Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Empresários e redes sociais lucram com onda antivacina https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/#respond Fri, 17 Jan 2020 19:17:05 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/691548e03ee4fb72d1aad79f90a7f839b476fcbeb10c896ad2ae54d49be43dd9_5ca7c61cde9cf-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1238 Apesar do indiscutível benefício à saúde da humanidade, o crescimento do movimento antivacina no Brasil tem preocupado médicos e acadêmicos. No texto abaixo, escrito para o blog Cadê a Cura?, Dayane Machado e Leda Gitahy contam um pouco sobre o que há por trás do fenômeno e quem tem a ganhar com esse aglomerado de teorias conspiratórias.

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Por Dayane Machado e Leda Gitahy, respectivamente doutoranda e professora livre-docente do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp

Cento e setenta países registraram casos de sarampo em 2019. O Brasil não só perdeu o certificado de erradicação da doença, como se tornou o sexto país em número de casos registrados. Devido a esses e outros acontecimentos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a hesitação a vacinas uma das maiores ameaças à saúde de 2019.

A hesitação a vacinas é um conjunto diverso de atitudes relacionadas à imunização: há quem recuse apenas algumas vacinas; quem adie o calendário vacinal; quem obedeça ao calendário, mas não se sinta seguro, entre outras variações.

Essa falta de confiança coloca os mais frágeis em perigo e pode impactar as taxas de vacinação, aumentando o risco de epidemias de doenças preveníveis por vacina, como é o caso da poliomielite e do próprio sarampo.

As redes sociais também têm responsabilidade na disseminação dessa desconfiança, como indica uma pesquisa recente da Avaaz. Quase 90% dos vídeos do YouTube em português analisados pela organização apresentaram alguma desinformação sobre vacinas. Esse resultado se torna ainda mais preocupante se considerarmos que das pessoas entrevistadas pela pesquisa, 57% dos que deixaram de se vacinar alegaram algum boato sobre vacinas como o principal motivo para essa decisão.

O Facebook é uma das plataformas mais utilizadas para espalhar informações falsas sobre vacinas. Uma pesquisa americana revelou que dois únicos compradores são responsáveis pela maior parte dos anúncios antivacinação em inglês que circulam na rede social.

Larry Cook é um desses clientes. Ele administra o Stop Mandatory Vaccinations (site e comunidade no Facebook), que além de desinformação e teorias conspiratórias, promove uma loja da Amazon, onde livros antivacinação e produtos “alternativos” são comercializados.

Outro empresário beneficiado pelo discurso antivacinação é Joseph Mercola. Em seu site, ele ataca vacinas e anuncia produtos “alternativos” à imunização. Uma investigação realizada pelo Washington Post revelou ainda que o milionário é o principal apoiador do grupo antivacina mais antigo dos Estados Unidos, tendo doado mais de US$ 2 milhões (algo como R$ 8,35 milhões) à associação ao longo da última década.

Esse movimento também tem se fortalecido no Brasil por meio das redes sociais. Um dos maiores grupos do Facebook contrários à vacinação reproduz argumentos de conspiracionistas, compartilha conteúdo de sites negacionistas americanos e realiza até transmissão online de eventos problemáticos como o AutismOne.

Esse “congresso” se propõe a falar de autismo, mas tem sessão dedicada a criticar vacinas, oferece treinamento para “ativistas da saúde”, recebe gurus do movimento antivacina como palestrantes, além de promover terapias e produtos duvidosos.

Quando confrontadas publicamente com esses tipos de dados, as plataformas prometem combater a desinformação sobre vacinas, mas a constância nas denúncias de jornalistas a respeito desse tema indica o baixo nível de comprometimento de grande parte dessas empresas. Mark Zuckerberg, por exemplo, já disse que não incentiva o festival de desinformação dentro do Facebook, mas também não se opõe caso “alguém quiser postar conteúdo antivacinação ou quiser se juntar a um dos grupos que discutem esse tipo de ideia”.

Redes sociais são movidas a atenção e engajamento, de modo que conteúdos antivacinação também podem se tornar lucrativos para essas empresas. Enquanto isso, os grupos antivacina se organizam e se fortalecem, disseminando dúvidas e criando novas ondas de hesitação.


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A internet está cheia de curas impossíveis, achismos e charlatães, diz neurologista

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A internet está cheia de curas impossíveis, achismos e charlatães, diz neurologista https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/a-internet-esta-cheia-de-curas-impossiveis-achismos-e-charlataes-diz-neurologista/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/a-internet-esta-cheia-de-curas-impossiveis-achismos-e-charlataes-diz-neurologista/#respond Fri, 20 Dec 2019 11:00:54 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/32913725404_e6ec730c66_c-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1225 O neurologista Saulo Nader, do canal do YouTube NeurologiaePsiquiatria TV, escreve para o blog Cadê a Cura? e fala sobre sua indignação com as pseudociências, que ganham espaço especialmente na internet e põem a saúde e a vida das pessoas em risco.

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Por Saulo Nader, neurologista

Enquanto o Uber rasgava o trânsito da metrópole com a agilidade de uma tartaruga, me perdia contemplando as varandas gourmet. Tanta vida ocorrendo naqueles espacinhos iluminados que se apinham no horizonte da capital.

Um casal parecia discutir em uma; em outra, crianças corriam animadas; em uma lá no meio do prédio vermelho, uma cena que me captou: um homem de cadeira de rodas segurava o celular e navegava entorpecido em sua telinha. Seu olhar cansado exalava curiosidade. Será que buscava informação sobre saúde no mundo virtual?

Talvez ele procurasse no cyberespaço dicas para saber mais de sua vertigem (uma doença traiçoeira) ou simplesmente como lidar com o desafio de ser deficiente na cidade dos buracos. Escrevi um lembrete para gravar um vídeo sobre o assunto.

Naquela noite, eu comemorava o marco de mil pacientes atendidos em meu consultório, mil vidas que esbarraram na minha e que tive a oportunidade de, por meio da ciência médica, tentar ajudar.

Mil vidas, mil histórias, mil doenças… O número chacoalhava dentro do meu cérebro. Em meu canal no YouTube, contudo, tenho vídeos já com mais de um milhão de visualizações. Ou seja, somente por essa portinha mágica do smartphone, esbarrei em mais de um milhão de vidas.

Um milhão de pessoas é mais do que qualquer médico atenderá em toda sua carreira, por mais trabalhador que seja. De fato, a tecnologia quebra barreiras.

Um vídeo não substitui o médico, lógico que não. Mas leva informação às pessoas que anseiam por ajuda, dá um caminho para chegar à sonhada melhora. Tomara que um bom vídeo ajude aquele senhor ali parado, divagando no seu celular, ter ajuda para aliviar suas tonturas e a viver melhor com sua aliada de rodinhas.

O primeiro passo em busca da sonhada melhora é o conhecimento.

Ali, sentado no banco de um carro qualquer, em uma rua conturbada, pensei no poder que as mídias sociais podem dar a algumas pessoas e como muita gente usa esse poder para o mal, infelizmente.

Uma informação desencontrada, de má fé ou exploradora pode deixar um grande estrago nessas vidas, como as que vejo nas varandinhas.

Curas impossíveis, orientações equivocadas e causas inexistentes de doenças podem devastar uma existência. Crendices e achismos disfarçados com a roupagem professoral da ciência abundam por aí. Charlatões maquiados com a pompa e o jargão médico enganam livremente.

Tem de tudo: ervas milagrosas, vitaminas mágicas, Pedro de Jesus, o louco da vitamina D, o insano da glutamina, as pílulas da inteligência, a fosfoetalamina, o ódio contra vacinas e os chás de rosas. Obscurantismo e ocultismo vendendo falsa saúde, o mundo assombrado por demônios. Esse livro, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, escrito pelo incrível Carl Sagan, expõe o capeta que ganhou asas no mundo digital: a pseudociência.

Essas pessoas que usam da fé para enganar e em, boa parte das vezes, para enriquecer não se importam com o ser humano, apenas com o bolso. Em tom messiânico, prometem a cura por vias anticientíficas, místicas e irreais. Esse discurso entorpece os sentidos e engana a alma.

Ninguém está imune à pseudociência, mas, quanto mais boa informação houver, maior a esperança de que os dias adiante serão melhores. Existe muito conteúdo médico e de saúde com qualidade nessa galáxia confusa que é a internet, não tenha dúvida — conhecimento bom, baseado em evidência científica.

“Chegamos, amigo”, despertou-me dos meus pensamentos a voz rouca do motorista. Há um provérbio chinês que diz que mais vale acender uma vela do que lamentar a escuridão. Acendi a minha. E, nas varandas gourmet, vida acontecendo.

 


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Por que a Anvisa libera produtos homeopáticos? Veja as respostas da agência

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Por que a Anvisa libera produtos homeopáticos? Veja as respostas da agência https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/02/por-que-a-anvisa-libera-produtos-homeopaticos-veja-as-respostas-da-agencia/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/02/por-que-a-anvisa-libera-produtos-homeopaticos-veja-as-respostas-da-agencia/#respond Mon, 02 Dec 2019 12:00:35 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/b703e13bb0948aa6f54f914e867e30485a2525b52fb6280e43c2c23447bee6a8_5dd70efe5c317-1-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1202

Já que os produtos homeopáticos têm baixa chance de causarem problemas para a saúde, eles podem ser liberados com um menor rigor do que remédios convencionais, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável pela regulação de medicamentos no país.

No último dia 22, a Folha publicou a reportagem Movimento que rebaixou homeopatia no Reino Unido e na Austrália chega ao Brasil. Para entender melhor o status regulatório dos produtos homeopáticos no país, procurei a Anvisa .

Países como Austrália, Reino Unido e França começaram a retirar a homeopatia de seus sistemas públicos de saúde ou a restringi-la. A FTC (Federal Trade Comission), agência dos EUA responsável por proteger consumidores, já havia declarado que os medicamentos homeopáticos não tem garantia de eficácia ou de segurança.

A homeopatia se baseia em princípios estabelecidos em 1790 por Samuel Hahnemann, como o que diz que “similar cura similar” e o de ganho de potência por meio de diluições. Por exemplo, uma substância que causa coceira poderia ser usada para tratar esse tipo de sintoma, desde que extremamente diluída na formulação do remédio homeopático.

O fato é que os remédios homeopáticos não passam pelo mesmo processo de validação do que os remédios convencionais. Enquanto uma vacina ou um antibiótico tem que apresentar uma série de estudos mostrando eficácia e segurança antes de serem lançados, os homeopáticos se baseiam em relatos de casos e na aprovação prévia em outros países, sem um arcabouço científico mais robusto.

Esses produtos “podem ter sua comprovação de eficácia demonstrada pelo próprio uso tradicional, pelo registro em farmacopeia nacional [espécie de grande catálogo de remédios] ou em outros compêndios aceitos por agências reguladoras internacionais.”, diz a Anvisa.

Isso acontece porque esses itens oferecem baixo risco, segundo a agência. “Como consequência, medicamentos homeopáticos são indicados como ‘auxiliares’ no tratamento de outras doenças ou dos sintomas de doenças.” Caso seja proposto que um medicamento homeopático trate uma doença grave, serão exigidos estudos de fase 1, 2, 3, com animais e seres humanos, diz a Anvisa.

A seguir, a íntegra das respostas enviadas pela agência:

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Uma vez aprovado pela Anvisa, um tratamento pode ser revogado por ausência de eficácia? Se sim, qual o caminho e o que isso requereria? É o mesmo caminho para medicamentos homeopáticos e não homeopáticos? Qualquer medicamento ou produto pode ter o seu registro revisto a partir do surgimento de evidências sobre o seu perfil de segurança e eficácia. Este tipo de fenômeno é normalmente identificado pelo trabalho de farmacovigilância a partir das notificações feitas por pacientes, médicos e outros profissionais de saúde.

O que sustenta a existência dos tratamentos homeopáticos hoje em dia no Brasil? Demanda popular, tradição, presença em outros países, legislação (como a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares)? Todos medicamentos autorizados pela Anvisa possuem comprovação de eficácia e segurança, incluindo os medicamentos homeopáticos. A diferença está no rito de validação de cada produto.

Há diferentes métodos para validar a eficácia de um medicamento e isto está relacionado com o seu perfil de risco e alegações terapêuticas aprovadas para cada produto.

Os medicamentos homeopáticos estão no grupo próximo aos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos que podem ter sua comprovação de eficácia demonstrada pelo próprio uso tradicional, pelo registro em farmacopeia nacional [espécie de grande catálogo de remédios] ou em outros compêndios aceitos por agências reguladoras internacionais.

Os homeopáticos estão neste grupo porque são considerados produtos de baixo risco. Como consequência, medicamentos homeopáticos são indicados como “auxiliares” no tratamento de outras doenças ou dos sintomas de doenças.

Essa demonstração pelo uso tradicional ou por relato em compêndios é válida apenas para o aspecto da eficácia. Os requisitos de boas práticas de fabricação, que tratam da linha de produção, são os mesmos para todos os medicamentos, podendo variar apenas de acordo com características específicas de cada produto (por exemplo, os medicamentos biológicos).

No caso das farmácias de manipulação, as regras vigentes são as mesmas independentemente da natureza do produto, ou seja, iguais para medicamentos sintéticos, fitoterápicos, homeopáticos ou mesmo cosméticos.

Farmácias de manipulação fabricam produtos personalizados de acordo com a indicação de cada médico para seu paciente.

O rigor e o processo para aprovação de medicamentos homeopáticos não deveriam ser igual aos empregados para os tratamentos convencionais? Por que são diferentes? Tratam-se de produtos diferentes. O rito de aprovação definidos pela regulação é compatível com o perfil de risco e as indicações aprovadas para estes produtos.

No Brasil, qualquer medicamento homeopático que se proponha a tratar uma doença grave deverá se submeter às mesmas exigências feitas para medicamentos mais complexos, por exemplo, com a exigência de estudos clínicos de fase 1, 2 e 3.

Atualmente não temos no Brasil homeopáticos com estas indicações.

Como a agência enxerga a mudança de posicionamento em relação aos medicamentos homeopáticos em países como Austrália e Reino UnidoPara fazer essa avaliação seria necessário olhar em detalhes o contexto regulatório de cada um desses dois países e os estudos referenciados no texto.

De toda forma, é importante ressaltar que os medicamentos homeopáticos atualmente aprovados pela Anvisa não são indicados como tratamento de doenças graves citados nos dois documentos. No Brasil esses produtos são indicados como produtos “auxiliares”.

A regulamentação dos medicamentos fitoterápicos no Brasil recebe um tratamento bastante semelhante às normas da Alemanha, França e Suíça.

Existe alguma preocupação com relação ao fato de o emprego de tratamentos homeopáticos, por serem alternativos à medicina convencional, poderem acarretar abandono dos tratamentos sabidamente eficazes em doenças graves, como asma e câncer? Os medicamentos homeopáticos, como qualquer medicamento, têm indicações aprovadas que devem ser observadas e que não podem ser extrapoladas. É importante destacar que o diagnóstico, prescrição e orientação corretos feitos ao paciente pelo médico é fundamental para a condução de qualquer tratamento.

Sobre a eventual conduta de profissionais que possam induzir a substituição indevida de tratamento, é importante consultar o CFM [Conselho Federal de Medicina], que é o conselho profissional que cuida deste aspecto.


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Casos de infartos entre jovens são raros no país https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/05/casos-de-infartos-entre-jovens-sao-raros-no-pais/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/05/casos-de-infartos-entre-jovens-sao-raros-no-pais/#respond Thu, 05 Sep 2019 18:56:27 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/090515-M-0000B-003-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1152 Mortes de jovens por infarto, como a de Danilo Feliciano de Moraes, filho do pentacampeão Cafu, são raras e geralmente estão ligadas a condições preexistentes, como diabetes, colesterol elevado e defeitos congênitos.

No país, a morte de jovens entre 15 e 39 anos por infarto permanece constante ao longo dos últimos 10 anos, entre 3% e 4% do total, de acordo com dados do DataSUS, base de dados do Ministério da Saúde. Danilo tinha 30 anos de idade.

No ano de 2017, último para o qual há dados tabulados, 67.876 pessoas morreram por infarto agudo do miocárdio. Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil.

Geralmente as mortes súbitas e infartos em jovens estão associadas a defeitos congênitos (que já nascem com a pessoa), como más-formações do coração. Outro problema que pode agravar o prognóstico são doenças crônicas como hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia (colesterol elevado).

Danilo teve um ataque cardíaco após jogar futebol por cerca de 10 minutos. Ele já havia tido um infarto em 2015, como informa a reportagem da Folha.

Segundo o cardiologista e médico do esporte Nabil Ghorayeb, do HCor (Hospital do Coração), a recomendação é que sempre a prática de atividades físicas intensas, como futebol, lutas, corrida e CrossFit, sejam precedidas de avaliação médica.

Para o especialista, o mínimo é a realização de um eletrocardiograma. Para atividades especialmente intensas, ele sugere uma avaliação médica por meio de um teste ergométrico.

Mesmo para atividades recreativas, como futebol entre amigos e familiares, é preciso ter esse tipo de cuidado, afirma o médico

“Quando se joga contra o primo ou o cunhado, você não quer deixar de ganhar. Às vezes é até mais estressante. Esporte é tentar ganhar, a disputa traz muitas emoções diferentes”, diz Ghorayeb.

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Quer entender um pouco mais sobre o impacto dos hábitos de vida na saúde? O Match da Saúde, ferramenta da Folha, ajuda você. Acesse em folha.com/matchdasaude.

 


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Morre o cardiologista Antonio Carlos Carvalho, que ajudou a reduzir mortes por infarto https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/01/09/morre-o-cardiologista-antonio-carlos-carvalho-que-ajudou-a-reduzir-mortes-por-infarto/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/01/09/morre-o-cardiologista-antonio-carlos-carvalho-que-ajudou-a-reduzir-mortes-por-infarto/#respond Wed, 09 Jan 2019 23:06:44 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/647468-work-320x213.jpeg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1062 Morreu nesta nesta terça (8), aos 71 anos, o médico Antonio Carlos Carvalho, um dos principais nomes na área de emergência cardiovascular do país. A causa da morte não foi divulgada pela Unifesp, onde atuava como professor titular. A reitoria informou, em um email interno, que o corpo foi cremado e que a cerimônia foi fechada para os mais íntimos.

“O professor Carvalho foi um dos cardiologistas mais completos que conheci, exemplo de profissional, dedicado ao paciente, com extrema compaixão. Era excelente professor e ensinou, orientou e estimulou um número enorme de médicos que tiveram o prazer do seu convívio”, diz o cardiologista Fernando Bacal, professor da USP e responsável pelo setor de transplantes do Incor.

O cirurgião Fábio Jatene, também da USP e do Incor, conta que conhecia bem o professor Carvalho. “Fomos colegas de diretoria, em um mandato na Socesp [Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo]. Era uma pessoa muito equilibrada, de enorme capacidade, querido e respeitado por todos, uma grande liderança. A comunidade cardiológica brasileira está de luto pela perda de um grande colega.”

Suzi Kawakami, que conviveu com Carvalho durante a residência médica, afirma que o professor era generoso, dedicado e muito querido por todos ao seu redor. “O professor Carvalho adorava ensinar, era uma pessoa maravilhosa.”

Nascido em Campinas em 13 de setembro de 1947, Antonio Carlos Carvalho teve infância simples em Leme, no interior paulista, com seus três irmãos. O pai era farmacêutico e a mãe, funcionária pública dos Correios.

Seu pai tem uma história digna de ser lembrada: segundo Carvalho contou a este repórter pouco mais de um ano atrás, seu avô foi um grande proprietário rural, muito rico, e que morreu tragicamente, com uma picada de cascavel. Sua avó, que não tinha nenhum documento, acabou sendo despejada da fazenda, junto com seus oito filhos. O pai teve os estudos bancados por um padre de Campinas até entrar na faculdade.

Foi observando o pai que desenvolveu interesse pela medicina. Aos 7 anos já preparava injeções e a fazer curativos.

Ele amava o campo e tentou de todo jeito fugir da cidade grande. Na hora de prestar vestibular tentou Unicamp, Botucatu (hoje Unesp) e a USP de Ribeirão Preto. Passou em Botucatu, onde também começou a residência em clínica médica, primeiro passo para se tornar cardiologista.

Mesmo depois de ganhar uma bolsa do Rotary International para estudar na Universidade da Califórnia, em Davis, ele planejava voltar para Botucatu. E tudo seguia conforme o planejado: ele passou num concurso para trabalhar na faculdade de medicina e antecipou o regresso ao país

Mas, segundo seu próprio relato, todos os concursos da época foram suspensos e ele acabou vindo para São Paulo junto com a mulher, Teresa. Começou como médico voluntário na Escola Paulista de Medicina (que deu origem à Unifesp), onde conhecia alguns colegas especialmente no departamento de cirurgia. Só depois de alguns anos apareceu a oportunidade de iniciar ali a carreira docente.

O cardiologista Antonio Carlos Carvalho em ensaio para edição especial da revista sãopaulo, com os melhores médicos de São Paulo (Keiny Andrade/Folhapress)

Começou como professor assistente e, em 1997, tornou-se titular. No começo da carreira dedicou-se ao cateterismo (modalidade de intervenção que, por exemplo, permite a desobstrução de vasos entupidos e a correção de defeitos de válvulas do coração, entre outras) em adultos e bebês.

Com o tempo, acabou migrando para a área de UTI, urgência e emergência, dedicando-se às chamadas síndromes cardiovasculares agudas. Ele foi um dos idealizadores da Rede de Infarto, que conseguiu reduzir o índice de mortalidade em até 74% em algumas unidades de saúde. Entre as medidas estava o treinamento de equipes, sistema de transferência rápida de doentes graves e emissão de laudos de eletrocardiogramas a distância.

Segundo dizia, o maior gargalo da área ainda é a integração entre poder público, sociedade médicas e unidades de saúde. “Nós temos ótimos profissionais ligados à Sociedade de Cardiologia, mas quem atende lá em Ermelino Matarazzo [distrito da zona leste de São Paulo, distante da região central] não é o cardiologista. Se ninguém fizer essa ponte, o conhecimento não chega na ponta, em quem mais precisa.”

Ele, que não teve filhos, se orgulhava da marca que deixava em seus alunos e residentes. “Esse pessoal é a continuidade do que a gente quer fazer, das coisas direitas, corretas. Algumas flores brotam e os lugares vão ficando mais bonitos. Fico feliz de poder ter participado disso.”

Uma de suas atividades favoritas era cuidar de um sítio, no interior de São Paulo, onde contabilizou ter plantado, junto com a mulher, mais de 5.000 árvores. Outro hobby era a astronomia. “O Universo é tão incrível, tão grande, com tanta coisa, que, ao observá-lo, ele te torna mais humilde”, disse o médico, que, de criação católica, dizia acreditar em Deus e admirar diversas religiões, como budismo e hinduísmo.

Carvalho deixa a esposa, a decoradora Teresa, que também foi atingida com o ônus da medicina. “A grande sacrificada foi a minha esposa”, contou. “Sacrifícios têm que ser feitos. Os médicos mais novos, que estão chegando, precisam dessa orientação: o paciente geralmente está mais necessitado que você. É só por acaso que você está do outro lado da mesa. Hoje o paciente não consegue nem contar a história dele direito —e muitas coisas poderiam ser resolvidas de forma simples, só ouvindo-o.”

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Por que as pessoas mentem para os médicos? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/07/por-que-as-pessoas-mentem-para-os-medicos/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/07/por-que-as-pessoas-mentem-para-os-medicos/#respond Fri, 07 Dec 2018 20:21:52 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/186958_web-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1034 As pessoas, vez ou outra, mentem para os médicos e outros profissionais da saúde. Mas qual o sentido de mentir se, quanto mais o profissional sabe a respeito do paciente, melhor é o cuidado?

Um estudo americano conduzido com 4.510 indivíduos aponta que de 60% a 80% das pessoas (idosos e jovens, respectivamente) omitem ao menos uma informação importante de seus médicos, como:

  • não entender as instruções dadas pelo profissional de saúde;
  • discordar das recomendações;
  • não se exercitar regularmente;
  • ter dieta não saudável;
  • tomar determinado medicamento;
  • não seguir as instruções de prescrição;
  • tomar medicamento de outra pessoa.

Várias são as explicações para as omissões de informações importantes. As cinco respostas mais citadas foram estas:

  • evitar ser julgado ou levar sermão;
  • não querer sabe o quão perigosa foi a atitude em questão;
  • vergonha;
  • não passar a impressão de que é um paciente difícil de lidar;
  • não tomar muito tempo do profissional.

Além do óbvio, que pacientes (especialmente os enfermos) podem ser mal assistidos por causa das informações incorretas ou faltantes, os autores concluem que é preciso encontrar meios de melhorar o nível de confiança entre pacientes e profissionais de saúde e de deixar os pacientes confortáveis para falar o que tem que ser dito.

“Fiquei surpresa com o número substancial de pessoas que não fornecem informações inofensivas, e que elas admitem isso”, diz Andrea Gurmankin Levy, autora do estudo e pesquisadora na Middlesex Community College, em Middletown (Connecticut, EUA). “Nós também temos que considerar uma interessante limitação do estudo de que os pacientes podem ter escondido informações sobre o que escondem dos médicos, o que significaria que estamos superestimando o quão prevalente é esse fenômeno.”

“Se pacientes não falam o que comem ou que remédio tomam, pode haver implicações significativas para a saúde. Especialmente se eles têm doenças crônicas”, diz Levy.

A pesquisa está publicada na revista Jama Network Open.


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