Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Emagrecedor clássico, mazindol é testado no tratamento de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/emagrecedor-classico-mazindol-e-testado-no-tratamento-de-tdah-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/emagrecedor-classico-mazindol-e-testado-no-tratamento-de-tdah-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/#respond Fri, 03 May 2019 12:58:37 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/8720604364_2ebdc6df85_o-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1102  

O mazindol, droga emagrecedora que ganhou fama na década de 1970,  pode assumir um novo papel. A molécula no momento é testada como uma alternativa para o tratamento do TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

O TDAH afeta adultos e crianças (especialmente meninos) e se caracteriza pela desatenção, hiperatividade e impulsividade, mas não há necessidade de que todos os sintomas se manifestem simultaneamente para caracterizar a doença. O transtorno pode comprometer o aproveitamento escolar de crianças e adolescentes e estima-se que mais da metade dos afetados pelo apresentem alguns aspectos do transtorno na fase adulta.

De acordo com as estatísticas mais recentes, entre 5% e 10% das crianças em idade escolar são afetadas pelo TDAH, mas que calcula-se que apenas um décimo delas seja de fato diagnosticada e tratada.

Atualmente, além de psicoterapia, há algumas outras drogas já usadas no tratamento, como a lisdexanfetamina (Venvanse), metilfenidato (Ritalina) e alguns medicamentos antidepressivos. (Há quem diga, porém, que há um excesso no emprego de drogas no tratamento)

A ideia do grupo farmacêutico NLS-1 e da parceira brasileira da iniciativa, a Eurofarma, é inserir neste mercado uma nova formulação do mazindol, droga emagrecedora não anfetamínica que promete ter um efeito comparável ao das rivais de primeira linha. A mudança, explica André Wolter, gerente médico da Eurofarma, seria no modo de liberação da substância no organismo, mais controlado.

Ele lembra que não é tão difícil na medicina mirar em uma coisa e acertar em outra. Foi o que aconteceu no caso do Viagra (sildenafil), inicialmente concebido para tratar hipertensão pulmonar. Só depois descobriu-se que era capaz de tratar disfunção erétil.

A vantagem da nova fórmula do mazindol, explica Wolter, é que, por não se tratar de uma anfetamina, pode auxiliar crianças e adultos que não respondam bem a esses tratamentos. “Os médicos sempre se queixam de falta de alternativas para o tratamento. Estamos tentando preencher essa lacuna.”

Segundo um  estudos preliminares, feito com 85 pacientes com TDAH, a droga não tem impacto no sono ou no peso e conseguiu reduzir os sinais e sintomas em 50%. Ela também não causa dependência ou tem sua ação reduzida com o tempo. Agora a expectativa é confirmar esses dados num estudo clínico de fase 3, o último antes do lançamento, que está em andamento.

“Antes a doença era associada a um mau comportamento, a crianças que não têm disciplina ou que precisam de palmadas. Hoje a hipótese mais aceita para explicar a doença é uma imaturidade de núcleos pré-frontais e frontais do cérebro”, diz Wolter. “De algum modo, o cérebro não amadurece inteiro por igual, especialmente nas áreas ligadas à atenção, ao movimento e à impulsividade.”

A droga aumenta a captação dos neurotransmissores noradrenalina e dopamina, que funcionam como intermediárias da ação desses núcleos cerebrais. Acredita-se que esse ajuste faz com que o cérebro se desenvolva todo por igual, fazendo-o recuperar o tempo perdido até a fase adulta —isso em 40% dos casos, segundo estimativas.

Para os outros 60% seria necessário manter o tratamento pela vida toda , a fim de que os aspectos sociais, cognitivos, profissionais possam ser explorados em sua totalidade.


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Os vencedores foram o americano James Allison e Tasuko Honjo. Você pode ler um pouco mais sobre a pesquisa deles na reportagem publicada pela Folha nesta segunda (1º) no em seu site e na edição impressa desta terça (2).  Agora trago um relato um pouco mais emotivo.

O biomédico Jorge Scutti teve a chance de trabalhar diretamente com Allison no MD Anderson Cancer Center, no Texas. Ele conta para o Cadê a Cura? um pouco de sua trajetória e como foi conviver com o célebre imunologista.

Leia abaixo:

Como acabei trabalhando com James Allison, Nobel de medicina de 2018, por Jorge Augusto Borin Scutti

Imerso no mundo do “Laboratório de Dexter” (desenho animado bastante conhecido entre quem cresceu na década de 1990) e do “Mundo de Beakman” (série educativa talvez ainda mais famosa), tinha certeza que meu destino tinha a ver com ciências.

Certa vez, na quinta série, lembro-me de ser o único a me candidatar para permanecer os três períodos em pé em um estande para apresentar um projeto de ciências sobre fertilização in vitro.

Aos 18 anos comecei a cursar biomedicina no interior de São Paulo. Lá conheci a imunologista Renata Dellalibera-Joviliano: cada explicação sobre o sistema imune me fascinava. Foi amor à primeira vista!  Tornei-me monitor de imunologia, ciência que estuda o comportamento do sistema imune na saúde e nos diferentes estágios das doenças.

Formado, me mudei para São Paulo e consegui passar no temido e concorrido processo seletivo de mestrado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Lá fui orientado por Luiz Travassos, um dos principais nomes da ciência brasileira, parceria que se repetiu no doutorado.

Minha linha de pesquisa abrangia o estudo do modelo de melanoma murino [em camundongos] e da imunologia de tumores —a meta era entender como o sistema imune poderia ser modulado por peptídeos (pedaços de proteínas, por assim dizer) não oriundos de células cancerosas. A ideia era elaborar um modelo de vacina que pudesse ser usado em pacientes com melanoma (uma ideia parecida havia vingado nos EUA, mas com peptídeos originários de células de melanoma).

Após cinco anos na Unifesp, comecei meu período de pós-doutorado (período de aperfeiçoamento usual na carreira de pesquisadores) no departamento de pediatria do MD Anderson Cancer Center em Houston, um dos centros de pesquisa e atendimento oncológico mais importantes no mundo, localizado no Texas.

Durante um ano desenvolvi um modelo de imunoterapia (em que o organismo é estimulado reagir ao câncer) baseado em células NK (que destroem células infectadas ou cancerosas) para combater um tipo de câncer cerebral infantil conhecido como glioma pontino difusamente intrínseco (DIPG).  

Findo o pós-doc, teve início em 2015 minha carreira como pesquisador da plataforma de imunoterapia do MD Anderson, liderada pelo agora nobelista James Allison.

Na época estávamos tentando entender por que razão alguns pacientes e alguns tipos de tumores respondiam melhor a determinados tratamentos baseados em imunoterapia, principalmente no caso de drogas como pembrolizumabe, nivolumabe e ipilimumabe —que mudaram o panorama do tratamento de vários tipos de câncer, reduzindo muito a mortalidade sem trazer tantos efeitos colaterais.

A ideia era encontrar marcadores que pudessem predizer quais pacientes teriam mais chance de sucesso.

Eu me encontrava com Jim Alisson periodicamente em nossa reunião semanal. É um sujeito inteligentíssimo, cavalheiro e extremamente humilde, apesar do vasto conhecimento. Ele adorava que os pesquisadores trouxessem desafios, sentia-se bem ao ser estimulado intelectualmente.

Foram três anos de muito aprendizado, de noites sem dormir, de viagens a congressos, de discussões longuíssimas… Mas tudo valeu pena.

Meu sonho é um dia acordar e descobrir que a cura para o câncer foi encontrada. Mas certamente uma parte do meu sonho foi realizada ao trabalhar com Jim (aqui um artigo que publicamos juntos). Nada mal para um menino que cresceu em Matão, no interior de São Paulo: guiado pelas mãos de Deus tive a honra de contribuir com os estudos de um ganhador do prêmio Nobel de Medicina.

Outras pessoas que me ajudaram e me inspirarem no caminho foram os colegas pesquisadores e amigos Mariana Conde Pineda e Luis Miguel Vence, além de minha esposa Yasmim e meus filhos Catharina e Thales.

Os pesquisadores Jim Allison e Jorge Scutti
Os pesquisadores Jim Allison e Jorge Scutti (crédito: Arquivo pessoal)

 

 


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‘Antes do Viagra, pensava-se que a disfunção erétil era psicológica’, diz pesquisador https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/viagra-entrevista/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/viagra-entrevista/#respond Mon, 19 Mar 2018 12:14:40 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/VIAGRA-1-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=907 Sabia que a forma do comprimido Viagra, um diamante azul, foi escolhida porque seria difícil de falsificar? Além disso, era o formato que mais agradava os consumidores.

Há 20 anos, a droga chegava ao mundo para mudar quase tudo que se sabia  sobre disfunção erétil. Foi publicada neste domingo (18), na Folha, uma reportagem minha a respeito dessa trajetória.

Enquanto aprendia sobre essa história, tive a oportunidade de entrevistar Ian Osterloh, químico e médico britânico que liderou os estudos clínicos do Viagra em meados da década de 1990.

Segundo ele, as inúmeras cartas que a Pfizer recebeu durante o desenvolvimento da droga fizeram a companhia perceber de que se tratava realmente de uma condição séria e que merecia tratamento.

A entrevista, aqui organizada em tópicos, revela detalhes do início da jornada que levou ao lançamento da droga em 1998 e de como ela mudou o pensamento predominante à época, de que uma droga oral contra a impotência não seria viável.

*

Dr. Ian Osterloh BSc MSc MBBS MRCP Chief Medical Officer
O consultor britânico Ian Osterloh Crédito: Reprodução

INÍCIO DO TRABALHO

Eu me deparei com o projeto UK-92480, que depois veio a ser conhecido como citrato de sildenafila, no final dos anos 1980, quando colegas da Pfizer, em Sandwich, Inglaterra, me contaram sobre a ideia de bloquear as enzimas conhecidas como PDEs [fosfodiesterases].

Eles acreditavam que seria possível produzir uma droga capaz de bloquear a PDE-5 que pudesse ajudar a relaxar os vasos sanguíneos e tratar pessoas que tivessem pressão sanguínea elevada e/ou angina.

Naquela época, eu trabalhava no departamento de assuntos regulatórios, mas logo eu mudei de função para ajudar a implantar duas novas unidades de testes clínicos da Pfizer (uma perto de Sandwich e outra na Bélgica).

Um pouco depois, no início dos anos 1990, nós já estávamos estudando sildenafila como potencial tratamento para angina, mas os resultados não eram particularmente encorajadores. Em outro estudo clínico, que aconteceu no País de Gales, no entanto, alguns voluntários reportaram estar com melhores ereções. Então decidimos ver onde esse caminho nos levaria.

Eu comecei a trabalhar mais no UK-92480 em 1993 e, após alguns estudos-pilotos encorajadores, passei a me dedicar integralmente a esse projeto em 1994, planejando quais seriam os próximos estudos para descobrir quão bem a droga funcionaria em homens com disfunção erétil (DE).

 

DESENVOLVIMENTO INUSUAL

Há vários aspectos inusuais a respeito do desenvolvimento do Viagra como tratamento para DE. Obviamente já falamos sobre a mudança de direção do programa [de angina para disfunção erétil].

Quando nós falamos pela primeira vez sobre nossos planos de tratar DE para experts de fora da companhia, eles se mostraram céticos. Ninguém entendia como uma droga, especialmente uma que expande os vasos sanguíneos, poderia atuar nos vasos do pênis sem que houvesse grandes efeitos em outras partes do corpo. Muitos experts pensavam que nunca haveria um tratamento oral efetivo.

Outro aspecto inusual: os resultados dos testes eram cada vez melhores. Normalmente, no desenvolvimento de novas drogas, as expectativas são altas no começo, mas você tem de baixá-las –ou o tratamento não é tão efetivo como você esperava ou você não pode administrá-lo para certos pacientes ou os efeitos colaterais limitam a dose. E pode haver muitas outras razões para que uma promessa perca seu potencial.

 

COMPLEXIDADE X SIMPLICIDADE

A DE é uma condição complexa, com muitas possíveis causas, e há muitos agentes vasoconstritores e vasodilatadores agindo no organismo –ou seja, o próprio corpo faz um coquetel de substâncias para para regular a contração e o relaxamento dos vasos sanguíneos.

De início, eu não pensava que uma droga solitária, agindo em apenas um caminho químico, teria um efeito tão dramático na maioria dos homens. Foi ótimo ver que os resultados dos testes superaram nossas expectativas. E, claro, foi algo fantástico para os pacientes.

 

CONSCIENTIZAÇÃO

Nosso programa levou a uma grande conscientização sobre a DE e sobre a importância de conhecer suas causas. Antes dele, muitas pessoas consideravam que a doença tinha predominantemente uma origem psicológica. Agora virtualmente todos os experts concordam que a maior parte dos pacientes têm uma disfunção orgânica. Ou seja, homens que têm outras doenças que culminam na DE –como diabetes, aterosclerose ou hipertensão–  podem se beneficiar dos tratamentos dessas condições.

Outro aspecto que não aparece na maior parte dos programas de desenvolvimento de novas drogas é tamanho interesse público –muitos homens com DE nos escreviam ou nos ligavam explicando como a condição tinham efeitos devastadores em seus relacionamentos e quão desesperados eles estavam para receber um tratamento efetivo. Essas cartas nos convenceram que havia uma demanda séria.

Vale lembrar que após o lançamento do medicamento em 1998, os testes continuaram –foram 120 estudos clínicos, somando 14.000 anos de vida de pacientes acompanhadas, além de trabalhos que levaram a identificar que o medicamento poderia ajudar pacientes com hipertensão arterial pulmonar.

 

SATISFAÇÃO E MUDANÇA DA HISTÓRIA

No início era apenas um projeto do qual era ótimo fazer parte –pesquisávamos um novo mecanismo de ação e eu estava ciente de que havia uma enorme necessidade de um medicamento para DE. Fico muito feliz de a Pfizer ter apoiado o projeto, especialmente em seu início. Tenho certeza de que em muitas outras companhias o projeto seria descontinuado.

Antes de nosso programa, a maior parte dos homens se mostrava relutante em falar de DE e não tinha ideia de que era um problema tão comum e também não sabiam que poderia haver um tratamento. Foi recompensador trazer um novo medicamento para o mercado capaz de ajudar homens e parceiras(os). O viagra já foi prescrito para algo como 66 milhões de homens em todo o mundo.

 

 

MERCADO HOJE

A maior parte dos homens hoje têm acesso a vários tratamentos diferentes contra a DE. No entanto, todos devem tomar cuidado para adquirir medicamentos de uma fonte confiável e sempre após consultar um profissional de saúde.

Essas drogas são algumas das mais falsificadas em todo o mundo. Entre os riscos estão uma elevada quantidade de princípio ativo e a presença de substâncias estranhas ou tóxicas.

 

ATUAÇÃO

Saí da Pfizer em 2007, mas continuei a trabalhar com a indústria farmacêutica como consultor, em inúmeros projetos de diversas companhias. Por exemplo, pude ajudar uma companhia a aprovar na Europa um medicamento que encolhe miomas uterinos, reduzindo o sangramento excessivo.

 

BRASIL

Nunca estive no Brasil, mas sempre fui um grande fã do futebol brasileiro desde que comecei a acompanhar o esporte; tenho uma bola autografada pelo Pelé.


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Imagine só a emoção de estar no princípio de uma descoberta. Será que o exercício físico ajuda a reduzir o ronco? Quais seriam os efeitos da poluição atmosférica na qualidade dos espermatozoides? Há questões que não podem ser respondidas de outra forma senão pesquisando.

Desde pequeno eu queria ser cientista, e isso me guiou até a escolha do curso universitário. Aos 18, quando comecei a estudar biomedicina na Unifesp, me deparei com um universo repleto de todo tipo de pesquisa –com camundongos, ratos, coelhos, cultura de células, bactérias, vírus… e com humanos.

A primeira pesquisa que participei como voluntário era para os pesquisadores entenderem melhor como o corpo humano funciona enquanto dorme e como o sono é atrapalhado por alguns problemas de saúde. (Ainda estamos longe de saber completamente como ele funciona, seja no sono ou na vigília.)

Nesse caso, eu era um voluntário saudável –sem insônia ou apneia grave. Muitos outros estudos precisam de participantes sãos para entender, por exemplo, como funciona a memória em uma situação de estresse (sim, participei), ou qual é o risco de uma pessoa se contaminar com HPV (vírus do papiloma humano) morando em São Paulo (sim, de novo).

Conhecer os pesquisadores, tentar entender o que estão fazendo e poder doar um pouco de tempo, de sangue ou mesmo uma noite de sono para que eles promovam o avanço da ciência era para mim mais do que só camaradagem, era uma chance de viver integralmente a ciência e de aprender como ela é feita.

TRATANDO DOENÇAS

Mergulhar numa dessas pesquisas pode ser a chance de abandonar a inércia e tentar fazer algo para sanar aquele problema que é arrastado há anos. Dor nas costas, incontinência urinária, tabagismo… novas e velhas formas de se tratar são testadas a todo momento.

A vantagem de receber um tratamento dentro de um protocolo de pesquisa é que o compromisso da equipe é um empurrãozinho para que o cuidado com a saúde seja mantido, com dados coletados regularmente e telefonemas para saber se tudo está OK.

Em estudos epidemiológicos pode haver o acompanhamento de pacientes ao longo de anos para entender a história natural de uma doença. O ponto positivo é que, a qualquer sinal de inconformidade, o paciente é encaminhado para tratamento e tem sua saúde monitorada pelos pesquisadores.

E no caso do teste de novas drogas? Será que há risco ao participar de um protocolo de pesquisa? Sim, há, mas geralmente não são riscos altos. Dependendo do estágio em que a pesquisa clínica está, ainda não se sabe se há grande chance de efeitos colaterais –nesse caso geralmente o paciente é internado e monitorado de perto.

Além disso, projetos de pesquisa que envolvem humanos têm de ser aprovados por dois comitês de ética em pesquisa, um local e um nacional, para poderem acontecer. Se o possível benefício é pequeno em comparação ao estresse causado, o projeto, via de regra, não vai para frente.

Todas as informações relevantes para a tomada de decisão de participar ou não têm de estar no termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), que é apresentado aos voluntários e tem de ser assinado por eles e por um representante da equipe.

DINHEIRO

No Brasil não pode haver remuneração em troca da participação em estudos. Essa é uma estratégia para evitar, entre outros problemas, o surgimento de “voluntários profissionais”. Por aqui só é possível ressarcir despesas com transporte e alimentação; em outros países, como os EUA, é possível ganhar dinheiro dessa forma.

Uma das exigências a serem cumpridas por investigadores e patrocinadores de pesquisas clínicas é ofertar, além dos novos tratamentos, as melhores terapias disponíveis até então para a condição que está sendo investigada. O que define qual tratamento cada paciente vai receber primeiro, porém, geralmente é um sorteio –uma maneira de garantir a qualidade das informações a serem coletadas.

Os pacientes desses estudos geralmente têm acesso a remédios muitas vezes ainda indisponíveis para a população em geral –é o caso dos testes de novos imunoterápicos contra o câncer, cujas vagas rapidamente se esgotam em centros de pesquisa mundo afora (há situações, no entanto, em que há mais vagas do que pacientes).

Mas nem tudo é perfeito, claro. Existe toda sorte de pesquisadores –os apaixonados e responsáveis, os desleixados, os frustrados, os preguiçosos, os malandros…– e há estreita correlação entre a confiabilidade da pesquisa e a boa conduta dos pesquisadores. É possível, sim, que haja muitas meias-verdades sendo publicadas em decorrência de estudos mal conduzidos.

Por outro lado, especialmente em estudos maiores e que envolvem dezenas de pesquisadores (e, às vezes, milhares de voluntários), há mecanismos estatísticos e de controle de qualidade que atenuam ou solucionam problemas do tipo –é como se uma pequena picaretagem tivesse seu efeito maléfico diluído num caldeirão de dados confiáveis. 

No caso de grandes indústrias farmacêuticas, boa parte dos lucros são reinvestidos em pesquisas, a fim de descobrirem novas drogas. São empreendimentos que chegam à casa dos bilhões de dólares –faz sentido fiscalizar de perto e garantir que o dinheiro seja bem gasto.

COMO PARTICIPAR?

Conversei com pessoas entendidas e pesquisei, mas não parece não haver, ao menos até agora, um site em português que contenha informações de estudos clínicos em andamento no Brasil. Provavelmente a maior parte deles está no site americano clinicaltrials.gov. Quando busquei, havia pouco mais de 1.000 estudos acontecendo em terras brasileiras.

Aviso: talvez o leitor se frustre com o jargão médico em inglês do portal. O ideal é pedir para seu médico traduzir o conteúdo e buscar meios de viabilizar o recrutamento para o estudo desejado, se for o caso.

Vale também prestar atenção aos canais de divulgação oficiais de Universidades e de institutos que praticam pesquisa clínica. Tem uma lista deles aqui.


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Biodiversidade inspira consórcio brasileiro na busca por novos remédios

 

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Biodiversidade inspira consórcio brasileiro na busca por novos remédios https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/biodiversidade-inspiracao/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/biodiversidade-inspiracao/#respond Mon, 11 Dec 2017 06:03:23 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/b408900d634b246293097844c28f69e3350e2df78e4dc56510d4ad7fd5dceedd_5a2130292db45-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=865 Uma iniciativa 100% nacional irá buscar novas substâncias originárias da biodiversidade das plantas brasileiras com o objetivo de levar novos remédios às prateleiras das farmácias. Apesar do estágio inicial em que as pesquisas se encontram, as expectativas são altas.

O laboratório farmacêutico Aché, o Laboratório Nacional de Biociências (integrante do CNPEM, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, que por sua vez é ligado ao MCTIC) e a empresa Phytobios, especializada na prospecção e na obtenção de extratos da natureza, se uniram na empreitada.

Um dos dois projetos prospectará um medicamento oncológico. O outro deve ter aplicações em dermatologia ou em cosméticos, ao atuar como um agente
antienvelhecimento. O anúncio das iniciativas será feito nesta segunda (11).

O investimento na primeira fase de desenvolvimento é de R$ 10 milhões —metade do valor será pago pelo Aché. Do restante, uma parte fica a cargo da dobradinha CNPEM-Phytobios e outra da Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial.

O gerente de desenvolvimento de drogas do LNBio, Eduardo Pagani, explica que o montante custeará os primeiros cinco anos de desenvolvimento, que essencialmente envolvem a formação da biblioteca e os testes químicos iniciais. Caso os produtos sejam lançados, os dividendos serão repartidos entre as instituições.

SÍNTESE

Segundo o diretor de inovação do Aché, Stephani Saverio, recorrer à biodiversidade em busca de “inspiração” não é um luxo, mas uma necessidade em uma era na qual sintetizar novos compostos químicos é uma tarefa quase impossível.

“Não há muito mais opções na área da química de síntese para fazer uma molécula do zero; é uma área que já é explorada desde as décadas de 1930 e 1940.”

Por causa dessa saturação, a biodiversidade torna-se fonte de ideias. Cada espécie de planta produz uma miríade de substâncias, algumas com uma estrutura totalmente diferente daquilo que era imaginado no universo da síntese química.

Para identificar as candidatas a medicamentos, as moléculas de um extrato vegetal são postas à prova: se funcionarem como “chaves” em “fechaduras” moleculares, elas passam para a fase seguinte do desenvolvimento. É nesse ponto que se encontram atualmente as pesquisas do consórcio.

O próximo passo é tentar melhorar a molécula para conferir a ela outras propriedades, como boa taxa de absorção (no caso de via oral) e mais afinidade com sua “fechadura” —também conhecida como alvo terapêutico.

Na sequência vêm os testes em animais e, depois, em humanos. Os investimentos aumentam progressivamente, girando na casa das dezenas de milhões de reais.

Caso seja necessário obter a matéria prima na mata para a produção, o modelo adotado é o de extrativismo sustentável, explica Cristina Ropke, CEO da Phytobios.

Muitas das substâncias, que formam uma grande biblioteca, vêm de plantas que ainda nem têm nome científico —elas são identificadas e localizadas a partir de coordenadas geográficas.


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Em vez de projeto de lei, que tal mais estudos sobre as drogas emagrecedoras? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/06/22/em-vez-de-projeto-de-lei-que-tal-mais-estudos-sobre-as-drogas-emagrecedoras/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/06/22/em-vez-de-projeto-de-lei-que-tal-mais-estudos-sobre-as-drogas-emagrecedoras/#respond Thu, 22 Jun 2017 20:27:09 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/anfepramona-630x330-destaq-180x94.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=711 Em 30 de maio, quando escrevi o texto “Médicos querem ampliar o uso de emagrecedores e resgatar drogas ‘banidas’ pela Anvisa” não imaginei que um projeto de lei emperrado há quase 6 anos nas engrenagens do Legislativo iria para frente logo em seguida.

Na terça-feira (20), o PL 2.431/2011, que libera o uso e a comercialização dos derivados anfetamínicos que tiveram registro cancelado pela Anvisa em 2010,  teve sua aprovação final no Congresso e agora deve, sob protestos da agência e aplausos dos médicos, ser sancionado pelo presidente Michel Temer (leia reportagem a respeito).

O texto do PL aprovado é bastante sucinto:

Art. 1º Ficam autorizados a produção, a comercialização e o consumo, sob prescrição médica no modelo B2, dos anorexígenos sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

(O fato de estar no modelo B2 significa que serão substâncias controladas, com tarja preta e retenção de receita –contribuição do Senado Federal para a proposta.)

A aprovação tem imenso respaldo da classe médica de entidades como o Conselho Federal de Medicina, Conselho Nacional de Saúde, Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Associação Brasileira de Nutrologia.

Esse grande apoio ao PL está embasado na experiência clínica e em resultados observados no passado pelos médicos. Segundo a Anvisa, porém, faltam estudos que mostrem que as drogas sejam eficazes e seguras o suficiente para garantir o registro.

Querendo saber um pouco mais sobre o consenso científico na área, pesquisei no PubMed, indexador que abriga boa parte dos mais relevantes trabalhos na área biológica e da saúde, pelo nome das drogas a serem liberadas no país. O resultado, em números de estudos que as mencionam, foi o seguinte:

  • Femproporex (conhecido no exterior como “brazilian diet pill”), 70 menções
  • Anfepramona, 406 menções
  • Mazindol, 908 menções
  • Sibutramina, 1288 menções

Boa parte dos artigos subsidiam a decisão da Anvisa, alegando, por exemplo, falta de evidência ou alto risco de complicações relacionadas aos sistemas cardiovascular e nervoso.

Mesmo assim, a maior parte dos médicos permanece a favor da liberação dos derivados anfetamínicos via projeto de lei. Um caminho mais prudente não seria brigar pelo financiamento de estudos que atestem, de forma inquestionável, tal eficácia?

Quem sabe aí não seja possível liberar essas drogas não só no Brasil, mas também na Europa, onde nenhuma tem registro, e nos EUA, onde só a Anfepramona é comercializada? Novos estudos também funcionariam como um antídoto para esse perigoso hábito de atropelar a Anvisa.

A indústria alega que é caro demais financiar estudos de drogas sem patente, mas não vi ninguém dizer o que “caro” significa nesse contexto. De quanto estamos falando? Será que o governo também não daria uns tostões?

As drogas em questão são baratíssimas: o tratamento com sibutramina custa R$ 30 ao mês, por exemplo. Compare com os quase R$ 1000 de drogas mais modernas como a liraglutida (Saxenda).

Essa pesquisa teria um potencial infinitamente maior de trazer algum resultado proveitoso do que aquela praticada para demonstrar o pífio desempenho da fosfoetanolamina (“pílula do câncer”) no tratamento oncológico. Para isso os governo federal e o governo de São Paulo destinaram mais de R$ 10 milhões.

Vou dar um voto de confiança para os endocrinologistas brasileiros e fazer uma proposta: que tal fingir que esse PL nunca existiu e tentar tomar uma decisão com uma base científica mais sólida?

Com quase 20% da população obesa no país, não faltariam voluntários para os estudos.


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Médicos querem ampliar o uso de emagrecedores e resgatar drogas ‘banidas’ pela Anvisa https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/05/30/mais-drogas-emagrecedoras/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/05/30/mais-drogas-emagrecedoras/#respond Tue, 30 May 2017 12:07:38 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/desobesi-m-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=685 No ano de 2011 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma norma que suspendeu a venda e a distribuição de alguns medicamentos emagrecedores que agem na área do cérebro que comanda a fome. Desde então, na opinião de médicos que se reuniram no 17º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, realizado no último mês de abril em Olinda (PE), há uma espécie de vácuo nas opções medicamentosas para tratar a obesidade.

As drogas “banidas” pela Anvisa em 2011 são a anfepramona, o mazindol e o femproporex –e chegaram a ser comercializadas por décadas. Em comum, essas drogas têm a características de serem aparentadas das anfetaminas e de terem efeito anorexígeno, ou seja, em tese são capazes de reduzir a vontade de comer –e, por conseguinte, a ingestão calórica.

Essa proibição causou muito ruído na comunidade médica e, desde aquele ano tramita na Câmara um projeto de lei (2.431/2011, do deputado Felipe Bornier, do Pros-RJ) que proíbe a Anvisa de “cancelar o registro sanitário ou de adotar qualquer outra medida que impeça a produção ou a comercialização” desses anorexígenos e da sibutramina –medicamento cuja compra hoje requer retenção de receita.

Segundo a presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade da Síndrome Metabólica (Abeso) Maria Edna Melo, esses medicamentos eram ferramentas importantes e tinham um resultado clínico “real”.

O problema, afirmou a Anvisa à época, é a ausência de estudos que mostrem eficácia –geralmente definida redução de mais que 5% do peso corporal inicial– dessas moléculas. Os resultados, afirmou a agência, não justificam os riscos relacionados aos efeitos colaterais.

Por serem estimulantes parecidos com a anfetamina, essas drogas têm ação no sistema nervoso central e existe a chance de complicações psiquiátricas em alguns pacientes.

Nesse caso, afirma o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento, uma boa avaliação inicial que busque sinais de depressão, por exemplo, seria o suficiente para evitar a maior parte das complicações.

“Em mãos habilidosas, esses remédios podem ter ótimos resultados –eles passaram pelo crivo do tempo. O problema era a maneira com a qual vinham sendo prescritos, por médicos não especialistas. Às vezes só se nota o efeito colateral na hora de um maior estresse, quando o paciente já está emagrecendo”, diz

Outro argumento a favor da suspensão é que as agências regulatórias europeia e americana também adotaram posturas duras –e algumas das drogas nem têm registro por lá.

Uma questão relevante para a decisão no começo da década foi o abuso. As drogas  eram baratas e facilmente obtidas sem receita. 

O baixo preço, segundo Maria Edna, também afasta o interesse das farmacêuticas em patrocinar eventuais novos estudos de segurança e eficácia, necessários para uma nova solicitação de registro. Para ela, a melhor saída é fazer lobby pela aprovação do projeto de lei que está em tramitação.

OPÇÕES

Mais da metade dos brasileiros está acima do peso ideal, segundo a pesquisa Vigitel, inquérito telefônico realizado pelo governo federal. O índice de obesidade chega a 23% entre os adultos.

Para tentar tratar essa questão clinicamente, entre as novas opções terapêuticas está a liraglutida, comercializada com os nomes de Saxenda e Victoza, esta última tem dose máxima menor é usada para o tratamento de diabetes. Ambas as marcas pertencem à farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.

A droga, injetável, custa cerca de R$ 1.000 por mês e, segundo estudos mais recentes, ela pode ser usada cronicamente, até mesmo em combinação com outras terapias, sem grandes efeitos colaterais.

Uma outra droga, a lisdexanfetamina, vendida como Venvanse pela farmacêutica Shire e originalmente direcionada para o transtorno de déficit de atenção, pode ser a nova queridinha dos endocrinologistas.

A droga também tem um efeito emagrecedor importante e tem até sido prescrita para esta finalidade no Brasil, apesar da ausência de indicação oficial –mesmo caso pelo qual passou a liraglutida. A caixa com 28 comprimidos pode custar até R$ 400.

Para o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento, apesar de haver algumas opções no mercado, a falta de acesso vai continuar existindo por causa do preço das novas drogas.

Um efeito colateral da escassez de opções baratas de tratamento medicamentoso, dizem os médicos ouvidos pela reportagem, é o excesso de cirurgias bariátricas e a deterioração da saúde das pessoas, que sofrem mais tempo com as complicações decorrentes da obesidade –como doenças circulatórias e diabetes.

O jornalista GABRIEL ALVES viajou para Olinda (PE) a convite da farmacêutica Novo Nordisk

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Complementar ou alternativo? Você trocaria um quimioterápico por dez sessões de meditação? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/02/11/complementar-ou-alternativo/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/02/11/complementar-ou-alternativo/#respond Sat, 11 Feb 2017 04:02:38 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/match-smoke-fire-douse-80365-180x120.jpeg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=581 Será que uma pessoa com câncer trocaria o tratamento com um quimioterápico de última geração por dez sessões de meditação com um renomadíssimo mestre oriental?

O exemplo extremo serve para mostrar porque o termo “terapias alternativas” não é bom. É pouco provável que, ao escolher a meditação, haja remissão da doença. Em vez disso, se ela for conciliada com o tratamento respaldado pela ciência, há chance de haver algum efeito positivo.

Por isso, usar “terapias complementares” faz sentido –elas buscam preencher algumas lacunas deixadas pelas terapias convencionais.

Uma dessas lacunas talvez seja a falta de contato humano. Passar com um homeopata ou terapeuta holístico que ouça atentamente tudo o que o doente tem a dizer pode aliviar o coração sem o auxílio de um remédio “de verdade”.

Desse modo, apesar de não existirem evidências científicas sólidas de que homeopatia seja melhor do que placebo para qualquer condição que seja, homeopatas podem ser bons médicos, na medida em que eles conseguem aliviar o sofrimento humano.

Mas pode haver muito mais do que um ombro amigo do outro lado da bancada. Acupunturistas têm obtido sucesso em provar cientificamente que a prática alivia vários tipos de dor e algumas outras condições como a rinite alérgica. Algum sucesso também vem sendo obtido pela aromaterapia e pela meditação.

O problema dessas terapias é elas serem tão boas em aliviar dores, angústias e outros sintomas que as pessoas acabem não aderindo à modalidade que realmente tem alguma chance de atacar a raiz do problema. (saiba um pouco mais sobre mindfulness, na matéria de hoje da Folha)

Tomado esse cuidado, em outros casos elas podem assumir um papel crucial para condições que ou não tem remédio ou nas quais o remédio muitas vezes não basta.

É o caso de crises de ansiedade, agressividade, vício em drogas, depressão e síndrome de burnout (esgotamento), condições para as quais técnicas de meditação vêm sendo empregadas.

Para o cientista sério (que quer testar –e não provar– algo), é difícil determinar o que é efeito da meditação e o que é efeito placebo (gerado pela atenção do instrutor e pela interação com um grupo, por exemplo). Até lá, procure um bom terapeuta. Ou dois.


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Futebolização do debate sobre a maconha não ajuda a entender ou resolver a questão https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/06/13/futebolizacao-do-debate-sobre-a-maconha-nao-ajuda-a-entender-ou-resolver-a-questao/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/06/13/futebolizacao-do-debate-sobre-a-maconha-nao-ajuda-a-entender-ou-resolver-a-questao/#respond Mon, 13 Jun 2016 16:11:20 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/06/DSC_4875-180x148.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=149 No último sábado (11), a Folha publicou uma reportagem que escrevi sobre os efeitos físicos do uso de longo prazo da maconha.

Um estudo relatou um acompanhamento de 20 anos (dos 18 aos 38 anos de idade) de um grupo de cerca de mil pessoas da Nova Zelândia que nasceram entre 1971 e 1972.

Se de um lado a robustez (tempo de estudo e número de participantes) impressiona, do outro, os quase nulos efeitos na saúde física da maconha, também. Para mais detalhes, recomendo a leitura do texto.

Um comportamento comum, despertado por textos de temas mais polêmicos, como o uso de maconha, é uma leitura viciada, incompleta e predisposta a “comprar” ou “refutar” o que se afirma no título, a depender de convicções prévias.

É um problema. Em ambos os casos, perde-se a parte mais valiosa da reportagem que é o questionamento do paradigma e a adição de novos fatos a serem considerados em uma análise de um tema complexo, debatido há décadas.

Claro, por mais isenta e precisas que sejam as informações do artigo da revista “JAMA Psychiatry”, ainda é um único estudo, em uma única população, feito uma única vez, em um determinado período da história.

A postura correta, para quem quer realmente aprender mais sobre o assunto é guardar esses indícios com carinho e cautela e realizar ou aguardar novos estudos observacionais de longo seguimento.

O que nem todos percebem, é que esse tipo de informação é preciosa. Como é possível  decidir uma diretriz nutricional para uma população baseada em um estudo de 8 semanas feito em ratos? E se óleo de peixe que reduz colesterol causa uma séria reação alérgica?

Voltando à maconha, como fazer uma política de drogas sem saber exatamente seus efeitos? Do ponto de vista antidrogas: como alocar recursos e desenhar estratégias para combatê-las? Do ponto de vista liberacionista: o que deve ser considerado para o cálculo de um eventual imposto sobre o comércio de maconha?

Independente da bandeira que se levante, mais dados e análises aprofundadas são necessários para chegar a algo próximo do que pode ser a “verdade”. Acreditar e principalmente  “torcer” somente por estudos que corroborem um ponto de vista é contraproducente.

Quando os milhões de técnicos de futebol se transformam em especialistas instantâneos em maconha, o QI despenca –mesmo sem o uso nenhum tóxico.


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