Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Empresários e redes sociais lucram com onda antivacina https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/#respond Fri, 17 Jan 2020 19:17:05 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/691548e03ee4fb72d1aad79f90a7f839b476fcbeb10c896ad2ae54d49be43dd9_5ca7c61cde9cf-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1238 Apesar do indiscutível benefício à saúde da humanidade, o crescimento do movimento antivacina no Brasil tem preocupado médicos e acadêmicos. No texto abaixo, escrito para o blog Cadê a Cura?, Dayane Machado e Leda Gitahy contam um pouco sobre o que há por trás do fenômeno e quem tem a ganhar com esse aglomerado de teorias conspiratórias.

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Por Dayane Machado e Leda Gitahy, respectivamente doutoranda e professora livre-docente do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp

Cento e setenta países registraram casos de sarampo em 2019. O Brasil não só perdeu o certificado de erradicação da doença, como se tornou o sexto país em número de casos registrados. Devido a esses e outros acontecimentos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a hesitação a vacinas uma das maiores ameaças à saúde de 2019.

A hesitação a vacinas é um conjunto diverso de atitudes relacionadas à imunização: há quem recuse apenas algumas vacinas; quem adie o calendário vacinal; quem obedeça ao calendário, mas não se sinta seguro, entre outras variações.

Essa falta de confiança coloca os mais frágeis em perigo e pode impactar as taxas de vacinação, aumentando o risco de epidemias de doenças preveníveis por vacina, como é o caso da poliomielite e do próprio sarampo.

As redes sociais também têm responsabilidade na disseminação dessa desconfiança, como indica uma pesquisa recente da Avaaz. Quase 90% dos vídeos do YouTube em português analisados pela organização apresentaram alguma desinformação sobre vacinas. Esse resultado se torna ainda mais preocupante se considerarmos que das pessoas entrevistadas pela pesquisa, 57% dos que deixaram de se vacinar alegaram algum boato sobre vacinas como o principal motivo para essa decisão.

O Facebook é uma das plataformas mais utilizadas para espalhar informações falsas sobre vacinas. Uma pesquisa americana revelou que dois únicos compradores são responsáveis pela maior parte dos anúncios antivacinação em inglês que circulam na rede social.

Larry Cook é um desses clientes. Ele administra o Stop Mandatory Vaccinations (site e comunidade no Facebook), que além de desinformação e teorias conspiratórias, promove uma loja da Amazon, onde livros antivacinação e produtos “alternativos” são comercializados.

Outro empresário beneficiado pelo discurso antivacinação é Joseph Mercola. Em seu site, ele ataca vacinas e anuncia produtos “alternativos” à imunização. Uma investigação realizada pelo Washington Post revelou ainda que o milionário é o principal apoiador do grupo antivacina mais antigo dos Estados Unidos, tendo doado mais de US$ 2 milhões (algo como R$ 8,35 milhões) à associação ao longo da última década.

Esse movimento também tem se fortalecido no Brasil por meio das redes sociais. Um dos maiores grupos do Facebook contrários à vacinação reproduz argumentos de conspiracionistas, compartilha conteúdo de sites negacionistas americanos e realiza até transmissão online de eventos problemáticos como o AutismOne.

Esse “congresso” se propõe a falar de autismo, mas tem sessão dedicada a criticar vacinas, oferece treinamento para “ativistas da saúde”, recebe gurus do movimento antivacina como palestrantes, além de promover terapias e produtos duvidosos.

Quando confrontadas publicamente com esses tipos de dados, as plataformas prometem combater a desinformação sobre vacinas, mas a constância nas denúncias de jornalistas a respeito desse tema indica o baixo nível de comprometimento de grande parte dessas empresas. Mark Zuckerberg, por exemplo, já disse que não incentiva o festival de desinformação dentro do Facebook, mas também não se opõe caso “alguém quiser postar conteúdo antivacinação ou quiser se juntar a um dos grupos que discutem esse tipo de ideia”.

Redes sociais são movidas a atenção e engajamento, de modo que conteúdos antivacinação também podem se tornar lucrativos para essas empresas. Enquanto isso, os grupos antivacina se organizam e se fortalecem, disseminando dúvidas e criando novas ondas de hesitação.


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Falta de proteína na dieta está associada à síndrome da zika em bebês

A internet está cheia de curas impossíveis, achismos e charlatães, diz neurologista

Dor nas costas pode ter origem em doença inflamatória

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A internet está cheia de curas impossíveis, achismos e charlatães, diz neurologista https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/a-internet-esta-cheia-de-curas-impossiveis-achismos-e-charlataes-diz-neurologista/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/a-internet-esta-cheia-de-curas-impossiveis-achismos-e-charlataes-diz-neurologista/#respond Fri, 20 Dec 2019 11:00:54 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/32913725404_e6ec730c66_c-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1225 O neurologista Saulo Nader, do canal do YouTube NeurologiaePsiquiatria TV, escreve para o blog Cadê a Cura? e fala sobre sua indignação com as pseudociências, que ganham espaço especialmente na internet e põem a saúde e a vida das pessoas em risco.

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Por Saulo Nader, neurologista

Enquanto o Uber rasgava o trânsito da metrópole com a agilidade de uma tartaruga, me perdia contemplando as varandas gourmet. Tanta vida ocorrendo naqueles espacinhos iluminados que se apinham no horizonte da capital.

Um casal parecia discutir em uma; em outra, crianças corriam animadas; em uma lá no meio do prédio vermelho, uma cena que me captou: um homem de cadeira de rodas segurava o celular e navegava entorpecido em sua telinha. Seu olhar cansado exalava curiosidade. Será que buscava informação sobre saúde no mundo virtual?

Talvez ele procurasse no cyberespaço dicas para saber mais de sua vertigem (uma doença traiçoeira) ou simplesmente como lidar com o desafio de ser deficiente na cidade dos buracos. Escrevi um lembrete para gravar um vídeo sobre o assunto.

Naquela noite, eu comemorava o marco de mil pacientes atendidos em meu consultório, mil vidas que esbarraram na minha e que tive a oportunidade de, por meio da ciência médica, tentar ajudar.

Mil vidas, mil histórias, mil doenças… O número chacoalhava dentro do meu cérebro. Em meu canal no YouTube, contudo, tenho vídeos já com mais de um milhão de visualizações. Ou seja, somente por essa portinha mágica do smartphone, esbarrei em mais de um milhão de vidas.

Um milhão de pessoas é mais do que qualquer médico atenderá em toda sua carreira, por mais trabalhador que seja. De fato, a tecnologia quebra barreiras.

Um vídeo não substitui o médico, lógico que não. Mas leva informação às pessoas que anseiam por ajuda, dá um caminho para chegar à sonhada melhora. Tomara que um bom vídeo ajude aquele senhor ali parado, divagando no seu celular, ter ajuda para aliviar suas tonturas e a viver melhor com sua aliada de rodinhas.

O primeiro passo em busca da sonhada melhora é o conhecimento.

Ali, sentado no banco de um carro qualquer, em uma rua conturbada, pensei no poder que as mídias sociais podem dar a algumas pessoas e como muita gente usa esse poder para o mal, infelizmente.

Uma informação desencontrada, de má fé ou exploradora pode deixar um grande estrago nessas vidas, como as que vejo nas varandinhas.

Curas impossíveis, orientações equivocadas e causas inexistentes de doenças podem devastar uma existência. Crendices e achismos disfarçados com a roupagem professoral da ciência abundam por aí. Charlatões maquiados com a pompa e o jargão médico enganam livremente.

Tem de tudo: ervas milagrosas, vitaminas mágicas, Pedro de Jesus, o louco da vitamina D, o insano da glutamina, as pílulas da inteligência, a fosfoetalamina, o ódio contra vacinas e os chás de rosas. Obscurantismo e ocultismo vendendo falsa saúde, o mundo assombrado por demônios. Esse livro, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, escrito pelo incrível Carl Sagan, expõe o capeta que ganhou asas no mundo digital: a pseudociência.

Essas pessoas que usam da fé para enganar e em, boa parte das vezes, para enriquecer não se importam com o ser humano, apenas com o bolso. Em tom messiânico, prometem a cura por vias anticientíficas, místicas e irreais. Esse discurso entorpece os sentidos e engana a alma.

Ninguém está imune à pseudociência, mas, quanto mais boa informação houver, maior a esperança de que os dias adiante serão melhores. Existe muito conteúdo médico e de saúde com qualidade nessa galáxia confusa que é a internet, não tenha dúvida — conhecimento bom, baseado em evidência científica.

“Chegamos, amigo”, despertou-me dos meus pensamentos a voz rouca do motorista. Há um provérbio chinês que diz que mais vale acender uma vela do que lamentar a escuridão. Acendi a minha. E, nas varandas gourmet, vida acontecendo.

 


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Por que a Anvisa libera produtos homeopáticos? Veja as respostas da agência

Crianças e suas reflexões sobre a morte e a finitude

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Por que a Anvisa libera produtos homeopáticos? Veja as respostas da agência https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/02/por-que-a-anvisa-libera-produtos-homeopaticos-veja-as-respostas-da-agencia/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/12/02/por-que-a-anvisa-libera-produtos-homeopaticos-veja-as-respostas-da-agencia/#respond Mon, 02 Dec 2019 12:00:35 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/b703e13bb0948aa6f54f914e867e30485a2525b52fb6280e43c2c23447bee6a8_5dd70efe5c317-1-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1202

Já que os produtos homeopáticos têm baixa chance de causarem problemas para a saúde, eles podem ser liberados com um menor rigor do que remédios convencionais, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável pela regulação de medicamentos no país.

No último dia 22, a Folha publicou a reportagem Movimento que rebaixou homeopatia no Reino Unido e na Austrália chega ao Brasil. Para entender melhor o status regulatório dos produtos homeopáticos no país, procurei a Anvisa .

Países como Austrália, Reino Unido e França começaram a retirar a homeopatia de seus sistemas públicos de saúde ou a restringi-la. A FTC (Federal Trade Comission), agência dos EUA responsável por proteger consumidores, já havia declarado que os medicamentos homeopáticos não tem garantia de eficácia ou de segurança.

A homeopatia se baseia em princípios estabelecidos em 1790 por Samuel Hahnemann, como o que diz que “similar cura similar” e o de ganho de potência por meio de diluições. Por exemplo, uma substância que causa coceira poderia ser usada para tratar esse tipo de sintoma, desde que extremamente diluída na formulação do remédio homeopático.

O fato é que os remédios homeopáticos não passam pelo mesmo processo de validação do que os remédios convencionais. Enquanto uma vacina ou um antibiótico tem que apresentar uma série de estudos mostrando eficácia e segurança antes de serem lançados, os homeopáticos se baseiam em relatos de casos e na aprovação prévia em outros países, sem um arcabouço científico mais robusto.

Esses produtos “podem ter sua comprovação de eficácia demonstrada pelo próprio uso tradicional, pelo registro em farmacopeia nacional [espécie de grande catálogo de remédios] ou em outros compêndios aceitos por agências reguladoras internacionais.”, diz a Anvisa.

Isso acontece porque esses itens oferecem baixo risco, segundo a agência. “Como consequência, medicamentos homeopáticos são indicados como ‘auxiliares’ no tratamento de outras doenças ou dos sintomas de doenças.” Caso seja proposto que um medicamento homeopático trate uma doença grave, serão exigidos estudos de fase 1, 2, 3, com animais e seres humanos, diz a Anvisa.

A seguir, a íntegra das respostas enviadas pela agência:

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Uma vez aprovado pela Anvisa, um tratamento pode ser revogado por ausência de eficácia? Se sim, qual o caminho e o que isso requereria? É o mesmo caminho para medicamentos homeopáticos e não homeopáticos? Qualquer medicamento ou produto pode ter o seu registro revisto a partir do surgimento de evidências sobre o seu perfil de segurança e eficácia. Este tipo de fenômeno é normalmente identificado pelo trabalho de farmacovigilância a partir das notificações feitas por pacientes, médicos e outros profissionais de saúde.

O que sustenta a existência dos tratamentos homeopáticos hoje em dia no Brasil? Demanda popular, tradição, presença em outros países, legislação (como a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares)? Todos medicamentos autorizados pela Anvisa possuem comprovação de eficácia e segurança, incluindo os medicamentos homeopáticos. A diferença está no rito de validação de cada produto.

Há diferentes métodos para validar a eficácia de um medicamento e isto está relacionado com o seu perfil de risco e alegações terapêuticas aprovadas para cada produto.

Os medicamentos homeopáticos estão no grupo próximo aos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos que podem ter sua comprovação de eficácia demonstrada pelo próprio uso tradicional, pelo registro em farmacopeia nacional [espécie de grande catálogo de remédios] ou em outros compêndios aceitos por agências reguladoras internacionais.

Os homeopáticos estão neste grupo porque são considerados produtos de baixo risco. Como consequência, medicamentos homeopáticos são indicados como “auxiliares” no tratamento de outras doenças ou dos sintomas de doenças.

Essa demonstração pelo uso tradicional ou por relato em compêndios é válida apenas para o aspecto da eficácia. Os requisitos de boas práticas de fabricação, que tratam da linha de produção, são os mesmos para todos os medicamentos, podendo variar apenas de acordo com características específicas de cada produto (por exemplo, os medicamentos biológicos).

No caso das farmácias de manipulação, as regras vigentes são as mesmas independentemente da natureza do produto, ou seja, iguais para medicamentos sintéticos, fitoterápicos, homeopáticos ou mesmo cosméticos.

Farmácias de manipulação fabricam produtos personalizados de acordo com a indicação de cada médico para seu paciente.

O rigor e o processo para aprovação de medicamentos homeopáticos não deveriam ser igual aos empregados para os tratamentos convencionais? Por que são diferentes? Tratam-se de produtos diferentes. O rito de aprovação definidos pela regulação é compatível com o perfil de risco e as indicações aprovadas para estes produtos.

No Brasil, qualquer medicamento homeopático que se proponha a tratar uma doença grave deverá se submeter às mesmas exigências feitas para medicamentos mais complexos, por exemplo, com a exigência de estudos clínicos de fase 1, 2 e 3.

Atualmente não temos no Brasil homeopáticos com estas indicações.

Como a agência enxerga a mudança de posicionamento em relação aos medicamentos homeopáticos em países como Austrália e Reino UnidoPara fazer essa avaliação seria necessário olhar em detalhes o contexto regulatório de cada um desses dois países e os estudos referenciados no texto.

De toda forma, é importante ressaltar que os medicamentos homeopáticos atualmente aprovados pela Anvisa não são indicados como tratamento de doenças graves citados nos dois documentos. No Brasil esses produtos são indicados como produtos “auxiliares”.

A regulamentação dos medicamentos fitoterápicos no Brasil recebe um tratamento bastante semelhante às normas da Alemanha, França e Suíça.

Existe alguma preocupação com relação ao fato de o emprego de tratamentos homeopáticos, por serem alternativos à medicina convencional, poderem acarretar abandono dos tratamentos sabidamente eficazes em doenças graves, como asma e câncer? Os medicamentos homeopáticos, como qualquer medicamento, têm indicações aprovadas que devem ser observadas e que não podem ser extrapoladas. É importante destacar que o diagnóstico, prescrição e orientação corretos feitos ao paciente pelo médico é fundamental para a condução de qualquer tratamento.

Sobre a eventual conduta de profissionais que possam induzir a substituição indevida de tratamento, é importante consultar o CFM [Conselho Federal de Medicina], que é o conselho profissional que cuida deste aspecto.


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Por que as pessoas mentem para os médicos? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/07/por-que-as-pessoas-mentem-para-os-medicos/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/07/por-que-as-pessoas-mentem-para-os-medicos/#respond Fri, 07 Dec 2018 20:21:52 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/186958_web-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1034 As pessoas, vez ou outra, mentem para os médicos e outros profissionais da saúde. Mas qual o sentido de mentir se, quanto mais o profissional sabe a respeito do paciente, melhor é o cuidado?

Um estudo americano conduzido com 4.510 indivíduos aponta que de 60% a 80% das pessoas (idosos e jovens, respectivamente) omitem ao menos uma informação importante de seus médicos, como:

  • não entender as instruções dadas pelo profissional de saúde;
  • discordar das recomendações;
  • não se exercitar regularmente;
  • ter dieta não saudável;
  • tomar determinado medicamento;
  • não seguir as instruções de prescrição;
  • tomar medicamento de outra pessoa.

Várias são as explicações para as omissões de informações importantes. As cinco respostas mais citadas foram estas:

  • evitar ser julgado ou levar sermão;
  • não querer sabe o quão perigosa foi a atitude em questão;
  • vergonha;
  • não passar a impressão de que é um paciente difícil de lidar;
  • não tomar muito tempo do profissional.

Além do óbvio, que pacientes (especialmente os enfermos) podem ser mal assistidos por causa das informações incorretas ou faltantes, os autores concluem que é preciso encontrar meios de melhorar o nível de confiança entre pacientes e profissionais de saúde e de deixar os pacientes confortáveis para falar o que tem que ser dito.

“Fiquei surpresa com o número substancial de pessoas que não fornecem informações inofensivas, e que elas admitem isso”, diz Andrea Gurmankin Levy, autora do estudo e pesquisadora na Middlesex Community College, em Middletown (Connecticut, EUA). “Nós também temos que considerar uma interessante limitação do estudo de que os pacientes podem ter escondido informações sobre o que escondem dos médicos, o que significaria que estamos superestimando o quão prevalente é esse fenômeno.”

“Se pacientes não falam o que comem ou que remédio tomam, pode haver implicações significativas para a saúde. Especialmente se eles têm doenças crônicas”, diz Levy.

A pesquisa está publicada na revista Jama Network Open.


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Edição genética de embriões é considerada ética por organização britânica https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/edicao-dna-embrioes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/edicao-dna-embrioes/#respond Wed, 18 Jul 2018 16:08:17 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/35452535444_6f67bbe316_o-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=984 O Conselho Nuffield de Bioética, uma importante organização independente do Reino Unido, chegou à conclusão que editar o genoma de embriões e de células germinativas (óvulos e espermatozoides) pode ser eticamente aceitável em algumas circunstâncias.

Uma das condições que justificariam a prática seria a busca pelo bem-estar daquele que ainda vai nascer. Outra é que, com a aplicação das técnicas de edição, não haja ampliação de discriminação, injustiça ou divisões na sociedade.

A legislação vigente no Reino Unido, porém, ainda proíbe esse tipo de intervenção. De acordo com o Conselho Nuffield, esse status legal só deveria mudar após um longo debate entre os setores da sociedade e com a implementação de medidas robustas para garantir que os princípios citados acima sejam seguidos.

Outro ponto, de acordo com a instituição, é que cada caso deveria ser avaliado individualmente, em um processo finamente regulado pelas autoridades governamentais, com acompanhamento de longo prazo e no contexto de estudos clínicos. E tudo isso só teria sentido se, e somente se, houvesse muito mais pesquisas que estabelecessem a segurança desse tipo de procedimento.

Edição genética é o termo utilizado quando nos referimos às mudanças intencionais em sequências de DNA, espécie de livro da vida que reside nas célula de seres vivos e que contém instruções para que organismo consiga construir-se e manter-se vivo.

Ao mudar o que está escrito nesse livro, seria possível corrigir, por exemplo, a sequência de uma proteína que permite com que o músculo não se destrua durante seu processo de contração. Estou falando da distrofina, cuja função é prejudicada em doenças como a distrofia muscular de Duchenne.

Em vez de morrer na faixa dos 20 ou 30 anos por falência cardíaca ou respiratória, futuros bebês com a alteração genética poderiam ter uma vida normal, se seus DNAs fossem corrigidos com alguma técnica de edição antes mesmo de eles nascerem.

O raciocínio vale para predisposição aos mais diversos tipos de câncer (o leitor se recorda do caso de Angelina Jolie?) e para doenças neurodegenerativas como Alzheimer precoce. Moléstias complexas como obesidade e diabetes também têm componentes genéticos e poderiam entrar na ciranda, a depender de mais estudos.

Ao menos hipoteticamente, muito sofrimento poderia ser evitado.

“Há grandes avanços acontecendo na pesquisa genômica. Ao mesmo tempo em que nós temos de admitir que não são só os genes que definem uma pessoa, a possibilidade de usar a edição gênica para garantir ou evitar que uma criança tenha certas características oferece uma nova abordagem radical que provavelmente terá grande apelo entre futuros pais.”, diz David Archard, presidente do Conselho Nuffield e professor de filosofia da Queen’s University Belfast, em nota.

“Pode haver boas razões para permitir algumas preferências dos pais, mas precisamos ter cuidado para que o uso da edição do genoma não aumente a desigualdade social, a discriminação ou a divisão, além de acompanhar de perto todos os envolvidos e especialmente qualquer criança que nasça como resultado do procedimento”, conclui

Apesar de as possibilidades parecerem animadoras, pelo menos por ora não há muitos motivos para empolgação. Um estudo publicado na segunda (16), na revista Nature Biotechnology, alerta que uma das técnicas mais modernas de edição de DNA, o Crispr-cas9, não é tão seguro quanto se supunha, gerando deleções inesperadas e rearranjos complexos –a dose de imprevisibilidade é alta.

Sempre há o risco de se mexer na parte errada do genoma, como em um gene que inibe a formação de tumores. Se ele não estiver íntegro e talvez por qualquer outro azar somado a isso, a célula pode começar a se replicar e, não muito tempo depois, gerar um câncer.

E essas alterações do DNA –desejadas ou não– são herdáveis. Ou seja, eventuais incorreções podem se propagar por gerações e gerações humanas. Isso fora o risco não negligenciável de haver casais e governos interessados em bebês modificados para terem determinadas características atléticas e estéticas, por exemplo.


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Já pensou em ser voluntário em uma pesquisa científica? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/02/28/voluntario-pesquisa/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/02/28/voluntario-pesquisa/#respond Wed, 28 Feb 2018 11:07:08 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/6993510602_63119fb51e_k-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=901 Fazer parte de um estudo científico como voluntário (alguns diriam “cobaia”) é uma das experiências mais curiosas que um indivíduo pode ter.

Imagine só a emoção de estar no princípio de uma descoberta. Será que o exercício físico ajuda a reduzir o ronco? Quais seriam os efeitos da poluição atmosférica na qualidade dos espermatozoides? Há questões que não podem ser respondidas de outra forma senão pesquisando.

Desde pequeno eu queria ser cientista, e isso me guiou até a escolha do curso universitário. Aos 18, quando comecei a estudar biomedicina na Unifesp, me deparei com um universo repleto de todo tipo de pesquisa –com camundongos, ratos, coelhos, cultura de células, bactérias, vírus… e com humanos.

A primeira pesquisa que participei como voluntário era para os pesquisadores entenderem melhor como o corpo humano funciona enquanto dorme e como o sono é atrapalhado por alguns problemas de saúde. (Ainda estamos longe de saber completamente como ele funciona, seja no sono ou na vigília.)

Nesse caso, eu era um voluntário saudável –sem insônia ou apneia grave. Muitos outros estudos precisam de participantes sãos para entender, por exemplo, como funciona a memória em uma situação de estresse (sim, participei), ou qual é o risco de uma pessoa se contaminar com HPV (vírus do papiloma humano) morando em São Paulo (sim, de novo).

Conhecer os pesquisadores, tentar entender o que estão fazendo e poder doar um pouco de tempo, de sangue ou mesmo uma noite de sono para que eles promovam o avanço da ciência era para mim mais do que só camaradagem, era uma chance de viver integralmente a ciência e de aprender como ela é feita.

TRATANDO DOENÇAS

Mergulhar numa dessas pesquisas pode ser a chance de abandonar a inércia e tentar fazer algo para sanar aquele problema que é arrastado há anos. Dor nas costas, incontinência urinária, tabagismo… novas e velhas formas de se tratar são testadas a todo momento.

A vantagem de receber um tratamento dentro de um protocolo de pesquisa é que o compromisso da equipe é um empurrãozinho para que o cuidado com a saúde seja mantido, com dados coletados regularmente e telefonemas para saber se tudo está OK.

Em estudos epidemiológicos pode haver o acompanhamento de pacientes ao longo de anos para entender a história natural de uma doença. O ponto positivo é que, a qualquer sinal de inconformidade, o paciente é encaminhado para tratamento e tem sua saúde monitorada pelos pesquisadores.

E no caso do teste de novas drogas? Será que há risco ao participar de um protocolo de pesquisa? Sim, há, mas geralmente não são riscos altos. Dependendo do estágio em que a pesquisa clínica está, ainda não se sabe se há grande chance de efeitos colaterais –nesse caso geralmente o paciente é internado e monitorado de perto.

Além disso, projetos de pesquisa que envolvem humanos têm de ser aprovados por dois comitês de ética em pesquisa, um local e um nacional, para poderem acontecer. Se o possível benefício é pequeno em comparação ao estresse causado, o projeto, via de regra, não vai para frente.

Todas as informações relevantes para a tomada de decisão de participar ou não têm de estar no termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), que é apresentado aos voluntários e tem de ser assinado por eles e por um representante da equipe.

DINHEIRO

No Brasil não pode haver remuneração em troca da participação em estudos. Essa é uma estratégia para evitar, entre outros problemas, o surgimento de “voluntários profissionais”. Por aqui só é possível ressarcir despesas com transporte e alimentação; em outros países, como os EUA, é possível ganhar dinheiro dessa forma.

Uma das exigências a serem cumpridas por investigadores e patrocinadores de pesquisas clínicas é ofertar, além dos novos tratamentos, as melhores terapias disponíveis até então para a condição que está sendo investigada. O que define qual tratamento cada paciente vai receber primeiro, porém, geralmente é um sorteio –uma maneira de garantir a qualidade das informações a serem coletadas.

Os pacientes desses estudos geralmente têm acesso a remédios muitas vezes ainda indisponíveis para a população em geral –é o caso dos testes de novos imunoterápicos contra o câncer, cujas vagas rapidamente se esgotam em centros de pesquisa mundo afora (há situações, no entanto, em que há mais vagas do que pacientes).

Mas nem tudo é perfeito, claro. Existe toda sorte de pesquisadores –os apaixonados e responsáveis, os desleixados, os frustrados, os preguiçosos, os malandros…– e há estreita correlação entre a confiabilidade da pesquisa e a boa conduta dos pesquisadores. É possível, sim, que haja muitas meias-verdades sendo publicadas em decorrência de estudos mal conduzidos.

Por outro lado, especialmente em estudos maiores e que envolvem dezenas de pesquisadores (e, às vezes, milhares de voluntários), há mecanismos estatísticos e de controle de qualidade que atenuam ou solucionam problemas do tipo –é como se uma pequena picaretagem tivesse seu efeito maléfico diluído num caldeirão de dados confiáveis. 

No caso de grandes indústrias farmacêuticas, boa parte dos lucros são reinvestidos em pesquisas, a fim de descobrirem novas drogas. São empreendimentos que chegam à casa dos bilhões de dólares –faz sentido fiscalizar de perto e garantir que o dinheiro seja bem gasto.

COMO PARTICIPAR?

Conversei com pessoas entendidas e pesquisei, mas não parece não haver, ao menos até agora, um site em português que contenha informações de estudos clínicos em andamento no Brasil. Provavelmente a maior parte deles está no site americano clinicaltrials.gov. Quando busquei, havia pouco mais de 1.000 estudos acontecendo em terras brasileiras.

Aviso: talvez o leitor se frustre com o jargão médico em inglês do portal. O ideal é pedir para seu médico traduzir o conteúdo e buscar meios de viabilizar o recrutamento para o estudo desejado, se for o caso.

Vale também prestar atenção aos canais de divulgação oficiais de Universidades e de institutos que praticam pesquisa clínica. Tem uma lista deles aqui.


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Paciente inconsciente com tatuagem escrito ‘NÃO ressuscitar’ intriga médicos e gera discussão ética https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/02/nao-ressuscitar/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/02/nao-ressuscitar/#respond Sat, 02 Dec 2017 20:33:47 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/nejmc1713344_f1-180x135.jpeg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=852 Aconteceu nos EUA e o relato está em uma carta enviada por médicos e pesquisadores da Universidade de Miami à revista “New England Journal of Medicine”: um paciente de 70 anos foi levado para o hospital inconsciente após ter bebido demais. Ele tinha histórico de diabetes, doença pulmonar e arritmia. Até aí, nada tão fora do ordinário.

Durante a recuperação, ele teve uma piora grave. Seu sangue estava muito ácido e sua pressão estava baixando –sem uma rápida intervenção, ele poderia morrer.

A questão é que ele tinha uma tatuagem no peito na qual se lia: “Do Not Resuscitate”, com “Not” sublinhado. (traduz-se como “Não Ressuscitar”, em português). Logo abaixo, a possível assinatura do paciente.

O paciente não foi identificado e nenhum membro da família o acompanhava.

“Nós inicialmente decidimos não cumprir com o desejo expresso na tatuagem, invocando o princípio de não escolher um caminho irreversível ao lidar com a incerteza”,  escreveram os autores na carta.

“Essa decisão nos deixou consternados, já que, nesse caso, poderíamos estar ignorando um tremendo esforço do paciente para tornar pública sua vontade. Por causa disso, foi requerida uma avaliação ética da questão.”

A comissão encarregada de discutir essa questão ética sugeriu que a equipe seguisse a determinação da tatuagem. Seria mais sensato inferir que ali estava expressa uma preferência autêntica. Segundo a carta, os especialistas também argumentaram que nem sempre a legislação é veloz o suficiente para acompanhar e dar suporte aos interesses do paciente.

Por sorte, o serviço social do hospital identificou o paciente e localizou um documento formal, o pedido de não ressuscitação (DNR, na sigla em inglês) do paciente, que era consistente com a tatuagem. Ao longo da noite o estado clínico do paciente piorou de vez e ele morreu sem passar por tentativas de ventilação mecânica ou outras intervenções.

Esse DNR via tatuagem foi avaliado pela equipe da Universidade de Miami como gerador de uma grande confusão –tanto do ponto de vista da legalidade dessa “solicitação” quanto da crença de que uma tatuagem poderia representar decisões das quais a pessoa se arrependeu de ter feito no passado.

Os autores, no fim das contas, não se posicionam a favor ou contra desse tipo de manifestação de como deve ser conduzido o cuidado no fim da vida.

A especialista em bioética Maria Sharmila Alina de Sousa explica que alguns dos princípios em que pensadores da área concentram suas teses é o da autonomia, a não maleficência (ou o primum non nocere hipocrático), a beneficência  e justiça. Ela concorda com a conduta e salienta “notoriedade da novidade com a qual a equipe médica se deparou”.

“Precisamos nos adiantar, como sociedade, e estabelecermos parâmetros de conduta clínica delimitados e fundamentados na evidência global disponível sobre os impactos familiares, socioculturais e político-econômicos para que não haja dúvidas na tomada de decisão sobre quais tipos de cuidados paliativos tais pacientes devam ou não acessar, caso não seja possível contar com informações provenientes de familiares ou do prontuário médico”, diz Sousa, que é pesquisadora da Fiocruz Brasília.

E você? O que acha disso tudo? Comente abaixo!


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Por que a Aids é uma questão gay (e não uma ‘doença gay’) https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/05/03/aids-questao-gay/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/05/03/aids-questao-gay/#respond Wed, 03 May 2017 09:07:32 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/33579650125_94ac4720ba_k-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=679 Na Folha desta quarta (3) o leitor encontra uma entrevista (conduzida por mim e pelo meu colega Phillippe Watanabe) na qual o ativista Kevin Frost defende a ideia de que a política antiaids e anti-HIV é indissociável da luta pelos direitos dos gays.

Já houve diversas tentativas de tentar tapar o sol com a peneira e de dizer que todos deveriam se preocupar igualmente com a doença. Um paralelo grosseiro é dizer que os habitantes de um bairro violento devem se preocupar tanto com a violência urbana quanto os habitantes de um bairro que tem índice de roubos e latrocínios próximo de zero (e vice-versa).

Historicamente, cerca de 10% dos gays do país são soropositivos. E os gays formam cerca de 10% da população masculina em cidades como São Paulo, Salvador, Brasília e Rio. Na população em geral, a taxa de contaminados é de 0,6% (dados da Unaids).

Só que muitas vezes os dados são apresentados de forma a poluir a realidade. Um exemplo disso seria o seguinte: contando os casos notificados de Aids e contabilizados pelo Ministério da Saúde desde 1980 até 2016, houve 145.720 casos resultantes de transmissão sexual em homens heterossexuais e 139.865 em homens homo e bissexuais. Pelas porcentagens: 51% contra 49% –empate técnico entre os grupos comparados.

Desconsidera-se na análise que a proporção populacional de homens gays é, nas cidades citadas acima, por exemplo, nove vezes menor que a de heterossexuais. Em tentativas de explicação como a do “empate técnico” parece que o politicamente correto ganha do estatisticamente acurado.

Por outro lado, como se infere pelos dados (aqueles mais acurados), carteirinha de hétero não garante imunidade contra o vírus. Por mais que a chance de contágio seja menor –também por razões biológicas inerentes à modalidade de sexo praticada– quanto mais “bilhetes” se adquire, maior a chance de ganhar na “loteria”. Não se trata de uma “doença gay”, portanto.

A preocupação do ativista Kevin Frost de ter uma política de prevenção direcionada a grupos de risco –gays, garotas e garotos de programa, usuários de drogas injetáveis– faz todo o sentido. O que falta é a sagacidade para saber como chegar a toda essa gente com uma mensagem verdadeiramente efetiva.


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Cientistas criam embrião de porco com células de gente e abrem fresta para um futuro distópico https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/01/26/distopia-suina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/01/26/distopia-suina/#respond Thu, 26 Jan 2017 22:15:57 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/neverletmego-100-180x77.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=534 A possibilidade de usar suínos para resolver o problema da falta de órgãos para transplante já vem sendo aventada por médicos e cientistas há décadas. A construção de uma quimera (organismo misto) de porco com homem reaviva a questão e traz nuances bioéticas, abrindo uma fresta que permite vislumbrar um futuro distópico.

A presença ou não de consciência nessa quimera  acaba sendo o ponto principal. Quase ninguém discute bioeticamente a construção de um órgão humano ou semi-humano em uma placa de Petri, a partir de células-tronco adultas. Quando bichos vivos e/ou semi-humanos estão envolvidos, o problema ganha corpo.

Será que esses animais têm chance de ter uma consciência semelhante à de nossa espécie? É possível controlar o quimerismo de maneira eficiente?

Alguns entusiastas da área de inteligência artificial equiparam a consciência a um avançado programa de computador. A partir de um certo grau de sofisticação e complexidade ela se manifestaria –difícil prever ou estabelecer em que instante isso acontece, ou mesmo quando ela se torna “humana”.

Soa perturbador manter em jaulas criaturas capazes de desenvolver uma fração de nossa capacidade mental só para que se tornem biofábricas, por mais bem cuidadas que sejam e por mais conforto que recebam.

NA ARTE

A literatura e o cinema já se debruçaram sobre o tema. Em “Não Me Abandone Jamais”, filme de 2010 baseado em livro homônimo, clones humanos são criados especificamente para se tornarem doadores de órgãos vitais (spoilers nos dois próximos parágrafos).

Após poucas doações, a pessoa morre. Antes disso, os “doadores” (como os clones são chamados) têm de chegar à fase adulta. A missão do internato que abriga os três personagens principais é investigar se clones têm alma, através da avaliação de obras de arte. Nesse mundo distópico, outras escolas não têm tanta consideração.

Em “A Ilha”(2005), o enredo é semelhante, mas uma diferença é marcante. Em “Não Me Abandone Jamais”, em nenhum momento há sinais de revolta contra a ordem social estabelecida, de que o caminho natural dos doadores é morrer pelo sistema. Em “A Ilha”, a pulga atrás da orelha é maior e o controle, mais frágil, é rompido.

Os cientistas têm boas chances de não se tornarem pais desse tipo de problema. Uma é se ater às técnicas de edição genética, como o CRISPR-Cas9, para provocar a aceitação de órgãos para transplante entre espécies. Outra é aprimorar as técnicas de cultura de células em matrizes sintéticas ou semissintéticas, para produzir órgãos em laboratório.

O quimerismo, no caso, funciona como uma espécie de atalho, e as células humanas seriam guias nesse caminho. Mesmo com o possível encurtamento de muitos anos de esforço de pesquisa anda é difícil dizer se essa é a melhor opção.


TRAILERS

Não Me Abandone Jamais

 

A Ilha

 


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Médicos de 18 países estão tentando reviver cérebros mortos https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/07/22/medicos-de-18-paises-estao-tentando-reviver-cerebros-mortos/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/07/22/medicos-de-18-paises-estao-tentando-reviver-cerebros-mortos/#respond Fri, 22 Jul 2016 15:43:32 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/quatro-180x125.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=272 Quem quer viver para sempre? Difícil dizer. Quase todos, no entanto, adorariam estender a vida um pouquinho mais, ainda mais no caso de uma morte trágica, como em um acidente de moto.

Na última segunda (18), saiu na Folha uma reportagem minha sobre os indianos que estão tentando reverter quadros de morte cerebral. A pesquisa conseguiu um inédito registro de ensaio clínico e deve testar quatro abordagens para tentar reviver um cérebro morto. Se você não leu, veja lá (tem até HQ).

Aqui, no blog Cadê a Cura?, quero continuar tratando da questão, e contar um pouco de minha conversa com Ira Pastor, CEO da Bioquark, que patrocina o estudo indiano. O principal interesse da empresa é o teste da Bioquantina, um extrato à base de oócitos (células precursoras do óvulo) de anfíbios.

ZUMBIS

Além do alarde que a notícia causou ao percorrer o mundo, também houve uma chuva de críticas. Uma das mais recorrentes é a de que eles estariam iniciando um “apocalipse zumbi”, tal como vemos em séries e quadrinhos.

A afirmação tem pouco fundamento. A parte verdadeira é que não se sabe em que estado essas pessoas “regressarão” de seu estado prévio de morte cerebral –muito do que elas foram pode ter sido perdido nas várias horas de inatividade cerebral que precederiam as intervenções dos pesquisadores, como células tronco e injeções de Bioquantina).

O resto é mentira: em apocalipses zumbis, o cenário imaginado –e mais plausível– é aquele em que um vírus é responsável por espalhar a “doença zumbi” ou em que zumbis transformam seres humanos em zumbis (mordendo-os, por exemplo), até que quase não existam mais “pessoas não zumbis”. Não dá para misturar alhos com bugalhos. Uma técnica de ressuscitação, por mais bizarra que seja, não é “transmissível”.

ÉTICA

Outra crítica comum foi a ausência de testes em espécies inferiores, como roedores e outros primatas. Como acontece no caso da fosfoetanolamina (“fosfo” ou “pílula do câncer”), a pesquisa estaria pulando etapas.

Difícil escapar dessa, mas Ira Pastor tenta: “De uma perspectiva estritamente bioética, quando você tem o envolvimento dos comitês de ética institucional e regional, a concordância da família, e a longa história desse tipo de pesquisa envolvendo “cadáveres vivos”, nós nos sentimos particularmente seguros.”

Sobre o quão fácil teria sido para vencer as barreiras e leis regulatórias, Pastor diz:

Na maioria dos países, há poucas obrigações regulatórias escritas no que se refere à pesquisa com aqueles que “recentemente faleceram” –claro que, ao trazermos essa questão à tona, não há dúvida de que as regras vão mudar. E quando houver novas regras, nós vamos lidar com elas quando for a hora, da maneira apropriada.

Na nossa opinião, o mais importante é que o mundo está aprendendo que essa maneira de fazer pesquisa existe. E que muitos médicos com os quais estamos lidando (de 18 países até agora) estão explorando maneiras de implementar esse protocolos onde atuam.

Os países podem inclusive desautorizar esse tipo de estudo, o que sem dúvida alguma pode acontecer. No entanto, em uma era de crescente expansão da flexibilidade no âmbito do acesso de pacientes “sem opção”, eu odiaria estar no lugar dos agentes reguladores e ter de explicar as famílias daqueles que acabaram de morrer que seus entes queridos não merecem esse tipo de oportunidade ou o “direito de tentar”.

LIMITES

Sobre estarem “brincando de Deus”, Pastor diz que o argumento foi usado por mais de um século sempre que houve um novo estudo que mudasse um paradigma, como o surgimento dos desfibriladores cardíacos e da respiração mecânica, além do transplante de órgãos.

Nós somos bem abertos à crítica científica em geral. Muitos cientistas  acham que o projeto é “demasiadamente ousado” –e isso não deixa de ser verdade. No entanto, nós antecipamos isso e, francamente, é até divertido sentar com esse povo e explicar nossas ideias. Eles acabam sendo “convertidos” e dizem: “ Wow, isso ainda é muito ousado mas vocês podem estar no caminho certo e, de repente, até conseguir algo.”

Não aceitamos quando dizem “vocês não devem seguir esse caminho por que vocês são capazes de obter sucesso”, o que se traduziria em levar um sujeito com morte cerebral para um estado de coma e assim dar a ele uma baixa qualidade de vida e mais custos para o sistema de saúde.

Esse tipo de crítica é ridículo –será que uma pessoa morta tem uma qualidade de vida melhor que a de um paciente em coma?. Pensando que podemos ter sucesso nessa transição científica monumental, seria ingênuo pensar que tudo estaria acabado e que não faríamos testes em outras condições que afetam o estado de consciência, fazendo eventualmente os pacientes acordarem.

Além disso, em um sistema que gasta trilhões de dólares anualmente, nós achamos que alguns pacientes em coma a mais não farão tanta diferença assim.

E você? O que acha desse projeto?


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