar, classificar e combater. Uma crise pode não ser necessariamente evidente e necessita de um trabalho de análise para ser totalmente conhecida e e combatida.

Outras fontes consultadas: Ministério da Saúde, Fredi Alexander Diaz Quijano (Faculdade de Saúde Pública – USP), CDC


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Matemáticas desvendam comportamento da gripe e do ebola https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/23/matematicas-desvendam-comportamento-da-gripe-e-do-ebola/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/23/matematicas-desvendam-comportamento-da-gripe-e-do-ebola/#respond Thu, 23 Aug 2018 05:03:29 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/broad-street-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1003 O médico John Snow (1813-1858, não confundir com Jon Snow, o herói bastardo de “Game of Thrones”) mostrou, em meados do século 19, que um surto de cólera em Londres tinha a ver com água infectada. A conclusão veio de uma associação geográfica entre os casos e uma bomba de abastecimento contaminada com esgoto em Londres.

Era o fim a teoria do miasma, espécie de ar maléfico que espalharia doenças, e início da epidemiologia moderna —uma das área das ciências médicas que mais se valem de cálculos. Embora mais de 150 anos tenham passado, o importante papel da matemática para a compreensão da dinâmica das doenças não mudou.

Em uma de suas linhas de pesquisa, Shweta Bansal, matemática da Universidade Georgetown, em Washington, investiga o comportamento da gripe, doença sazonal causada pelo vírus influenza e o papel das interações sociais para sua disseminação.

Ela conseguiu associar o pico de afecção de adultos ao recesso escolar que acontece em dezembro nos EUA. Outra possibilidade de explicação seriam as viagens para ver a família, mas o rigor matemático mostrou que elas não são decisivas.

O resultado, explica Bansal, pode ajudar as autoridades a elaborarem estratégi23as de prevenção, as quais se somariam às recomendações de vacinação e de higienização das mãos.

Para chegar a essas conclusões, a cientista analisou relatórios semanais, com número de diagnósticos separados por idade, produzidos por de mais de 400 mil médicos espalhados pelo país. As localidades foram identificadas por meio do CEP –algo não muito diferente, em essência, do que fez Snow.

Ajustes tiveram de ser feitos levando em conta, por exemplo, as pessoas que não procuram atendimento médico ou que não têm seguro saúde —responsável por prover parte das informações. Esses dados do mundo real, ou seja, fora de um contexto de estudo controlado, nem sempre são fáceis de se obter e têm de ser ajustados também, por exemplo, pela densidade populacional e de médicos.

Uma outra pesquisa de modelagem matemática aplicada à epidemiologia, comandada por Lora Billings, da Montclair State University, em Nova Jersey, conseguiu aproximar modelos clássicos de espalhamento de doenças à realidade adicionando apenas uma camada de complexidade: uma perturbação, ou ruído, no jargão da área.

O ruído não é uma entidade transcendental. Ele pode ser reflexo da chegada de um novo indivíduo contaminado ou da presença de reservatórios (animais contaminados com os agentes infecciosos).

Mesmo em condições de aparente tranquilidade epidemiológica, pequenos surtos de ebola começaram a pipocar em países como Libéria, Serra Leoa e Guiné antes do grande boom. Resultado: mais de 11 mil mortos entre 2014 e 2016. Após um curto período mais silencioso, neste ano de 2018 já houve um novo surto na República Democrática do Congo.

A partir desse exemplo é possível visualizar a dificuldade de lidar também com outras doenças infecciosas, como dengue, zika e chikungunya.

O mosquito Aedes aegypti já chegou a ser declarado erradicado no Brasil na década de 1950 —e aqui estamos, em um cenário rico em surtos e no qual se busca vacinas para tentar conter a expansão das arboviroses (apesar da intensificação recente de manifestações antivacina, vale notar).

As duas cientistas americanas estão no Brasil a convite do consulado dos EUA, em uma iniciativa para promover colaborações científicas entre os dois países. Entre as possibilidades, diz Billings, está o estudo de como a mudança climática pode interferir no espalhamento das doenças transmitidas pelo Aedes.


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Estudo decifra rota da zika até o Brasil –doença veio do Haiti https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/14/zika-e-haiti/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/14/zika-e-haiti/#respond Tue, 14 Aug 2018 22:44:32 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/zika-virus-estrutura-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=987 Um estudo comandado por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Pernambuco desvendou a rota percorrida pelo vírus da zika até que ele desembarcasse em terras brasileiras. Ao que tudo indica, a penúltima parada foi o Haiti: é possível que os próprios haitianos que vieram para o Brasil estivessem infectados, ou ainda que os militares brasileiros que participaram de uma missão de paz no país caribenho tenham trazido o patógeno.

O vírus, que no Brasil foi responsável por um surto de casos de microcefalia, especialmente na região Nordeste, antes passou por Polinésia Francesa, por países da Oceania, Ilha de Páscoa e só daí ela foi para a América Central e Caribe, antes de chegar por aqui. A rota se assemelha àquela percorrida pelos vírus da dengue e da chikungunya.

Além disso, os pesquisadores identificaram ao menos seis linhagens da variante asiática do vírus da zika circulando no Brasil. Um próximo passo nessa linha de pesquisa é tentar saber se os vários tipos têm comportamentos distintos entre si.

Do ponto de vista de saúde pública, com essa informação é possível traçar estratégias para tentar evitar ou reagir mais rapidamente à chegada de outros vírus no país.

“Nossos resultados enfatizam a necessidade de observar com atenção os procedimentos de biossegurança nos principais pontos de entrada e de garantir que haja uma vigilância sistemática para as arboviroses, a fim de monitorar a circulação e a evolução delas, conforme os vírus se espalham pelo mundo”, escrevem os autores do estudo, publicado na revista especializada International Journal of Genomics.

Outros elementos que ajudam a atacar a questão são o monitoramento de mosquitos, para ver quais vírus carregam, e os dados de diagnóstico clínico de pessoas com a doença.

No Brasil, desde o início do surto, em 2015, os casos suspeitos de zika superam 231 mil; os confirmados, 137 mil. O número de casos de síndrome fetal congênita (que inclui microcefalia, problemas de visão, de articulação entre outros) está em 2.931, e 11 mortes já foram ligadas à doença, segundo os dados mais recentes.

O trabalho da Fiocruz foi financiado pela Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco).


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E se a zika fosse transmitida como o ebola? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/09/30/e-se-a-zika-fosse-transmitida-como-o-ebola/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/09/30/e-se-a-zika-fosse-transmitida-como-o-ebola/#respond Fri, 30 Sep 2016 14:40:20 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/15811190376_f65d162699_k-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=415 Um novo relato de caso que saiu na última quarta (28) no prestigioso “New England Journal of Medicine” levantou uma lebre importante. E se a zika, de repente, fosse transmitida como o ebola?

Para quem não se lembra, o ebola também é uma doença viral, só que a via de transmissão não se dá por picada de mosquitos infectados, mas pelo contato com secreções do paciente e pela proximidade física.

No caso relatado no “NEJM”, um paciente idoso, de 73 anos, viajou para o México. Ele recordou ter sido picado por mosquitos no local, mas não teve nenhum sintoma antes de retornar aos EUA.

No começo, ele sentia muita dor abdominal, faringite e febre. Depois apareceu a conjuntivite, diarreia e dores musculares. A alternativa foi ir para o hospital. Ele não melhorou e começou a ter pressão baixa e sentir dificuldade para respirar.

Os tratamentos com antibióticos não funcionavam e o teste do torniquete (para dengue) deu negativo.  Ele teve uma piora respiratória, insuficiência renal, acidose metabólica e hepatite e acabou morrendo.

Depois de fazer vários testes, finalmente descobriram que o paciente tinha tido zika –e que provavelmente essa terrível condição clínica teria decorrido da infecção, auxiliada por uma falha do sistema imunológico.

AZAR

Registra-se que apenas 1 a cada 5 casos de zika é sintomático, e raríssimos são aqueles casos que resultam em morte. Claro que uma única morte como essa associada ao vírus não é razão para que se reescreva tudo o que se sabe da doença, mas o terrível vem a seguir.

Um outro paciente, mais jovem, de 38 anos, também teve zika. Como não há mosquitos transmissores no local e ele não passou por transfusão de sangue (nem fez sexo com o senhor de 73 anos), os médicos concluíram que o motivo provável da infecção foi a proximidade entre os dois homens.

Em uma visita hospitalar, o mais jovem ajudou o mais velho a mudar de posição (com luvas) e também enxugou as lágrimas do idoso.

Os sintomas –conjuntivite, febre, dores musculares, e rash (exantemas) no rosto– só apareceram mais de uma semana após o contato (o paciente idoso já havia morrido). Ninguém mais que teve contato com o idoso relatou sintomas.

As conclusões são desanimadoras. A primeira é que a capacidade de espalhamento do vírus da zika pode estar (e muito) subestimada. Outra é que a infecção por zika tem potencial para ser fulminante. Não é a primeira vez que alguém morre de zika e, conforme a doença se globaliza, talvez esses relatos sejam cada vez mais comuns.


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Risco de zika na Olimpíada é baixo, mas vale deixar kit com camisinha e repelente a postos https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/zika-sexo-e-olimpiada/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/zika-sexo-e-olimpiada/#respond Wed, 03 Aug 2016 15:54:31 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/BRAZIL-TREATMENT_53056421-180x134.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=309 A Olimpíada do Rio é um evento histórico, mas o motivo da lembrança dele no futuro, de repente, pode não ser o espetáculo ou algum recorde, e sim a infame zika.

A doença desembarcou no país provavelmente em 2013, durante a Copa das Confederações, vinda de algum país da Ásia ou Oceania, e se espalhou como fogo em mata seca. A “prima pobre” da dengue –que raramente é grave– teria sido apenas mais uma virose por aí se não fossem os casos de microcefalia.

Olhando de longe, os números assustam. Desde o final de 2015 até agora, foram 8.703 casos notificados.

Desses, 1.749 foram confirmados –95 no Estado do Rio de Janeiro. Talvez não pareça muito, mas é. A cifra fluminense equivale a mais da metade dos registros anuais do país entre 2010 e 2014.

Nessa época, as más-formações se davam por infecção por outros vírus, uso de drogas e fatores genéticos. Hoje, a zika é, com larga margem, a principal causa.

Além da microcefalia, pode haver mais prejuízos causados pelo vírus em bebês. Os danos neurológicos nem sempre são notados. Pode haver calcificações no cérebro, degeneração da retina e surdez –tudo isso longe de ser mapeado.

De fato, estamos longe até de entender a natureza do surto de microcefalia. Há um desequilíbrio na incidência de casos no Nordeste do país e as explicações ainda estão no mundo das ideias. Entre elas, a presença de genes que favorecem a má-formação, a pobreza e as más condições de higiene e/ou a presença de outros vírus, como o da dengue (nossa eterna inimiga). Até um vírus bovino tem sido cogitado à vaga de “ajudante” do vírus da zika.

Mesmo assim, o destino parece estar a favor. A época do ano é a melhor possível com relação a zika, dengue e chikungunya –a transmissão pelo A. aegypti, provável principal via de contágio, está em um mínimo por causa do frio e do tempo seco. O vírus também se multiplica e se espalha devagar.

A chance calculada por Eduardo Massad, da USP, para que um turista gringo pegue zika é da ordem de 3 para cada 100 mil –15 no total, considerando os 500 mil aguardados.

Nessa conta, porém, o potencial da transmissão sexual da zika pode estar subestimado. Foram relatados casos dessa “modalidade” nos EUA e na Europa, onde não havia transmissão por mosquito. E, convenhamos, a atividade sexual humana depende menos da estação do ano do que a dos mosquitos.

Por ora, vale deixar o kit olímpico com repelente e camisinha a postos. O risco é mínimo, mas, se algum gringo tem de levar medalha de ouro, que não seja esse intruso asiático-africano do vírus da zika.


 

Essa foi a primeira de três colunas “olímpicas” sobre saúde de minha autoria que serão publicadas no caderno especial “Rio 2016”, da Folha. A primeira foi publicada hoje e as demais sairão nas duas próximas semanas, sempre às quartas. A versão on-line você poderá ler aqui no blog “Cadê a Cura?

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