Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Empresários e redes sociais lucram com onda antivacina https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/#respond Fri, 17 Jan 2020 19:17:05 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/691548e03ee4fb72d1aad79f90a7f839b476fcbeb10c896ad2ae54d49be43dd9_5ca7c61cde9cf-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1238 Apesar do indiscutível benefício à saúde da humanidade, o crescimento do movimento antivacina no Brasil tem preocupado médicos e acadêmicos. No texto abaixo, escrito para o blog Cadê a Cura?, Dayane Machado e Leda Gitahy contam um pouco sobre o que há por trás do fenômeno e quem tem a ganhar com esse aglomerado de teorias conspiratórias.

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Por Dayane Machado e Leda Gitahy, respectivamente doutoranda e professora livre-docente do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp

Cento e setenta países registraram casos de sarampo em 2019. O Brasil não só perdeu o certificado de erradicação da doença, como se tornou o sexto país em número de casos registrados. Devido a esses e outros acontecimentos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a hesitação a vacinas uma das maiores ameaças à saúde de 2019.

A hesitação a vacinas é um conjunto diverso de atitudes relacionadas à imunização: há quem recuse apenas algumas vacinas; quem adie o calendário vacinal; quem obedeça ao calendário, mas não se sinta seguro, entre outras variações.

Essa falta de confiança coloca os mais frágeis em perigo e pode impactar as taxas de vacinação, aumentando o risco de epidemias de doenças preveníveis por vacina, como é o caso da poliomielite e do próprio sarampo.

As redes sociais também têm responsabilidade na disseminação dessa desconfiança, como indica uma pesquisa recente da Avaaz. Quase 90% dos vídeos do YouTube em português analisados pela organização apresentaram alguma desinformação sobre vacinas. Esse resultado se torna ainda mais preocupante se considerarmos que das pessoas entrevistadas pela pesquisa, 57% dos que deixaram de se vacinar alegaram algum boato sobre vacinas como o principal motivo para essa decisão.

O Facebook é uma das plataformas mais utilizadas para espalhar informações falsas sobre vacinas. Uma pesquisa americana revelou que dois únicos compradores são responsáveis pela maior parte dos anúncios antivacinação em inglês que circulam na rede social.

Larry Cook é um desses clientes. Ele administra o Stop Mandatory Vaccinations (site e comunidade no Facebook), que além de desinformação e teorias conspiratórias, promove uma loja da Amazon, onde livros antivacinação e produtos “alternativos” são comercializados.

Outro empresário beneficiado pelo discurso antivacinação é Joseph Mercola. Em seu site, ele ataca vacinas e anuncia produtos “alternativos” à imunização. Uma investigação realizada pelo Washington Post revelou ainda que o milionário é o principal apoiador do grupo antivacina mais antigo dos Estados Unidos, tendo doado mais de US$ 2 milhões (algo como R$ 8,35 milhões) à associação ao longo da última década.

Esse movimento também tem se fortalecido no Brasil por meio das redes sociais. Um dos maiores grupos do Facebook contrários à vacinação reproduz argumentos de conspiracionistas, compartilha conteúdo de sites negacionistas americanos e realiza até transmissão online de eventos problemáticos como o AutismOne.

Esse “congresso” se propõe a falar de autismo, mas tem sessão dedicada a criticar vacinas, oferece treinamento para “ativistas da saúde”, recebe gurus do movimento antivacina como palestrantes, além de promover terapias e produtos duvidosos.

Quando confrontadas publicamente com esses tipos de dados, as plataformas prometem combater a desinformação sobre vacinas, mas a constância nas denúncias de jornalistas a respeito desse tema indica o baixo nível de comprometimento de grande parte dessas empresas. Mark Zuckerberg, por exemplo, já disse que não incentiva o festival de desinformação dentro do Facebook, mas também não se opõe caso “alguém quiser postar conteúdo antivacinação ou quiser se juntar a um dos grupos que discutem esse tipo de ideia”.

Redes sociais são movidas a atenção e engajamento, de modo que conteúdos antivacinação também podem se tornar lucrativos para essas empresas. Enquanto isso, os grupos antivacina se organizam e se fortalecem, disseminando dúvidas e criando novas ondas de hesitação.


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Por Saulo Nader, neurologista

Enquanto o Uber rasgava o trânsito da metrópole com a agilidade de uma tartaruga, me perdia contemplando as varandas gourmet. Tanta vida ocorrendo naqueles espacinhos iluminados que se apinham no horizonte da capital.

Um casal parecia discutir em uma; em outra, crianças corriam animadas; em uma lá no meio do prédio vermelho, uma cena que me captou: um homem de cadeira de rodas segurava o celular e navegava entorpecido em sua telinha. Seu olhar cansado exalava curiosidade. Será que buscava informação sobre saúde no mundo virtual?

Talvez ele procurasse no cyberespaço dicas para saber mais de sua vertigem (uma doença traiçoeira) ou simplesmente como lidar com o desafio de ser deficiente na cidade dos buracos. Escrevi um lembrete para gravar um vídeo sobre o assunto.

Naquela noite, eu comemorava o marco de mil pacientes atendidos em meu consultório, mil vidas que esbarraram na minha e que tive a oportunidade de, por meio da ciência médica, tentar ajudar.

Mil vidas, mil histórias, mil doenças… O número chacoalhava dentro do meu cérebro. Em meu canal no YouTube, contudo, tenho vídeos já com mais de um milhão de visualizações. Ou seja, somente por essa portinha mágica do smartphone, esbarrei em mais de um milhão de vidas.

Um milhão de pessoas é mais do que qualquer médico atenderá em toda sua carreira, por mais trabalhador que seja. De fato, a tecnologia quebra barreiras.

Um vídeo não substitui o médico, lógico que não. Mas leva informação às pessoas que anseiam por ajuda, dá um caminho para chegar à sonhada melhora. Tomara que um bom vídeo ajude aquele senhor ali parado, divagando no seu celular, ter ajuda para aliviar suas tonturas e a viver melhor com sua aliada de rodinhas.

O primeiro passo em busca da sonhada melhora é o conhecimento.

Ali, sentado no banco de um carro qualquer, em uma rua conturbada, pensei no poder que as mídias sociais podem dar a algumas pessoas e como muita gente usa esse poder para o mal, infelizmente.

Uma informação desencontrada, de má fé ou exploradora pode deixar um grande estrago nessas vidas, como as que vejo nas varandinhas.

Curas impossíveis, orientações equivocadas e causas inexistentes de doenças podem devastar uma existência. Crendices e achismos disfarçados com a roupagem professoral da ciência abundam por aí. Charlatões maquiados com a pompa e o jargão médico enganam livremente.

Tem de tudo: ervas milagrosas, vitaminas mágicas, Pedro de Jesus, o louco da vitamina D, o insano da glutamina, as pílulas da inteligência, a fosfoetalamina, o ódio contra vacinas e os chás de rosas. Obscurantismo e ocultismo vendendo falsa saúde, o mundo assombrado por demônios. Esse livro, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, escrito pelo incrível Carl Sagan, expõe o capeta que ganhou asas no mundo digital: a pseudociência.

Essas pessoas que usam da fé para enganar e em, boa parte das vezes, para enriquecer não se importam com o ser humano, apenas com o bolso. Em tom messiânico, prometem a cura por vias anticientíficas, místicas e irreais. Esse discurso entorpece os sentidos e engana a alma.

Ninguém está imune à pseudociência, mas, quanto mais boa informação houver, maior a esperança de que os dias adiante serão melhores. Existe muito conteúdo médico e de saúde com qualidade nessa galáxia confusa que é a internet, não tenha dúvida — conhecimento bom, baseado em evidência científica.

“Chegamos, amigo”, despertou-me dos meus pensamentos a voz rouca do motorista. Há um provérbio chinês que diz que mais vale acender uma vela do que lamentar a escuridão. Acendi a minha. E, nas varandas gourmet, vida acontecendo.

 


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Cremação de paciente que tomou droga radioativa gera contaminação nos EUA https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/cremacao-de-paciente-que-tomou-droga-radioativa-gera-contaminacao-nos-eua/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/cremacao-de-paciente-que-tomou-droga-radioativa-gera-contaminacao-nos-eua/#respond Tue, 26 Feb 2019 16:02:06 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Cem-Architect-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1093 O caso aconteceu no Arizona (EUA), em 2017. Um homem de 69 anos que lutava contra um câncer de pâncreas recebeu uma dose intravenosa de lutécio-177, uma droga radioativa. Elementos químicos radioativos muitas vezes são usados no diagnóstico e no tratamento oncológicos.

No dia seguinte, o paciente teve pressão baixa e foi levado ao hospital, mas morreu um dia depois. Cinco dias após a injeção, o corpo foi cremado.

Quando a equipe responsável pela radioterapia ficou sabendo da morte, avisou o crematório que o corpo ainda tinha grande quantidade de material radioativo no momento da cremação.

Realizaram uma varredura no estabelecimento e a coleta de urina de um funcionário do crematório. Havia um claro sinal de radiação no local devido ao lutécio-177, mas essa droga não apareceu na amostra de urina. No entanto, observou-se um outro radioisótopo, o tecnécio-99m, muito usado no diagnóstico por imagem de tumores.

O curioso é que o funcionário nunca havia passado por nenhum procedimento em que o elemento radioativo é empregado. O mais provável é que ele tenha sido exposto à substância na cremação de algum outro cadáver, afirmam os médicos da Mayo Clinic em artigo na revista JAMA desta terça (26).

Provavelmente o operador não arcará com consequências negativas para a saúde, já que a dose de radiação a que foi submetido seria relativamente baixa, pelos padrões internacionais. Mas, alertam os médicos, é necessário mais cuidado na hora de lidar com os cadáveres e de estabelecer protocolos de segurança para evitar acidentes mais graves.


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Super-humanos? Talvez em breve https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/super-humanos-talvez-em-breve/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/super-humanos-talvez-em-breve/#respond Thu, 21 Feb 2019 19:24:28 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/img_0288-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1079 Ao olhar para os avanços das técnicas de edição genética, como o Crispr, e o nascimento de bebês geneticamente editadas na China é natural supor que um dia haverá super-humanos perambulando pelo planeta Terra. Será?

O colunista Reinaldo José Lopes, um dos melhores jornalistas de ciência do país, escreveu semana passada na Folha que ele não enxerga esses seres geneticamente superiores num horizonte próximo. Discordo. Consigo avistá-los logo ali dobrando a esquina.

A prova de que isso faz sentido são as próprias bebês chinesas: elas teriam sido manipuladas para serem resistentes à infecção por HIV. Bastou alterar um dos cerca de 20 mil genes humanos e voilà, ganha-se uma (pequena) vantagem genética (apesar de esse tipo de experimento ser proibido naquele país e, dado os riscos, eticamente questionável).

Já inteligência e aptidão musical, por exemplo, são características complexas, que dependem da interação de dezenas ou centenas de genes com o ambiente. Com o que sabemos hoje, ainda seria difícil manipular essa teia de informação de modo a gerar resultados previsíveis.

Por outro lado, há um bom punhado de características que podem ser incrementadas a partir de alterações no DNA.

Um exemplo famoso é a miostatina, molécula que tem por papel reduzir a produção de músculo. Suponha que seja possível alterar (ou deletar) o gene da miostatina para torná-la menos eficiente. O resultado: menos gordura, mais músculos e uma clara superioridade física. Veja abaixo imagem de camundongo cujo gene da miostatina foi desativado:

Camundongo normal (à esq.) e camundongo cujo gene da miostatina foi deletado (Crédito: Se-Jin lee)

Outro exemplo é o gene da alfa-actinina 3, uma proteína importante no processo de contração muscular. Alguns indivíduos carregam uma variante do gene que permite um ciclo mais rápido de contração e relaxamento, ou seja, mais velocidade na corrida. Esse mesmo gene pode ter papel importante em outras características, como adaptação ao exercício, recuperação e no risco de lesões.

O DEC2 também é um gene interessante, que, ao que tudo indica, parece ser importante na definição da necessidade de horas de sono para um indivíduo. Imagine dormir apenas 4h para ficar novinho em folha? Algumas pessoas carregam uma mutação que otimiza o período do sono.

A lista poderia se estender: ossos mais duros, imunidade a venenos, resistência aeróbica, maior altura e envergadura… Não faltam oportunidades de otimização da espécie.

Por outro lado, Lopes está coberto de razão ao lembrar que os genes podem ter mais de uma função no organismo, ou seja, que ao mexer numa engrenagem molecular ali, podemos gerar um efeito inesperado e/ou indesejado acolá, como infertilidade ou maior chance de desenvolver câncer. Mas isso não quer dizer que ninguém vá trilhar esse caminho (como mostrou o cientista chinês He Jiankui).

Perguntei a alguns especialistas o que eles pensavam a respeito do tema. Veja as respostas abaixo:

Os avanços da edição genética permitirão a existência de super-humanos no futuro? Por quê?

Se o termo “super-humano” se referir a modificações de genes relacionados com características físicas relativamente bem-definidas, como força, por exemplo, a resposta seria sim. Embora a edição de genes ainda não seja totalmente isenta de falhas, os desafios técnicos deverão ser resolvidos nos próximos anos. Entretanto, se o termo se referir a tentativas de mudar características do indivíduo com vistas a transformações comportamentais, sociais ou morais, imagino que não. A bioética já está se ocupando de discutir esse tema, vide o lançamento da Declaração em Bioética e Edição de Genes em Humanos pelo Observatory of Bioethics and Law (OBD, Barcelona).
Marimélia Porcionatto, professora da Unifesp

Para que isso aconteça, primeiro precisamos conhecer os genes que nos tornariam “super-humanos” (supondo que um super-humano teria grande inteligência, saúde perfeita e uma bela aparência – é isso?!). Hoje ainda não conhecemos os genes que influenciam essas características. Mas um dia conheceremos.  E já quase temos a tecnologia para modificar esses genes. Logo, sim, poderemos criar super-humanos. Iremos? Se a tecnologia/conhecimento de fato existirem, acho quase inevitável. Porém, os super-humanos já existem hoje. Somos todos nós que já temos acesso às maravilhas da medicina moderna, à educação, ao saneamento básico. Compare a saúde (e aparência) das pessoas com nível socioeconômico alto com a média da humanidade. Eis os super-humanos —eles já existem…
Lygia Veiga Pereira, professora da USP

Enquanto a utilização da tecnologia para tratar doenças é justificável, o uso para mudar características de bebês é perigosamente eugênico. Num futuro incerto, poderiam os pais equivocados escolher o fenótipo de seus filhos? Estatura aumentada, visão infra-vermelho, pele altamente resistente, sem contar outras características comportamentais? Qual o limite do uso de uma técnica de consequências tão profundas? Considerando-se apenas as questões técnicas, a imaginação é o limite. Quando lidamos com o bem estar e possível sobrevivência da humanidade, porém, o limite que se impõe é a ética. O mundo como um todo deve discutir profundamente todas as implicações do uso desta tecnologia e que apenas as que tragam o bem estar dos seres humanos sejam permitidas. Cabe a nós decidir o que fazer com o conteúdo da caixa de Pandora…
João Bosco Pesquero, professor da Unifesp

A gente já conseguiria selecionar os embriões perante características físicas bem-definidas. Inclusive a empresa 23andMe já havia avisado que poderia selecionar embriões baseados na cor dos olhos, dos cabelos, pele etc, gerando grande polêmica —isso aconteceu já há algum tempo. Imagine na China, com uma tecnologia que a gente nem conhece tão bem, uma triagem de embriões e, em cima dessa triagem, a edição de alguns genes. Esses indivíduos poderiam ser transformados, deixando-os mais robustos,  modificando até mesmo características comportamentais, reduzindo a capacidade de sentir medo. Eticamente é um assunto complexo. Em teoria, já teríamos metodologia para fazer super-humanos há cinco ou dez anos. Se já foram feitos ou não, é outra história.
Ciro Martinhago, médico geneticista

A resposta mais óbvia é sim. Quando se fala em possibilidades científicas, existem gargalos fundamentais e gargalos tecnológicos. Nós nunca vamos viajar em uma velocidade maior do que a luz, porque isso é uma impossibilidade física fundamental. A edição de genoma, por outro lado, enfrenta apenas limitações tecnológicas, que vêm sendo superadas. A barreira é dada pelo estado atual da técnica, não pela natureza. Ética, moral, religião ou medo nunca foram capazes de conter por muito tempo avanços tecnológicos que podem curar doenças, aumentar a longevidade ou, até mesmo, produzir características físicas mais desejáveis. Se isso é bom ou ruim para a sociedade como a vemos hoje, trata-se de um debate filosófico, não científico.
Natália Pasternak, bióloga e presidente do Instituto Questão de Ciência

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Por que as pessoas mentem para os médicos? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/07/por-que-as-pessoas-mentem-para-os-medicos/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/07/por-que-as-pessoas-mentem-para-os-medicos/#respond Fri, 07 Dec 2018 20:21:52 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/186958_web-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1034 As pessoas, vez ou outra, mentem para os médicos e outros profissionais da saúde. Mas qual o sentido de mentir se, quanto mais o profissional sabe a respeito do paciente, melhor é o cuidado?

Um estudo americano conduzido com 4.510 indivíduos aponta que de 60% a 80% das pessoas (idosos e jovens, respectivamente) omitem ao menos uma informação importante de seus médicos, como:

  • não entender as instruções dadas pelo profissional de saúde;
  • discordar das recomendações;
  • não se exercitar regularmente;
  • ter dieta não saudável;
  • tomar determinado medicamento;
  • não seguir as instruções de prescrição;
  • tomar medicamento de outra pessoa.

Várias são as explicações para as omissões de informações importantes. As cinco respostas mais citadas foram estas:

  • evitar ser julgado ou levar sermão;
  • não querer sabe o quão perigosa foi a atitude em questão;
  • vergonha;
  • não passar a impressão de que é um paciente difícil de lidar;
  • não tomar muito tempo do profissional.

Além do óbvio, que pacientes (especialmente os enfermos) podem ser mal assistidos por causa das informações incorretas ou faltantes, os autores concluem que é preciso encontrar meios de melhorar o nível de confiança entre pacientes e profissionais de saúde e de deixar os pacientes confortáveis para falar o que tem que ser dito.

“Fiquei surpresa com o número substancial de pessoas que não fornecem informações inofensivas, e que elas admitem isso”, diz Andrea Gurmankin Levy, autora do estudo e pesquisadora na Middlesex Community College, em Middletown (Connecticut, EUA). “Nós também temos que considerar uma interessante limitação do estudo de que os pacientes podem ter escondido informações sobre o que escondem dos médicos, o que significaria que estamos superestimando o quão prevalente é esse fenômeno.”

“Se pacientes não falam o que comem ou que remédio tomam, pode haver implicações significativas para a saúde. Especialmente se eles têm doenças crônicas”, diz Levy.

A pesquisa está publicada na revista Jama Network Open.


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Como é pesquisar ao lado de um Nobel de medicina? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/10/02/como-e-pesquisar-ao-lado-de-um-nobel-de-medicina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/10/02/como-e-pesquisar-ao-lado-de-um-nobel-de-medicina/#respond Tue, 02 Oct 2018 21:16:03 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/58266d3f0c60258e968583da55b917636df8e83aeb6432d7e3a2dc48de3f7503_5bb2a7edc2f20-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1011 No dia 1º de outubro de 2018, uma segunda-feira, a aposta de boa parte dos cientistas e médicos se concretizou: o Prêmio Nobel reconhecia a área da imunoterapia, que abriu avenidas de novas possibilidades para o tratamento do câncer. 

Os vencedores foram o americano James Allison e Tasuko Honjo. Você pode ler um pouco mais sobre a pesquisa deles na reportagem publicada pela Folha nesta segunda (1º) no em seu site e na edição impressa desta terça (2).  Agora trago um relato um pouco mais emotivo.

O biomédico Jorge Scutti teve a chance de trabalhar diretamente com Allison no MD Anderson Cancer Center, no Texas. Ele conta para o Cadê a Cura? um pouco de sua trajetória e como foi conviver com o célebre imunologista.

Leia abaixo:

Como acabei trabalhando com James Allison, Nobel de medicina de 2018, por Jorge Augusto Borin Scutti

Imerso no mundo do “Laboratório de Dexter” (desenho animado bastante conhecido entre quem cresceu na década de 1990) e do “Mundo de Beakman” (série educativa talvez ainda mais famosa), tinha certeza que meu destino tinha a ver com ciências.

Certa vez, na quinta série, lembro-me de ser o único a me candidatar para permanecer os três períodos em pé em um estande para apresentar um projeto de ciências sobre fertilização in vitro.

Aos 18 anos comecei a cursar biomedicina no interior de São Paulo. Lá conheci a imunologista Renata Dellalibera-Joviliano: cada explicação sobre o sistema imune me fascinava. Foi amor à primeira vista!  Tornei-me monitor de imunologia, ciência que estuda o comportamento do sistema imune na saúde e nos diferentes estágios das doenças.

Formado, me mudei para São Paulo e consegui passar no temido e concorrido processo seletivo de mestrado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Lá fui orientado por Luiz Travassos, um dos principais nomes da ciência brasileira, parceria que se repetiu no doutorado.

Minha linha de pesquisa abrangia o estudo do modelo de melanoma murino [em camundongos] e da imunologia de tumores —a meta era entender como o sistema imune poderia ser modulado por peptídeos (pedaços de proteínas, por assim dizer) não oriundos de células cancerosas. A ideia era elaborar um modelo de vacina que pudesse ser usado em pacientes com melanoma (uma ideia parecida havia vingado nos EUA, mas com peptídeos originários de células de melanoma).

Após cinco anos na Unifesp, comecei meu período de pós-doutorado (período de aperfeiçoamento usual na carreira de pesquisadores) no departamento de pediatria do MD Anderson Cancer Center em Houston, um dos centros de pesquisa e atendimento oncológico mais importantes no mundo, localizado no Texas.

Durante um ano desenvolvi um modelo de imunoterapia (em que o organismo é estimulado reagir ao câncer) baseado em células NK (que destroem células infectadas ou cancerosas) para combater um tipo de câncer cerebral infantil conhecido como glioma pontino difusamente intrínseco (DIPG).  

Findo o pós-doc, teve início em 2015 minha carreira como pesquisador da plataforma de imunoterapia do MD Anderson, liderada pelo agora nobelista James Allison.

Na época estávamos tentando entender por que razão alguns pacientes e alguns tipos de tumores respondiam melhor a determinados tratamentos baseados em imunoterapia, principalmente no caso de drogas como pembrolizumabe, nivolumabe e ipilimumabe —que mudaram o panorama do tratamento de vários tipos de câncer, reduzindo muito a mortalidade sem trazer tantos efeitos colaterais.

A ideia era encontrar marcadores que pudessem predizer quais pacientes teriam mais chance de sucesso.

Eu me encontrava com Jim Alisson periodicamente em nossa reunião semanal. É um sujeito inteligentíssimo, cavalheiro e extremamente humilde, apesar do vasto conhecimento. Ele adorava que os pesquisadores trouxessem desafios, sentia-se bem ao ser estimulado intelectualmente.

Foram três anos de muito aprendizado, de noites sem dormir, de viagens a congressos, de discussões longuíssimas… Mas tudo valeu pena.

Meu sonho é um dia acordar e descobrir que a cura para o câncer foi encontrada. Mas certamente uma parte do meu sonho foi realizada ao trabalhar com Jim (aqui um artigo que publicamos juntos). Nada mal para um menino que cresceu em Matão, no interior de São Paulo: guiado pelas mãos de Deus tive a honra de contribuir com os estudos de um ganhador do prêmio Nobel de Medicina.

Outras pessoas que me ajudaram e me inspirarem no caminho foram os colegas pesquisadores e amigos Mariana Conde Pineda e Luis Miguel Vence, além de minha esposa Yasmim e meus filhos Catharina e Thales.

Os pesquisadores Jim Allison e Jorge Scutti
Os pesquisadores Jim Allison e Jorge Scutti (crédito: Arquivo pessoal)

 

 


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Médicos defendem combinação de drogas no início do tratamento contra diabetes https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/16/mais-drogas-diabetes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/16/mais-drogas-diabetes/#respond Mon, 16 Jul 2018 14:03:13 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/4932175472_b6f247d8a5_o-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=967 Um consenso entre profissionais de saúde com relação ao diabetes é que esperar as complicações aparecerem para só então tomar alguma providência é péssima ideia.

Geralmente as abordagens iniciais envolvem mudanças de hábitos alimentares e introdução ou intensificação da prática de exercícios. Às vezes, porém, pode ser vantajoso usar combinações de medicamentos logo após o diagnóstico, defendem médicos ouvidos pela reportagem. Esse foi um dos temas discutidos no congresso anual da ADA (Associação Americana de Diabetes, na sigla em inglês), que aconteceu em Orlando no final de junho.

A doença mata cerca de 61 mil brasileiros ao ano, número comparável ao de assassinatos (cerca de 60 mil ao ano) e quase o dobro de pessoas mortas em acidentes de trânsito (33 mil ao ano).

Com um tratamento mais efetivo logo após o diagnóstico, diferentemente do que acontece quando os medicamentos são empregados na base de tentativa e erro, o paciente teria mais chance de manter a doença sob controle, evitando complicações.

Para quem tem a doença, a principal meta é manter a hemoglobina glicada, um exame de sangue, abaixo de 7% (de preferência abaixo de 6,5%, mas isso pode ser flexibilizado em pacientes com complicações graves; a faixa de normalidade para quem não tem a doença é de 4% a 5,6%). Conseguir manter baixo esse índice é o objetivo das diversas modalidades de tratamento e, via de regra, o que vai definir a dosagem e o número de medicamentos a serem tomados ou aplicados.

O problema, diz Levimar Rocha Araújo, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, é a grande resistência dos pacientes, que não gostam de tomar medicamentos logo de cara para tratar uma condição aparentemente inicial, e também de médicos, que têm medo de perder clientela. Outra questão é que, sobretudo no sistema público, os profissionais têm pouco tempo para ensinar o paciente a lidar com o diabetes, uma condição complexa.

“No fim das contas, a grande questão é a falta de educação com relação ao diabetes”, afirma Araújo. Ele, que também é diabético, promove acampamentos para jovens com a ideia de ensiná-los a lidar com a doença em situações do dia a dia. Um exemplo: em um dia de atividades físicas intensas, é possível reduzir a quantidade de insulina (hormônio cuja atividade está prejudicada na doença) a ser administrada, já que o exercício também tem efeito hipoglicemiante –ou seja, reduz a concentração de glicose no sangue.

“Como muitas vezes o paciente com diabetes não tem nenhum sintoma, para ele não faz sentido já começar a usar medicamentos”, explica Solange Travassos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, que foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 14 anos. Ela e Araújo afirmam que é preciso avaliar a possibilidade de usar desde cedo todas as armas que podem ajudar o doente.

“O organismo tem uma espécie de memória metabólica, ou seja, o começo do tratamento e a maneira como o corpo responde a ele são fatores muito importantes para o prognóstico. Se o organismo é forçado a viver com a doença por muito tempo, ele se exaure, perdendo a capacidade de se recuperar”, diz Araújo.

As alternativas farmacológicas incluem a tradicional metformina (há mais de 60 anos no mercado) e suplementação de insulina por meio de injeções, para tentar normalizar a função do hormônio, de reduzir a glicemia sanguínea e prevenir efeitos como impotência, AVC e amputações.

Algumas opções podem ajudar os pacientes a simplificar o cuidado, como medicamentos combinados em uma mesma injeção. É o caso do Xultophy, combinação de insulina e liraglutida, princípio ativo do medicamento Victoza, que tem obtido bons resultados na redução da glicose sanguínea, com boas chances de evitar o ganho de peso, algo comum na doença.

Outra possibilidade, ainda em estágio experimental, é uma nova formulação de insulina para ser administrada por via oral. Cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e de Harvard publicaram recentemente na revista PNAS um artigo explicando como isso poderia acontecer.

Um líquido seria capaz de impedir a degradação da molécula no aparelho digestório e de promover a absorção dela pela via paracelular, ou seja, por entre as células que revestem o trato gastrointestinal. Um dos obstáculos à adesão do tratamento com insulina é justamente a necessidade de injeção.

Capazes de monitorar o nível de glicose e até de ajudar nas injeções de insulina, equipamentos de monitorização e bombas também têm ganhado espaço. Alguns aparelhos produzem um gráfico com a variação da glicemia ao longo do dia, o que permite fazer ajustes de dose de insulina e refinar o tratamento. No fim de junho a FDA (agência regulatória americana) aprovou um sensor implantável que pode ficar imerso na pele por 90 dias consecutivos.

Um estudo da empresa Abbott apresentado no ADA mostrou que um monitoramento frequente pode ajudar a reduzir o tempo do paciente em hipoglicema, outro fantasma para quem depende de insulina.

As bombas são especialmente úteis para pacientes com diabetes tipo 1 e, no país, muitas pessoas têm obtido acesso a elas por meio de decisões da Justiça.

Muitos profissionais de saúde, porém, tendem a fugir dos medicamentos por causa do perigo de interações com outras drogas e dos efeitos colaterais. O caminho padrão ainda é a mudança dos hábitos de vida: comer melhor (e, geralmente, menos) e praticar exercícios físicos; a obesidade também agrava a condição.

A favor dessa abordagem está o fato de que a contração muscular promovida nos exercícios e a perda de peso fazem o organismo responder melhor à insulina, ou seja, pode retardar a introdução de medicamentos ou reduzir a dose de quem já está em tratamento, embora os médicos concordam que mudanças do estilo de vida sejam apenas o mínimo a ser feito.

Por fim, existe a possibilidade de realizar uma cirurgia bariátrica (chamada de metabólica quando o objetivo é combater o diabetes) para resolver o problema. Apesar da agressividade e da grande chance de resolução, é necessário um enorme esforço posterior do paciente para atingir as diversas metas propostas, que também incluem ingestão de vitaminas e manejo da saúde mental, além do tratamento do diabetes propriamente dito.

O jornalista viajou a convite da Sanofi


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Segundo as conclusões de um simpósio realizado em Orlando no congresso anual da ADA (Associação Americana de Diabetes), essas profissionais têm um grau de dificuldade aumentado dentro da carreira acadêmica, quando pretendem ser professoras universitárias,  pesquisadoras e líderes científicas em suas áreas.

Um fator que contribui para isso é a prioridade baixa atribuída às disciplinas que elas ministram —a remuneração delas é pior e há o rótulo depreciativo de essas áreas serem “ciências soft”, em oposição às ciências duras (hard), como matemática, física, química ou engenharia.

Não se ganha status por ministrar, por exemplo, cursos com foco na prevenção de doenças, do cuidado com o paciente ou na mudança de hábitos de vida, apesar da importância de iniciativas do tipo. Como existe um estigma de feminização dessas áreas, a participação masculina também é reduzida.

Sem prestígio, é pouco provável que essas profissionais assumam posições de liderança e de gestão de serviços de saúde, por exemplo. No fim das contas, elas acabam muitas vezes tomando papéis secundários, vice-chefias, à sombra dos homens, geralmente médicos.

Felicia Hill-Briggs, presidente da seção de medicina e ciência da ADA e uma das palestrantes do simpósio, enumerou algumas características que fazem diferença na trajetória de mulheres de sucesso:

  • Ter a casca grossa, ou seja, não se deixar abater com facilidade;
  • Ter um mentor forte na instituição;
  • Permanecer flexível e criativa;
  • Criar ela mesma oportunidades de liderança e aproveitar as chances para fazer mudanças no sistema;
  • Alavancar a carreira de outras mulheres.

Homens geralmente dependem mais apenas do próprio esforço do que as as mulheres. Já elas têm praticamente de pavimentar a própria trilha. “Mesmo com um currículo parecido, muitos homens avançam na carreira e as mulheres não. Nós precisamos aprender mais sobre os caminhos institucionais e com quem falar”, diz a psicóloga, que é professora da Universidade Johns Hopkins.

Ela, que é negra, afirma que o preconceito racial pode agravar a situação. “É comum ouvir que ‘alguém como você’ não pode assumir determinada posição de liderança.”

A médica Elizabeth Seaquist, da Universidade de Minnesota, afirma que mesmo com a fração de mulheres em ritmo crescente entre o total de docentes da área médica, nas posições mais altas da carreira, em dados de um conjunto de instituições, elas ainda se encontram subrepresentadas, com a proporção estagnada na casa dos 20%.

Outro grande problema, diz, é a questão do assédio no ambiente acadêmico. “Não é por acaso que grandes revistas médica, Jama e New England Journal of Medicine, recentemente trataram do tema.”

“As mulheres não sabem se é seguro falar a respeito desses assuntos, se não vão sofrer represálias.” Nesse sentido, o impacto do movimento #metoo é bem-vindo e pode fomentar o funcionamento adequado dos comitês institucionais antiassédio, opina.

Em um documento recente lançado pela as academias nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina, as instituições afirmam que as ações de combate ao assédio tem falhado e sugeriram reformas profundas  e punições severas para lidar com a questão.

O jornalista viajou a Orlando a convite da Sanofi


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Melhores médicos: por que só há homens na lista do Datafolha?

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Um fato, claro, chamou a minha atenção e de boa parte dos leitores: nessa lista todos os indicados são homens e apenas um não é branco –o ortopedista Emerson Honda. Muitas pessoas manifestaram em redes sociais sua insatisfação por não haver médicas na lista.

Na pesquisa Datafolha, 34% dos 822 entrevistados eram mulheres –mais de um terço. Na ortopedia, elas eram 6% dos respondentes; 22% da cardiologia; 43% da ginecologia-obstetrícia e 52% entre os pediatras, por exemplo.

Como explicar o “27 a 0” de homens versus mulheres? Por que nem na pediatria a vencedora é uma mulher?

O colega Marcelo Soares, jornalista especializado em análise de dados e fã de rock, faz uma analogia interessante: se perguntarmos a músicos especialistas em rock quem são os melhores em cada instrumento, provavelmente os vencedores seriam homens. “Difícil não dar Jimi Hendrix na guitarra, difícil não dar algo como Freddie Mercury no vocal. Não que não haja mulheres no mesmo nível, não que seja exatamente machismo contra elas, mas porque esses nomes são queridos por todos há muito tempo.”

Como poucos nomes são eleitos por categoria, o “peso da tradição”, como diz Soares, pende para o lado dos homens.

MACHISMO

De forma alguma esse raciocínio invalida a constatação de que ainda vivemos em uma sociedade bastante desequilibrada em termos de gênero e que isso vale também para a medicina. Não é muito diferente do que acontece nas chamadas ciências duras, na qual dificilmente mulheres atingem e se mantém em posições de liderança.

Médicas são, em média, quase 5 anos mais jovens que os médicos e correspondem a apenas 45,6% dos profissionais. Os dados são do levantamento “Demografia Médica do Brasil 2018”.

Entre os profissionais com 65 e 69 anos, apenas 28,3% são mulheres. Entre aqueles com 70 anos ou mais, o número cai para 20,5%.

Os médicos entrevistados pelo Datafolha tinham, em média, 52 anos de idade e elegeram colegas, em média, 17 anos mais velhos.

É possível concluir, apenas olhando para os números, que há ainda poucas mulheres com a experiência que alguns médicos homens têm.

Talvez ainda demore alguns anos para o cenário mudar, mas tudo indica que isso vai acontecer. Mulheres já são a maioria no estrato mais jovem, entre profissionais com 20 e 29 anos: 57,4% do total.

Distribuição de homens e mulheres na medicina de acordo com faixa etária (fonte: Reprodução/Demografia Médica no Brasil 2018)

 

RAÇA

Não há muitos dados sobre o número de médicos negros, especialmente ao longo da história, mas a pesquisa “Perfil e percepção dos recém-graduados em Medicina”, feita com 4.601 novos médicos mostra que apenas 1,8% desses egressos se declaram negros. Pardos somam 16,2%.

A discrepância em relação à população brasileira é visível: no país, 7,8% se declaram negros e 43,1% se declaram pardos.


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