Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Características individuais definem tratamento contra o câncer https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/caracteristica-individuais-definem-tratamento-contra-o-cancer/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/caracteristica-individuais-definem-tratamento-contra-o-cancer/#respond Mon, 28 Oct 2019 22:47:48 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/71a598b03f6cf3c16c86b66a0db9fd372172d367e605ba73a3fcb84bc83c38f5_5d850a6034c64-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1171 Após o diagnóstico de câncer, uma das questões mais importantes que pacientes e familiares querem responder é esta: qual deve ser o tamanho da preocupação?

A resposta não é tão simples. Existe uma miríade de tipos e subtipos de câncer, e cada um tem uma chance maior ou menor de responder aos tratamentos existentes.

E novas pesquisas tornaram a oncologia uma área cada vez mais complexa: às vezes pode ser mais interessante, em vez de catalogar as doenças por órgão onde ocorrem, identificar que tipo de molécula as células tumorais estão produzindo, para aí escolher o tratamento mais efetivo.

Por exemplo, se a molécula HER2 estiver presente, é possível empregar a terapia-alvo conhecida como trastuzumabe, que apresenta bons resultados.

Apesar desse perfil molecular ser cada vez mais importante, ainda é importante saber a origem dos tumores e, sim, dependendo de onde eles estão localizados, o prognóstico pode variar bastante.

O prefeito paulistano Bruno Covas (PSDB-SP), de 39 anos, foi diagnosticado com câncer de estômago. O tratamento começará com quimioterapia e pode envolver cirurgia, a depender da resposta do tumor às drogas. O caso de Covas é um tanto complicado porque a doença já está avançada (uma metástase foi detectada no fígado).

Cerca de 30% dos pacientes diagnosticados com câncer de estômago permanecem vivos após cinco anos, de acordo com estatísticas americanas, além do tratamento, características individuais, como perfil genético e hábitos de vida podem determinar o sucesso do tratamento.

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Técnica que usa micro-ondas testada no Icesp destrói tumor em quatro minutos https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/08/05/tecnica-que-usa-micro-ondas-testada-no-icesp-destroi-tumor-em-quatro-minutos/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/08/05/tecnica-que-usa-micro-ondas-testada-no-icesp-destroi-tumor-em-quatro-minutos/#respond Mon, 05 Aug 2019 05:00:13 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/ablação-fígado-DpUUjB0W4AAreJv-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1125 Uma técnica que possibilita a destruição de tumores ao esquentá-los com radiação micro-ondas está sendo testada no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), ligado à Faculdade de Medicina da USP.

A técnica, chamada de ablação, é uma alternativa quando a cirurgia não é indicada, seja porque o tumor é inoperável ou tão escondido que a cirurgia causaria mais danos do que benefícios.

A técnica consiste em inserir uma agulha no órgão afetado, até a ponta encontrar o tumor. Para localizá-lo, são usadas imagens de ultrassom ou de tomografia —nada de cortes ou cirurgia. Por causa disso, uma das vantagens da ablação é que o paciente pode ir para a casa geralmente já no dia seguinte ao do procedimento.

No Icesp, no último mês de maio, dois pacientes passaram pela ablação de tumores por micro-ondas. A instituição é uma das pioneiras no emprego da nova tecnologia no país. Ao longo do estudo, 60 pacientes serão submetidos ao tratamento. 

A grande vantagem da ablação por micro-ondas em relação à tecnologia anterior, baseada em radiofrequência, é a velocidade do procedimento. O tempo que leva para destruir um tumor pode ser reduzido a um décimo, ou seja, ele pode ser aniquilado, a depender de seu tamanho, em apenas quatro minutos. Em pacientes com múltiplos tumores, o ganho pode ser de algumas horas.

Ambas as técnicas, nova e antiga, se baseiam em usar radiação pra esquentar o tumor, fulminando suas células. O esperado é que assim ele pare de crescer e de se espalhar. A ablação funciona bem com tumores pequenos de fígado, de rim, de pulmão e ósseos, explica Denis Szejnfeld, professor de radiologia intervencionista na Unifesp e diretor do Hospital Certa.

“Todas as técnicas têm a limitação de tamanho do tumor a ser tratado, não dá para queimar com agulha um de 10 cm, por exemplo, mas pode ser possível [com a de micro-ondas] expandir do número mágico de 3 cm para até 5 cm com eficácia semelhante”, conta Szejnfeld.

“É uma técnica inovadora, já estabelecida no exterior, que chega agora ao Brasil e melhora o resultado no tratamento. Com ela, esperamos tratar nódulos maiores e, futuramente, até outros tumores que atualmente não são eliminamos por ablação”, afirma Marcos Menezes, chefe da radiologia do Icesp e presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular.

As agulhas (sempre descartáveis) usadas em procedimentos de ablação por radiofrequência custam cerca de R$ 10 mil; o preço daquelas que emitem micro-ondas chega a R$ 20 mil. Quanto mais rápido e seguro o procedimento, menos tempo o paciente passa no hospital e melhor se torna a razão custo-efetividade, diz Szejnfeld.

Claro, há limites para a ablação. Além de ela não conseguir lidar com tumores muito grandes, se o câncer está próximo de um vaso sanguíneo o resultado pode não ser tão bom. No caso, o vaso se comporta como uma espécie de radiador, esfriando a região e impedindo a total destruição daquelas células cancerosas, explica Diego Adão Fanti Silva, cirurgião da Unifesp. Segundo estudos, contudo, a técnica de ablação por micro-ondes tem maior chance de funcionar em casos como esses em comparação à ablação por radiofrequência.

Também é possível que algumas células malignas sobrevivam ao processo e deem origem a novos tumores —sempre uma margem de segurança do tecido é também destruída, mas o câncer às vezes acha um jeito de resistir.

Há risco também de superaquecimento, o que pode lesar áreas próximas ao tumor que deveriam ser preservadas. Isso pode acontecer caso o sistema de resfriamento não funcione adequadamente. Felizmente esses problemas são raros.


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Refrigerantes e sucos, mesmo os naturais, podem aumentar risco de câncer https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/07/11/refrigerantes-e-sucos-mesmo-os-naturais-podem-aumentar-risco-de-cancer/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/07/11/refrigerantes-e-sucos-mesmo-os-naturais-podem-aumentar-risco-de-cancer/#respond Thu, 11 Jul 2019 05:16:19 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/24425410396_689513a0d2_k-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1113 Um estudo publicado nesta quarta (10) na revista científica BMJ traz um alerta importante: bebidas açucaradas podem aumentar risco de uma pessoa desenvolver câncer.

A pesquisa foi conduzida por uma dúzia de pesquisadores da França a partir dados de mais de 100 mil pessoas acompanhadas por até nove anos, entre 2009 e 2018. Nesse período surgiram 2.193 novos casos de câncer nos pacientes.

Segundo os cientistas, para cada 100 ml de aumento no consumo diário de bebidas açucaradas, a chance de desenvolver câncer aumenta em 18%. No caso de câncer de mama, o mais comum entre as mulheres, o risco aumenta em 22% para cada 100 ml de consumo diário.

Os pesquisadores também investigaram o câncer de próstata, o de intestino e o de pulmão, mas não foi possível encontrar a relação especificamente para esses casos, provavelmente devido ao período relativamente curto de acompanhamento e ao baixo número de tumores desses tipos. Os participantes do estudo tinham em média 42,2 anos de idade e os casos de câncer apareceram em média aos 58,5.

Bastante questionados em outros estudos, os adoçantes passaram incólumes desta vez: não houve associação da ingestão de bebidas adoçadas com eles e a incidência de câncer.

Uma das possibilidades para explicar a ligação entre açúcar e câncer é a obesidade, mas, no caso, esse possível fator de confusão já foi descontado nas estatísticas do estudo do BMJ. No entanto, os cientistas argumentam que é possível que o excesso no consumo de açúcar contribua para o aumento da chamada gordura visceral, mesmo sem alterar o peso corporal de maneira importante. Essa gordura está associada a uma saúde metabolicamente ruim.

Outra possibilidade é que o excesso de açúcar, ao chegar na corrente sanguínea, suscite uma reação inflamatória no organismo, o que pode aumentar as chances de um tumor nascer e se estabelecer no organismo.

(O excesso de açúcar no sangue, evento mais comum em pessoas com diabetes não controlado, também causa o que os bioquímicos chamam de glicação — evento no qual as moléculas de glicose, um açúcar, se grudam em proteínas e em outas estruturas biológicas, prejudicando sua função normal e aumentando a chance de complicações como retinopatia diabética e AVC.)

“Sabe-se que o açúcar, por si só, é um ingrediente tóxico para as células do corpo, mas não é para demonizar nem acabar com os refrigerantes ou com os sucos de frutas. É preciso ter bom senso. Nada em exagero”, diz Mario Carra, presidente do departamento de obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).”

“Fazer alguma atividade física e ter uma alimentação mais regular ajudam a você a não ganhar peso, a não ganhar gordura visceral. Consequentemente, o açúcar que você ingere do refrigerante e do suco de fruta vai ter menos importância no surgimento de tumores”, diz o médico.

No trabalho, os autores argumentam que existem na literatura médica poucos estudos a respeito da relação entre consumo de açúcar e câncer e que um dos maiores estudos na área foi financiado por uma fabricante de refrigerantes.

Algo digno de nota para os autores é o fato de até mesmo os sucos 100% fruta, e não somente os refrescos e os refrigerantes, entrarem na lista dos que podem trazer danos à saúde.

“Se estes resultados forem replicados em outros estudos prospectivos de larga escala e apoiados por dados experimentais mecanísticos, e dado o grande consumo de bebidas açucaradas nos países ocidentais, essas bebidas representariam um fator de risco modificável para a prevenção do câncer, além de seu impacto já conhecido na saúde cardiovascular e metabólica”, escrevem os autores.

“Estes dados corroboram a relevância das recomendações nutricionais existentes para limitar o consumo de bebidas açucaradas, incluindo os sucos 100%  fruta, bem como outras ações, como impostos e restrições de marketing direcionados para essas bebidas”, concluem.


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Cremação de paciente que tomou droga radioativa gera contaminação nos EUA https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/cremacao-de-paciente-que-tomou-droga-radioativa-gera-contaminacao-nos-eua/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/cremacao-de-paciente-que-tomou-droga-radioativa-gera-contaminacao-nos-eua/#respond Tue, 26 Feb 2019 16:02:06 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Cem-Architect-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1093 O caso aconteceu no Arizona (EUA), em 2017. Um homem de 69 anos que lutava contra um câncer de pâncreas recebeu uma dose intravenosa de lutécio-177, uma droga radioativa. Elementos químicos radioativos muitas vezes são usados no diagnóstico e no tratamento oncológicos.

No dia seguinte, o paciente teve pressão baixa e foi levado ao hospital, mas morreu um dia depois. Cinco dias após a injeção, o corpo foi cremado.

Quando a equipe responsável pela radioterapia ficou sabendo da morte, avisou o crematório que o corpo ainda tinha grande quantidade de material radioativo no momento da cremação.

Realizaram uma varredura no estabelecimento e a coleta de urina de um funcionário do crematório. Havia um claro sinal de radiação no local devido ao lutécio-177, mas essa droga não apareceu na amostra de urina. No entanto, observou-se um outro radioisótopo, o tecnécio-99m, muito usado no diagnóstico por imagem de tumores.

O curioso é que o funcionário nunca havia passado por nenhum procedimento em que o elemento radioativo é empregado. O mais provável é que ele tenha sido exposto à substância na cremação de algum outro cadáver, afirmam os médicos da Mayo Clinic em artigo na revista JAMA desta terça (26).

Provavelmente o operador não arcará com consequências negativas para a saúde, já que a dose de radiação a que foi submetido seria relativamente baixa, pelos padrões internacionais. Mas, alertam os médicos, é necessário mais cuidado na hora de lidar com os cadáveres e de estabelecer protocolos de segurança para evitar acidentes mais graves.


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Microambiente tumoral pode esconder resposta contra o câncer https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/microambiente-tumoral-pode-esconder-resposta-contra-o-cancer/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/microambiente-tumoral-pode-esconder-resposta-contra-o-cancer/#respond Mon, 10 Dec 2018 14:26:38 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Melanoma-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1031 Quando uma pessoa descobre o câncer, uma das maiores torcidas é para que ele seja operável. Um procedimento cirúrgico rápido e bem feito aumenta muito a chance de cura, especialmente em casos iniciais.

Depois vem outras formas de tratamento, como a temida quimioterapia (que funciona muito bem em alguns casos, diga-se), a radioterapia e a recente imunoterapia, que também tem bons resultados em alguns tumores.

Em algumas situações, porém, nenhuma dessas estratégias funciona. Vou pegar emprestado um trecho adaptado de um texto da colega Ruth Helena Bellinghini para definir o que é câncer:

“A doença é complexa e envolve uma série de mutações genéticas que se acumulam ao longo de décadas. Além disso, um grande número de pessoas acredita que câncer é uma doença só, que aparece em diferentes partes do corpo, e não 200 doenças diferentes que têm em comum a proliferação desenfreada de células. Visto desse ângulo, faz sentido acreditar que se trata de uma doença simples, que deveria ser curada por uma única droga ou duas ou três, quem sabe.”

Claro que não é tão simples. O arsenal anticâncer tem ganhado reforços de peso nas últimas décadas, mas ainda falta muito para que a doença não seja mais uma preocupação.

Daí a importância das pesquisas que buscam meios de lidar com a doença. Entre elas está a do biomédico e professor da UFMG Alexander Birbrair, que investiga se alguns elementos do microambiente do tumor podem ser manipulados para lidar com a moléstia. Ele escreve abaixo para o blog Cadê a Cura?:

Microambiente permite crescimento do câncer, mas pode ser também seu carrasco, por Alexander Birbrair

Todos já ouvimos falar de câncer e, provavelmente, conhecemos alguém que tem ou já teve a doença. Até hoje algumas pessoas têm medo de dizer o nome. Usam a expressão “aquela doença”…

E na verdade, existem vários tipos diferentes de câncer. O que eles têm em comum é a presença de células cancerosas.

Nosso corpo é composto por bilhões de células. As saudáveis crescem, se dividem normalmente e sabem exatamente a hora de parar de crescer. Já as células cancerosas, graças a alterações em seu material genético, crescem e se dividem descontroladamente. Esse comportamento acontece por causa de transformações no material genético dessa células.

Uma vez transformadas, as células cancerosas destroem as células normais ao seu redor e isso causa o tão temido câncer. Mas o que realmente define se ocorrerá a proliferação das células cancerígenas é o ambiente onde elas estão localizadas no nosso organismo.

No passado, a célula tumoral era o único alvo das terapias. No entanto, quando o tratamento tem como foco sua replicação, várias outras células normais do nosso organismo que tem essa característica de proliferação também são afetadas, como as do sangue e as da pele. Daí a toxicidade nos tratamentos de quimioterapia e radioterapia.

Com a meta de evitar esses efeitos negativos e ter tratamentos mais eficazes, vários estudos que estão em andamento buscam criar maneiras mais eficientes e menos tóxicas de eliminar o câncer.

Imagine que retiramos cirurgicamente uma parte do tumor de um paciente. Ao analisá-lo, veríamos que somente 50% das células ali são cancerosas. O restante delas forma o chamado microambiente tumoral. A maioria dessas células vêm do sistema imunológico e migram para dentro do tumor, ajudando a compor seu volume, a massa tumoral. (Esse é o caso, por exemplo, dos linfócitos, neutrófilos, macrófagos, células dendríticas, etc.)

Figura mostra complexidade do microambiente tumoral, do qual fazem parte nervos, células de defesa, vasos sanguíneos e outros elementos (crédito: Alexander Birbrair)

Os nutrientes que alimentam o câncer vêm pela corrente sanguínea, por meio de vasos que adentram o tumor. Note-se que um tumor não consegue crescer mais do que 2 milímetros sem esse tipo de auxílio. Como os vasos sanguíneos são formados por vários outros tipos celulares, isso aumenta ainda mais a complexidade do microambiente tumoral.

Os demais componentes desse microambiente não estão simplesmente inertes dentro do tumor, eles também podem influenciar seu crescimento: alguns ajudam nas atividades das células tumorais, enquanto outros as bloqueiam. Conhecer esse comportamento permitiu o desenvolvimento da imunoterapia, forma de tratar cânceres, cujas descobertas iniciais renderam o Prêmio Nobel de Medicina deste ano.

Ao olharmos os outros elementos desse microambiente, notamos que ali também existem nervos. Curioso: se o sistema nervoso regula diversas funções do nosso corpo, como os batimentos cardíacos, será que ele também, de alguma forma, controla se o câncer vai crescer ou não dentro de nós? É uma pergunta que ainda estamos tentando responder, estudando tumores de mama, próstata e melanoma.

Nessa linha de pesquisa, desenvolvida na UFMG e apoiada pelo Instituto Serrapilheira, o que vimos até agora é que, alterando esses nervos geneticamente (modulando seu papel de dentro do tumor), conseguimos afetar o crescimento das células malignas.

Isso abre as portas para uma possibilidade futura de tratamento que pode agir justamente no papel desses nervos no microambiente tumoral . Imagine manejar um tumor de forma que ele promova a própria extinção?

Descobrimos que um tipo de célula que geralmente está associada aos nervos, as células de Schwann, se separam deles durante a progressão do câncer e vão se ligar aos vasos sanguíneos que estão dentro do tumor, estrangulando a fonte de suprimentos e, portanto, bloqueando seu crescimento.

Conhecendo esses mecanismos, com alguma sorte, será possível achar um jeito de tratar o câncer de forma mais eficaz e específica, com mínimos efeitos colaterais. Mas ainda há muito trabalho pela frente.

No vídeo abaixo, Birbrair explica resumidamente a ideia de sua pesquisa: 


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Aspirina pode aumentar risco de morte por câncer em idosos, sugere estudo

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Aspirina pode aumentar risco de morte por câncer em idosos, sugere estudo https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/10/19/aspirina-pode-aumentar-risco-de-morte-por-cancer-em-idosos-sugere-estudo/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/10/19/aspirina-pode-aumentar-risco-de-morte-por-cancer-em-idosos-sugere-estudo/#respond Fri, 19 Oct 2018 19:21:33 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/baeabb9111a2a8e660a399397401f9202fb3654e5a39912ef098a7025acb31f2_5b9fbc03d59d9-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1018 Após quase cinco anos tomando aspirina diariamente, um grupo de idosos teve um aumento de 31% nas mortes causadas por câncer em relação ao grupo placebo. Se levarmos em conta que em cada grupo há mais de 9.500 pessoas, trata-se de um resultado robusto.

Um grande estudo sobre os efeitos do uso de longo prazo de aspirina (ácido acetilsalicílico), que contou com a participação de 19.114 idosos saudáveis, foi publicado na prestigiosa revista New England Journal of Medicine nesta quinta (18).

Participaram americanos com mais de 65 anos e australianos com mais de 70 anos, que recebiam os comprimidos inertes ou a medicação, fornecida pela farmacêutica alemã Bayer, que patenteou o produto no final do século 19. A empresa não participou da elaboração do desenho experimental ou da interpretação dos resultados.

O número de mortes por câncer do dos grupos teste e placebo no período foram, respectivamente, 295 e 227. Não foi possível afirmar com rigor estatístico quais tipos de câncer em especial seriam os culpados. Entre os mais frequentes estão colorretal, mama e  melanoma.

“Outros estudos de uso preventivo de aspirina não identificaram resultados similares a esses, o que indica que esses resultados de mortalidade […] devem ser interpretados com cautela”, escrevem os autores, de diversas instituições australianas e americanas. Há de se considerar a possibilidade também de um viés racial, já que a grande maioria dos participantes era branca.

Questionada pela reportagem, a Bayer respondeu em nota que “essa conclusão não está relacionada à indicação do medicamento na prevenção primária de doença cardiovascular” e que os pacientes incluídos no estudo não tinham esse risco em particular. “O estudo não altera o perfil de risco-benefício de Aspirina Prevent de baixa dose [formulação usada na pesquisa].”

“[A droga] é um antiagregante plaquetário e sua indicação é para pessoas que apresentem dor no peito causada pela má circulação do sangue, que tiveram infarto agudo do miocárdio, para redução de risco de um novo infarto e que passaram por cirurgias ou outras intervenções nas artérias para evitar a ocorrência de distúrbios transitórios da circulação cerebral”, diz o texto.

As más notícias relacionadas à aspirina não pararam por aí. As demais conclusões do estudo Aspree (acrônimo em inglês para ASPirin Reducing Events in the Elderly, ou aspirina reduzindo eventos em idosos, em tradução livre) mostram que nesses idosos que tomaram o remédio não houve ganho de expectativa de vida livre de limitações (como demências ou deficiência física).

Também não houve prevenção de eventos cardiovasculares (lembrando que os pacientes do estudo eram saudáveis). Os autores argumentam que a boa forma dos pacientes pode ter impedido que efeito positivo da aspirina fosse observado para nesse quesito. As demais causas de mortalidade não se alteraram nesse estudo.

 

Incidência cumulativa da morte de acordo com a causa subjacente: A, câncer; B, doenças cardiovasculares; C, doenças hemorrágicas; D, outras causas. As inserções mostram os mesmos dados em um eixo y ampliado.

Um outro estudo, publicado na mesma edição da revista, demonstra esse potencial protetor do remédio.

O Ascend (A Study of Cardiovascular EveNts in Diabetes, ou um estudo dos efeitos cardiovasculares em diabetes, em tradução livre, no qual 15.480 adultos de meia idade com diabetes foram acompanhados por quase sete anos e meio) indicou redução de 12% nos eventos cardiovasculares em pacientes diabéticos que tomavam aspirina em relação ao grupo placebo (658 contra 743, ou 8,5% contra 9,6%).

Tanto no Ascend quanto no Aspree —ambos randomizados e controlados—  foi observado um aumento de eventos hemorrágicos (361 contra 265 e 314 contra 245, respectivamente), como os acidentes vasculares encefálicos (derrames) e sangramentos no sistema gastrointestinal.

Esses efeitos indesejados acontecem porque, além de aliviar vários tipos de dores, a aspirina também tem propriedades antitrombóticas e anticoagulantes, ou seja, tem potencial para evitar o entupimento de vasos por trombos e facilitar a circulação. Ao impedir a coagulação, a aspirina acaba facilitando o escape do sangue pelas veias e artérias, gerando a indesejada hemorragia.

Trabalhos que já haviam sido publicados anteriormente apontam benefícios do uso do remédio, como a redução do risco de infarto, AVC e outros problemas vasculares em pessoas de meia idade (assim como observado no Ascend, comandado por cientistas do Reino Unido).

Outros estudos sugerem a possibilidade de o uso contínuo de baixas doses de aspirina prevenir perda cognitiva, depressão e alguns cânceres, como o colorretal.

Observa-se que nem sempre os resultados de diferentes estudos convergem. No estudo Ascend, inclusive, não houve qualquer efeito da aspirina no aparecimento ou na prevenção de cânceres.

Considerando tudo o que foi publicado nos últimos 150 anos sobre o remédio, em editorial o NEJM conclui que, para pacientes com aterosclerose, os benefícios compensam o risco. “Por outro lado, para a prevenção primária […] a razão benefício/risco na prática corrente é excepcionalmente pequena.”

Para a maioria das pessoas, a melhor maneira de prevenir problemas cardiovasculares graves se dá com exercício físico, interrupção do tabagismo e, eventualmente, com a prescrição de estatinas —classe de medicamentos que também já foi pivô de discussões acirradas.

Convém lembrar que o uso de aspirina para qualquer indicação ou a interrupção do tratamento devem ser feitos apenas sob orientação médica.


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Como é pesquisar ao lado de um Nobel de medicina? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/10/02/como-e-pesquisar-ao-lado-de-um-nobel-de-medicina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/10/02/como-e-pesquisar-ao-lado-de-um-nobel-de-medicina/#respond Tue, 02 Oct 2018 21:16:03 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/58266d3f0c60258e968583da55b917636df8e83aeb6432d7e3a2dc48de3f7503_5bb2a7edc2f20-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1011 No dia 1º de outubro de 2018, uma segunda-feira, a aposta de boa parte dos cientistas e médicos se concretizou: o Prêmio Nobel reconhecia a área da imunoterapia, que abriu avenidas de novas possibilidades para o tratamento do câncer. 

Os vencedores foram o americano James Allison e Tasuko Honjo. Você pode ler um pouco mais sobre a pesquisa deles na reportagem publicada pela Folha nesta segunda (1º) no em seu site e na edição impressa desta terça (2).  Agora trago um relato um pouco mais emotivo.

O biomédico Jorge Scutti teve a chance de trabalhar diretamente com Allison no MD Anderson Cancer Center, no Texas. Ele conta para o Cadê a Cura? um pouco de sua trajetória e como foi conviver com o célebre imunologista.

Leia abaixo:

Como acabei trabalhando com James Allison, Nobel de medicina de 2018, por Jorge Augusto Borin Scutti

Imerso no mundo do “Laboratório de Dexter” (desenho animado bastante conhecido entre quem cresceu na década de 1990) e do “Mundo de Beakman” (série educativa talvez ainda mais famosa), tinha certeza que meu destino tinha a ver com ciências.

Certa vez, na quinta série, lembro-me de ser o único a me candidatar para permanecer os três períodos em pé em um estande para apresentar um projeto de ciências sobre fertilização in vitro.

Aos 18 anos comecei a cursar biomedicina no interior de São Paulo. Lá conheci a imunologista Renata Dellalibera-Joviliano: cada explicação sobre o sistema imune me fascinava. Foi amor à primeira vista!  Tornei-me monitor de imunologia, ciência que estuda o comportamento do sistema imune na saúde e nos diferentes estágios das doenças.

Formado, me mudei para São Paulo e consegui passar no temido e concorrido processo seletivo de mestrado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Lá fui orientado por Luiz Travassos, um dos principais nomes da ciência brasileira, parceria que se repetiu no doutorado.

Minha linha de pesquisa abrangia o estudo do modelo de melanoma murino [em camundongos] e da imunologia de tumores —a meta era entender como o sistema imune poderia ser modulado por peptídeos (pedaços de proteínas, por assim dizer) não oriundos de células cancerosas. A ideia era elaborar um modelo de vacina que pudesse ser usado em pacientes com melanoma (uma ideia parecida havia vingado nos EUA, mas com peptídeos originários de células de melanoma).

Após cinco anos na Unifesp, comecei meu período de pós-doutorado (período de aperfeiçoamento usual na carreira de pesquisadores) no departamento de pediatria do MD Anderson Cancer Center em Houston, um dos centros de pesquisa e atendimento oncológico mais importantes no mundo, localizado no Texas.

Durante um ano desenvolvi um modelo de imunoterapia (em que o organismo é estimulado reagir ao câncer) baseado em células NK (que destroem células infectadas ou cancerosas) para combater um tipo de câncer cerebral infantil conhecido como glioma pontino difusamente intrínseco (DIPG).  

Findo o pós-doc, teve início em 2015 minha carreira como pesquisador da plataforma de imunoterapia do MD Anderson, liderada pelo agora nobelista James Allison.

Na época estávamos tentando entender por que razão alguns pacientes e alguns tipos de tumores respondiam melhor a determinados tratamentos baseados em imunoterapia, principalmente no caso de drogas como pembrolizumabe, nivolumabe e ipilimumabe —que mudaram o panorama do tratamento de vários tipos de câncer, reduzindo muito a mortalidade sem trazer tantos efeitos colaterais.

A ideia era encontrar marcadores que pudessem predizer quais pacientes teriam mais chance de sucesso.

Eu me encontrava com Jim Alisson periodicamente em nossa reunião semanal. É um sujeito inteligentíssimo, cavalheiro e extremamente humilde, apesar do vasto conhecimento. Ele adorava que os pesquisadores trouxessem desafios, sentia-se bem ao ser estimulado intelectualmente.

Foram três anos de muito aprendizado, de noites sem dormir, de viagens a congressos, de discussões longuíssimas… Mas tudo valeu pena.

Meu sonho é um dia acordar e descobrir que a cura para o câncer foi encontrada. Mas certamente uma parte do meu sonho foi realizada ao trabalhar com Jim (aqui um artigo que publicamos juntos). Nada mal para um menino que cresceu em Matão, no interior de São Paulo: guiado pelas mãos de Deus tive a honra de contribuir com os estudos de um ganhador do prêmio Nobel de Medicina.

Outras pessoas que me ajudaram e me inspirarem no caminho foram os colegas pesquisadores e amigos Mariana Conde Pineda e Luis Miguel Vence, além de minha esposa Yasmim e meus filhos Catharina e Thales.

Os pesquisadores Jim Allison e Jorge Scutti
Os pesquisadores Jim Allison e Jorge Scutti (crédito: Arquivo pessoal)

 

 


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Uma análise mais cuidadosa do conteúdo desse material (assim como boa parte do que circula nessas redes sobre outros assuntos) mostra que as teses não param em pé. No caso da nutrição, sobra gente maldizendo o leite, mandando adotar o sal do Himalaia na dieta ou dizendo que adoçante é “câncer na certa” –como recebi recentemente.

A nutrição, como área de estudo, não nasceu ontem. E parece que as pessoas esquecem disso na hora de apertar o botão de compartilhar, ávidas para serem portadoras de uma novidade que seria deliberadamente escondida ou ignorada por especialistas.

Existem inúmeras discussões nutricionais relevantes –o açúcar parece ser mais vilão hoje do que era no passado; a gordura, por sua vez, tem tido parte de sua má reputação aliviada por novos estudos; alguns adoçantes, eventualmente, podem fazer uma pessoa ter mais fome. Como vale para quase tudo na ciência biomédica, as coisas não são preto no branco (vide nosso último post sobre suplementação de cálcio e vitamina D).

As consequências do consumo dos diversos nutrientes podem ser muito diferentes dependendo da condição clínica e do organismo de uma pessoa. E não é porque alguns têm alergia a leite de vaca que, de repente, o alimento passa a ser um vilão nutricional (já falamos sobre o leite aqui no blog Cadê a Cura?, em outra ocasião).

Quando explodiram os casos de recém-nascidos com microcefalia decorrentes da infecção materna pelo vírus da zika, logo ganhou as telas de celulares um vídeo de um sujeito afirmando que o surto teria sido causado pela aplicação de vacinas provenientes de um lote estragado. Bobagem, mais uma vez.

Imagine um paciente que recebeu uma mensagem dizendo que espinheira-santa e graviola curam câncer de intestino e que decide largar o tratamento convencional –que, em muitos casos, cura–, passando a tomar chazinho –sobre o qual não há qualquer evidência científica sólida. O maior prejudicado aí não é o laboratório farmacêutico, que deixou de lucrar com suas drogas, e sim o próprio paciente, que provavelmente terá sua vida abreviada.

O risco de tomar uma decisão baseada na “sabedoria” das redes sociais é enorme. As consequências de mudar a esmo a maneira de se tratar diabetes –abandonando o adoçante, supostamente cancerígeno, em favor de algum tipo de açúcar– ou de deixar de vacinar uma criança contra rubéola –por um receio infundado de “metais pesados” no vidrinho– podem ser terríveis.

Há, sim, benefícios na difusão boca a boca (ou celular a celular) de informações de saúde, como na ameaça do surto de febre amarela, quando munícipes de São Paulo, por exemplo, puderam trocar mensagens sobre quais postos tinham mais ou menos fila de interessados na vacinação. Em casos assim, as informações são verificáveis, de acesso público –não há tanto espaço para invencionices (apesar de haver gente tentando matar macacos, que, assim como humanos, são vítimas da doença).

A melhor maneira de se prevenir contra boatos, farsas e inverdades é buscar, consumir e repercutir conteúdo produzido por fontes que tenham uma boa reputação –vale a pena gastar um tempinho buscando artigos científicos (que nem sempre são consensuais ou obrigatoriamente verdadeiros, vale lembrar) ou conteúdo produzido por quem faz jornalismo profissional.

Uma consulta cara a cara com um profissional capacitado e que tenha conhecimento e tempo para analisar todas as variáveis relevantes e ajudar o paciente a tomar a melhor decisão é insubstituível. Mas, de novo, cuidado: existe um número não desprezível de picaretas por aí –até vacina homeopática contra febre amarela já inventaram.


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Segundo o Cadê a Cura? apurou, um dos possíveis alvos da investigação é o estudo realizado no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), que apontou a ineficácia da substância para tratar pacientes com câncer em estágio avançado. De dezenas de pacientes testados, apenas um obteve melhora –não necessariamente atribuível à candidata a droga anticâncer.

Defensores da substância afirmam que o suposto mecanismo de ação da droga requer um sistema imunológico preservado para gerar resultados positivos. No caso, os voluntários já estariam debilitados e não teriam condições de exibir tal resposta.

No entanto, não há evidência científica que permita esse tipo de avaliação.

Os deputados também almejam colocar em xeque a escolha da dosagem e do modo de administração do estudo do Icesp, algo questionado pelo criador da fosfoetanolamina, Gilberto Chierice, professor aposentado da USP.

Apesar de ter distribuído a droga por anos e para centenas de pessoas, Chierice preferiu não palpitar na dosagem usada no estudo do Icesp e afirmou ser necessária a realização de testes específicos para essa finalidade.

A CPI também pode se focar nos buracos no princípio da história da “fosfo”. Há relatos de que a substância foi testada em seres humanos em hospitais do interior de São Paulo em meados da década de 1990. Os dados, no entanto, nunca foram publicados.


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É o caso do biomédico americano Kenneth Gollob, recém-contratado do A.C.Camargo Cancer Center, hospital oncológico de São Paulo, para comandar um grupo que vai tentar descobrir o que não está nos manuais médicos ou nos artigos científicos patrocinados por farmacêuticas.

Um dos projetos nos quais o grupo está apostando é entender quais pacientes são mais susceptíveis aos efeitos colaterais do tratamento com imunoterápicos.

Os imunoterápicos foram desenhados para “remover as travas” do sistema imunológico, amplificando a resposta anticâncer do organismo.

Muitas vezes, explica Gollob, as pessoas desenvolvem um perfil de resposta semelhante ao de doenças autoimunes, difíceis de detectar.

Entre os órgãos que mais sofrem estão os rins, que ficam sobrecarregados. O risco de um paciente adquirir uma insuficiência renal crônica geralmente não compensa a tentativa ultramoderna de tratamento.

O plano, então, é tentar mapear parâmetros do sistema imunológico e, a partir deles, tentar prever quem tem maior probabilidade de desenvolver o problema.

Na prática, a pesquisa vai envolver inicialmente o acompanhamento de pacientes que receberão o tratamento com imunoterápicos para a identificação desses fatores em um tipo de câncer de pulmão (o de células não pequenas) e no melanoma.

Uma segunda etapa é saber exatamente quais são os “parafusos imunológicos” a serem apertados ou afrouxados com o uso de drogas para que a resposta à doença seja a melhor possível.

“Entre as possibilidades para a falta de resposta adequada estão um número insuficiente de células para atacar o tumor ou a resposta estar inibida, o que chamamos de supressão ativa. Faremos experimentos para diferenciar uma situação da outra”, diz Gollob.

A ideia é aproveitar o fluxo de pacientes do hospital para reunir dados e material para executar as pesquisas. A instituição tem um banco com quase 60 mil amostras de tumores –prato cheio para cientistas da área.

 


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