Cadê a Cura? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br Sobre doenças e suas complicações e o que falta para entendê-las e curá-las Thu, 19 Mar 2020 00:39:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Empresários e redes sociais lucram com onda antivacina https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/empresarios-e-redes-sociais-lucram-com-onda-antivacina/#respond Fri, 17 Jan 2020 19:17:05 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/691548e03ee4fb72d1aad79f90a7f839b476fcbeb10c896ad2ae54d49be43dd9_5ca7c61cde9cf-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1238 Apesar do indiscutível benefício à saúde da humanidade, o crescimento do movimento antivacina no Brasil tem preocupado médicos e acadêmicos. No texto abaixo, escrito para o blog Cadê a Cura?, Dayane Machado e Leda Gitahy contam um pouco sobre o que há por trás do fenômeno e quem tem a ganhar com esse aglomerado de teorias conspiratórias.

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Por Dayane Machado e Leda Gitahy, respectivamente doutoranda e professora livre-docente do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp

Cento e setenta países registraram casos de sarampo em 2019. O Brasil não só perdeu o certificado de erradicação da doença, como se tornou o sexto país em número de casos registrados. Devido a esses e outros acontecimentos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a hesitação a vacinas uma das maiores ameaças à saúde de 2019.

A hesitação a vacinas é um conjunto diverso de atitudes relacionadas à imunização: há quem recuse apenas algumas vacinas; quem adie o calendário vacinal; quem obedeça ao calendário, mas não se sinta seguro, entre outras variações.

Essa falta de confiança coloca os mais frágeis em perigo e pode impactar as taxas de vacinação, aumentando o risco de epidemias de doenças preveníveis por vacina, como é o caso da poliomielite e do próprio sarampo.

As redes sociais também têm responsabilidade na disseminação dessa desconfiança, como indica uma pesquisa recente da Avaaz. Quase 90% dos vídeos do YouTube em português analisados pela organização apresentaram alguma desinformação sobre vacinas. Esse resultado se torna ainda mais preocupante se considerarmos que das pessoas entrevistadas pela pesquisa, 57% dos que deixaram de se vacinar alegaram algum boato sobre vacinas como o principal motivo para essa decisão.

O Facebook é uma das plataformas mais utilizadas para espalhar informações falsas sobre vacinas. Uma pesquisa americana revelou que dois únicos compradores são responsáveis pela maior parte dos anúncios antivacinação em inglês que circulam na rede social.

Larry Cook é um desses clientes. Ele administra o Stop Mandatory Vaccinations (site e comunidade no Facebook), que além de desinformação e teorias conspiratórias, promove uma loja da Amazon, onde livros antivacinação e produtos “alternativos” são comercializados.

Outro empresário beneficiado pelo discurso antivacinação é Joseph Mercola. Em seu site, ele ataca vacinas e anuncia produtos “alternativos” à imunização. Uma investigação realizada pelo Washington Post revelou ainda que o milionário é o principal apoiador do grupo antivacina mais antigo dos Estados Unidos, tendo doado mais de US$ 2 milhões (algo como R$ 8,35 milhões) à associação ao longo da última década.

Esse movimento também tem se fortalecido no Brasil por meio das redes sociais. Um dos maiores grupos do Facebook contrários à vacinação reproduz argumentos de conspiracionistas, compartilha conteúdo de sites negacionistas americanos e realiza até transmissão online de eventos problemáticos como o AutismOne.

Esse “congresso” se propõe a falar de autismo, mas tem sessão dedicada a criticar vacinas, oferece treinamento para “ativistas da saúde”, recebe gurus do movimento antivacina como palestrantes, além de promover terapias e produtos duvidosos.

Quando confrontadas publicamente com esses tipos de dados, as plataformas prometem combater a desinformação sobre vacinas, mas a constância nas denúncias de jornalistas a respeito desse tema indica o baixo nível de comprometimento de grande parte dessas empresas. Mark Zuckerberg, por exemplo, já disse que não incentiva o festival de desinformação dentro do Facebook, mas também não se opõe caso “alguém quiser postar conteúdo antivacinação ou quiser se juntar a um dos grupos que discutem esse tipo de ideia”.

Redes sociais são movidas a atenção e engajamento, de modo que conteúdos antivacinação também podem se tornar lucrativos para essas empresas. Enquanto isso, os grupos antivacina se organizam e se fortalecem, disseminando dúvidas e criando novas ondas de hesitação.


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Como regenerar o cérebro após um AVC? Resposta depende da manutenção de bolsas de pós-graduação, diz cientista https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/09/como-regenerar-o-cerebro-apos-um-avc-resposta-depende-da-manutencao-de-bolsas-de-pos-graduacao-diz-cientista/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2019/09/09/como-regenerar-o-cerebro-apos-um-avc-resposta-depende-da-manutencao-de-bolsas-de-pos-graduacao-diz-cientista/#respond Mon, 09 Sep 2019 12:03:19 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/47093887_3bd0c70fb7_o-320x215.jpg https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=1163 Com os recentes congelamentos de bolsas e de verbas para a pesquisa, cientistas veem ameaças ao futuro de estudos que podem ajudar a encontrar tratamentos para condições de grande interesse, como danos ao tecido cerebral. Marimélia Porcionatto, biomédica e professora associada de biologia molecular da Unifesp, escreve para o blog Cadê a Cura? sobre sua trajetória e sobre o atual panorama da pesquisa científica no país.

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Por que o cérebro não se regenera? O que podemos fazer para contornar esse problema?

São questões importantes. Depois de uma pancada forte ou de um AVC, por exemplo, funções cerebrais importantes como raciocínio lógico e memória podem ser afetadas. Há ainda o envelhecimento, que muitas vezes traz consigo doenças neurodegenerativas.

O nosso grupo já fez importantes contribuições para a compreensão dos mecanismos celulares e moleculares que levam à ausência de regeneração cerebral.

Identificamos, por exemplo, uma molécula que induz a morte de neurônios imaturos que migram de uma zona neurogênica (onde neurônios se formam) para o local de uma lesão, o que pode ser entendido como uma tentativa de regeneração.

A morte desses neurônios antes que possam substituir aqueles que foram perdidos por lesão parece ser um dos processos que impedem a regeneração do cérebro. Já vimos também que a presença de cicatriz numa região do tecido nervoso também pode atrapalhar a entrada de novos neurônios naquela região.

Esses e outros trabalhos que realizamos nos levaram a sugerir algumas estratégias que poderão se tornar tratamentos para sequelas neurológicas no futuro. Entre elas está o emprego de uma combinação de células-tronco com microfibras compostas de ácido poliláctico, um composto biocompatível e biodegradável, que pode ser implantado no local da lesão e promover a sobrevivência de neurônios.

Mais recentemente, começamos a estudar maneiras de produzir partes do cérebro usando bioimpressoras 3D que usam materiais como biotintas e células-tronco. Pretendemos com isso mimetizar partes do cérebro tanto para realizar estudos do surgimento e progressão de doenças neurodegenerativas (alzheimer e parkinson, por exemplo) quanto para buscar uma maneira de repor o tecido nervoso perdido por um trauma, AVC ou neurodegeneração.

Vivo no mundo da pesquisa científica desde 1982, quando estava no segundo ano da faculdade. Fiz mestrado em biologia molecular com bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e doutorado com bolsa do CNPq (Conselho Federal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Foram dois estágios de pós-doutorado, o primeiro na Unifesp, com bolsa Fapesp, e segundo, em neurobiologia, no Dana Farber Cancer Institute, afiliado à Harvard Medical School, em Boston, EUA, com bolsa da Lefler Foundation for Neurodegenerative Disorders.

Durante minha formação, da graduação ao pós-doutorado, fui bolsista, e hoje sou professora associada da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.

Os cortes orçamentários impostos pelo governo já estão diminuindo a formação de recursos humanos, e muitos jovens talentosos deixarão de realizar pós-graduação. Esse período é fundamental para a formação do cientista, é quando se aprende a fazer ciência —a interação com orientadores, com colegas, com a comunidade científica está na base da formação de um cientista crítico, ético, inovador, desafiador e ávido por novas descobertas.

Cortar o fluxo de formação de novos cientistas é criar uma lacuna no desenvolvimento do país, que poderá levar décadas para ser revertida.

As perguntas que temos ainda demorarão anos para serem respondidas, e, claro, levantarão novas questões. A manutenção do fomento à ciência e das bolsas para pós-graduandos e pesquisadores é fundamental para que esses estudos não sejam interrompidos.

Este é um momento de defesa da ciência e da manutenção das condições para realização dos estudos que fazemos na Unifesp e de milhares de outros em andamento no país.

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Melhores médicos: por que só há homens na lista do Datafolha? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/melhores-medicos-datafolha/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/melhores-medicos-datafolha/#respond Mon, 23 Apr 2018 19:47:17 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/725de6d21c410e53c738603bb6bf7635e9698334c5882a3e20ea9f801482f486_5ad69738b8711-320x213.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=926 Neste domingo (22) saiu na revista sãopaulo, da Folha, uma lista com os 27 melhores médicos, em 11 especialidades, apontados por uma pesquisa do Datafolha. Coube a mim entrevistá-los e escrever um pequeno perfil de cada um.

Um fato, claro, chamou a minha atenção e de boa parte dos leitores: nessa lista todos os indicados são homens e apenas um não é branco –o ortopedista Emerson Honda. Muitas pessoas manifestaram em redes sociais sua insatisfação por não haver médicas na lista.

Na pesquisa Datafolha, 34% dos 822 entrevistados eram mulheres –mais de um terço. Na ortopedia, elas eram 6% dos respondentes; 22% da cardiologia; 43% da ginecologia-obstetrícia e 52% entre os pediatras, por exemplo.

Como explicar o “27 a 0” de homens versus mulheres? Por que nem na pediatria a vencedora é uma mulher?

O colega Marcelo Soares, jornalista especializado em análise de dados e fã de rock, faz uma analogia interessante: se perguntarmos a músicos especialistas em rock quem são os melhores em cada instrumento, provavelmente os vencedores seriam homens. “Difícil não dar Jimi Hendrix na guitarra, difícil não dar algo como Freddie Mercury no vocal. Não que não haja mulheres no mesmo nível, não que seja exatamente machismo contra elas, mas porque esses nomes são queridos por todos há muito tempo.”

Como poucos nomes são eleitos por categoria, o “peso da tradição”, como diz Soares, pende para o lado dos homens.

MACHISMO

De forma alguma esse raciocínio invalida a constatação de que ainda vivemos em uma sociedade bastante desequilibrada em termos de gênero e que isso vale também para a medicina. Não é muito diferente do que acontece nas chamadas ciências duras, na qual dificilmente mulheres atingem e se mantém em posições de liderança.

Médicas são, em média, quase 5 anos mais jovens que os médicos e correspondem a apenas 45,6% dos profissionais. Os dados são do levantamento “Demografia Médica do Brasil 2018”.

Entre os profissionais com 65 e 69 anos, apenas 28,3% são mulheres. Entre aqueles com 70 anos ou mais, o número cai para 20,5%.

Os médicos entrevistados pelo Datafolha tinham, em média, 52 anos de idade e elegeram colegas, em média, 17 anos mais velhos.

É possível concluir, apenas olhando para os números, que há ainda poucas mulheres com a experiência que alguns médicos homens têm.

Talvez ainda demore alguns anos para o cenário mudar, mas tudo indica que isso vai acontecer. Mulheres já são a maioria no estrato mais jovem, entre profissionais com 20 e 29 anos: 57,4% do total.

Distribuição de homens e mulheres na medicina de acordo com faixa etária (fonte: Reprodução/Demografia Médica no Brasil 2018)

 

RAÇA

Não há muitos dados sobre o número de médicos negros, especialmente ao longo da história, mas a pesquisa “Perfil e percepção dos recém-graduados em Medicina”, feita com 4.601 novos médicos mostra que apenas 1,8% desses egressos se declaram negros. Pardos somam 16,2%.

A discrepância em relação à população brasileira é visível: no país, 7,8% se declaram negros e 43,1% se declaram pardos.


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Correntes sobre saúde em redes sociais fazem mais mal do que bem https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/redes-sociais-e-saude/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/redes-sociais-e-saude/#respond Fri, 09 Feb 2018 11:29:00 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/water-plant-fruit-orange-food-produce-fresh-lemonade-drink-lemon-lime-juice-close-up-coconut-sliced-citrus-flowering-plant-land-plant-lemon-lime-994734-150x150.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=888 É provável que o leitor ou algum de seus conhecidos já tenha recebido pelas redes sociais (ou por e-mail) mensagens de texto, de vídeo e áudio contendo mirabolantes formulações que supostamente curam todo tipo de câncer, dicas “infalíveis” de dieta ou alertas contra supostos perigos de vacinar as crianças.

Uma análise mais cuidadosa do conteúdo desse material (assim como boa parte do que circula nessas redes sobre outros assuntos) mostra que as teses não param em pé. No caso da nutrição, sobra gente maldizendo o leite, mandando adotar o sal do Himalaia na dieta ou dizendo que adoçante é “câncer na certa” –como recebi recentemente.

A nutrição, como área de estudo, não nasceu ontem. E parece que as pessoas esquecem disso na hora de apertar o botão de compartilhar, ávidas para serem portadoras de uma novidade que seria deliberadamente escondida ou ignorada por especialistas.

Existem inúmeras discussões nutricionais relevantes –o açúcar parece ser mais vilão hoje do que era no passado; a gordura, por sua vez, tem tido parte de sua má reputação aliviada por novos estudos; alguns adoçantes, eventualmente, podem fazer uma pessoa ter mais fome. Como vale para quase tudo na ciência biomédica, as coisas não são preto no branco (vide nosso último post sobre suplementação de cálcio e vitamina D).

As consequências do consumo dos diversos nutrientes podem ser muito diferentes dependendo da condição clínica e do organismo de uma pessoa. E não é porque alguns têm alergia a leite de vaca que, de repente, o alimento passa a ser um vilão nutricional (já falamos sobre o leite aqui no blog Cadê a Cura?, em outra ocasião).

Quando explodiram os casos de recém-nascidos com microcefalia decorrentes da infecção materna pelo vírus da zika, logo ganhou as telas de celulares um vídeo de um sujeito afirmando que o surto teria sido causado pela aplicação de vacinas provenientes de um lote estragado. Bobagem, mais uma vez.

Imagine um paciente que recebeu uma mensagem dizendo que espinheira-santa e graviola curam câncer de intestino e que decide largar o tratamento convencional –que, em muitos casos, cura–, passando a tomar chazinho –sobre o qual não há qualquer evidência científica sólida. O maior prejudicado aí não é o laboratório farmacêutico, que deixou de lucrar com suas drogas, e sim o próprio paciente, que provavelmente terá sua vida abreviada.

O risco de tomar uma decisão baseada na “sabedoria” das redes sociais é enorme. As consequências de mudar a esmo a maneira de se tratar diabetes –abandonando o adoçante, supostamente cancerígeno, em favor de algum tipo de açúcar– ou de deixar de vacinar uma criança contra rubéola –por um receio infundado de “metais pesados” no vidrinho– podem ser terríveis.

Há, sim, benefícios na difusão boca a boca (ou celular a celular) de informações de saúde, como na ameaça do surto de febre amarela, quando munícipes de São Paulo, por exemplo, puderam trocar mensagens sobre quais postos tinham mais ou menos fila de interessados na vacinação. Em casos assim, as informações são verificáveis, de acesso público –não há tanto espaço para invencionices (apesar de haver gente tentando matar macacos, que, assim como humanos, são vítimas da doença).

A melhor maneira de se prevenir contra boatos, farsas e inverdades é buscar, consumir e repercutir conteúdo produzido por fontes que tenham uma boa reputação –vale a pena gastar um tempinho buscando artigos científicos (que nem sempre são consensuais ou obrigatoriamente verdadeiros, vale lembrar) ou conteúdo produzido por quem faz jornalismo profissional.

Uma consulta cara a cara com um profissional capacitado e que tenha conhecimento e tempo para analisar todas as variáveis relevantes e ajudar o paciente a tomar a melhor decisão é insubstituível. Mas, de novo, cuidado: existe um número não desprezível de picaretas por aí –até vacina homeopática contra febre amarela já inventaram.


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Em vez de projeto de lei, que tal mais estudos sobre as drogas emagrecedoras? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/06/22/em-vez-de-projeto-de-lei-que-tal-mais-estudos-sobre-as-drogas-emagrecedoras/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/06/22/em-vez-de-projeto-de-lei-que-tal-mais-estudos-sobre-as-drogas-emagrecedoras/#respond Thu, 22 Jun 2017 20:27:09 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/anfepramona-630x330-destaq-180x94.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=711 Em 30 de maio, quando escrevi o texto “Médicos querem ampliar o uso de emagrecedores e resgatar drogas ‘banidas’ pela Anvisa” não imaginei que um projeto de lei emperrado há quase 6 anos nas engrenagens do Legislativo iria para frente logo em seguida.

Na terça-feira (20), o PL 2.431/2011, que libera o uso e a comercialização dos derivados anfetamínicos que tiveram registro cancelado pela Anvisa em 2010,  teve sua aprovação final no Congresso e agora deve, sob protestos da agência e aplausos dos médicos, ser sancionado pelo presidente Michel Temer (leia reportagem a respeito).

O texto do PL aprovado é bastante sucinto:

Art. 1º Ficam autorizados a produção, a comercialização e o consumo, sob prescrição médica no modelo B2, dos anorexígenos sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

(O fato de estar no modelo B2 significa que serão substâncias controladas, com tarja preta e retenção de receita –contribuição do Senado Federal para a proposta.)

A aprovação tem imenso respaldo da classe médica de entidades como o Conselho Federal de Medicina, Conselho Nacional de Saúde, Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Associação Brasileira de Nutrologia.

Esse grande apoio ao PL está embasado na experiência clínica e em resultados observados no passado pelos médicos. Segundo a Anvisa, porém, faltam estudos que mostrem que as drogas sejam eficazes e seguras o suficiente para garantir o registro.

Querendo saber um pouco mais sobre o consenso científico na área, pesquisei no PubMed, indexador que abriga boa parte dos mais relevantes trabalhos na área biológica e da saúde, pelo nome das drogas a serem liberadas no país. O resultado, em números de estudos que as mencionam, foi o seguinte:

  • Femproporex (conhecido no exterior como “brazilian diet pill”), 70 menções
  • Anfepramona, 406 menções
  • Mazindol, 908 menções
  • Sibutramina, 1288 menções

Boa parte dos artigos subsidiam a decisão da Anvisa, alegando, por exemplo, falta de evidência ou alto risco de complicações relacionadas aos sistemas cardiovascular e nervoso.

Mesmo assim, a maior parte dos médicos permanece a favor da liberação dos derivados anfetamínicos via projeto de lei. Um caminho mais prudente não seria brigar pelo financiamento de estudos que atestem, de forma inquestionável, tal eficácia?

Quem sabe aí não seja possível liberar essas drogas não só no Brasil, mas também na Europa, onde nenhuma tem registro, e nos EUA, onde só a Anfepramona é comercializada? Novos estudos também funcionariam como um antídoto para esse perigoso hábito de atropelar a Anvisa.

A indústria alega que é caro demais financiar estudos de drogas sem patente, mas não vi ninguém dizer o que “caro” significa nesse contexto. De quanto estamos falando? Será que o governo também não daria uns tostões?

As drogas em questão são baratíssimas: o tratamento com sibutramina custa R$ 30 ao mês, por exemplo. Compare com os quase R$ 1000 de drogas mais modernas como a liraglutida (Saxenda).

Essa pesquisa teria um potencial infinitamente maior de trazer algum resultado proveitoso do que aquela praticada para demonstrar o pífio desempenho da fosfoetanolamina (“pílula do câncer”) no tratamento oncológico. Para isso os governo federal e o governo de São Paulo destinaram mais de R$ 10 milhões.

Vou dar um voto de confiança para os endocrinologistas brasileiros e fazer uma proposta: que tal fingir que esse PL nunca existiu e tentar tomar uma decisão com uma base científica mais sólida?

Com quase 20% da população obesa no país, não faltariam voluntários para os estudos.


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Por que a Aids é uma questão gay (e não uma ‘doença gay’)

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Por que a Aids é uma questão gay (e não uma ‘doença gay’) https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/05/03/aids-questao-gay/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/05/03/aids-questao-gay/#respond Wed, 03 May 2017 09:07:32 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/33579650125_94ac4720ba_k-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=679 Na Folha desta quarta (3) o leitor encontra uma entrevista (conduzida por mim e pelo meu colega Phillippe Watanabe) na qual o ativista Kevin Frost defende a ideia de que a política antiaids e anti-HIV é indissociável da luta pelos direitos dos gays.

Já houve diversas tentativas de tentar tapar o sol com a peneira e de dizer que todos deveriam se preocupar igualmente com a doença. Um paralelo grosseiro é dizer que os habitantes de um bairro violento devem se preocupar tanto com a violência urbana quanto os habitantes de um bairro que tem índice de roubos e latrocínios próximo de zero (e vice-versa).

Historicamente, cerca de 10% dos gays do país são soropositivos. E os gays formam cerca de 10% da população masculina em cidades como São Paulo, Salvador, Brasília e Rio. Na população em geral, a taxa de contaminados é de 0,6% (dados da Unaids).

Só que muitas vezes os dados são apresentados de forma a poluir a realidade. Um exemplo disso seria o seguinte: contando os casos notificados de Aids e contabilizados pelo Ministério da Saúde desde 1980 até 2016, houve 145.720 casos resultantes de transmissão sexual em homens heterossexuais e 139.865 em homens homo e bissexuais. Pelas porcentagens: 51% contra 49% –empate técnico entre os grupos comparados.

Desconsidera-se na análise que a proporção populacional de homens gays é, nas cidades citadas acima, por exemplo, nove vezes menor que a de heterossexuais. Em tentativas de explicação como a do “empate técnico” parece que o politicamente correto ganha do estatisticamente acurado.

Por outro lado, como se infere pelos dados (aqueles mais acurados), carteirinha de hétero não garante imunidade contra o vírus. Por mais que a chance de contágio seja menor –também por razões biológicas inerentes à modalidade de sexo praticada– quanto mais “bilhetes” se adquire, maior a chance de ganhar na “loteria”. Não se trata de uma “doença gay”, portanto.

A preocupação do ativista Kevin Frost de ter uma política de prevenção direcionada a grupos de risco –gays, garotas e garotos de programa, usuários de drogas injetáveis– faz todo o sentido. O que falta é a sagacidade para saber como chegar a toda essa gente com uma mensagem verdadeiramente efetiva.


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Falta de visão para desenvolvimento da ciência e da saúde é compartilhada entre Temer e Trump

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Falta de visão para desenvolvimento da ciência e da saúde é compartilhada entre Temer e Trump https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/04/03/temer-e-trump/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/04/03/temer-e-trump/#respond Mon, 03 Apr 2017 12:02:48 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/PENCE_TRUMP_PRUITT_JIM_WATSON_AFP-e-KASSAB-E-TEMER-PEDRO-LADEIRAFOLHAPRESS-180x60.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=650 Em momentos de crise, o impacto de uma decisão errada pode ser cruel e duradouro. E esse destino cinzento parece estar sendo selado pelas administrações Trump e Temer, ao decidirem cortar investimentos em ciência e saúde.

O presidente brasileiro e a equipe econômica resolveram contingenciar –“congelar”– R$ 2,2 bilhões do orçamento do orçamento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). O restante, R$ 3,3 bilhões, se continuar nesse patamar, pode resultar no menor orçamento desde 2005.

Após o início da gestão Temer, que fundiu o Ministério das Comunicações ao antigo MCTI, havia o discurso de que a nova sigla cheia de letras não significava um desprestígio à ciência –foi o que o ministro Gilberto Kassab repetiu nas diversas reuniões que fez com acadêmicos de todo o país.

Mas está difícil acreditar nisso, especialmente em tempos de pós-verdade.

Em resposta ao contato do blog, a equipe de assessores de Kassab disse que o ministro ainda está avaliando o impacto da possível perda de mais de 40% dos recursos inicialmente alocados. Não há ainda previsão de quais projetos ou programas serão afetados ou em que proporção.

Caso isso não se reverta, no longo prazo o que se perde é inestimável –novas curas, tratamentos e descobertas e, principalmente, a chance de nos aproximarmos do status de nação desenvolvida.

Mas, talvez por uma coincidência macabra, as coisas também não andam muito bem em uma das nações mais desenvolvidas, os EUA.

EUA E TRUMP

Trump também parece acreditar que ciência é gasto. Ele deseja reduzir em US$ 1,2 bilhão o orçamento de 2017 dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA. Em 2018, o corte chegaria a R$ 5,8 bilhões.

A notícia é encarada como uma espécie de prenúncio de idade das trevas por pesquisadores da área biomédica no país.

Em entrevista ao Cadê a Cura?, Karina Possa Abrahão, pesquisadora dos NIH e autora do blog TimTim online, explica como o corte afetará a pesquisa: “Todos os setores serão prejudicados, mas com certeza o maior impacto será nas verbas dadas aos projetos de fora do NIH. O número de projetos de universidades já é baixo, em torno de 10%.”

“Como os pesquisadores estabelecidos ganham uma grande parte dessa verba, é provável que os cortes afetem mais fortemente os jovens cientistas. E isso pode afetar uma geração inteira nos EUA. É provável também que a ciência básica sofra mais que a ciência clínica”, especula.

E não é difícil pensar que o impacto pode se estender a todo o globo. “Os cientistas brasileiros podem fazer um exercício e contar o número de trabalhos em que baseiam suas pesquisas e que são desenvolvidos em instituições americanas.”

“Caso ocorra uma diminuição drástica no investimento na ciência básica, pode ocorrer uma desaceleração do desenvolvimento científico no mundo inteiro. Além disso, haverá impacto na ciência clínica [na busca de curas e de novos tratamentos], o que é preocupante para a população”, conclui.

Os beneficiários do ajuste orçamentário de Trump serão principalmente as áreas de segurança e de defesa. Outros prejudicados, além da área da saúde, são os setores ambiental, agrário e de educação.

Cientistas de todo o país prometem ocupar as ruas no dia 22 de abril, na Marcha pela Ciência (March for Science) contra a que parece ser a administração mais malquista pela academia em várias décadas.

A frustração lá e aqui no Brasil são parecidas. Mas resta uma dúvida: será que o cientista brasileiro também sabe marchar?


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Que doença ganhará uma cura em 2017? https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/01/01/que-doenca-ganhara-uma-cura-em-2017/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2017/01/01/que-doenca-ganhara-uma-cura-em-2017/#respond Sun, 01 Jan 2017 13:03:31 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/12/7505286308_7e14a047b7_k-180x106.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=519 Aposto que a maioria dos leitores, se tivessem que escolher uma doença para ganhar uma nova cura, optariam pelo câncer.

O problema é que o que o câncer tem de avassalador, também tem de complexo. São dezenas de doenças diferentes rotuladas como câncer –com drogas e abordagens mais (ou menos) efetivas para cada caso.

A grande conquista da oncologia nos últimos anos foi a consolidação da imunoterapia para o combater essas moléstias. E isso mudou um pouco esse panorama de que cada tipo de câncer tem apenas um restrito conjunto de abordagens capaz de tratá-lo.

Os imunoterápicos (que são anticorpos produzidos para atacar/neutralizar alvos específicos –leia mais aqui e aqui) se tornaram a grande aposta da área oncológica das indústrias farmacêuticas não só porque conseguem estender a sobrevida dos pacientes, mas também por serem versáteis em atuar sobre vários tipos de tumor.

Os mesmos imunoterápicos que estimulam a ação do sistema imunológico contra um câncer de pulmão também podem ser particularmente eficazes no tratamento de melanoma, por exemplo.

No entanto, os especialistas da área não pensam que os imunoterápicos vão dar conta de todo e qualquer câncer –e nem que irão substituir completamente os quimioterápicos convencionais ou a radioterapia. Uma pena.

CORAÇÃO

Mesmo com o “favoritismo” do câncer como candidato a receber uma cura, talvez a maior parte de nós morra de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame.

Apesar de constantes e até significativos incrementos na maneira de conduzir esses quadros (como a injeção de microbolhas e as já bastante respaldadas estatinas), a melhor maneira de evitar essas situações é adotar um estilo de vida que inclui hábitos alimentares adequados e atividade física e momentos de relaxamento em uma quantidade otimizada.

Quando acontece algo, muitas vezes não há tempo para agir. Nessa área, prevenção é a chave –nada de nova cura em 2017.

GENES

Guardei o melhor para o final. As doenças mais fáceis de serem curadas são aquelas com uma causa muito bem definida.

Se uma pessoa, por exemplo, vive em um local úmido, embolorado, a chance de ter tuberculose aumenta bastante. Removê-la do local, ou promover uma transformação de forma a arejar e permitir a entrada do sol no imóvel diminui sobremaneira a incidência da doença (veja uma reportagem a respeito).

Outros casos de bons candidatos a terem uma cura são doenças infecciosas para as quais existem vacinas. Para breve (não necessariamente em 2017), podemos esperar uma importante redução dos casos de dengue, por causa da vacina já lançada (da Sanofi) e das que ainda ainda estão sendo estudadas (como a do Instituto Butantan e a da farmacêutica Takeda).

Logo virão vacinas contra zika também –já se estuda uma modalidade pentavalente, com o imunizante atuando contra os quatro tipos de vírus da dengue (DENV1 a DENV4) mais o vírus da zika (ZIKV).

A boa resolução dos surtos de ebola na África é prova de que as vacinas ainda podem trazer muitos benefícios para a humanidade. Quem sabe em 2017 tenhamos uma boa notícia com relação ao combate à Aids, por causa de mais uma delas? A África do Sul está sediando um ensaio clínico.

Por fim, a mais forte esperança é que aquelas doenças causadas por mutações genéticas, como distrofias musculares, hemofilia, daltonismo e algumas síndromes raras possam encontrar  uma cura por meio de  terapia genética (que visa corrigir o erro do DNA nas próprias células humanas). A promessa é que a aplicação da técnica conhecida como Crispr (leia mais a respeito aqui e aqui) resolva esses e muitos outros problemas. A ver em 2017.


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Leite faz bem, e provavelmente é por causa dele que você está aqui https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/10/14/leite-faz-bem/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/10/14/leite-faz-bem/#respond Fri, 14 Oct 2016 08:03:22 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/5483310462_758b18e45f_b-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=447 Ao ingerir leite, pessoas com intolerância à lactose ficam realmente mal. Há pouca ou nenhuma margem para sensações sugestionadas. Muitas dessas pessoas lamentam o fato de não poderem comer nem uma barrinha de chocolate sem consequências intestinais desastrosas.

Isto posto, gostaria reforçar a mensagem do título deste texto de que provavelmente é por causa do leite que você está aqui. Não estou falando do leite materno (que é importantíssimo), mas do leite de vaca de outros bichos como cabras e búfalas, consumidos após o desmame humano.

O argumento que trago é principalmente evolutivo, ou seja, contém porções igualmente importantes de biologia e de história.

O desenvolvimento da pecuária leiteira provavelmente teve início há cerca de 7.500 anos na Europa. Como nem sempre havia carne, aqueles humanos que conseguiam se nutrir adequadamente a partir do leite de origem animal (e digerir o açúcar conhecido como lactose) tinham grande vantagem perante os outros, conseguindo viver e se reproduzir mais, espalhando esses genes responsáveis por essa “tolerância” ao alimento.

Quem não tinha esse arsenal genético provavelmente sofria como os intolerantes de hoje em dia sofrem, muitas vezes ficando sem uma nutrição adequada.

Você pode ler uma excelente reportagem a respeito de características selecionadas recentemente pela evolução publicada nesta quinta (13) pela Folha.

DETRATORES

Um dos fenômenos sociais recentes é o surgimento de pessoas que simplesmente são contra o leite. Os detratores estão em todo lugar. Difícil entender como, de repente, a nutritiva bebida ganhou contornos demoníacos.

Um dos sintomas disso pode ser observado em um post recente aqui no Cadê a Cura? sobre nutrição de crianças (Pouco leite, muito sal: estudo mostra problemático cenário nutricional das crianças em São Paulo). Sobrou baboseira nos comentários.

O que eu acho curioso é o verniz “científico” que querem dar à tese de que leite faz mal ou que não vale a pena ser ingerido (por quem não tem alergia ou intolerância).

Claro que legumes e verduras são importantes fontes de outras vitaminas, como A, K e as do complexo B. E devem estar na dieta.

Mas o leite ainda é um dos alimentos que mais contém cálcio, seja por grama consumido ou por real gasto. São necessárias várias porções de vegetais para conseguir o cálcio de apenas um copo de leite –e quase ninguém fica o dia inteiro mastigando brócolis, couve e espinafre, os melhores substitutos.

Infelizmente existem alguns nutricionistas que abandonaram o embasamento científico para sua prática profissional –parece que até quando se trata de saúde o cliente sempre tem que ter razão. Prova disso é que o Conselho Regional de Nutrição da 3ª região (SP e MS) em 2012 teve de afirmar que “a recomendação indiscriminada para restrição ao consumo de leite e derivados não encontra atualmente respaldo científico com nível de evidência convincente e está em desacordo com o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar”.

As desventuras nutricionais propostas por pacientes e profissionais que simplesmente são contra o leite (e o taxam como inimigo da saúde) não fazem sentido fora de um arcabouço dogmático limitante.

O estudo que motivou a reportagem da Folha é só mais uma na pilha de evidências favoráveis ao leite acumuladas pela ciência e pela história. Negar a teoria da evolução e as tabelas nutricionais em pleno século 21 não parece ser a atitude mais inteligente.


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E se a zika fosse transmitida como o ebola?

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Molécula presente no chá-verde inibe infecção por vírus da zika em células https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/07/29/molecula-presente-no-cha-verde-inibe-infeccao-por-virus-da-zika-em-celulas/ https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/2016/07/29/molecula-presente-no-cha-verde-inibe-infeccao-por-virus-da-zika-em-celulas/#respond Fri, 29 Jul 2016 05:10:29 +0000 https://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/2974463970_9c69160634_b-180x120.jpg http://cadeacura.blogfolha.uol.com.br/?p=295 Será que a melhor dica antizika para o verão é trocar a cerveja e a coca-cola por chá-verde? Uma substância presente na bebida é capaz de inibir a infecção de células pelo vírus da zika, mostra um novo estudo.

Trata-se da molécula epigalocatequina galato (EGCG). Ela conseguiu, em estudo com culturas de células, inibir ao menos 90% da entrada do vírus da zika. Já havia sido demonstrado que a molécula era capaz de bloquear vírus como os da hepatite C e da influenza e também o HIV.

Estudos anteriores em ratos mostraram que o EGCG é capaz de cruzar a barreira placentária e, portanto, poderia proteger o feto. Além disso, não há registro de que a molécula possa causar más-formações nos fetos dos roedores.

Essas duas características podem ser uma boa pista a respeito do potencial de o EGCG se tornar um medicamento que protegesse mãe e bebê.

A pesquisa foi realizada por cientistas brasileiros da Unesp e da Famerp (Faculdade de Medicina de Rio Preto) e foi publicada na revista “Virology”.

LIMITAÇÕES

Apesar de ter sido feito dentro dos padrões de rigor esperados de um estudo sério, a capacidade de resolver problemas da pesquisa ainda é limitada.

Cabe questionar: alguma das doenças (hepatite C, Aids e gripe) já foi efetivamente prevenida em humanos com uso do do EGCG? Nada foi provado até agora.

Claro que todo avanço é bem-vindo, ainda mais em tempos de crise. No entanto, temos sempre que basear a discussão em evidências sólidas e, mesmo assim, desconfiar.

O caso da fosfoetanolamina é o antiexemplo simbólico. Há poucas evidências de que ela pode funcionar e, mesmo assim e muitas delas acabaram sendo postas em xeque com os novos testes, encomendados pelo Ministério da Ciência.

Para não cair no conto do vigário (e trocar a cerveja e a coca por chá-verde), aguarde pelo menos os próximos passos da pesquisa do EGCG –os testes em animais. E aí que (literalmente) o bicho pega.


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