Mosquito geneticamente modificado reduz em 80% a infestação em dois bairros de Piracicaba
O mosquitinho geneticamente modificado da Oxitec que leva o ambicioso nome de “Aedes do Bem” teve mais um bom resultado em campo, na cidade de Piracicaba. Houve uma redução na casa 80% das larvas de Aedes aegypti selvagens em dois bairros diferentes, um na periferia da cidade e um na zona central.
Para fazer essa contabilidade entomológica, foram usadas armadilhas que capturam os ovos de mosquitos. Aqueles resultantes da reprodução dos mosquitos liberados não são contabilizados, já que eles são inviáveis, ou seja, não se tornarão mosquitos adultos.
Não necessariamente esse resultado implica em uma redução dos casos de dengue, que depende, entre outras coisas, do nível de aglomeração e do estado sorológico das pessoas (se elas tiveram dengue antes). Mas o que não se pode negar que é um bom motivo para a empresa comemorar.
Como mostrou o Cadê a Cura?, também houve redução do número de casos na área tratada inicialmente no bairro Cecap/Eldorado, que tinha alta incidência e que ficou abaixo da média municipal após a intervenção.
Para o diretor geral da Oxitec do Brasil, Jorge Espanha, o resultado é “espetacular” e se aproxima da meta de “perfeição” que seria o índice de 90%.
O gargalo para obter esse índice parece ser a reinfestação com mosquitos de outras áreas após o tratamento.
Por causa disso, explica, a Oxitec tem testado algumas novas táticas de liberação, com menos mosquitos, mas liberados em horários diferentes (de madrugada parece que eles têm melhor desempenho). Outro fator, diz Espanha, é o tempo, que também é monitorado para encontrar o melhor momento de liberação e otimizá-la.
Na cidade de Piracicaba, o projeto começou em 2015. “No segundo ano continuamos a ver resultados muito bons que, tenho certeza, fizeram uma grande diferença na vida dos moradores do bairro […] Os resultados iniciais no São Judas também mostram o acerto de nossa decisão em expandir o projeto para a região central de Piracicaba, em 2016”, disse o secretário de Saúde e Esportes, Pedro Mello, em comunicado à imprensa.
INTERESSE
Segundo Espanha, há diversos municípios interessados na tecnologia –que ainda não pode ser comercializada porque ainda não há liberação da Anvisa para essa finalidade.
Essas cidades estariam nos Estados de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Pernambuco. Os contratos entre Oxitec e os municípios, no entanto, ainda não foi firmados.
“Não estamos buscando parceiro proativamente, mas estamos sendo muito pressionados”, afirma Espanha.
Para o diretor, ainda há um subdimensionamento do custo das doenças transmitidas pelo Aedes no Brasil. “Cinco dias de internação, afastamento do trabalho, pessoal no campo para controlar o vetor, campanhas educativas… Possivelmente gastamos bilhões de reais sem saber. E isso corrói os orçamentos [dos governos municipais, estaduais e federal].”
O pior de tudo, diz, é o prejuízo social. “Não tem como quantificar o impacto de um bebê com microcefalia, ou da morte de uma pessoa da família.”
No entanto, considerando os recursos –sempre limitados– no combate às doenças transmitidas pelo Aedes, seja zika, dengue ou chikungunya, ainda não sabemos o poder de competição da nova tecnologia.
Pelo menos, segundo Espanha, é possível combiná-la com a aplicação do fumacê, por exemplo, o que pode otimizar os resultados no campo e reduzir custos e o número mosquitos liberados.
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