Pesquisadores rompem com grupo e lançam ‘pílula do câncer’ como suplemento alimentar

Gabriel Alves

O então ministro da Ciência Tecnologia e Inovação em março de 2016, Celso Pansera (PMDB), deu a ideia e alguém foi lá e fez: fosfoetanolamina virou suplemento alimentar.

“Seria uma forma de tirar essa substância do câmbio negro e dar legalidade a esse produto. Sabemos que existe um mercado subjacente”, disse, à época.

Um pouco antes disso, no final de 2015, o médico Renato Meneguelo e o cientista Marco Vinícius Almeida se separavam do grupo original que pesquisava a “fosfo” no Brasil, comandado por Gilberto Chierice (então professor da USP em São Carlos).

Fast forward: Almeida e Meneguelo estão lançando sua própria versão do suposto medicamento anticâncer –como suplemento.

“Não aguentávamos mais uma série de acordos que não iam pra frente pela postura arrogante de alguns do grupo”, disse Almeida, no Facebook.

A “pílula do câncer”, como ficou conhecida a fosfoetanolamina, atualmente encontra-se em testes no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Ainda é obscuro se e como foram os testes pelos quais a substância passou anteriormente.

Apesar do uso irregular por milhares de pacientes, não há evidência científica de que a droga trate qualquer tipo de câncer, ou melhore a qualidade de vida dos pacientes.

A motivação para a dupla lançar a “fosfo” versão suplemento veio também, segundo eles, da morosidade das pesquisas no Brasil.

“Não concordei que os testes fossem feitos em um único centro”, disse Meneguelo em um vídeo postado em seu perfil no Facebook.

“Eu nunca falei que estava em busca de um remédio que curasse o câncer. Eu queria um composto que melhorasse 20% de vida de quem tem câncer terminal, porque a dor é insuportável para o paciente e para a família. Não é uma dor de barriga”, afirmou.

Ele disse ter ido a vários países, como Egito, Uruguai, Espanha e EUA, em busca de parcerias para a produção da fosfo com o rótulo de “suplemento alimentar”.

Foi nos EUA que conseguiram estabelecer a parceria que visa exportar para o Brasil as cápsulas. Para Almeida, o suplemento terá uma série de aplicações: “Regula seu metabolismo, diminui o estresse oxidativo das células humanas e consequentemente diminui a possibilidade de doenças degenerativas se desenvolverem em organismos devidamente suplementados com fosfoetanolamina.”

A droga teve sua distribuição no Brasil proibida pelo STF ano passado. O esperado é que com o enquadramento como suplemento alimentar –e não como medicamento– seja facilitada a comercialização no país. Segundo Meneguelo disse ao jornal “O Estado de S. Paulo”, há boa documentação referente ao produto nos EUA, onde já seria comercializado há anos.

Já existe até um site onde é possível fazer reservas do composto (www.qualitymedicalline.com). A promessa é que esteja disponível a partir de 16 de março.

Há críticas à iniciativa dos empreendedores: alguns afirmam que o método de síntese não é igual ao empregado por Chierice, o que poderia interferir nos resultados — o que não dá afirmar com certeza, já que os testes independentes feitos até agora não apontam nenhum benefício bem documentado da molécula.

Segundo o blog do jornalista Herton Escobar, no site do “Estado”, cada cápsula custará R$ 3,80 e a produção inicial será de 500 mil delas. A parceria amarrada pelos empreendedores envolve o laboratório uruguaio Federico Diaz, a distribuidora Quality Medical Line e a Florida Supplement, que produzirá a substância.


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