Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Minicurso gratuito via WhatsApp aborda aspectos do diabetes https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/11/04/minicurso-gratuito-via-whatsapp-aborda-aspectos-do-diabetes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/11/04/minicurso-gratuito-via-whatsapp-aborda-aspectos-do-diabetes/#respond Tue, 05 Nov 2019 02:07:39 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/4293213857_b95a3a4dc3_o1-180x127.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1183 Um minicurso digital, a ser dado gratuitamente por meio do WhatsApp, irá abordar aspectos do diabetes, como os mitos que rondam quem descobre que tem a doença, tecnologias envolvidas no tratamento, formas de melhorar a alimentação e receitas de doces mais saudáveis.

Uma das responsáveis pela iniciativa é a jornalista Letícia Martins, da revista Momento Diabetes, direcionada ao público com a doença. Ela explica que o curso é voltado para todas as pessoas que têm diabetes, pré-diabetes, obesidade, além de parentes –especialmente porque a doença tem um componente hereditário– e profissionais de saúde que ainda não têm conhecimento aprofundado sobre o tema. Também participa da organização do curso Bianca Fiori, que tem diabetes tipo 1 há 25 anos.

Para Martins, muitas vezes é difícil para as pessoas fixarem tanta informação relacionada a essa condição, daí o emprego de vídeos e ebooks, que também podem ser compartilhados. O material conta com o endosso de especialistas da área.

Há 14 milhões de diabéticos no país, e a maior parte dessas pessoas, cerca de 70% de acordo com estimativas, não controla adequadamente a doença. Assim, elas se sujeitam a um maior risco de doenças cardiovasculares, como AVC e infarto, infecções, amputações, retinopatia diabética (que pode levar à cegueira) e neuropatia (lesão nos nervos).

As inscrições para o minicurso acontecem até quarta, 6 de novembro de 2019, às 9h da manhã por meio do link (bit.ly/2WzKeyA). Mais informações aqui.


Gostou? Compartilhe! Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou contate-me nas redes sociais (@gabrielalves038 no Instagram, no Facebook e no Twitter).

Clique aqui e receba as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura? pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Como regenerar o cérebro após um AVC? Resposta depende da manutenção de bolsas de pós-graduação, diz cientista

Casos de infartos entre jovens são raros no país

Por que a zika afetou mais o Nordeste? Uma toxina pode ser a explicação

]]>
0
Risco de demência e diabetes é menor para quem consome álcool https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/17/alcool-diabetes-demencia/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/08/17/alcool-diabetes-demencia/#respond Fri, 17 Aug 2018 22:17:31 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/4081355836_d7283de0df_b-320x213.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=995 Um estudo recente publicado no começo de agosto na revista British Medical Journal (BMJ) chamou a atenção —o consumo moderado de bebidas alcoólicas (até 14 doses por semana), estaria associado a um risco 47% menor de desenvolver demência, como o alzheimer.

É uma redução importante, já que esse grupo de doenças afeta de 5% a 10% das pessoas acima de 60 anos.

Estudos anteriores já haviam detectado a possibilidade de o consumo moderado de álcool ter um efeito protetor contra demências, mas, dessa vez, com mais de 9.000 pessoas observadas desde a década de 1980, os resultados têm maior robustez.

O mecanismo pelo qual se dá essa proteção provavelmente tem a ver com o impedimento da formação de placas da proteína beta-amiloide no cérebro, embora isso não esteja completamente elucidado.

No caso da relação entre uso de álcool e demência, assim como em outros, diz-se que o risco se comporta como uma curva em “J” ou em “U”, com valores mais elevados nas pontas (nenhum uso e uso excessivo), em relação a uma faixa central de menor risco.

Além dos abstêmios, quem bebe mais do que 14 doses semanais também tem risco aumentado para desenvolver demências —17% a mais a cada sete doses excedentes.

Uma dose equivale a cerca de 355 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 44 ml de destilado, segundo o Instituto Nacional para o Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA, e contém cerca de 14 gramas de álcool puro.
Os motivos para os abstêmios terem maior risco, ao menos em parte, se deve à maior presença, nesse grupo, de doenças cardiovasculares e metabólicas.

O resultado da pesquisa, porém, não deve servir de encorajamento para aumentar o consumo de álcool, escrevem os autores do estudo, de instituições da França e do Reino Unido.

“Sabendo que o número de pessoas vivendo com demência deve triplicar até 2050, e que não há cura, a prevenção é crucial. Nós mostramos que tanto a abstinência quanto o uso excessivo de álcool pode aumentar o risco da doença. As diretrizes do Reino Unido sugerem um limite de 14 doses semanais, mas o limite de muitos outros países é superior a esse. Este estudo encoraja a adoção de um limite mais baixo nessas diretrizes, algo aplicável para toda a vida adulta, com a meta de promover saúde cognitiva”, concluem.

DIABETES

Outro estudo, este de 2017 e conduzido na Dinamarca, mostrou mais um possível benefício do álcool na prevenção de diabetes tipo 2. Ele foi publicado na revista Diabetologia.

Dados de mais de 70 mil pessoas acompanhadas por 23 anos foram analisados e foi constatado que homens que bebem 14 doses semanais têm chance até 43% menor de desenvolver a doença. Para as mulheres, o benefício máximo é atingido com 9 doses semanais e a probabilidade de ter a doença é reduzida em 58%.

Para esse efeito benéfico, mais importante do que a quantidade semanal é a regularidade no consumo.

Diferentemente das demências, porém, o consumo de mais doses não está associado a um risco aumentado de desenvolver diabetes em relação a quem é abstêmio. Outros fatores como IMC (índice de massa corporal), dieta e propensão genética são mais importantes.

Quem já tem diabetes, no entanto, deve adotar uma série de precauções, como intercalar bebida alcoólica e água, evitar drinques e produtos que contenham açúcar e jamais deixar de se alimentar antes de beber.
Especialistas dizem ainda que o álcool não pode ser usado como tratamento para baixar a glicemia, dado seu comportamento imprevisível. Ou seja, os riscos superam os benefícios.

Os estudos do BMJ e da Diabetologia, apesar de interessantes, não são uma resposta definitiva para possíveis benefícios do álcool para a prevenção de doenças —não há consenso entre médicos e estudiosos.
O álcool está ligado a 3,3 milhões de mortes anuais e os motivos vão desde acidentes de carro até doenças causadas pela substância, como cirrose e cânceres.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura? pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Estudo decifra rota da zika até o Brasil –doença veio do Haiti

Edição genética de embriões é considerada ética por organização britânica

Médicos defendem combinação de drogas no início do tratamento contra diabetes

]]>
0
Médicos defendem combinação de drogas no início do tratamento contra diabetes https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/16/mais-drogas-diabetes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/07/16/mais-drogas-diabetes/#respond Mon, 16 Jul 2018 14:03:13 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/4932175472_b6f247d8a5_o-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=967 Um consenso entre profissionais de saúde com relação ao diabetes é que esperar as complicações aparecerem para só então tomar alguma providência é péssima ideia.

Geralmente as abordagens iniciais envolvem mudanças de hábitos alimentares e introdução ou intensificação da prática de exercícios. Às vezes, porém, pode ser vantajoso usar combinações de medicamentos logo após o diagnóstico, defendem médicos ouvidos pela reportagem. Esse foi um dos temas discutidos no congresso anual da ADA (Associação Americana de Diabetes, na sigla em inglês), que aconteceu em Orlando no final de junho.

A doença mata cerca de 61 mil brasileiros ao ano, número comparável ao de assassinatos (cerca de 60 mil ao ano) e quase o dobro de pessoas mortas em acidentes de trânsito (33 mil ao ano).

Com um tratamento mais efetivo logo após o diagnóstico, diferentemente do que acontece quando os medicamentos são empregados na base de tentativa e erro, o paciente teria mais chance de manter a doença sob controle, evitando complicações.

Para quem tem a doença, a principal meta é manter a hemoglobina glicada, um exame de sangue, abaixo de 7% (de preferência abaixo de 6,5%, mas isso pode ser flexibilizado em pacientes com complicações graves; a faixa de normalidade para quem não tem a doença é de 4% a 5,6%). Conseguir manter baixo esse índice é o objetivo das diversas modalidades de tratamento e, via de regra, o que vai definir a dosagem e o número de medicamentos a serem tomados ou aplicados.

O problema, diz Levimar Rocha Araújo, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, é a grande resistência dos pacientes, que não gostam de tomar medicamentos logo de cara para tratar uma condição aparentemente inicial, e também de médicos, que têm medo de perder clientela. Outra questão é que, sobretudo no sistema público, os profissionais têm pouco tempo para ensinar o paciente a lidar com o diabetes, uma condição complexa.

“No fim das contas, a grande questão é a falta de educação com relação ao diabetes”, afirma Araújo. Ele, que também é diabético, promove acampamentos para jovens com a ideia de ensiná-los a lidar com a doença em situações do dia a dia. Um exemplo: em um dia de atividades físicas intensas, é possível reduzir a quantidade de insulina (hormônio cuja atividade está prejudicada na doença) a ser administrada, já que o exercício também tem efeito hipoglicemiante –ou seja, reduz a concentração de glicose no sangue.

“Como muitas vezes o paciente com diabetes não tem nenhum sintoma, para ele não faz sentido já começar a usar medicamentos”, explica Solange Travassos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, que foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 14 anos. Ela e Araújo afirmam que é preciso avaliar a possibilidade de usar desde cedo todas as armas que podem ajudar o doente.

“O organismo tem uma espécie de memória metabólica, ou seja, o começo do tratamento e a maneira como o corpo responde a ele são fatores muito importantes para o prognóstico. Se o organismo é forçado a viver com a doença por muito tempo, ele se exaure, perdendo a capacidade de se recuperar”, diz Araújo.

As alternativas farmacológicas incluem a tradicional metformina (há mais de 60 anos no mercado) e suplementação de insulina por meio de injeções, para tentar normalizar a função do hormônio, de reduzir a glicemia sanguínea e prevenir efeitos como impotência, AVC e amputações.

Algumas opções podem ajudar os pacientes a simplificar o cuidado, como medicamentos combinados em uma mesma injeção. É o caso do Xultophy, combinação de insulina e liraglutida, princípio ativo do medicamento Victoza, que tem obtido bons resultados na redução da glicose sanguínea, com boas chances de evitar o ganho de peso, algo comum na doença.

Outra possibilidade, ainda em estágio experimental, é uma nova formulação de insulina para ser administrada por via oral. Cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e de Harvard publicaram recentemente na revista PNAS um artigo explicando como isso poderia acontecer.

Um líquido seria capaz de impedir a degradação da molécula no aparelho digestório e de promover a absorção dela pela via paracelular, ou seja, por entre as células que revestem o trato gastrointestinal. Um dos obstáculos à adesão do tratamento com insulina é justamente a necessidade de injeção.

Capazes de monitorar o nível de glicose e até de ajudar nas injeções de insulina, equipamentos de monitorização e bombas também têm ganhado espaço. Alguns aparelhos produzem um gráfico com a variação da glicemia ao longo do dia, o que permite fazer ajustes de dose de insulina e refinar o tratamento. No fim de junho a FDA (agência regulatória americana) aprovou um sensor implantável que pode ficar imerso na pele por 90 dias consecutivos.

Um estudo da empresa Abbott apresentado no ADA mostrou que um monitoramento frequente pode ajudar a reduzir o tempo do paciente em hipoglicema, outro fantasma para quem depende de insulina.

As bombas são especialmente úteis para pacientes com diabetes tipo 1 e, no país, muitas pessoas têm obtido acesso a elas por meio de decisões da Justiça.

Muitos profissionais de saúde, porém, tendem a fugir dos medicamentos por causa do perigo de interações com outras drogas e dos efeitos colaterais. O caminho padrão ainda é a mudança dos hábitos de vida: comer melhor (e, geralmente, menos) e praticar exercícios físicos; a obesidade também agrava a condição.

A favor dessa abordagem está o fato de que a contração muscular promovida nos exercícios e a perda de peso fazem o organismo responder melhor à insulina, ou seja, pode retardar a introdução de medicamentos ou reduzir a dose de quem já está em tratamento, embora os médicos concordam que mudanças do estilo de vida sejam apenas o mínimo a ser feito.

Por fim, existe a possibilidade de realizar uma cirurgia bariátrica (chamada de metabólica quando o objetivo é combater o diabetes) para resolver o problema. Apesar da agressividade e da grande chance de resolução, é necessário um enorme esforço posterior do paciente para atingir as diversas metas propostas, que também incluem ingestão de vitaminas e manejo da saúde mental, além do tratamento do diabetes propriamente dito.

O jornalista viajou a convite da Sanofi


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura? pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Enfermeiras, psicólogas, nutricionistas e assistentes sociais têm mais desafios na carreira acadêmica

Zika pode prejudicar cérebro muito tempo depois da infecção, mostra estudo em roedores

Exame baseado em inteligência artificial pode ajudar a achar tratamento contra o câncer

]]>
0
Correntes sobre saúde em redes sociais fazem mais mal do que bem https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/redes-sociais-e-saude/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/redes-sociais-e-saude/#respond Fri, 09 Feb 2018 11:29:00 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/water-plant-fruit-orange-food-produce-fresh-lemonade-drink-lemon-lime-juice-close-up-coconut-sliced-citrus-flowering-plant-land-plant-lemon-lime-994734-150x150.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=888 É provável que o leitor ou algum de seus conhecidos já tenha recebido pelas redes sociais (ou por e-mail) mensagens de texto, de vídeo e áudio contendo mirabolantes formulações que supostamente curam todo tipo de câncer, dicas “infalíveis” de dieta ou alertas contra supostos perigos de vacinar as crianças.

Uma análise mais cuidadosa do conteúdo desse material (assim como boa parte do que circula nessas redes sobre outros assuntos) mostra que as teses não param em pé. No caso da nutrição, sobra gente maldizendo o leite, mandando adotar o sal do Himalaia na dieta ou dizendo que adoçante é “câncer na certa” –como recebi recentemente.

A nutrição, como área de estudo, não nasceu ontem. E parece que as pessoas esquecem disso na hora de apertar o botão de compartilhar, ávidas para serem portadoras de uma novidade que seria deliberadamente escondida ou ignorada por especialistas.

Existem inúmeras discussões nutricionais relevantes –o açúcar parece ser mais vilão hoje do que era no passado; a gordura, por sua vez, tem tido parte de sua má reputação aliviada por novos estudos; alguns adoçantes, eventualmente, podem fazer uma pessoa ter mais fome. Como vale para quase tudo na ciência biomédica, as coisas não são preto no branco (vide nosso último post sobre suplementação de cálcio e vitamina D).

As consequências do consumo dos diversos nutrientes podem ser muito diferentes dependendo da condição clínica e do organismo de uma pessoa. E não é porque alguns têm alergia a leite de vaca que, de repente, o alimento passa a ser um vilão nutricional (já falamos sobre o leite aqui no blog Cadê a Cura?, em outra ocasião).

Quando explodiram os casos de recém-nascidos com microcefalia decorrentes da infecção materna pelo vírus da zika, logo ganhou as telas de celulares um vídeo de um sujeito afirmando que o surto teria sido causado pela aplicação de vacinas provenientes de um lote estragado. Bobagem, mais uma vez.

Imagine um paciente que recebeu uma mensagem dizendo que espinheira-santa e graviola curam câncer de intestino e que decide largar o tratamento convencional –que, em muitos casos, cura–, passando a tomar chazinho –sobre o qual não há qualquer evidência científica sólida. O maior prejudicado aí não é o laboratório farmacêutico, que deixou de lucrar com suas drogas, e sim o próprio paciente, que provavelmente terá sua vida abreviada.

O risco de tomar uma decisão baseada na “sabedoria” das redes sociais é enorme. As consequências de mudar a esmo a maneira de se tratar diabetes –abandonando o adoçante, supostamente cancerígeno, em favor de algum tipo de açúcar– ou de deixar de vacinar uma criança contra rubéola –por um receio infundado de “metais pesados” no vidrinho– podem ser terríveis.

Há, sim, benefícios na difusão boca a boca (ou celular a celular) de informações de saúde, como na ameaça do surto de febre amarela, quando munícipes de São Paulo, por exemplo, puderam trocar mensagens sobre quais postos tinham mais ou menos fila de interessados na vacinação. Em casos assim, as informações são verificáveis, de acesso público –não há tanto espaço para invencionices (apesar de haver gente tentando matar macacos, que, assim como humanos, são vítimas da doença).

A melhor maneira de se prevenir contra boatos, farsas e inverdades é buscar, consumir e repercutir conteúdo produzido por fontes que tenham uma boa reputação –vale a pena gastar um tempinho buscando artigos científicos (que nem sempre são consensuais ou obrigatoriamente verdadeiros, vale lembrar) ou conteúdo produzido por quem faz jornalismo profissional.

Uma consulta cara a cara com um profissional capacitado e que tenha conhecimento e tempo para analisar todas as variáveis relevantes e ajudar o paciente a tomar a melhor decisão é insubstituível. Mas, de novo, cuidado: existe um número não desprezível de picaretas por aí –até vacina homeopática contra febre amarela já inventaram.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura? pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Tomar cálcio e vitamina D não ajuda a evitar fraturas, diz estudo com mais de 50 mil pacientes

Biodiversidade inspira consórcio brasileiro na busca por novos remédios

Paciente inconsciente com tatuagem escrito ‘NÃO ressuscitar’ intriga médicos e gera discussão ética

]]>
0
Tomar cálcio e vitamina D não ajuda a evitar fraturas, diz estudo com mais de 50 mil pacientes https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/29/tomar-calcio-e-vitamina-d-nao-ajuda-a-evitar-fraturas-diz-estudo-com-mais-de-50-mil-pacientes/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/29/tomar-calcio-e-vitamina-d-nao-ajuda-a-evitar-fraturas-diz-estudo-com-mais-de-50-mil-pacientes/#respond Fri, 29 Dec 2017 18:26:02 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/206756985_fcdacc8f2b_o-147x180.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=875 Médicos e cientistas tinham arrumado um ótimo raciocínio para explicar como a suplementação com cálcio e vitamina D poderia ajudar a prevenir fraturas.

A lógica, resumidamente, seria a seguinte:

1) Por uma série de fatores, como falta de atividade muscular (exercícios) ou carência hormonal, o organismo para de construir osso. Mais precisamente esse tecido se desmineraliza, perdendo cálcio, a matéria-prima;

2) Com baixa densidade mineral –que pode ser mensurada em exames de imagem–, o osso se torna frágil, fácil de quebrar após quedas, por exemplo;

3) Uma solução possível, portanto, seria devolver a matéria-prima F–o cálcio– e arrumar um jeito de fomentar a fixação dele no osso;

4) Aí surge a vitamina D, um hormônio naturalmente produzido durante a exposição solar e que, ao que tudo indica, seria um fator importante para a mineralização óssea.

O problema é que, na prática, provavelmente não adianta incentivar o uso de cálcio e de vitamina D para prevenir fraturas. Um estudo publicado na revista médica “Jama”, feito com dados de vários outros –uma meta-análise–, mostrou que não há evidência científica suficiente para apostar nesse caminho.

Um dos critérios fundamentais para que os estudos entrassem na conta é a presença de grupos controles, que foram comparados aos grupos tratados para averiguar o efeito das doses. Ao todo, dados de 33 trabalhos foram compilados, totalizando 51.145 participantes.

A conclusão:  nenhum suplemento (cálcio, vitamina D ou a combinação dos dois) está associado a um menor risco de fraturas, independentemente da dose, do sexo do paciente, do histórico de fraturas, da ingestão de cálcio na dieta ou na concentração sanguínea de vitamina D.

MORTALIDADE

A substância, nos últimos anos, tem ganhado espaço graças, especialmente, à medicina laboratorial. Dificilmente alguém descobre que possui baixos índices de vitamina D sem um exame.

Qual seria a faixa ideal de concentração de vitamina D sanguínea é algo que ainda, vez ou outra, entra em discussão –a pessoa pode sofrer por anos dessa “deficiência” e ter uma saúde normal, mas há tentativas interessantes de se estabelecer parâmetros.

Um estudo alemão de 2012 (publicado no periódico “The American Journal of Clinical Nutrition”) analisou 5.562 mortes em meio a dados de cerca de 60 mil pacientes com o objetivo de investigar se a falta de vitamina D pode matar.

A conclusão é afirmativa: existe, sim, a chance de a morte chegar mais rápido para quem tem índices baixos. O nível sanguíneo de 25(OH)D, metabólito ativo da vitamina D comumente dosado, que garante proteção máxima seria alguma coisa entre 75 nmol/L e 87,5 nmol/L (metade das pessoas investigadas tinham concentração menor que 27,5 nmol/L).

Na prática, ponto para a suplementação com a vitamina. Algumas explicações possíveis para tamanha importância são os papéis desempenhados pelo hormônio no cérebro, prevenindo distúrbios cognitivos, e também na manutenção do sistema imunológico.

Quanto às fraturas, pelo jeito, o negócio é praticar atividades físicas adequadas para cada faixa etária –com cuidado.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura? pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Biodiversidade inspira consórcio brasileiro na busca por novos remédios

Paciente inconsciente com tatuagem escrito ‘NÃO ressuscitar’ intriga médicos e gera discussão ética

‘Hoje, HIV é problema mais social do que de saúde’, diz youtuber que se descobriu soropositivo aos 20

]]>
0
Depoimento: ‘Praticar exercícios físicos foi o que me deu motivação para conseguir vencer o câncer’ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/06/09/exercicio-e-cancer-depoimento/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/06/09/exercicio-e-cancer-depoimento/#respond Fri, 09 Jun 2017 10:15:46 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/15337172_1151418971578803_428041129105660313-180x180.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=695 A fisioterapeuta Roberta Perez, 28, afirma que o exercício físico e a adoção de hábitos alimentares saudáveis foram cruciais no tratamento e na recuperação após descobrir um câncer de mama, no ano passado.

No depoimento abaixo, produzido especialmente para o blog Cadê a Cura?, Roberta relata que os médicos oncologistas ainda se esquecem de recomendar que seus pacientes pratiquem atividades físicas. No caso dela, valeu a pena ser “desobediente” e, de corrida em corrida, chegar mais perto do objetivo de se curar. Ela compartilha outras experiências e pensamentos em sua conta do Instagram @vai.por.mim_. Boa leitura!

 

*

 

Quando recebi o diagnóstico do câncer, fui bombardeada com inúmeras informações sobre a doença, o prognóstico, o tratamento e seus efeitos colaterais. Como uma boa paciente, segui todas as recomendações à risca.

No início do segundo protocolo de quimioterapia, fui alertada pela minha oncologista sobre as fortes dores musculares que eu poderia sentir e recebi uma prescrição de analgésicos e relaxantes musculares, já que a intensidade do desconforto poderia progredir ao longo dos 12 ciclos de aplicações.

Comecei a sentir muita dor logo após a primeira sessão, mas me recusei a tomar os remédios (eu já estava usando muitos medicamentos e não gostava da ideia ter que adicionar mais um à lista).

Para tentar esquecer aquela sensação, fui caminhar no parque com meu marido –para nossa surpresa, as dores cessarem. Comecei, então, a caminhar todos os dias, o que me deixava mais disposta e menos cansada, até que um dia eu arrisquei uma corridinha… e só cansei após dois quilômetros!

Contei tudo para a oncologista na consulta seguinte. Ela ficou admirada e me explicou que a prática de atividade física, na verdade, é recomendada, só que os médicos normalmente não orientam seus pacientes a se mexerem –diante de uma realidade tão debilitante como a do câncer, os exercícios não são bem aceitos.

Foi assim que descobri que eu poderia fazer alguma coisa pela minha saúde, e o exercício, que antes do câncer era somente para emagrecer, passou a integrar o tratamento. Os resultados foram incríveis, tanto os físicos quanto os psicológicos.

Fiquei mais alegre, animada, aceitei melhor minha imagem e recuperei a autoestima. Enfim, essa prática me deu mais motivação para vencer a doença e viver bem.

Outro aspecto importante foi o controle do peso. Logo no início do tratamento somos informados sobre o inchaço causado pelos corticoides e o grande risco de ganhar alguns quilos no processo.

O problema é que os médicos normalmente só dizem o que não podemos comer –por causa da possível interferência no tratamento– e não nos orientam no sentido de minimizar o ganho de peso.

Aprendi que boa parte do peso extra vem por descuido das pacientes, que consideram os excessos justificáveis diante de um tratamento tão debilitante.

Sabendo disso, procurei uma nutricionista. Ela elaborou um ótimo plano para suprir as demandas metabólicas e nutricionais do meu corpo, respeitando minhas restrições (como alguns alimentos que me deixam enjoada) e meu paladar, além de indicar alimentos mais naturais, sem conservantes.

Não sei se o meu caso pode servir de exemplo para todos os pacientes que têm ou que tiveram câncer, mas acho importante que todos saibam que, sim, existem medidas que nós podemos adotar e que têm um grande impacto na qualidade de vida e no prognóstico –seja comer melhor ou se esforçar para sair da cadeira e dar uma volta no parque.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura?  pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Médicos querem ampliar o uso de emagrecedores e resgatar drogas ‘banidas’ pela Anvisa

Por que a Aids é uma questão gay (e não uma ‘doença gay’)

Instituto Butantan negocia informações da vacina da dengue com farmacêutica MSD

]]>
0
Leite faz bem, e provavelmente é por causa dele que você está aqui https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/10/14/leite-faz-bem/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/10/14/leite-faz-bem/#respond Fri, 14 Oct 2016 08:03:22 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/5483310462_758b18e45f_b-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=447 Ao ingerir leite, pessoas com intolerância à lactose ficam realmente mal. Há pouca ou nenhuma margem para sensações sugestionadas. Muitas dessas pessoas lamentam o fato de não poderem comer nem uma barrinha de chocolate sem consequências intestinais desastrosas.

Isto posto, gostaria reforçar a mensagem do título deste texto de que provavelmente é por causa do leite que você está aqui. Não estou falando do leite materno (que é importantíssimo), mas do leite de vaca de outros bichos como cabras e búfalas, consumidos após o desmame humano.

O argumento que trago é principalmente evolutivo, ou seja, contém porções igualmente importantes de biologia e de história.

O desenvolvimento da pecuária leiteira provavelmente teve início há cerca de 7.500 anos na Europa. Como nem sempre havia carne, aqueles humanos que conseguiam se nutrir adequadamente a partir do leite de origem animal (e digerir o açúcar conhecido como lactose) tinham grande vantagem perante os outros, conseguindo viver e se reproduzir mais, espalhando esses genes responsáveis por essa “tolerância” ao alimento.

Quem não tinha esse arsenal genético provavelmente sofria como os intolerantes de hoje em dia sofrem, muitas vezes ficando sem uma nutrição adequada.

Você pode ler uma excelente reportagem a respeito de características selecionadas recentemente pela evolução publicada nesta quinta (13) pela Folha.

DETRATORES

Um dos fenômenos sociais recentes é o surgimento de pessoas que simplesmente são contra o leite. Os detratores estão em todo lugar. Difícil entender como, de repente, a nutritiva bebida ganhou contornos demoníacos.

Um dos sintomas disso pode ser observado em um post recente aqui no Cadê a Cura? sobre nutrição de crianças (Pouco leite, muito sal: estudo mostra problemático cenário nutricional das crianças em São Paulo). Sobrou baboseira nos comentários.

O que eu acho curioso é o verniz “científico” que querem dar à tese de que leite faz mal ou que não vale a pena ser ingerido (por quem não tem alergia ou intolerância).

Claro que legumes e verduras são importantes fontes de outras vitaminas, como A, K e as do complexo B. E devem estar na dieta.

Mas o leite ainda é um dos alimentos que mais contém cálcio, seja por grama consumido ou por real gasto. São necessárias várias porções de vegetais para conseguir o cálcio de apenas um copo de leite –e quase ninguém fica o dia inteiro mastigando brócolis, couve e espinafre, os melhores substitutos.

Infelizmente existem alguns nutricionistas que abandonaram o embasamento científico para sua prática profissional –parece que até quando se trata de saúde o cliente sempre tem que ter razão. Prova disso é que o Conselho Regional de Nutrição da 3ª região (SP e MS) em 2012 teve de afirmar que “a recomendação indiscriminada para restrição ao consumo de leite e derivados não encontra atualmente respaldo científico com nível de evidência convincente e está em desacordo com o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar”.

As desventuras nutricionais propostas por pacientes e profissionais que simplesmente são contra o leite (e o taxam como inimigo da saúde) não fazem sentido fora de um arcabouço dogmático limitante.

O estudo que motivou a reportagem da Folha é só mais uma na pilha de evidências favoráveis ao leite acumuladas pela ciência e pela história. Negar a teoria da evolução e as tabelas nutricionais em pleno século 21 não parece ser a atitude mais inteligente.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura?  pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Para onde quer que se olhe, há bactérias

Pouco leite, muito sal: estudo mostra problemático cenário nutricional das crianças em São Paulo

E se a zika fosse transmitida como o ebola?

]]>
0
Pouco leite, muito sal: estudo mostra problemático cenário nutricional das crianças em São Paulo https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/10/06/pouco-leite-muito-sal-estudo-mostra-problematico-cenario-nutricional-das-criancas-em-sao-paulo/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/10/06/pouco-leite-muito-sal-estudo-mostra-problematico-cenario-nutricional-das-criancas-em-sao-paulo/#respond Thu, 06 Oct 2016 08:01:37 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/3762898910_ffc6201e34_b-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=418 Uma nova pesquisa mostra o problemático cenário nutricional pelo qual passam crianças da Grande São Paulo. O estudo The Infant and Kids Study, obtido em primeira mão pelo blog Cadê a Cura?, foi feito pelo Ibope a pedido da Nestlé e apontou, entre outras coisas, que metade das crianças de 0 a 12 anos está acima do peso e que há muito sódio e pouco cálcio em suas dietas.

Um dos possíveis motivos desse cenário é a baixa quantidade de atividade física e elevado tempo gasto na frente de telas. Metade das crianças é sedentária, especialmente antes dos 5 anos de idade, onde o índice pode chegar aos 90%.

Quase 50% das crianças entre um e dois anos já ficam mais de duas horas na frente de uma tela diariamente. Daí em diante, o fenômeno só aumenta: na faixa dos 7 aos 12 anos, 75% dos jovens ficam mais de quatro horas por dia grudadas em TVs, tablets e celulares.

Muito desses comportamentos e também aqueles referentes à nutrição refletem os comportamentos da família, afirma a nutricionista Isa Jorge, da Faculdade de Saúde Pública da USP. “São dados alarmantes”, diz.

Na prática, o cenário da pesquisa –feita com 1.000 famílias, com representatividade de todos os níveis socioeconômicos– mostra a consolidação de um cenário ruim para a saúde pública. Segundo dados do IBGE, em 1974-75 havia 14% de sobrepeso/obesidade em crianças de 5 a 9 anos no país. Em 1989, o índice subiu para 19% e na pesquisa de 2008-09 foi para 51%, índice semelhante ao observado na pesquisa da Grande São Paulo, para crianças dos 0 aos 12.

SÓDIO

Dois dos achados que mais preocupam são o alto índice de sódio e o baixo de cálcio na dieta.

A recomendação diária de sódio é de 2 gramas, o que equivale a mais ou menos 5 gramas de sal de cozinha. A meta é superada por 47% das crianças entre 1 e 3 anos, e por mais de 70% nas faixas etárias seguintes.

Somado aos altos índices de gorduras, presente nas dietas de 29% das crianças, o alto consumo de sódio pode fazer com que as crianças “antecipem” as doenças de adulto, como colesterol elevado e hipertensão.

Curiosamente, a fração de dietas hiperlipídicas é praticamente a mesma que as dietas que contém menos gordura do que deveriam (27%). Os motivos disso são mais difíceis de se imaginar, visto que não há, pelo menos por enquanto, um detalhamento de quais alimentos aparecem nessas dietas.

Para o caso de excesso de gordura e de açúcares (9%) é mais fácil imaginar os motivos. “Tem criança de um ano que já bebe mamadeira de Coca-Cola, come batata frita e salgadinhos industrializados. A gente deveria trabalhar com a população para evitar ao máximo esse tipo de alimento, principalmente no começo da vida”, diz Isa.

O problema, explica a nutricionista, é o paladar infantil, especialmente nos primeiros dois anos de vida, que pode “aprender” a gostar só do que não deve. “Depois que come um salgadinho [que geralmente contém quantidade elevada de gordura e sódio], qualquer outra coisa fica sem graça”, explica.

Outra preocupação: as crianças não tomam mais tanto leite. Na faixa dos 9 aos 12 anos o déficit de cálcio é de 84%.

Uma possível explicação é a grande quantidade de pessoas que se dizem “intolerantes à lactose” [açúcar presente no leite], afirma Isa. A falta pode trazer prejuízos para a arquitetura óssea da criança, “o que pode facilitar o desenvolvimento de osteoporose no futuro, especialmente em meninas”.

INDÚSTRIA

Segundo Andre Barros, gerente de nutrição, saúde e bem-estar da Nestlé, o dado foi uma surpresa: “Achávamos que o brasileiro era um bom consumidor de leite”, diz.

Para ele, a empresa, que já está analisando os dados há alguns meses, deve continuar apostando na readequação de seus produtos à demanda da população, com menos gordura e açúcares e mais fibras, por exemplo.

Também há a tentativa de  associação de alguns produtos a uma vida mais ativa, como a Copa Nescau, que promove a prática esportiva de futsal, basquete, handebol e vôlei.

Outras iniciativas como o movimento Unidos por Crianças Mais Saudáveis visam atingir pais e crianças com objetivo de fomentar comportamentos mais benéficos, como um estímulo ao movimento. “Não só a educação física, mas também o brincar está abandonado, seja por falta de espaço ou por medo de as crianças saírem de casa”, diz Barbara Sapunar, que comanda essa iniciativa da Nestlé.

A empresa já ensaia os próximos passos e deve fazer uma pesquisa que represente toda a população brasileira em um futuro próximo, o que deve ajudar a identificar diferenças e semelhanças entre os desafios nutricionais enfrentado pelas crianças e suas famílias no país.

O desafio de controlar e otimizar  o que chega ao estômago dos pequenos não é pequeno. “Já existem medidas para controlar propaganda, mas a família é que precisa prestar atenção naquilo que oferece para suas crianças”, diz Isa. “Se uma criança tem hábitos alimentares ruins, certamente a família não é um bom exemplo.”


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura?  pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

E se a zika fosse transmitida como o ebola?

Estudo caso-controle confirma relação de causa e efeito entre zika e microcefalia

A pesquisa que criou embriões de camundongo ‘sem óvulo’ e suas implicações

]]>
0
Cruzada contra adoçantes carece de evidência; diminuí-los na dieta pode ser vantajoso, porém https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/08/12/cruzada-contra-adocantes-carece-de-evidencia-diminui-los-na-dieta-pode-ser-vantajoso-porem/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/08/12/cruzada-contra-adocantes-carece-de-evidencia-diminui-los-na-dieta-pode-ser-vantajoso-porem/#respond Fri, 12 Aug 2016 09:06:19 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/325400_3194682-176x180.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=330 Você, de repente, pode ter tropeçado por aí em alguma reportagem ou post nas redes sociais sobre um novo artigo científico da revista “Cell Metabolism” que mostra uma possível sinalização do cérebro pela qual a ingestão de adoçantes, mais especificamente a sucralose, teria uma função orexígena, isto é, faria aumentar a fome e, consequentemente, a ingestão calórica.

Chega a ser curioso: ao tentar emagrecer ou controlar a glicemia estaríamos armando uma arapuca para nós mesmos. É mais complexo do que isso. Em humanos, a decisão de comer ou não é processada mentalmente e, de fato, “escolhida”. Por mais fissura que se tenha, ninguém come um bolo de chocolate inconscientemente.

Como quase tudo que se vê por aí, o estudo foi feito em animais (não seria ético forçar pessoas a comerem algo que possivelmente faz mal, certo?). Quando se pensa em humanos, porém, a questão ganha nuances complicadas de se considerar ou analisar. Se fossem roedores, já seria uma extrapolação exagerada –agora, em moscas?

(Moscas são organismos-modelos intensamente utilizados na área de genética e evolução. Em outras áreas são mais comuns os vermezinhos C. elegans e, em outras, coelhos, ratos e camundongos, por exemplo.)

Não dá para pegar um único estudo catequizar o mundo como se aquelas páginas fossem novas inscrições na Tábua de Moisés –“não ingerirás adoçantes”. O mundo e a ciência são gratos pela revelação da possibilidade, mas isso não implica uma mudança compulsória dos hábitos alimentares. O nível de evidência [grau de confiabilidade acerca de uma proposição] é muito baixo para isso.

Não é à toa que não há veto de agências regulatórias como FDA (EUA) e Anvisa (Brasil) a esse tipo de substância.

Um outro estudo marcante foi aquele publicado em 2006 pela revista “Environmental Health Perspectives”, que alimentou alguns milhares de bichos com doses crescentes de aspartame e observou um maior risco para o desenvolvimento de tumores no trato urinário e de linfomas associado ao aumento da ingestão do adoçante.

Como quase tudo que nos é ofertado nessa vida, provavelmente há mal no excesso das substâncias na dieta. Não penso, no entanto, que a saída é evitá-las a todo custo.

PROPOSTA

Imagino que ninguém faça uso do aspartame pelo sabor, ao contrário: sabidamente muitos fogem de alimentos light por causa do gostinho residual ruim. Na conta dos que têm de usá-los estão pessoas com diabetes ou em dieta, que precisam reduzir a ingestão de açúcares.

Considerando a atual tendência nutricional antiaçúcar, não dá para simplesmente tirar os adoçantes de cena. O que é possível, claro, é um consumo racional.

É possível acostumar o paladar a cada vez menos adoçantes ou açúcar, principalmente em bebidas como café e sucos. As vezes, a versão “crua”, sem nenhum dos dois, pode ser prazerosa.

Se não dá para abrir mão daquele docinho light ou refrigerante zero durante/depois do almoço, é possível reduzir a quantidade e evitar a possível sobrecarga de adoçantes no organismo.

Estamos no ramo da especulação, mas veja: se não existem dados o suficiente para sustentar a tese de que os adoçantes fazem mal, não há nenhum dizendo que eles são benéficos. Reduzir quantidade em nossas vidas não acarretaria nenhum mal e, quem sabe, se os estudos citados acima estiverem apontando na direção correta, traria até benefícios.

Provavelmente o mesmo raciocínio de redução no consumo vale para o açúcar, contra o qual se empilham evidências de que ele é, de fato, um dos vilões da alimentação moderna.


Gostou? Compartilhe. Não gostou? Quer desabafar? Elogiar? Tem algo novo para me contar? Comente abaixo ou escreva para cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.

Clique aqui e receba todas as novidades do blog

Você pode acessar (e divulgar) o blog Cadê a Cura?  pelo endereço folha.com/cadeacura

Leia posts recentes:

Molécula presente no chá-verde inibe infecção por vírus da zika em células

Médicos de 18 países estão tentando reviver cérebros mortos

A estranha história do vírus bovino que, até agora, não explicou microcefalia nenhuma


Leia as duas colunas relacionadas a Olimpíada que escrevi para o caderno “Rio 2016”, da Folha. A próxima e última sai na quarta (17):

Será que a Olimpíada vai conseguir tirar o brasileiro do sofá?

Risco de zika na Olimpíada é baixo, mas vale deixar kit com camisinha e repelente a postos

]]>
0