Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Como regenerar o cérebro após um AVC? Resposta depende da manutenção de bolsas de pós-graduação, diz cientista https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/09/como-regenerar-o-cerebro-apos-um-avc-resposta-depende-da-manutencao-de-bolsas-de-pos-graduacao-diz-cientista/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/09/como-regenerar-o-cerebro-apos-um-avc-resposta-depende-da-manutencao-de-bolsas-de-pos-graduacao-diz-cientista/#respond Mon, 09 Sep 2019 12:03:19 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/47093887_3bd0c70fb7_o-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1163 Com os recentes congelamentos de bolsas e de verbas para a pesquisa, cientistas veem ameaças ao futuro de estudos que podem ajudar a encontrar tratamentos para condições de grande interesse, como danos ao tecido cerebral. Marimélia Porcionatto, biomédica e professora associada de biologia molecular da Unifesp, escreve para o blog Cadê a Cura? sobre sua trajetória e sobre o atual panorama da pesquisa científica no país.

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Por que o cérebro não se regenera? O que podemos fazer para contornar esse problema?

São questões importantes. Depois de uma pancada forte ou de um AVC, por exemplo, funções cerebrais importantes como raciocínio lógico e memória podem ser afetadas. Há ainda o envelhecimento, que muitas vezes traz consigo doenças neurodegenerativas.

O nosso grupo já fez importantes contribuições para a compreensão dos mecanismos celulares e moleculares que levam à ausência de regeneração cerebral.

Identificamos, por exemplo, uma molécula que induz a morte de neurônios imaturos que migram de uma zona neurogênica (onde neurônios se formam) para o local de uma lesão, o que pode ser entendido como uma tentativa de regeneração.

A morte desses neurônios antes que possam substituir aqueles que foram perdidos por lesão parece ser um dos processos que impedem a regeneração do cérebro. Já vimos também que a presença de cicatriz numa região do tecido nervoso também pode atrapalhar a entrada de novos neurônios naquela região.

Esses e outros trabalhos que realizamos nos levaram a sugerir algumas estratégias que poderão se tornar tratamentos para sequelas neurológicas no futuro. Entre elas está o emprego de uma combinação de células-tronco com microfibras compostas de ácido poliláctico, um composto biocompatível e biodegradável, que pode ser implantado no local da lesão e promover a sobrevivência de neurônios.

Mais recentemente, começamos a estudar maneiras de produzir partes do cérebro usando bioimpressoras 3D que usam materiais como biotintas e células-tronco. Pretendemos com isso mimetizar partes do cérebro tanto para realizar estudos do surgimento e progressão de doenças neurodegenerativas (alzheimer e parkinson, por exemplo) quanto para buscar uma maneira de repor o tecido nervoso perdido por um trauma, AVC ou neurodegeneração.

Vivo no mundo da pesquisa científica desde 1982, quando estava no segundo ano da faculdade. Fiz mestrado em biologia molecular com bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e doutorado com bolsa do CNPq (Conselho Federal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Foram dois estágios de pós-doutorado, o primeiro na Unifesp, com bolsa Fapesp, e segundo, em neurobiologia, no Dana Farber Cancer Institute, afiliado à Harvard Medical School, em Boston, EUA, com bolsa da Lefler Foundation for Neurodegenerative Disorders.

Durante minha formação, da graduação ao pós-doutorado, fui bolsista, e hoje sou professora associada da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.

Os cortes orçamentários impostos pelo governo já estão diminuindo a formação de recursos humanos, e muitos jovens talentosos deixarão de realizar pós-graduação. Esse período é fundamental para a formação do cientista, é quando se aprende a fazer ciência —a interação com orientadores, com colegas, com a comunidade científica está na base da formação de um cientista crítico, ético, inovador, desafiador e ávido por novas descobertas.

Cortar o fluxo de formação de novos cientistas é criar uma lacuna no desenvolvimento do país, que poderá levar décadas para ser revertida.

As perguntas que temos ainda demorarão anos para serem respondidas, e, claro, levantarão novas questões. A manutenção do fomento à ciência e das bolsas para pós-graduandos e pesquisadores é fundamental para que esses estudos não sejam interrompidos.

Este é um momento de defesa da ciência e da manutenção das condições para realização dos estudos que fazemos na Unifesp e de milhares de outros em andamento no país.

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Emagrecedor clássico, mazindol é testado no tratamento de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/emagrecedor-classico-mazindol-e-testado-no-tratamento-de-tdah-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/emagrecedor-classico-mazindol-e-testado-no-tratamento-de-tdah-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/#respond Fri, 03 May 2019 12:58:37 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/8720604364_2ebdc6df85_o-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1102  

O mazindol, droga emagrecedora que ganhou fama na década de 1970,  pode assumir um novo papel. A molécula no momento é testada como uma alternativa para o tratamento do TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

O TDAH afeta adultos e crianças (especialmente meninos) e se caracteriza pela desatenção, hiperatividade e impulsividade, mas não há necessidade de que todos os sintomas se manifestem simultaneamente para caracterizar a doença. O transtorno pode comprometer o aproveitamento escolar de crianças e adolescentes e estima-se que mais da metade dos afetados pelo apresentem alguns aspectos do transtorno na fase adulta.

De acordo com as estatísticas mais recentes, entre 5% e 10% das crianças em idade escolar são afetadas pelo TDAH, mas que calcula-se que apenas um décimo delas seja de fato diagnosticada e tratada.

Atualmente, além de psicoterapia, há algumas outras drogas já usadas no tratamento, como a lisdexanfetamina (Venvanse), metilfenidato (Ritalina) e alguns medicamentos antidepressivos. (Há quem diga, porém, que há um excesso no emprego de drogas no tratamento)

A ideia do grupo farmacêutico NLS-1 e da parceira brasileira da iniciativa, a Eurofarma, é inserir neste mercado uma nova formulação do mazindol, droga emagrecedora não anfetamínica que promete ter um efeito comparável ao das rivais de primeira linha. A mudança, explica André Wolter, gerente médico da Eurofarma, seria no modo de liberação da substância no organismo, mais controlado.

Ele lembra que não é tão difícil na medicina mirar em uma coisa e acertar em outra. Foi o que aconteceu no caso do Viagra (sildenafil), inicialmente concebido para tratar hipertensão pulmonar. Só depois descobriu-se que era capaz de tratar disfunção erétil.

A vantagem da nova fórmula do mazindol, explica Wolter, é que, por não se tratar de uma anfetamina, pode auxiliar crianças e adultos que não respondam bem a esses tratamentos. “Os médicos sempre se queixam de falta de alternativas para o tratamento. Estamos tentando preencher essa lacuna.”

Segundo um  estudos preliminares, feito com 85 pacientes com TDAH, a droga não tem impacto no sono ou no peso e conseguiu reduzir os sinais e sintomas em 50%. Ela também não causa dependência ou tem sua ação reduzida com o tempo. Agora a expectativa é confirmar esses dados num estudo clínico de fase 3, o último antes do lançamento, que está em andamento.

“Antes a doença era associada a um mau comportamento, a crianças que não têm disciplina ou que precisam de palmadas. Hoje a hipótese mais aceita para explicar a doença é uma imaturidade de núcleos pré-frontais e frontais do cérebro”, diz Wolter. “De algum modo, o cérebro não amadurece inteiro por igual, especialmente nas áreas ligadas à atenção, ao movimento e à impulsividade.”

A droga aumenta a captação dos neurotransmissores noradrenalina e dopamina, que funcionam como intermediárias da ação desses núcleos cerebrais. Acredita-se que esse ajuste faz com que o cérebro se desenvolva todo por igual, fazendo-o recuperar o tempo perdido até a fase adulta —isso em 40% dos casos, segundo estimativas.

Para os outros 60% seria necessário manter o tratamento pela vida toda , a fim de que os aspectos sociais, cognitivos, profissionais possam ser explorados em sua totalidade.


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Super-humanos? Talvez em breve https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/super-humanos-talvez-em-breve/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/super-humanos-talvez-em-breve/#respond Thu, 21 Feb 2019 19:24:28 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/img_0288-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1079 Ao olhar para os avanços das técnicas de edição genética, como o Crispr, e o nascimento de bebês geneticamente editadas na China é natural supor que um dia haverá super-humanos perambulando pelo planeta Terra. Será?

O colunista Reinaldo José Lopes, um dos melhores jornalistas de ciência do país, escreveu semana passada na Folha que ele não enxerga esses seres geneticamente superiores num horizonte próximo. Discordo. Consigo avistá-los logo ali dobrando a esquina.

A prova de que isso faz sentido são as próprias bebês chinesas: elas teriam sido manipuladas para serem resistentes à infecção por HIV. Bastou alterar um dos cerca de 20 mil genes humanos e voilà, ganha-se uma (pequena) vantagem genética (apesar de esse tipo de experimento ser proibido naquele país e, dado os riscos, eticamente questionável).

Já inteligência e aptidão musical, por exemplo, são características complexas, que dependem da interação de dezenas ou centenas de genes com o ambiente. Com o que sabemos hoje, ainda seria difícil manipular essa teia de informação de modo a gerar resultados previsíveis.

Por outro lado, há um bom punhado de características que podem ser incrementadas a partir de alterações no DNA.

Um exemplo famoso é a miostatina, molécula que tem por papel reduzir a produção de músculo. Suponha que seja possível alterar (ou deletar) o gene da miostatina para torná-la menos eficiente. O resultado: menos gordura, mais músculos e uma clara superioridade física. Veja abaixo imagem de camundongo cujo gene da miostatina foi desativado:

Camundongo normal (à esq.) e camundongo cujo gene da miostatina foi deletado (Crédito: Se-Jin lee)

Outro exemplo é o gene da alfa-actinina 3, uma proteína importante no processo de contração muscular. Alguns indivíduos carregam uma variante do gene que permite um ciclo mais rápido de contração e relaxamento, ou seja, mais velocidade na corrida. Esse mesmo gene pode ter papel importante em outras características, como adaptação ao exercício, recuperação e no risco de lesões.

O DEC2 também é um gene interessante, que, ao que tudo indica, parece ser importante na definição da necessidade de horas de sono para um indivíduo. Imagine dormir apenas 4h para ficar novinho em folha? Algumas pessoas carregam uma mutação que otimiza o período do sono.

A lista poderia se estender: ossos mais duros, imunidade a venenos, resistência aeróbica, maior altura e envergadura… Não faltam oportunidades de otimização da espécie.

Por outro lado, Lopes está coberto de razão ao lembrar que os genes podem ter mais de uma função no organismo, ou seja, que ao mexer numa engrenagem molecular ali, podemos gerar um efeito inesperado e/ou indesejado acolá, como infertilidade ou maior chance de desenvolver câncer. Mas isso não quer dizer que ninguém vá trilhar esse caminho (como mostrou o cientista chinês He Jiankui).

Perguntei a alguns especialistas o que eles pensavam a respeito do tema. Veja as respostas abaixo:

Os avanços da edição genética permitirão a existência de super-humanos no futuro? Por quê?

Se o termo “super-humano” se referir a modificações de genes relacionados com características físicas relativamente bem-definidas, como força, por exemplo, a resposta seria sim. Embora a edição de genes ainda não seja totalmente isenta de falhas, os desafios técnicos deverão ser resolvidos nos próximos anos. Entretanto, se o termo se referir a tentativas de mudar características do indivíduo com vistas a transformações comportamentais, sociais ou morais, imagino que não. A bioética já está se ocupando de discutir esse tema, vide o lançamento da Declaração em Bioética e Edição de Genes em Humanos pelo Observatory of Bioethics and Law (OBD, Barcelona).
Marimélia Porcionatto, professora da Unifesp

Para que isso aconteça, primeiro precisamos conhecer os genes que nos tornariam “super-humanos” (supondo que um super-humano teria grande inteligência, saúde perfeita e uma bela aparência – é isso?!). Hoje ainda não conhecemos os genes que influenciam essas características. Mas um dia conheceremos.  E já quase temos a tecnologia para modificar esses genes. Logo, sim, poderemos criar super-humanos. Iremos? Se a tecnologia/conhecimento de fato existirem, acho quase inevitável. Porém, os super-humanos já existem hoje. Somos todos nós que já temos acesso às maravilhas da medicina moderna, à educação, ao saneamento básico. Compare a saúde (e aparência) das pessoas com nível socioeconômico alto com a média da humanidade. Eis os super-humanos —eles já existem…
Lygia Veiga Pereira, professora da USP

Enquanto a utilização da tecnologia para tratar doenças é justificável, o uso para mudar características de bebês é perigosamente eugênico. Num futuro incerto, poderiam os pais equivocados escolher o fenótipo de seus filhos? Estatura aumentada, visão infra-vermelho, pele altamente resistente, sem contar outras características comportamentais? Qual o limite do uso de uma técnica de consequências tão profundas? Considerando-se apenas as questões técnicas, a imaginação é o limite. Quando lidamos com o bem estar e possível sobrevivência da humanidade, porém, o limite que se impõe é a ética. O mundo como um todo deve discutir profundamente todas as implicações do uso desta tecnologia e que apenas as que tragam o bem estar dos seres humanos sejam permitidas. Cabe a nós decidir o que fazer com o conteúdo da caixa de Pandora…
João Bosco Pesquero, professor da Unifesp

A gente já conseguiria selecionar os embriões perante características físicas bem-definidas. Inclusive a empresa 23andMe já havia avisado que poderia selecionar embriões baseados na cor dos olhos, dos cabelos, pele etc, gerando grande polêmica —isso aconteceu já há algum tempo. Imagine na China, com uma tecnologia que a gente nem conhece tão bem, uma triagem de embriões e, em cima dessa triagem, a edição de alguns genes. Esses indivíduos poderiam ser transformados, deixando-os mais robustos,  modificando até mesmo características comportamentais, reduzindo a capacidade de sentir medo. Eticamente é um assunto complexo. Em teoria, já teríamos metodologia para fazer super-humanos há cinco ou dez anos. Se já foram feitos ou não, é outra história.
Ciro Martinhago, médico geneticista

A resposta mais óbvia é sim. Quando se fala em possibilidades científicas, existem gargalos fundamentais e gargalos tecnológicos. Nós nunca vamos viajar em uma velocidade maior do que a luz, porque isso é uma impossibilidade física fundamental. A edição de genoma, por outro lado, enfrenta apenas limitações tecnológicas, que vêm sendo superadas. A barreira é dada pelo estado atual da técnica, não pela natureza. Ética, moral, religião ou medo nunca foram capazes de conter por muito tempo avanços tecnológicos que podem curar doenças, aumentar a longevidade ou, até mesmo, produzir características físicas mais desejáveis. Se isso é bom ou ruim para a sociedade como a vemos hoje, trata-se de um debate filosófico, não científico.
Natália Pasternak, bióloga e presidente do Instituto Questão de Ciência

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‘Antes do Viagra, pensava-se que a disfunção erétil era psicológica’, diz pesquisador https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/viagra-entrevista/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/viagra-entrevista/#respond Mon, 19 Mar 2018 12:14:40 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/VIAGRA-1-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=907 Sabia que a forma do comprimido Viagra, um diamante azul, foi escolhida porque seria difícil de falsificar? Além disso, era o formato que mais agradava os consumidores.

Há 20 anos, a droga chegava ao mundo para mudar quase tudo que se sabia  sobre disfunção erétil. Foi publicada neste domingo (18), na Folha, uma reportagem minha a respeito dessa trajetória.

Enquanto aprendia sobre essa história, tive a oportunidade de entrevistar Ian Osterloh, químico e médico britânico que liderou os estudos clínicos do Viagra em meados da década de 1990.

Segundo ele, as inúmeras cartas que a Pfizer recebeu durante o desenvolvimento da droga fizeram a companhia perceber de que se tratava realmente de uma condição séria e que merecia tratamento.

A entrevista, aqui organizada em tópicos, revela detalhes do início da jornada que levou ao lançamento da droga em 1998 e de como ela mudou o pensamento predominante à época, de que uma droga oral contra a impotência não seria viável.

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Dr. Ian Osterloh BSc MSc MBBS MRCP Chief Medical Officer
O consultor britânico Ian Osterloh Crédito: Reprodução

INÍCIO DO TRABALHO

Eu me deparei com o projeto UK-92480, que depois veio a ser conhecido como citrato de sildenafila, no final dos anos 1980, quando colegas da Pfizer, em Sandwich, Inglaterra, me contaram sobre a ideia de bloquear as enzimas conhecidas como PDEs [fosfodiesterases].

Eles acreditavam que seria possível produzir uma droga capaz de bloquear a PDE-5 que pudesse ajudar a relaxar os vasos sanguíneos e tratar pessoas que tivessem pressão sanguínea elevada e/ou angina.

Naquela época, eu trabalhava no departamento de assuntos regulatórios, mas logo eu mudei de função para ajudar a implantar duas novas unidades de testes clínicos da Pfizer (uma perto de Sandwich e outra na Bélgica).

Um pouco depois, no início dos anos 1990, nós já estávamos estudando sildenafila como potencial tratamento para angina, mas os resultados não eram particularmente encorajadores. Em outro estudo clínico, que aconteceu no País de Gales, no entanto, alguns voluntários reportaram estar com melhores ereções. Então decidimos ver onde esse caminho nos levaria.

Eu comecei a trabalhar mais no UK-92480 em 1993 e, após alguns estudos-pilotos encorajadores, passei a me dedicar integralmente a esse projeto em 1994, planejando quais seriam os próximos estudos para descobrir quão bem a droga funcionaria em homens com disfunção erétil (DE).

 

DESENVOLVIMENTO INUSUAL

Há vários aspectos inusuais a respeito do desenvolvimento do Viagra como tratamento para DE. Obviamente já falamos sobre a mudança de direção do programa [de angina para disfunção erétil].

Quando nós falamos pela primeira vez sobre nossos planos de tratar DE para experts de fora da companhia, eles se mostraram céticos. Ninguém entendia como uma droga, especialmente uma que expande os vasos sanguíneos, poderia atuar nos vasos do pênis sem que houvesse grandes efeitos em outras partes do corpo. Muitos experts pensavam que nunca haveria um tratamento oral efetivo.

Outro aspecto inusual: os resultados dos testes eram cada vez melhores. Normalmente, no desenvolvimento de novas drogas, as expectativas são altas no começo, mas você tem de baixá-las –ou o tratamento não é tão efetivo como você esperava ou você não pode administrá-lo para certos pacientes ou os efeitos colaterais limitam a dose. E pode haver muitas outras razões para que uma promessa perca seu potencial.

 

COMPLEXIDADE X SIMPLICIDADE

A DE é uma condição complexa, com muitas possíveis causas, e há muitos agentes vasoconstritores e vasodilatadores agindo no organismo –ou seja, o próprio corpo faz um coquetel de substâncias para para regular a contração e o relaxamento dos vasos sanguíneos.

De início, eu não pensava que uma droga solitária, agindo em apenas um caminho químico, teria um efeito tão dramático na maioria dos homens. Foi ótimo ver que os resultados dos testes superaram nossas expectativas. E, claro, foi algo fantástico para os pacientes.

 

CONSCIENTIZAÇÃO

Nosso programa levou a uma grande conscientização sobre a DE e sobre a importância de conhecer suas causas. Antes dele, muitas pessoas consideravam que a doença tinha predominantemente uma origem psicológica. Agora virtualmente todos os experts concordam que a maior parte dos pacientes têm uma disfunção orgânica. Ou seja, homens que têm outras doenças que culminam na DE –como diabetes, aterosclerose ou hipertensão–  podem se beneficiar dos tratamentos dessas condições.

Outro aspecto que não aparece na maior parte dos programas de desenvolvimento de novas drogas é tamanho interesse público –muitos homens com DE nos escreviam ou nos ligavam explicando como a condição tinham efeitos devastadores em seus relacionamentos e quão desesperados eles estavam para receber um tratamento efetivo. Essas cartas nos convenceram que havia uma demanda séria.

Vale lembrar que após o lançamento do medicamento em 1998, os testes continuaram –foram 120 estudos clínicos, somando 14.000 anos de vida de pacientes acompanhadas, além de trabalhos que levaram a identificar que o medicamento poderia ajudar pacientes com hipertensão arterial pulmonar.

 

SATISFAÇÃO E MUDANÇA DA HISTÓRIA

No início era apenas um projeto do qual era ótimo fazer parte –pesquisávamos um novo mecanismo de ação e eu estava ciente de que havia uma enorme necessidade de um medicamento para DE. Fico muito feliz de a Pfizer ter apoiado o projeto, especialmente em seu início. Tenho certeza de que em muitas outras companhias o projeto seria descontinuado.

Antes de nosso programa, a maior parte dos homens se mostrava relutante em falar de DE e não tinha ideia de que era um problema tão comum e também não sabiam que poderia haver um tratamento. Foi recompensador trazer um novo medicamento para o mercado capaz de ajudar homens e parceiras(os). O viagra já foi prescrito para algo como 66 milhões de homens em todo o mundo.

 

 

MERCADO HOJE

A maior parte dos homens hoje têm acesso a vários tratamentos diferentes contra a DE. No entanto, todos devem tomar cuidado para adquirir medicamentos de uma fonte confiável e sempre após consultar um profissional de saúde.

Essas drogas são algumas das mais falsificadas em todo o mundo. Entre os riscos estão uma elevada quantidade de princípio ativo e a presença de substâncias estranhas ou tóxicas.

 

ATUAÇÃO

Saí da Pfizer em 2007, mas continuei a trabalhar com a indústria farmacêutica como consultor, em inúmeros projetos de diversas companhias. Por exemplo, pude ajudar uma companhia a aprovar na Europa um medicamento que encolhe miomas uterinos, reduzindo o sangramento excessivo.

 

BRASIL

Nunca estive no Brasil, mas sempre fui um grande fã do futebol brasileiro desde que comecei a acompanhar o esporte; tenho uma bola autografada pelo Pelé.


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Imagine só a emoção de estar no princípio de uma descoberta. Será que o exercício físico ajuda a reduzir o ronco? Quais seriam os efeitos da poluição atmosférica na qualidade dos espermatozoides? Há questões que não podem ser respondidas de outra forma senão pesquisando.

Desde pequeno eu queria ser cientista, e isso me guiou até a escolha do curso universitário. Aos 18, quando comecei a estudar biomedicina na Unifesp, me deparei com um universo repleto de todo tipo de pesquisa –com camundongos, ratos, coelhos, cultura de células, bactérias, vírus… e com humanos.

A primeira pesquisa que participei como voluntário era para os pesquisadores entenderem melhor como o corpo humano funciona enquanto dorme e como o sono é atrapalhado por alguns problemas de saúde. (Ainda estamos longe de saber completamente como ele funciona, seja no sono ou na vigília.)

Nesse caso, eu era um voluntário saudável –sem insônia ou apneia grave. Muitos outros estudos precisam de participantes sãos para entender, por exemplo, como funciona a memória em uma situação de estresse (sim, participei), ou qual é o risco de uma pessoa se contaminar com HPV (vírus do papiloma humano) morando em São Paulo (sim, de novo).

Conhecer os pesquisadores, tentar entender o que estão fazendo e poder doar um pouco de tempo, de sangue ou mesmo uma noite de sono para que eles promovam o avanço da ciência era para mim mais do que só camaradagem, era uma chance de viver integralmente a ciência e de aprender como ela é feita.

TRATANDO DOENÇAS

Mergulhar numa dessas pesquisas pode ser a chance de abandonar a inércia e tentar fazer algo para sanar aquele problema que é arrastado há anos. Dor nas costas, incontinência urinária, tabagismo… novas e velhas formas de se tratar são testadas a todo momento.

A vantagem de receber um tratamento dentro de um protocolo de pesquisa é que o compromisso da equipe é um empurrãozinho para que o cuidado com a saúde seja mantido, com dados coletados regularmente e telefonemas para saber se tudo está OK.

Em estudos epidemiológicos pode haver o acompanhamento de pacientes ao longo de anos para entender a história natural de uma doença. O ponto positivo é que, a qualquer sinal de inconformidade, o paciente é encaminhado para tratamento e tem sua saúde monitorada pelos pesquisadores.

E no caso do teste de novas drogas? Será que há risco ao participar de um protocolo de pesquisa? Sim, há, mas geralmente não são riscos altos. Dependendo do estágio em que a pesquisa clínica está, ainda não se sabe se há grande chance de efeitos colaterais –nesse caso geralmente o paciente é internado e monitorado de perto.

Além disso, projetos de pesquisa que envolvem humanos têm de ser aprovados por dois comitês de ética em pesquisa, um local e um nacional, para poderem acontecer. Se o possível benefício é pequeno em comparação ao estresse causado, o projeto, via de regra, não vai para frente.

Todas as informações relevantes para a tomada de decisão de participar ou não têm de estar no termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), que é apresentado aos voluntários e tem de ser assinado por eles e por um representante da equipe.

DINHEIRO

No Brasil não pode haver remuneração em troca da participação em estudos. Essa é uma estratégia para evitar, entre outros problemas, o surgimento de “voluntários profissionais”. Por aqui só é possível ressarcir despesas com transporte e alimentação; em outros países, como os EUA, é possível ganhar dinheiro dessa forma.

Uma das exigências a serem cumpridas por investigadores e patrocinadores de pesquisas clínicas é ofertar, além dos novos tratamentos, as melhores terapias disponíveis até então para a condição que está sendo investigada. O que define qual tratamento cada paciente vai receber primeiro, porém, geralmente é um sorteio –uma maneira de garantir a qualidade das informações a serem coletadas.

Os pacientes desses estudos geralmente têm acesso a remédios muitas vezes ainda indisponíveis para a população em geral –é o caso dos testes de novos imunoterápicos contra o câncer, cujas vagas rapidamente se esgotam em centros de pesquisa mundo afora (há situações, no entanto, em que há mais vagas do que pacientes).

Mas nem tudo é perfeito, claro. Existe toda sorte de pesquisadores –os apaixonados e responsáveis, os desleixados, os frustrados, os preguiçosos, os malandros…– e há estreita correlação entre a confiabilidade da pesquisa e a boa conduta dos pesquisadores. É possível, sim, que haja muitas meias-verdades sendo publicadas em decorrência de estudos mal conduzidos.

Por outro lado, especialmente em estudos maiores e que envolvem dezenas de pesquisadores (e, às vezes, milhares de voluntários), há mecanismos estatísticos e de controle de qualidade que atenuam ou solucionam problemas do tipo –é como se uma pequena picaretagem tivesse seu efeito maléfico diluído num caldeirão de dados confiáveis. 

No caso de grandes indústrias farmacêuticas, boa parte dos lucros são reinvestidos em pesquisas, a fim de descobrirem novas drogas. São empreendimentos que chegam à casa dos bilhões de dólares –faz sentido fiscalizar de perto e garantir que o dinheiro seja bem gasto.

COMO PARTICIPAR?

Conversei com pessoas entendidas e pesquisei, mas não parece não haver, ao menos até agora, um site em português que contenha informações de estudos clínicos em andamento no Brasil. Provavelmente a maior parte deles está no site americano clinicaltrials.gov. Quando busquei, havia pouco mais de 1.000 estudos acontecendo em terras brasileiras.

Aviso: talvez o leitor se frustre com o jargão médico em inglês do portal. O ideal é pedir para seu médico traduzir o conteúdo e buscar meios de viabilizar o recrutamento para o estudo desejado, se for o caso.

Vale também prestar atenção aos canais de divulgação oficiais de Universidades e de institutos que praticam pesquisa clínica. Tem uma lista deles aqui.


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Biodiversidade inspira consórcio brasileiro na busca por novos remédios

 

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Biodiversidade inspira consórcio brasileiro na busca por novos remédios https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/biodiversidade-inspiracao/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/biodiversidade-inspiracao/#respond Mon, 11 Dec 2017 06:03:23 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/b408900d634b246293097844c28f69e3350e2df78e4dc56510d4ad7fd5dceedd_5a2130292db45-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=865 Uma iniciativa 100% nacional irá buscar novas substâncias originárias da biodiversidade das plantas brasileiras com o objetivo de levar novos remédios às prateleiras das farmácias. Apesar do estágio inicial em que as pesquisas se encontram, as expectativas são altas.

O laboratório farmacêutico Aché, o Laboratório Nacional de Biociências (integrante do CNPEM, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, que por sua vez é ligado ao MCTIC) e a empresa Phytobios, especializada na prospecção e na obtenção de extratos da natureza, se uniram na empreitada.

Um dos dois projetos prospectará um medicamento oncológico. O outro deve ter aplicações em dermatologia ou em cosméticos, ao atuar como um agente
antienvelhecimento. O anúncio das iniciativas será feito nesta segunda (11).

O investimento na primeira fase de desenvolvimento é de R$ 10 milhões —metade do valor será pago pelo Aché. Do restante, uma parte fica a cargo da dobradinha CNPEM-Phytobios e outra da Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial.

O gerente de desenvolvimento de drogas do LNBio, Eduardo Pagani, explica que o montante custeará os primeiros cinco anos de desenvolvimento, que essencialmente envolvem a formação da biblioteca e os testes químicos iniciais. Caso os produtos sejam lançados, os dividendos serão repartidos entre as instituições.

SÍNTESE

Segundo o diretor de inovação do Aché, Stephani Saverio, recorrer à biodiversidade em busca de “inspiração” não é um luxo, mas uma necessidade em uma era na qual sintetizar novos compostos químicos é uma tarefa quase impossível.

“Não há muito mais opções na área da química de síntese para fazer uma molécula do zero; é uma área que já é explorada desde as décadas de 1930 e 1940.”

Por causa dessa saturação, a biodiversidade torna-se fonte de ideias. Cada espécie de planta produz uma miríade de substâncias, algumas com uma estrutura totalmente diferente daquilo que era imaginado no universo da síntese química.

Para identificar as candidatas a medicamentos, as moléculas de um extrato vegetal são postas à prova: se funcionarem como “chaves” em “fechaduras” moleculares, elas passam para a fase seguinte do desenvolvimento. É nesse ponto que se encontram atualmente as pesquisas do consórcio.

O próximo passo é tentar melhorar a molécula para conferir a ela outras propriedades, como boa taxa de absorção (no caso de via oral) e mais afinidade com sua “fechadura” —também conhecida como alvo terapêutico.

Na sequência vêm os testes em animais e, depois, em humanos. Os investimentos aumentam progressivamente, girando na casa das dezenas de milhões de reais.

Caso seja necessário obter a matéria prima na mata para a produção, o modelo adotado é o de extrativismo sustentável, explica Cristina Ropke, CEO da Phytobios.

Muitas das substâncias, que formam uma grande biblioteca, vêm de plantas que ainda nem têm nome científico —elas são identificadas e localizadas a partir de coordenadas geográficas.


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Grupo de pesquisa do A.C.Camargo vai tentar desvendar segredos da imunoterapia anticâncer https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/10/02/segredos-da-imunoterapia/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/10/02/segredos-da-imunoterapia/#respond Mon, 02 Oct 2017 05:06:52 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/09/fcien0210cancer_3col-180x118.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=806 A imunoterapia foi a grande vedete dos maiores congressos de oncologia nos últimos anos, mas, apesar do conhecimento até então acumulado, médicos e cientistas especulam o que ainda pode ser descoberto.

É o caso do biomédico americano Kenneth Gollob, recém-contratado do A.C.Camargo Cancer Center, hospital oncológico de São Paulo, para comandar um grupo que vai tentar descobrir o que não está nos manuais médicos ou nos artigos científicos patrocinados por farmacêuticas.

Um dos projetos nos quais o grupo está apostando é entender quais pacientes são mais susceptíveis aos efeitos colaterais do tratamento com imunoterápicos.

Os imunoterápicos foram desenhados para “remover as travas” do sistema imunológico, amplificando a resposta anticâncer do organismo.

Muitas vezes, explica Gollob, as pessoas desenvolvem um perfil de resposta semelhante ao de doenças autoimunes, difíceis de detectar.

Entre os órgãos que mais sofrem estão os rins, que ficam sobrecarregados. O risco de um paciente adquirir uma insuficiência renal crônica geralmente não compensa a tentativa ultramoderna de tratamento.

O plano, então, é tentar mapear parâmetros do sistema imunológico e, a partir deles, tentar prever quem tem maior probabilidade de desenvolver o problema.

Na prática, a pesquisa vai envolver inicialmente o acompanhamento de pacientes que receberão o tratamento com imunoterápicos para a identificação desses fatores em um tipo de câncer de pulmão (o de células não pequenas) e no melanoma.

Uma segunda etapa é saber exatamente quais são os “parafusos imunológicos” a serem apertados ou afrouxados com o uso de drogas para que a resposta à doença seja a melhor possível.

“Entre as possibilidades para a falta de resposta adequada estão um número insuficiente de células para atacar o tumor ou a resposta estar inibida, o que chamamos de supressão ativa. Faremos experimentos para diferenciar uma situação da outra”, diz Gollob.

A ideia é aproveitar o fluxo de pacientes do hospital para reunir dados e material para executar as pesquisas. A instituição tem um banco com quase 60 mil amostras de tumores –prato cheio para cientistas da área.

 


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Empresa de biotecnologia Oxitec testará linhagem melhorada de Aedes aegypti transgênico https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/08/08/novo-aedes-transgenico/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/08/08/novo-aedes-transgenico/#respond Tue, 08 Aug 2017 23:46:00 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/BRAZIL-TREATMENT_53056421-180x134.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=764 Um inovação da empresa de biotecnologia Oxitec pode, além de reduzir seus custos operacionais, ampliar a ação de seus mosquitos Aedes aegypti transgênicos na natureza.

O novo mosquito é diferente do OX513A, usada em testes no país, em Juazeiro (BA), Piracicaba (SP) e, agora, em Juiz de Fora (MG), por exemplo. Ao cruzar com as fêmeas selvagens –e são elas que picam e transmitem doenças–, os machos tornam a prole delas inviável.

A linhagem OX5034 deu um passo adiante. Nela, os machos sobrevivem naturalmente e as fêmeas não se desenvolvem. E isso traz duas consequências importantes.

A primeira é a redução de custos da empresa, que atualmente separa mecanicamente pupas machos e fêmeas de insetos durante a produção dos mosquitos OX513A.

A segunda, epidemiologicamente mais interessante, é que com a prole masculina do inseto sobrevivendo, pode haver um efeito remanescente, isto é, a prole dos Aedes OX5034 nascidos nos locais de soltura e arredores podem continuar inviabilizando a prole de fêmeas remanescentes no futuro.

Esse segundo efeito também pode ter um efeito financeiro, reduzindo o número de mosquitos machos liberados para obter um mesmo efeito.

A artimanha molecular para criar o OX5034 é chamada de sex splicing: os biólogos conseguem fazer com que os mesmos genes sejam ativados diferentemente a depender do sexo da criatura.

TESTES

O novo mosquito, desenvolvido na sede da Oxitec, no Reino Unido, possivelmente será testado em Indaiatuba (SP), a 100 km da capital, que negocia com a empresa a realização de ensaios com 36 meses de duração em diferentes áreas da cidade. A autorização de liberação foi dada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A decisão do CNTBio indica que há baixo risco para a saúde humana, animal e vegetal, tendo também pouco impacto no ambiente. Convém lembrar que o combate direcionado ao Aedes aegypti não suscita muitos dilemas de natureza ambiental, já que se trata de uma espécie invasora.

“Trata-se de uma autorização só para fazer uma LPMA (Liberação Planejada no Meio Ambiente). Os resultados poderão ser submetidos posteriormente à CTNBio para a emissão de uma autorização para todo o território nacional”, explica Cecília Kosmann, entomologista e coordenadora de suporte científico da Oxitec.


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Instituto Butantan negocia informações da vacina da dengue com farmacêutica MSD https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/04/13/negociacao-da-vacina-da-dengue/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/04/13/negociacao-da-vacina-da-dengue/#respond Thu, 13 Apr 2017 07:03:19 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/dengue-butantan-vacina-camila-carvalho-180x173.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=661 A farmacêutica MSD (Merck, nos EUA) está negociando com o Instituto Butantan a possibilidade de a empresa usar o conhecimento que vem sendo adquirido com os testes clínicos da vacina da dengue no Brasil para poder lançá-la com mais rapidez no exterior.

Seria um aporte de US$ 1,5 bilhão, ao longo de 10 anos, para o Butantan. O namoro da MSD com o instituto começou na gestão de Jorge Kalil e os detalhes não podem ser divulgados oficialmente por causa de um termo de confidencialidade.

A ideia, segundo o Cadê a Cura? apurou, é que a MSD venda a vacina especialmente na Europa e no resto do hemisfério norte, para turistas que vão para áreas endêmicas.

O acordo é possível porque tanto o Butantan quanto a MSD adquiriram a vacina TV003, desenvolvida pelos NIH (Institutos Nacionais de Saúde, dos EUA). O estudo do Butantan, atualmente em fase 3 (a última antes do lançamento), está bem mais adiantado que o da gigante americana. Nesse sentido, ganhar alguns anos no desenvolvimento podem justificar o investimento bilionário em um mercado que tem outras farmacêuticas no páreo, como Takeda e GSK.

Por ser de dose única, a vacina seria extremamente vantajosa para imunizar turistas. A alternativa disponível hoje, da Sanofi, requer três aplicações, uma a cada seis meses, para o máximo de proteção (apesar disso, é possível ter benefícios já a partir da primeira dose).

A previsão é que os testes clínicos da vacina contra a dengue do Butantan sejam concluídos idealmente no início de 2018 –embora, segundo o instituto, isso seja difícil de prever com certeza.

A dengue é uma arbovirose transmitida principalmente por mosquitos Aedes aegypti e afeta 50 milhões de pessoas anualmente, provocando 22 mil mortes.

NOTAS

Segundo o Instituto Butantan, “o termo está sendo avaliado e estudado por esta gestão [de Dimas Tadeu Covas] e pela Secretaria de Estado da Saúde“.

Procurada, a MSD afirma em nota que “as duas organizações iniciaram de forma exploratória conversas sobre a possibilidade de trabalho de desenvolvimento e pesquisas em conjunto”. “Até o momento não existe nenhuma decisão sobre a parceria”. A empresa já fabrica vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral), HPV, hepatites A e B, entre outras.

ATUALIZAÇÃO

Em nota enviada ao blog na tarde desta quinta (13), o Butantan disse que o valor do acordo apurado “não procede”.

“Estamos neste momento avaliando a cooperação e sequer estamos discutindo e/ou trabalhando valores. Vamos reavaliar todos os entendimentos e acordos realizados pela antiga gestão, mas é preciso esclarecer que não negociamos nenhum valor neste momento com a MSD com relação a este assunto.”


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O presidente brasileiro e a equipe econômica resolveram contingenciar –“congelar”– R$ 2,2 bilhões do orçamento do orçamento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). O restante, R$ 3,3 bilhões, se continuar nesse patamar, pode resultar no menor orçamento desde 2005.

Após o início da gestão Temer, que fundiu o Ministério das Comunicações ao antigo MCTI, havia o discurso de que a nova sigla cheia de letras não significava um desprestígio à ciência –foi o que o ministro Gilberto Kassab repetiu nas diversas reuniões que fez com acadêmicos de todo o país.

Mas está difícil acreditar nisso, especialmente em tempos de pós-verdade.

Em resposta ao contato do blog, a equipe de assessores de Kassab disse que o ministro ainda está avaliando o impacto da possível perda de mais de 40% dos recursos inicialmente alocados. Não há ainda previsão de quais projetos ou programas serão afetados ou em que proporção.

Caso isso não se reverta, no longo prazo o que se perde é inestimável –novas curas, tratamentos e descobertas e, principalmente, a chance de nos aproximarmos do status de nação desenvolvida.

Mas, talvez por uma coincidência macabra, as coisas também não andam muito bem em uma das nações mais desenvolvidas, os EUA.

EUA E TRUMP

Trump também parece acreditar que ciência é gasto. Ele deseja reduzir em US$ 1,2 bilhão o orçamento de 2017 dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA. Em 2018, o corte chegaria a R$ 5,8 bilhões.

A notícia é encarada como uma espécie de prenúncio de idade das trevas por pesquisadores da área biomédica no país.

Em entrevista ao Cadê a Cura?, Karina Possa Abrahão, pesquisadora dos NIH e autora do blog TimTim online, explica como o corte afetará a pesquisa: “Todos os setores serão prejudicados, mas com certeza o maior impacto será nas verbas dadas aos projetos de fora do NIH. O número de projetos de universidades já é baixo, em torno de 10%.”

“Como os pesquisadores estabelecidos ganham uma grande parte dessa verba, é provável que os cortes afetem mais fortemente os jovens cientistas. E isso pode afetar uma geração inteira nos EUA. É provável também que a ciência básica sofra mais que a ciência clínica”, especula.

E não é difícil pensar que o impacto pode se estender a todo o globo. “Os cientistas brasileiros podem fazer um exercício e contar o número de trabalhos em que baseiam suas pesquisas e que são desenvolvidos em instituições americanas.”

“Caso ocorra uma diminuição drástica no investimento na ciência básica, pode ocorrer uma desaceleração do desenvolvimento científico no mundo inteiro. Além disso, haverá impacto na ciência clínica [na busca de curas e de novos tratamentos], o que é preocupante para a população”, conclui.

Os beneficiários do ajuste orçamentário de Trump serão principalmente as áreas de segurança e de defesa. Outros prejudicados, além da área da saúde, são os setores ambiental, agrário e de educação.

Cientistas de todo o país prometem ocupar as ruas no dia 22 de abril, na Marcha pela Ciência (March for Science) contra a que parece ser a administração mais malquista pela academia em várias décadas.

A frustração lá e aqui no Brasil são parecidas. Mas resta uma dúvida: será que o cientista brasileiro também sabe marchar?


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