Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Minicurso gratuito via WhatsApp aborda aspectos do diabetes https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/11/04/minicurso-gratuito-via-whatsapp-aborda-aspectos-do-diabetes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/11/04/minicurso-gratuito-via-whatsapp-aborda-aspectos-do-diabetes/#respond Tue, 05 Nov 2019 02:07:39 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/4293213857_b95a3a4dc3_o1-180x127.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1183 Um minicurso digital, a ser dado gratuitamente por meio do WhatsApp, irá abordar aspectos do diabetes, como os mitos que rondam quem descobre que tem a doença, tecnologias envolvidas no tratamento, formas de melhorar a alimentação e receitas de doces mais saudáveis.

Uma das responsáveis pela iniciativa é a jornalista Letícia Martins, da revista Momento Diabetes, direcionada ao público com a doença. Ela explica que o curso é voltado para todas as pessoas que têm diabetes, pré-diabetes, obesidade, além de parentes –especialmente porque a doença tem um componente hereditário– e profissionais de saúde que ainda não têm conhecimento aprofundado sobre o tema. Também participa da organização do curso Bianca Fiori, que tem diabetes tipo 1 há 25 anos.

Para Martins, muitas vezes é difícil para as pessoas fixarem tanta informação relacionada a essa condição, daí o emprego de vídeos e ebooks, que também podem ser compartilhados. O material conta com o endosso de especialistas da área.

Há 14 milhões de diabéticos no país, e a maior parte dessas pessoas, cerca de 70% de acordo com estimativas, não controla adequadamente a doença. Assim, elas se sujeitam a um maior risco de doenças cardiovasculares, como AVC e infarto, infecções, amputações, retinopatia diabética (que pode levar à cegueira) e neuropatia (lesão nos nervos).

As inscrições para o minicurso acontecem até quarta, 6 de novembro de 2019, às 9h da manhã por meio do link (bit.ly/2WzKeyA). Mais informações aqui.


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Emagrecedor clássico, mazindol é testado no tratamento de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/emagrecedor-classico-mazindol-e-testado-no-tratamento-de-tdah-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/emagrecedor-classico-mazindol-e-testado-no-tratamento-de-tdah-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/#respond Fri, 03 May 2019 12:58:37 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/8720604364_2ebdc6df85_o-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1102  

O mazindol, droga emagrecedora que ganhou fama na década de 1970,  pode assumir um novo papel. A molécula no momento é testada como uma alternativa para o tratamento do TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

O TDAH afeta adultos e crianças (especialmente meninos) e se caracteriza pela desatenção, hiperatividade e impulsividade, mas não há necessidade de que todos os sintomas se manifestem simultaneamente para caracterizar a doença. O transtorno pode comprometer o aproveitamento escolar de crianças e adolescentes e estima-se que mais da metade dos afetados pelo apresentem alguns aspectos do transtorno na fase adulta.

De acordo com as estatísticas mais recentes, entre 5% e 10% das crianças em idade escolar são afetadas pelo TDAH, mas que calcula-se que apenas um décimo delas seja de fato diagnosticada e tratada.

Atualmente, além de psicoterapia, há algumas outras drogas já usadas no tratamento, como a lisdexanfetamina (Venvanse), metilfenidato (Ritalina) e alguns medicamentos antidepressivos. (Há quem diga, porém, que há um excesso no emprego de drogas no tratamento)

A ideia do grupo farmacêutico NLS-1 e da parceira brasileira da iniciativa, a Eurofarma, é inserir neste mercado uma nova formulação do mazindol, droga emagrecedora não anfetamínica que promete ter um efeito comparável ao das rivais de primeira linha. A mudança, explica André Wolter, gerente médico da Eurofarma, seria no modo de liberação da substância no organismo, mais controlado.

Ele lembra que não é tão difícil na medicina mirar em uma coisa e acertar em outra. Foi o que aconteceu no caso do Viagra (sildenafil), inicialmente concebido para tratar hipertensão pulmonar. Só depois descobriu-se que era capaz de tratar disfunção erétil.

A vantagem da nova fórmula do mazindol, explica Wolter, é que, por não se tratar de uma anfetamina, pode auxiliar crianças e adultos que não respondam bem a esses tratamentos. “Os médicos sempre se queixam de falta de alternativas para o tratamento. Estamos tentando preencher essa lacuna.”

Segundo um  estudos preliminares, feito com 85 pacientes com TDAH, a droga não tem impacto no sono ou no peso e conseguiu reduzir os sinais e sintomas em 50%. Ela também não causa dependência ou tem sua ação reduzida com o tempo. Agora a expectativa é confirmar esses dados num estudo clínico de fase 3, o último antes do lançamento, que está em andamento.

“Antes a doença era associada a um mau comportamento, a crianças que não têm disciplina ou que precisam de palmadas. Hoje a hipótese mais aceita para explicar a doença é uma imaturidade de núcleos pré-frontais e frontais do cérebro”, diz Wolter. “De algum modo, o cérebro não amadurece inteiro por igual, especialmente nas áreas ligadas à atenção, ao movimento e à impulsividade.”

A droga aumenta a captação dos neurotransmissores noradrenalina e dopamina, que funcionam como intermediárias da ação desses núcleos cerebrais. Acredita-se que esse ajuste faz com que o cérebro se desenvolva todo por igual, fazendo-o recuperar o tempo perdido até a fase adulta —isso em 40% dos casos, segundo estimativas.

Para os outros 60% seria necessário manter o tratamento pela vida toda , a fim de que os aspectos sociais, cognitivos, profissionais possam ser explorados em sua totalidade.


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Super-humanos? Talvez em breve

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Super-humanos? Talvez em breve https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/super-humanos-talvez-em-breve/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/super-humanos-talvez-em-breve/#respond Thu, 21 Feb 2019 19:24:28 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/img_0288-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1079 Ao olhar para os avanços das técnicas de edição genética, como o Crispr, e o nascimento de bebês geneticamente editadas na China é natural supor que um dia haverá super-humanos perambulando pelo planeta Terra. Será?

O colunista Reinaldo José Lopes, um dos melhores jornalistas de ciência do país, escreveu semana passada na Folha que ele não enxerga esses seres geneticamente superiores num horizonte próximo. Discordo. Consigo avistá-los logo ali dobrando a esquina.

A prova de que isso faz sentido são as próprias bebês chinesas: elas teriam sido manipuladas para serem resistentes à infecção por HIV. Bastou alterar um dos cerca de 20 mil genes humanos e voilà, ganha-se uma (pequena) vantagem genética (apesar de esse tipo de experimento ser proibido naquele país e, dado os riscos, eticamente questionável).

Já inteligência e aptidão musical, por exemplo, são características complexas, que dependem da interação de dezenas ou centenas de genes com o ambiente. Com o que sabemos hoje, ainda seria difícil manipular essa teia de informação de modo a gerar resultados previsíveis.

Por outro lado, há um bom punhado de características que podem ser incrementadas a partir de alterações no DNA.

Um exemplo famoso é a miostatina, molécula que tem por papel reduzir a produção de músculo. Suponha que seja possível alterar (ou deletar) o gene da miostatina para torná-la menos eficiente. O resultado: menos gordura, mais músculos e uma clara superioridade física. Veja abaixo imagem de camundongo cujo gene da miostatina foi desativado:

Camundongo normal (à esq.) e camundongo cujo gene da miostatina foi deletado (Crédito: Se-Jin lee)

Outro exemplo é o gene da alfa-actinina 3, uma proteína importante no processo de contração muscular. Alguns indivíduos carregam uma variante do gene que permite um ciclo mais rápido de contração e relaxamento, ou seja, mais velocidade na corrida. Esse mesmo gene pode ter papel importante em outras características, como adaptação ao exercício, recuperação e no risco de lesões.

O DEC2 também é um gene interessante, que, ao que tudo indica, parece ser importante na definição da necessidade de horas de sono para um indivíduo. Imagine dormir apenas 4h para ficar novinho em folha? Algumas pessoas carregam uma mutação que otimiza o período do sono.

A lista poderia se estender: ossos mais duros, imunidade a venenos, resistência aeróbica, maior altura e envergadura… Não faltam oportunidades de otimização da espécie.

Por outro lado, Lopes está coberto de razão ao lembrar que os genes podem ter mais de uma função no organismo, ou seja, que ao mexer numa engrenagem molecular ali, podemos gerar um efeito inesperado e/ou indesejado acolá, como infertilidade ou maior chance de desenvolver câncer. Mas isso não quer dizer que ninguém vá trilhar esse caminho (como mostrou o cientista chinês He Jiankui).

Perguntei a alguns especialistas o que eles pensavam a respeito do tema. Veja as respostas abaixo:

Os avanços da edição genética permitirão a existência de super-humanos no futuro? Por quê?

Se o termo “super-humano” se referir a modificações de genes relacionados com características físicas relativamente bem-definidas, como força, por exemplo, a resposta seria sim. Embora a edição de genes ainda não seja totalmente isenta de falhas, os desafios técnicos deverão ser resolvidos nos próximos anos. Entretanto, se o termo se referir a tentativas de mudar características do indivíduo com vistas a transformações comportamentais, sociais ou morais, imagino que não. A bioética já está se ocupando de discutir esse tema, vide o lançamento da Declaração em Bioética e Edição de Genes em Humanos pelo Observatory of Bioethics and Law (OBD, Barcelona).
Marimélia Porcionatto, professora da Unifesp

Para que isso aconteça, primeiro precisamos conhecer os genes que nos tornariam “super-humanos” (supondo que um super-humano teria grande inteligência, saúde perfeita e uma bela aparência – é isso?!). Hoje ainda não conhecemos os genes que influenciam essas características. Mas um dia conheceremos.  E já quase temos a tecnologia para modificar esses genes. Logo, sim, poderemos criar super-humanos. Iremos? Se a tecnologia/conhecimento de fato existirem, acho quase inevitável. Porém, os super-humanos já existem hoje. Somos todos nós que já temos acesso às maravilhas da medicina moderna, à educação, ao saneamento básico. Compare a saúde (e aparência) das pessoas com nível socioeconômico alto com a média da humanidade. Eis os super-humanos —eles já existem…
Lygia Veiga Pereira, professora da USP

Enquanto a utilização da tecnologia para tratar doenças é justificável, o uso para mudar características de bebês é perigosamente eugênico. Num futuro incerto, poderiam os pais equivocados escolher o fenótipo de seus filhos? Estatura aumentada, visão infra-vermelho, pele altamente resistente, sem contar outras características comportamentais? Qual o limite do uso de uma técnica de consequências tão profundas? Considerando-se apenas as questões técnicas, a imaginação é o limite. Quando lidamos com o bem estar e possível sobrevivência da humanidade, porém, o limite que se impõe é a ética. O mundo como um todo deve discutir profundamente todas as implicações do uso desta tecnologia e que apenas as que tragam o bem estar dos seres humanos sejam permitidas. Cabe a nós decidir o que fazer com o conteúdo da caixa de Pandora…
João Bosco Pesquero, professor da Unifesp

A gente já conseguiria selecionar os embriões perante características físicas bem-definidas. Inclusive a empresa 23andMe já havia avisado que poderia selecionar embriões baseados na cor dos olhos, dos cabelos, pele etc, gerando grande polêmica —isso aconteceu já há algum tempo. Imagine na China, com uma tecnologia que a gente nem conhece tão bem, uma triagem de embriões e, em cima dessa triagem, a edição de alguns genes. Esses indivíduos poderiam ser transformados, deixando-os mais robustos,  modificando até mesmo características comportamentais, reduzindo a capacidade de sentir medo. Eticamente é um assunto complexo. Em teoria, já teríamos metodologia para fazer super-humanos há cinco ou dez anos. Se já foram feitos ou não, é outra história.
Ciro Martinhago, médico geneticista

A resposta mais óbvia é sim. Quando se fala em possibilidades científicas, existem gargalos fundamentais e gargalos tecnológicos. Nós nunca vamos viajar em uma velocidade maior do que a luz, porque isso é uma impossibilidade física fundamental. A edição de genoma, por outro lado, enfrenta apenas limitações tecnológicas, que vêm sendo superadas. A barreira é dada pelo estado atual da técnica, não pela natureza. Ética, moral, religião ou medo nunca foram capazes de conter por muito tempo avanços tecnológicos que podem curar doenças, aumentar a longevidade ou, até mesmo, produzir características físicas mais desejáveis. Se isso é bom ou ruim para a sociedade como a vemos hoje, trata-se de um debate filosófico, não científico.
Natália Pasternak, bióloga e presidente do Instituto Questão de Ciência

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Matemáticas desvendam comportamento da gripe e do ebola https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/23/matematicas-desvendam-comportamento-da-gripe-e-do-ebola/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/23/matematicas-desvendam-comportamento-da-gripe-e-do-ebola/#respond Thu, 23 Aug 2018 05:03:29 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/broad-street-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1003 O médico John Snow (1813-1858, não confundir com Jon Snow, o herói bastardo de “Game of Thrones”) mostrou, em meados do século 19, que um surto de cólera em Londres tinha a ver com água infectada. A conclusão veio de uma associação geográfica entre os casos e uma bomba de abastecimento contaminada com esgoto em Londres.

Era o fim a teoria do miasma, espécie de ar maléfico que espalharia doenças, e início da epidemiologia moderna —uma das área das ciências médicas que mais se valem de cálculos. Embora mais de 150 anos tenham passado, o importante papel da matemática para a compreensão da dinâmica das doenças não mudou.

Em uma de suas linhas de pesquisa, Shweta Bansal, matemática da Universidade Georgetown, em Washington, investiga o comportamento da gripe, doença sazonal causada pelo vírus influenza e o papel das interações sociais para sua disseminação.

Ela conseguiu associar o pico de afecção de adultos ao recesso escolar que acontece em dezembro nos EUA. Outra possibilidade de explicação seriam as viagens para ver a família, mas o rigor matemático mostrou que elas não são decisivas.

O resultado, explica Bansal, pode ajudar as autoridades a elaborarem estratégi23as de prevenção, as quais se somariam às recomendações de vacinação e de higienização das mãos.

Para chegar a essas conclusões, a cientista analisou relatórios semanais, com número de diagnósticos separados por idade, produzidos por de mais de 400 mil médicos espalhados pelo país. As localidades foram identificadas por meio do CEP –algo não muito diferente, em essência, do que fez Snow.

Ajustes tiveram de ser feitos levando em conta, por exemplo, as pessoas que não procuram atendimento médico ou que não têm seguro saúde —responsável por prover parte das informações. Esses dados do mundo real, ou seja, fora de um contexto de estudo controlado, nem sempre são fáceis de se obter e têm de ser ajustados também, por exemplo, pela densidade populacional e de médicos.

Uma outra pesquisa de modelagem matemática aplicada à epidemiologia, comandada por Lora Billings, da Montclair State University, em Nova Jersey, conseguiu aproximar modelos clássicos de espalhamento de doenças à realidade adicionando apenas uma camada de complexidade: uma perturbação, ou ruído, no jargão da área.

O ruído não é uma entidade transcendental. Ele pode ser reflexo da chegada de um novo indivíduo contaminado ou da presença de reservatórios (animais contaminados com os agentes infecciosos).

Mesmo em condições de aparente tranquilidade epidemiológica, pequenos surtos de ebola começaram a pipocar em países como Libéria, Serra Leoa e Guiné antes do grande boom. Resultado: mais de 11 mil mortos entre 2014 e 2016. Após um curto período mais silencioso, neste ano de 2018 já houve um novo surto na República Democrática do Congo.

A partir desse exemplo é possível visualizar a dificuldade de lidar também com outras doenças infecciosas, como dengue, zika e chikungunya.

O mosquito Aedes aegypti já chegou a ser declarado erradicado no Brasil na década de 1950 —e aqui estamos, em um cenário rico em surtos e no qual se busca vacinas para tentar conter a expansão das arboviroses (apesar da intensificação recente de manifestações antivacina, vale notar).

As duas cientistas americanas estão no Brasil a convite do consulado dos EUA, em uma iniciativa para promover colaborações científicas entre os dois países. Entre as possibilidades, diz Billings, está o estudo de como a mudança climática pode interferir no espalhamento das doenças transmitidas pelo Aedes.


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Edição genética de embriões é considerada ética por organização britânica https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/edicao-dna-embrioes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/edicao-dna-embrioes/#respond Wed, 18 Jul 2018 16:08:17 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/35452535444_6f67bbe316_o-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=984 O Conselho Nuffield de Bioética, uma importante organização independente do Reino Unido, chegou à conclusão que editar o genoma de embriões e de células germinativas (óvulos e espermatozoides) pode ser eticamente aceitável em algumas circunstâncias.

Uma das condições que justificariam a prática seria a busca pelo bem-estar daquele que ainda vai nascer. Outra é que, com a aplicação das técnicas de edição, não haja ampliação de discriminação, injustiça ou divisões na sociedade.

A legislação vigente no Reino Unido, porém, ainda proíbe esse tipo de intervenção. De acordo com o Conselho Nuffield, esse status legal só deveria mudar após um longo debate entre os setores da sociedade e com a implementação de medidas robustas para garantir que os princípios citados acima sejam seguidos.

Outro ponto, de acordo com a instituição, é que cada caso deveria ser avaliado individualmente, em um processo finamente regulado pelas autoridades governamentais, com acompanhamento de longo prazo e no contexto de estudos clínicos. E tudo isso só teria sentido se, e somente se, houvesse muito mais pesquisas que estabelecessem a segurança desse tipo de procedimento.

Edição genética é o termo utilizado quando nos referimos às mudanças intencionais em sequências de DNA, espécie de livro da vida que reside nas célula de seres vivos e que contém instruções para que organismo consiga construir-se e manter-se vivo.

Ao mudar o que está escrito nesse livro, seria possível corrigir, por exemplo, a sequência de uma proteína que permite com que o músculo não se destrua durante seu processo de contração. Estou falando da distrofina, cuja função é prejudicada em doenças como a distrofia muscular de Duchenne.

Em vez de morrer na faixa dos 20 ou 30 anos por falência cardíaca ou respiratória, futuros bebês com a alteração genética poderiam ter uma vida normal, se seus DNAs fossem corrigidos com alguma técnica de edição antes mesmo de eles nascerem.

O raciocínio vale para predisposição aos mais diversos tipos de câncer (o leitor se recorda do caso de Angelina Jolie?) e para doenças neurodegenerativas como Alzheimer precoce. Moléstias complexas como obesidade e diabetes também têm componentes genéticos e poderiam entrar na ciranda, a depender de mais estudos.

Ao menos hipoteticamente, muito sofrimento poderia ser evitado.

“Há grandes avanços acontecendo na pesquisa genômica. Ao mesmo tempo em que nós temos de admitir que não são só os genes que definem uma pessoa, a possibilidade de usar a edição gênica para garantir ou evitar que uma criança tenha certas características oferece uma nova abordagem radical que provavelmente terá grande apelo entre futuros pais.”, diz David Archard, presidente do Conselho Nuffield e professor de filosofia da Queen’s University Belfast, em nota.

“Pode haver boas razões para permitir algumas preferências dos pais, mas precisamos ter cuidado para que o uso da edição do genoma não aumente a desigualdade social, a discriminação ou a divisão, além de acompanhar de perto todos os envolvidos e especialmente qualquer criança que nasça como resultado do procedimento”, conclui

Apesar de as possibilidades parecerem animadoras, pelo menos por ora não há muitos motivos para empolgação. Um estudo publicado na segunda (16), na revista Nature Biotechnology, alerta que uma das técnicas mais modernas de edição de DNA, o Crispr-cas9, não é tão seguro quanto se supunha, gerando deleções inesperadas e rearranjos complexos –a dose de imprevisibilidade é alta.

Sempre há o risco de se mexer na parte errada do genoma, como em um gene que inibe a formação de tumores. Se ele não estiver íntegro e talvez por qualquer outro azar somado a isso, a célula pode começar a se replicar e, não muito tempo depois, gerar um câncer.

E essas alterações do DNA –desejadas ou não– são herdáveis. Ou seja, eventuais incorreções podem se propagar por gerações e gerações humanas. Isso fora o risco não negligenciável de haver casais e governos interessados em bebês modificados para terem determinadas características atléticas e estéticas, por exemplo.


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Exame baseado em inteligência artificial pode ajudar a achar tratamento contra o câncer https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/05/22/cancer-ia/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/05/22/cancer-ia/#respond Tue, 22 May 2018 15:33:51 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/Ki67-Tubulin-2-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=938 Um exame baseado em inteligência artificial, agora disponível no Brasil, pode dar um uma segunda chance a pacientes com câncer que não tiveram sucesso na primeira tentativa de tratamento.

Lançado neste mês pelo laboratório de análises clínicas Fleury, o exame Oncofoco é direcionado para pacientes oncológicos avançados (em geral, em fase de metástase ou com recidiva) e que não respondem aos tratamentos convencionais.

A iniciativa surge a exemplo de outras de sucesso no exterior, como uma da Quest Diagnostics e outra da Foundation Medicine, ambas americanas, diz o oncologista Mauro Zukin, do Grupo COI, do Rio. A análise acontece a partir de grandes bancos de dados (big data), acessados e interpretados de acordo com as informações do tumor e de estudos clínicos já feitos.

A matéria-prima é uma biópsia. Na primeira etapa, o DNA tumoral presente nessa amostra é sequenciado –ou seja, se o genoma fosse grande lista de frases, ela seria lida letra por letra neste momento. Assim, é possível apontar as peculiaridades genéticas naquele tumor. Podem ser analisados 72 ou 366 genes, dependendo da modalidade do exame, simples ou ampliado.

Essa soletração serve de base para o sistema Watson, da IBM, que analisa todos os artigos científicos relevantes para aquele caso. Seguindo nessa analogia, são detectadas duplicações de “letras”, repetição e falta de “palavras”, além de “erros de ortografia” genéticos. 

A inteligência artificial, então, devolve, tendo em vista as alterações genéticas do tumor daquele indivíduo, uma lista de possíveis drogas e tratamentos aos quais ele poderia ser submetido, mesmo que ainda estejam em fase testes no Brasil ou no exterior e/ou sem aprovação final por agências reguladoras, como a americana FDA ou a brasileira Anvisa.

O trabalho, realizado em segundos pelo algoritmo computacional, requereria muitas e muitas horas de esforço humano em cada caso para gerar um resultado parecido.

“É virtualmente impossível, mesmo que dedicando 24h por dia e sete dias por semana, permanecer atualizado em todos os assuntos, mesmo que em apenas uma especialidade. O sistema faz uma curadoria dos estudos e uma análise muito extensa e sistematizada, sem viés”, explica Edgar Gil Rizzatti, diretor do Grupo Fleury.

Mas isso não quer dizer que o computador decida sozinho o futuro do paciente. Ainda há uma etapa de interpretação das conclusões do Watson por uma espécie de junta de cientistas e médicos antes da elaboração do laudo final, a ser encaminhado para o paciente e seu médico.

Os exames custam R$ 5.200,00 e R$ 8.000,00 nas versões básica e ampliada, respectivamente.

Não é sempre, porém, que se encontra uma alternativa. “Programas baseados em sequenciamento genômico e tecnologia de inteligência artificial são muito promissores, uma vez que podem identificar alvos terapêuticos. Infelizmente, porém, apenas uma minoria de pacientes se beneficia”, diz o oncologista Gilberto Lopes, professor da Universidade de Miami e editor-chefe do Journal of Global Oncology, revista especializada em oncologia.

Seguindo Lopes, entre 50% e 60% dos pacientes com adenocarcinoma de pulmão encontram possíveis tratamentos. Isso, no entanto, não vale para a maioria dos demais tumores. “Pesquisas recentes sugerem que menos de 10% dos pacientes encontram alvos ou pesquisas disponíveis. Imaginamos que no Brasil o número de pacientes que encontrem uma alternativa seria ainda menor. Esperamos que isso melhore no futuro.”


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Empresa de biotecnologia Oxitec testará linhagem melhorada de Aedes aegypti transgênico https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/08/08/novo-aedes-transgenico/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/08/08/novo-aedes-transgenico/#respond Tue, 08 Aug 2017 23:46:00 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/BRAZIL-TREATMENT_53056421-180x134.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=764 Um inovação da empresa de biotecnologia Oxitec pode, além de reduzir seus custos operacionais, ampliar a ação de seus mosquitos Aedes aegypti transgênicos na natureza.

O novo mosquito é diferente do OX513A, usada em testes no país, em Juazeiro (BA), Piracicaba (SP) e, agora, em Juiz de Fora (MG), por exemplo. Ao cruzar com as fêmeas selvagens –e são elas que picam e transmitem doenças–, os machos tornam a prole delas inviável.

A linhagem OX5034 deu um passo adiante. Nela, os machos sobrevivem naturalmente e as fêmeas não se desenvolvem. E isso traz duas consequências importantes.

A primeira é a redução de custos da empresa, que atualmente separa mecanicamente pupas machos e fêmeas de insetos durante a produção dos mosquitos OX513A.

A segunda, epidemiologicamente mais interessante, é que com a prole masculina do inseto sobrevivendo, pode haver um efeito remanescente, isto é, a prole dos Aedes OX5034 nascidos nos locais de soltura e arredores podem continuar inviabilizando a prole de fêmeas remanescentes no futuro.

Esse segundo efeito também pode ter um efeito financeiro, reduzindo o número de mosquitos machos liberados para obter um mesmo efeito.

A artimanha molecular para criar o OX5034 é chamada de sex splicing: os biólogos conseguem fazer com que os mesmos genes sejam ativados diferentemente a depender do sexo da criatura.

TESTES

O novo mosquito, desenvolvido na sede da Oxitec, no Reino Unido, possivelmente será testado em Indaiatuba (SP), a 100 km da capital, que negocia com a empresa a realização de ensaios com 36 meses de duração em diferentes áreas da cidade. A autorização de liberação foi dada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A decisão do CNTBio indica que há baixo risco para a saúde humana, animal e vegetal, tendo também pouco impacto no ambiente. Convém lembrar que o combate direcionado ao Aedes aegypti não suscita muitos dilemas de natureza ambiental, já que se trata de uma espécie invasora.

“Trata-se de uma autorização só para fazer uma LPMA (Liberação Planejada no Meio Ambiente). Os resultados poderão ser submetidos posteriormente à CTNBio para a emissão de uma autorização para todo o território nacional”, explica Cecília Kosmann, entomologista e coordenadora de suporte científico da Oxitec.


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Criopreservação de humanos ainda é ambição bem distante https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/03/01/criopreservacao-de-humanos-ainda-e-ambicao-bem-distante/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/03/01/criopreservacao-de-humanos-ainda-e-ambicao-bem-distante/#respond Thu, 02 Mar 2017 00:36:50 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/alcor-180x124.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=606 Alguns entusiastas podem olhar para o novo método de descongelamento proposto por John Bischof e colegas em artigo na “Science Translational Medicine” e pensar que foi um importante passo rumo às grandes ambições da criogenia humana. Talvez tenha mesmo sido, mas a ciência ainda está bem distante de conseguir congelar e descongelar um ser humano com sucesso.

O plano seria criopreservar o corpo de quem acabou de morrer, para, quem sabe, em um futuro distante, curar doenças hoje letais e até mesmo conseguir fazer um download das memórias e da personalidade do indivíduo para um supercomputador ou avatar robótico.

Apesar de bastante controversa, essa possibilidade atrai alguns entusiastas e endinheirados que pagam dezenas de milhares de dólares para terem seus corpos armazenados a temperaturas superfrias (perto de -200°C) por tempo indeterminado.

Para a maioria dos cientistas, porém, a possibilidade de acordar depois de décadas ou séculos de criopreservação só tem espaço na ficção.

E um dos motivos é o que se entende sobre a consciência –provavelmente formada não só pelo arranjo físico de neurônios, mas também pela informação que eles conduzem e transmitem. Ela dificilmente sairia ilesa dessa animação suspensa.

A técnica de preservação funciona bem com células e embriões, mas para cada nível de complexidade subsequente –tecido, órgão ou sistema–, as informações e os desafios crescem de forma exponencial.

O método de descongelamento por radiofrequência (conheça abaixo) pode ser crucial no avanço do nível celular para o de tecidos e órgãos (onde miram os autores do estudo). Mas, com tudo o que se sabe até agora, o melhor conselho ainda é matricular-se em uma academia, evitar excessos e ir ao médico regularmente.

 


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Surdos curtindo música? Entenda como o implante coclear ‘conversa’ diretamente com o cérebro https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/02/21/implante-coclear/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/02/21/implante-coclear/#respond Tue, 21 Feb 2017 11:02:50 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/IMG-20170210-WA0023-1-135x180.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=597 No último dia 11 de fevereiro aconteceu em São Paulo o Cochlear Day Brazil, que está em sua segunda edição e que pretende ser um dos maiores eventos direcionados para pessoas surdas no país.

O blog Cadê a Cura? aproveitou a oportunidade para entrevistar Jim Patrick, engenheiro que tem uma importante atuação na área dos implantes cocleares –que conseguem, em boa medida, devolver a audição a surdos e a pessoas com perda de audição profunda.

Segundo Patrick, muitas crianças com baixíssima audição, se tratadas precocemente com o implante, podem ter as mesmas oportunidades que as demais ao longo da vida. Com o implante uma etapa do processo normal da audição é pulada: o dispostivo capta sons do ambiente e os transformam em sinais elétricos, que são compreendidos pelo cérebro.

Patrick é engenheiro é engenheiro de formação, fez seu doutorado na Universidade de Melbourne e trabalha com perda auditiva há mais de 40 anos, sendo atualmente responsável pelo setor de pesquisa da Cochlear, uma das maiores empresas da área.


 

Cadê a Cura? – Qual é o paradigma da perda de audição atualmente? Quais são os tipos para os quais existe tratamento?

Jim Patrick – A questão é complicada. Hoje quase todas as formas de perda de audição são tratáveis com aparelhos auditivos para níveis mais brandos ou com implantes cocleares para uma perda mais severa e profunda. Outras tecnologias podem ser úteis, como um implante que é fixado no osso (Baha, na sigla em inglês).

Você tem algum parente ou amigo próximo com perda auditiva? O que o motivou a dedicar sua carreira a essa área?

Eu mesmo tenho perda auditiva (risos). Mas quando eu estava escolhendo que caminho seguir eu não conhecia ninguém. Eu estava pesquisando na área de comunicação de dados e tentando achar um trabalho interessante quando eu descobri que o professor Graeme Clark [médico e pesquisador da Universidade de Melbourne] estava justamente precisando desse tipo de tecnologia, que eu estava desenvolvendo, para tratar pessoas com perda auditiva profunda. Eu senti vontade de entrar nesse projeto.

Como o implante coclear funciona? Qual é a diferença para outros tipos de aparelhos auditivos?

O implante coclear funciona estimulando o nervo auditivo com pulsos elétricos. Aparelhos auditivos funcionam amplificando o som para compensar a perda de sensibilidade do sistema auditivo. Mas em pacientes com grande perda sensorial e neural um aparelho auditivo comercial não consegue deixar o som alto o suficiente e o implante coclear se faz necessário.

Para que o implante funcione, é necessário que, de alguma forma, o estímulo auditivo “pule” a membrana basilar e a “tradução” do som que é feita pela célula ciliares, correto? Quão difícil é traduzir essas ondas mecânicas em estímulos elétricos para o nervo auditivo e para o cérebro?

O implante coclear funciona analisando os sinais acústicos usando um microfone, processando esse sinal eletricamente e então gerando sinais elétricos correspondentes aos sinais acústicos que foram captados. Esses estímulos são aplicados diretamente aos eletrodos próximos ao nervo auditivo, gerando a percepção de som.

Existe algum tipo de processamento de áudio que faz com que só os sons normalmente audíveis sejam amplificados, certo? Existe a possibilidade de alguém ouvir sons normalmente inaudíveis para pessoas normais, algo como uma superaudição?

Hipoteticamente uma pessoa com implante coclear poderia ouvir sons de uma frequência muito alta, assim como um morcego consegue –inaudíveis para pessoas com audição normal. Ninguém fez isso ainda, no entanto.

O implante coclear permite que uma pessoa consiga ouvir e curtir música, assim como as pessoas com audição normal?

Apreciar música usando o implante coclear parece ser difícil e os pacientes têm de trabalhar duro para desenvolver essa capacidade. Mesmo uma pequena quantidade residual de capacidade auditiva acaba sendo de grande ajuda para melhorar a qualidade da música para pessoas com o dispositivo.

O que você pensa de pessoas que são contra o implante coclear e outros dispositivos por razões “culturais”? Existe uma “opressão” por parte das pessoas com audição normal?

A comunidade surda está preocupada com a perda [exclusão da comunidade] de bebês nascidos com déficit auditivo profundo por causa do tratamento com o implante coclear. Essas pessoas têm sido bastante ativas em algumas regiões, defendendo que as crianças deveriam ser criadas sem os implantes, como parte dessa sociedade [dos surdos].

Mas 95% das pessoas nascidas com altos níveis de perda auditiva têm pais com audição normal. Se essas crianças crescerem com o implante, elas terão as oportunidades de uma criança normal. Se os pais escolherem que a criança não terá implante, eles terão de aprender a língua de sinais para se comunicarem com ela, e a criança terá oportunidades limitadas quando crescer.


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Por exemplo, se o termo buscado for “dor no joelho”, serão exibidas opções que vão desde torção de joelho até artrose.

O novo recurso, só acessível via buscas em smartphones, é um resultado da parceria entre a empresa e o Hospital Israelita Albert Einstein. O lançamento foi anunciado para a imprensa nesta segunda (6), na sede do Google em São Paulo.

Busca por Sintomas
Exemplo de busca por sintomas (Divulgação/Google)

Trata-se de uma continuação dos painéis informativos de saúde feitos pela mesma parceria que conta com mais de 400 doenças cadastradas, em vigor desde março do ano passado (se não conhece, tente buscar por “chikungunya”, por exemplo).

A novidade é a associação dessas doenças/condições aos sintomas –150, por ora. O país é o segundo a ter esse tipo de recurso. Os EUA disponibilizaram sua versão em junho de 2016. Hoje, cerca de 5% das buscas do Google são relacionadas à saúde e 1% está ligada a sintomas.

Entre os sintomas mais buscados no Google estão garganta inflamada, dor de cabeça, faringite, dor nas costas, dor no peito, hipotermia, taquicardia, dor no estômago, dor na nuca, tontura.

Berthier Ribeiro Neto, diretor de engenharia do Google, diz que o novo recurso deve funcionar como uma espécie de resumo referendo do que já aparece nas opções do Google.

As associações entre sintomas e doenças foram primeiramente feitas por um algoritmo desenvolvido pelo engenheiro Hermes Freitas –que acertou 80% delas. Depois, foi a vez de o Einstein entrar com seus especialistas para certificar que o que é mostrado está de acordo com as evidências médicas mais recentes –foram mais de mil consultas validadas.

Há uma natural preocupação tanto da gigante de tecnologia quanto do Einstein de não fomentar a automedicação: apesar de informar sobre os possíveis tratamentos, sempre é sugerido que médicos e especialistas sejam buscados para passar as orientações mais adequadas.

De acordo com o presidente do Einstein, o cirurgião Sidney Klayner, a ideia da plataforma é fornecer uma informação qualificada e revisada para, no fim das contas,  melhorar a relação médico-paciente, informando o lado de cá.

CARNAVAL

Um recurso “extra” disponibilizado é um painel sobre contracepção. A ideia é informar sobre os vários métodos contraceptivos, aproveitando a deixa do carnaval.

Será possível fazer uma comparação rápida entre pílula, DIU e camisinha, por exemplo, para que a escolha seja feita de forma consciente e informada. Veja abaixo como deve funcionar:


 

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